terça-feira , 24 dezembro , 2024

Opinião | Relembrando o frustrante ‘Os Novos Mutantes’, filme da franquia X-Men

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Nos últimos anos, talvez nenhum outro longa-metragem tenha chamado nossa atenção quanto Os Novos Mutantes’ – mas por todos os motivos errados. Depois de ser adiado inúmeras vezes e de reflexões tardias sobre uma produção problemática, o último capítulo da saga X-Men supervisionada pela extinta Fox finalmente estreou nos cinemas internacionais e se mostrou uma das piores entradas dessa outrora majestosa saga. A verdade é que o longa-metragem comandado por Josh Boone não se mostra ruim ou infeliz por um roteiro fraco ou atuações oscilantes – ou até mesmo por uma condução “estranha”, por assim dizer; na verdade, o principal deslize (e o que eventualmente nos frustra do começo ao fim) é sua falta de ousadia.



Para aqueles familiarizados com os quadrinhos da Marvel Comics, sabemos que a trama principal carrega consigo uma atmosfera que não apenas respalda, mas invade com segurança gêneros como terror e suspense enquanto arquiteta uma aventura coming-of-age e crítica que se mostra mais necessária do que nunca nos dias de hoje. Na adaptação para as telonas, Boone trouxe Blu Hunt no papel protagonista de Dani Moonstar, uma nativa-americana que passou por um gigantesco trauma e perdeu a família inteira para um evento catastrófico. Dani possui fragmentos de recordações escondidos em sua mente e tenta deixá-los de lado ao acordar numa instituição mental comandada pela Dra. Cecilia Reyes (Alice Braga) – que, logo de cara, se assemelha a uma prisão sem grades que impede que os pacientes escapem para o mundo exterior.

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Reyes continuamente diz que Dani e seus outros companheiros estão instalados na gigantesca facilidade por serem mutantes com poderes ainda em fase de controle – e cuja falta de supervisão pode trazer grandes riscos para eles e para as pessoas à sua volta. Como forma de se “adaptar” à nova realidade – e ao fato de que ninguém, nem ela mesma, sabe quais são suas habilidades sobre-humanas -, Dani procura se conectar com os poucos jovens que também estão lá, imediatamente construindo uma forte relação com a adorável e tímida Rahne Sinclair (Maisie Williams), uma jovem escocesa bastante religiosa que consegue se transformar em um lobisomem. Ela é recebida com menos assertividade por Sam Guthrie (Charlie Heaton) e por Roberto da Costa (Henry Zaga) – e definitivamente com desdém pela sarcástica e ácida Illyana Rasputin (Anya Taylor-Joy), uma poderosa mutante que pode viajar do mundo terreno para o Limbo.

Para uma história de origem, o filme funciona em sua completude; entretanto, falha em basicamente todos os outros aspectos, inclusive ao fornecer pífias investidas de pusilanimidade que poderiam desconstruir os estagnados gêneros super-heroicos dos últimos anos. Temas como fraqueza, vulnerabilidade e confiança são jogados profusamente em seus menos de 100 minutos, nunca alcançando o potencial desejado e falhando em se mostrar como uma conclusão aprazível. No final das contas, Boone cede espaço mais do que necessário para qualquer drama adolescente de baixo orçamento da década passada que diz nada ao pretender ser tudo.

No geral, são as falhas na estrutura do roteiro que não permitem que seus contundentes personagens alcancem aproveitamento máximo em cena; afinal, temos a claustrofóbica e paradoxal atmosfera pincelada pelos baixos ângulos e pelos enquadramentos opressores; temos uma minimalista trilha sonora e escolhas imagéticas que aproximam a iteração de clássicos do terror – como Invocação do Mal’ e O Exorcista; e temos um competente time artístico-técnico que contribui para que a sinestesia tenha espaço fértil para estender suas ramificações. Mas, quando justapostas às fórmulas e à falta de apreço pelo novo e pela originalidade, tudo não passa de uma mera tradução copiosamente monótona e previsível do começo ao fim.

À medida que a materialização dos medos mais profundos dos jovens mutantes começa a ameaçar sua segurança e sua vida, infundindo-os em mortais batalhas pela sobrevivência, fica claro que Dani é mais perigosa do que parece: é quase automático, até mesmo para os não familiarizados com as HQs, que sua força e seu poder provém de pesadelos e de perturbações psíquicas de seus adversários, o que explica o derradeiro comportamento dos protagonistas ao ficar cara a cara com pensamentos destrutivos. Também não é surpresa quando a Dra. Reyes, respondendo a superiores que nunca aparecem, mas respondem em nome da corporação Essex, é orientada a exterminar Dani devido à ameaça iminente que apresenta. Mais uma vez, essas “reviravoltas” (se é que podemos chamá-las assim) existem por existir e não representam nenhum impacto sólido o suficiente para mudar o arco dos heróis ou até mesmo da narrativa em que estão.

