Por incrível que pareça, já chegamos ao fim do primeiro semestre de 2024 – e, até agora, tivemos uma coleção considerável de ótimas produções musicais que conquistaram o público e a crítica (e ajudaram a aumentar ainda mais as nossas playlists).
Dentre os artistas que fizeram um retorno significativo, podemos citar o ótimo ‘Orquídeas’, de Kali Uchis, a infusão country-gospel de ‘Cowboy Carter’, que continuou a trilogia de Beyoncé iniciada com ‘Renaissance’, a antecipada volta de Billie Eilish com ‘Hit Me Hard and Soft’ e de Ariana Grande com ‘Eternal Sunshine’ – e vários outros.
Pensando nisso, montamos um ranking elencando os dez melhores álbuns do ano até agora.
Veja abaixo as nossas escolhas e conte para nós qual foi o seu favorito:
10. FUNK GENERATION, Anitta
“O destaque principal do disco é destinado a “Funk Rave” – uma peça musical que, sem sombra de dúvida, é uma das melhores incursões da carreira de Anitta pela ousadia com a qual trabalha uma sucessão de estilos diferentes que convergem para um inebriante coquetel de synth-funk, funk 150-BPM e funk-trap cujo único crime é durar apenas dois minutos e meio. Eventualmente, fica claro que ‘Funk Generation’ mostra que a cantora e compositora atingiu um status em que, agora, pode fazer o que bem entender e, mais do que isso, cria as próprias tendências e deixa bem claro que não está preocupada com o que os outros pensam – e sim apenas com o que deseja fazer como artista” – T.N.
9. ONLY GOD WAS ABOVE US, Vampire Weekend
Indie rock, chamber pop e neo-psychedelia são os estilos musicais que regem a soberba e inebriante arquitetura de ‘Only God Was Above Us’. O quinto álbum de uma das melhores bandas de rock da atualidade, Vampire Weekend, é inesperadamente emblemático para o grupo em si, funcionando como uma melódica exploração de seus membros em um intrincado enredo pelo conflito entre beleza e feiura, melodia e silêncio. E, talvez, o aspecto de maior sucesso seja a capacidade da banda em condensar temas de difícil escrutínio em apenas dez faixas simples e muito funcionais.
8. SUPERNOVA, Jão
Meses depois de ter lançado o ótimo ‘Super’, Jão anunciou uma aguardada versão deluxe com nada menos que oito faixas inéditas – uma delas funcionando como extensão de uma das tracks presentes no álbum original. O resultado foi uma impecável e vibrante jornada que passeia por diversos gêneros, incluindo o MPB, o synth-pop e as baladas orquestrais, construindo narrativas que oscilam do teatral ao melodramático, do confessional ao sensual – e tudo convergindo a um arauto metarreferencial pincelado com uma lírica pungente e uma exaltação testamentária do artista a si próprio.
7. ETERNAL SUNSHINE, Ariana Grande
“Enquanto muitos poderiam estar com um pé atrás com a suposta pressa com que o álbum foi construído, é notável como ‘eternal sunshine’ é uma obra pensada com minúcia e muita atenção a cada um dos detalhes. O resultado é uma gloriosa jornada tour-de-force que nos guia por um amadurecimento compulsório, um abandono da imagem que Grande carregava consigo e a abertura de um novo capítulo recheado de questões pendentes que só podem ser resolvidas com seu próprio eu – e que a eterniza como uma das vocalistas e compositoras mais honestas da contemporaneidade” – T.N.
6. TIGERS BLOOD, Waxahatchee
Waxahatchee, projeto musical firmado por Katie Crutchfield, parece existir em uma suspensão animada que não lhe dá o devido crédito – e, por mais um ano em que nos agracia com sua música, ela volta a criar mágica com o idílico ‘Tigers Blood’. O álbum, cujo lançamento foi precedido pelos singles “Right Back to It”, “Bored” e “365”, é um compilado de contos elegíacos que se abrem em um intimismo universalizante ao narrar histórias sobre conflitos amorosos ou amizades fragilizadas pelo tempo – tudo acompanhado de versos e construções sonoras deslumbrantes.
5. ORQUÍDEAS, Kali Uchis
É inegável como Kali Uchis vem se mostrando uma power-house da música ano após ano, investindo esforços em uma transmutação artística que une passado, presente e futuro em um mesmo cosmos. Logo, não é nenhuma surpresa que ‘Orquídeas’ seja mais uma obra-prima de sua discografia: ao unir forças com nomes como Peso Pluma, Karol G e Rauw Alejandro, Uchis denota sua predileção para o R&B, o reggaeton e o pop em catorze faixas bem articuladas e estilizadas ao bel-prazer da performer.
4. ALL BORN SCREAMING, St. Vincent
Se St. Vincent havia nos presenteado com uma impecável jornada indie-rock com ‘Daddy’s Home’ lá em 2021, ela estava apenas preparando terreno para um comeback espetacular, narcótico e viciante com a explosão artística de ‘All Born Screaming’. Em seu sétimo compilado de originais, a artista usa e abusa de suas habilidades para uma mixórdia inescapável e indesculpável de art rock e rock industrial, reiterando sua importância no cenário contemporâneo da música e o motivo pelo qual é considerada uma das melhores guitarristas de todos os tempos.
3. HIT ME HARD AND SOFT, Billie Eilish
“‘Hit Me Hard and Soft’ não foca apenas em um mercadológico produto para alimentar sua crescente legião de fãs, como posa em um conceitualismo marcante que amalgama diversos gêneros em um microcosmos vibrante e recheado de inflexões rítmicas arrepiantes e que nos mantêm dinamizados e energizados dentro de uma jornada sinestésica. À medida que Billie e Finneas continuam a se aventurar nos altos e baixos da indústria e firmam seus nomes para as futuras gerações de artistas, percebe-se uma renegação do que está em voga e um contraposto movimento de vaivém que nos impede de imaginar o que eles estão nos preparando” – T.N.
2. BRAT, Charli XCX
“É notável como, partindo da premissa de que Charli tem uma afeição descomunal pelo experimentalismo, ela poderia escorregar em repetições cansativas e que poderiam não trazer nada de novo à sua discografia. Todavia, ela sabe como trabalhar cada uma de suas eras a fim de construir um laço que as una em uma identidade vulcânica e disruptiva, sem ceder às falácias de uma pseudo-reinvenção. É claro que temos a presença do hyperpop, do club e do synth regendo a estrutura das faixas, mas a comunhão dos instrumentos é rearranjada a seu bel-prazer, pincelada com excessos viciantes que nos convidam a uma aventura como nenhuma outra – e é essa beleza que nos chama mais a atenção em relação a ‘BRAT’” – T.N.
1. COWBOY CARTER, Beyoncé
“Já é redundante dizer que Beyoncé faz mágica com seus álbuns – e ‘Act II: Cowboy Carter’ é uma excelente adição a uma discografia que beira a transcendentalidade. Mais uma vez, nossa Queen B reitera seu inescapável status na indústria fonográfica com um disco que celebra a cultura negra não apenas ao reavivá-la, mas ao reclamá-la e retirá-la da subjugação a uma supremacia artística branca que se esquece do que veio antes e de quem merece, de fato, ser idolatrado como precursor e pioneiro” – T.N.