Com poucas exceções, como o breve e crível enlace romântico entre Rahne e Dani (cuja química transparece desde os primeiros minutos que dividem as telas) e a competente atuação de Taylor-Joy, Os Novos Mutantes’ não é a entrada para o panteão X-Men que queríamos naquele momento – e talvez tenha vindo com pressa demais para ser aproveitado. Entre amadores equívocos e a inexistência do dinamismo cênico, o capítulo final da saga da Fox é, infelizmente, um tiro no próprio pé.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Nos últimos anos, talvez nenhum outro longa-metragem tenha chamado nossa atenção quanto Os Novos Mutantes’ – mas por todos os motivos errados. Depois de ser adiado inúmeras vezes e de reflexões tardias sobre uma produção problemática, o último capítulo da saga X-Men supervisionada pela extinta Fox finalmente estreou nos cinemas internacionais e se mostrou uma das piores entradas dessa outrora majestosa saga. A verdade é que o longa-metragem comandado por Josh Boone não se mostra ruim ou infeliz por um roteiro fraco ou atuações oscilantes – ou até mesmo por uma condução “estranha”, por assim dizer; na verdade, o principal deslize (e o que eventualmente nos frustra do começo ao fim) é sua falta de ousadia.

Para aqueles familiarizados com os quadrinhos da Marvel Comics, sabemos que a trama principal carrega consigo uma atmosfera que não apenas respalda, mas invade com segurança gêneros como terror e suspense enquanto arquiteta uma aventura coming-of-age e crítica que se mostra mais necessária do que nunca nos dias de hoje. Na adaptação para as telonas, Boone trouxe Blu Hunt no papel protagonista de Dani Moonstar, uma nativa-americana que passou por um gigantesco trauma e perdeu a família inteira para um evento catastrófico. Dani possui fragmentos de recordações escondidos em sua mente e tenta deixá-los de lado ao acordar numa instituição mental comandada pela Dra. Cecilia Reyes (Alice Braga) – que, logo de cara, se assemelha a uma prisão sem grades que impede que os pacientes escapem para o mundo exterior.

Reyes continuamente diz que Dani e seus outros companheiros estão instalados na gigantesca facilidade por serem mutantes com poderes ainda em fase de controle – e cuja falta de supervisão pode trazer grandes riscos para eles e para as pessoas à sua volta. Como forma de se “adaptar” à nova realidade – e ao fato de que ninguém, nem ela mesma, sabe quais são suas habilidades sobre-humanas -, Dani procura se conectar com os poucos jovens que também estão lá, imediatamente construindo uma forte relação com a adorável e tímida Rahne Sinclair (Maisie Williams), uma jovem escocesa bastante religiosa que consegue se transformar em um lobisomem. Ela é recebida com menos assertividade por Sam Guthrie (Charlie Heaton) e por Roberto da Costa (Henry Zaga) – e definitivamente com desdém pela sarcástica e ácida Illyana Rasputin (Anya Taylor-Joy), uma poderosa mutante que pode viajar do mundo terreno para o Limbo.

Para uma história de origem, o filme funciona em sua completude; entretanto, falha em basicamente todos os outros aspectos, inclusive ao fornecer pífias investidas de pusilanimidade que poderiam desconstruir os estagnados gêneros super-heroicos dos últimos anos. Temas como fraqueza, vulnerabilidade e confiança são jogados profusamente em seus menos de 100 minutos, nunca alcançando o potencial desejado e falhando em se mostrar como uma conclusão aprazível. No final das contas, Boone cede espaço mais do que necessário para qualquer drama adolescente de baixo orçamento da década passada que diz nada ao pretender ser tudo.

No geral, são as falhas na estrutura do roteiro que não permitem que seus contundentes personagens alcancem aproveitamento máximo em cena; afinal, temos a claustrofóbica e paradoxal atmosfera pincelada pelos baixos ângulos e pelos enquadramentos opressores; temos uma minimalista trilha sonora e escolhas imagéticas que aproximam a iteração de clássicos do terror – como Invocação do Mal’ e O Exorcista; e temos um competente time artístico-técnico que contribui para que a sinestesia tenha espaço fértil para estender suas ramificações. Mas, quando justapostas às fórmulas e à falta de apreço pelo novo e pela originalidade, tudo não passa de uma mera tradução copiosamente monótona e previsível do começo ao fim.

À medida que a materialização dos medos mais profundos dos jovens mutantes começa a ameaçar sua segurança e sua vida, infundindo-os em mortais batalhas pela sobrevivência, fica claro que Dani é mais perigosa do que parece: é quase automático, até mesmo para os não familiarizados com as HQs, que sua força e seu poder provém de pesadelos e de perturbações psíquicas de seus adversários, o que explica o derradeiro comportamento dos protagonistas ao ficar cara a cara com pensamentos destrutivos. Também não é surpresa quando a Dra. Reyes, respondendo a superiores que nunca aparecem, mas respondem em nome da corporação Essex, é orientada a exterminar Dani devido à ameaça iminente que apresenta. Mais uma vez, essas “reviravoltas” (se é que podemos chamá-las assim) existem por existir e não representam nenhum impacto sólido o suficiente para mudar o arco dos heróis ou até mesmo da narrativa em que estão.

Com poucas exceções, como o breve e crível enlace romântico entre Rahne e Dani (cuja química transparece desde os primeiros minutos que dividem as telas) e a competente atuação de Taylor-Joy, Os Novos Mutantes’ não é a entrada para o panteão X-Men que queríamos naquele momento – e talvez tenha vindo com pressa demais para ser aproveitado. Entre amadores equívocos e a inexistência do dinamismo cênico, o capítulo final da saga da Fox é, infelizmente, um tiro no próprio pé.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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