Em mais de um século desde que o cinema surgiu, é notável como certos gêneros são tratados, até hoje, como representantes máximos da indústria fílmica – como os dramas, que normalmente dominam as temporadas de premiações e são caracterizados por especialistas e críticos como o suprassumo de tal criação artística.
Porém, é impossível desassociar os outros gêneros da história do cinema – algo que continua acontecendo quando voltamos nossa atenção para o terror.
Esses tipos de narrativa estão intrinsecamente ligadas à história da sétima arte, acompanhando suas revoluções técnicas e estilísticas e servindo de base para a eternização de obras de icônicos diretores – incluindo mestres como Quentin Tarantino, Akira Kurosawa e Martin Scorsese, apenas para citar alguns. E isso não é tudo: mergulhando de cabeça na psique humana e provocando o medo ou o desconforto em seu público, histórias de terror permitem que se abra espaço para discussões sobre tópicos transgressores e considerados tabus – desde eventos apocalípticos a crenças religiosas ou populares.
Não é surpresa que o gênero tenha se desmembrado em diversas ramificações, desde icônicos slashers como ‘Pânico’ e ‘Halloween’, passando por terrores psicológicos como ‘A Bruxa’ e ‘Corra!’, e chegando aos “terrires”, como ‘Casamento Sangrento’ e ‘Todo Mundo Quase Morto’.
Pensando no contínuo e inegável impacto desses longas-metragens na cultura popular, e aproveitando que estamos no mês mais místico e arrepiante do ano, preparamos uma lista elencando os dez melhores filmes de terror da década (até agora).
Veja abaixo as nossas escolhas e conte para nós qual o seu favorito:
10. PÂNICO VI (2023)
“Os vários elementos aglutinam-se em um show de horrores do qual não conseguimos desviar o olhar. Afinal, é notável como a estrutura técnica e artística é tratada com esmero, solidificando Sam, Tara e os outros personagens como integrantes de uma maquinaria complexa que pode ser bastante explorada. As atuações são de outro mundo, com destaque a Jenna Ortega (emergindo cada vez mais como uma scream queen da atualidade) e a Melissa Barrera (que fornece a mais robusta emoção com um mero olhar)” – Thiago Nolla
9. X – A MARCA DA MORTE (2020)
“Enquanto cada personagem é arquitetado para um propósito claro, West garante que as cruas e gráficas cenas de nudez não sejam gratuitas – tendo, dessa forma, uma importância considerável para que os temas do envelhecimento e da jovialidade como espectros de um anseio nostálgico e inebriante sejam refletidos em uma materialização considerável e clara para o público. E isso não é tudo: o cineasta aposta fichas em inúmeras referências clássicas, desde ‘O Massacre da Serra Elétrica’ a ‘Sexta-Feira 13’ (não como mero pastiche, mas uma mimética declaração de amor ao que precedeu a obra), garantindo que os espectadores sejam envoltos em uma experiência narcótica que foge da cronologia e abre espaço para uma atemporalidade impecável” – Thiago Nolla
8. O MENU (2022)
“A comédia de terror ‘O Menu’ chegou aos cinemas em 2022 e, em pouco tempo, tornou-se uma das produções mais comentadas do ano – por sua incrível narrativa, suas ácidas críticas e por um elenco de peso que conseguiu nos arrebatar desde os primeiros momentos. Aqui, Anya Taylor-Joy interpreta Margot, uma jovem que serve como acompanhante do pretensioso ególatra Tyler (Nicholas Hoult) a um restaurante de luxo exclusivo, localizado numa ilha distante. Lá, ela percebe que o chefe local, Slowik (Ralph Fiennes), tem um sórdido plano para matar a todos assim que o jantar chegar ao fim – e, reunindo as forças que lhe restam, ela contorna a situação e sai ilesa” – Thiago Nolla
7. NOITES BRUTAIS (2022)
“Claustrofóbico, instigante e angustiante são apenas algumas das palavras que podem descrever o surpreendente terror ‘Noites Brutais’. O filme, dirigido por Zach Cregger, se tornou uma das grandes sensações do ano ao subverter nossas expectativas e apostar fichas em uma palpável narrativa do gênero. Na trama, uma jovem descobre que a casa que alugou já está ocupada por um estranho. Contra seu melhor julgamento, ela decide passar a noite, mas logo percebe que há muito mais a temer do que apenas um hóspede inesperado” – Thiago Nolla
6. ESTOU PENSANDO EM ACABAR COM TUDO (2020)
“Nenhuma das sequências é arquitetada sem minúcia cautelosa e instigante, que nos leva a querer chegar ao fim do filme mesmo sem entender as centelhas de suspense vislumbradas em seu cerne. Desde a escolha do enjoativo papel de parede florido até a exagerada maquiagem que premedita o grand finale, Kaufman conduz com beleza surpreendente um conto lôbrego e que desperta em nós os sentimentos mais primordiais possíveis. No final das contas ‘Estou Pensando em Acabar com Tudo’ nos dá a sensação de um vazio infinito – e, se você se sentiu assim, o filme atingiu seu principal objetivo” – Thiago Nolla
5. PEARL (2022)
“Sequências de filmes de terror não costumam conseguir superar ou ao menos chegar no mesmo nível do original – com raríssimas exceções. Felizmente, ‘Pearl’ remou contra a conhecida maré do gênero e, ao emergir como pré-sequência de ‘X’ focada na assassina e em no árduo caminho trilhado para entrar para o cenário do entretenimento, consegue criar mágica em um épico e sangrento slasher. Novamente, Ti West retoma parceira com Mia Goth no que apenas podemos considerar como o maior papel de sua carreira. Aqui, ela dá vida a Pearl, uma jovem que é forçada a se confinar a uma fazenda isolada para cuidar do pai, enquanto é constantemente vigiada por uma mãe superprotetora e insana” – Thiago Nolla
4. LONGLEGS: VÍNCULO MORTAL (2024)
Em ‘Longlegs: Vínculo Mortal’, a agente do FBI Lee Harker é convocada para reabrir um caso arquivado de um serial killer. Conforme desvenda pistas, Harker se vê confrontada com uma conexão pessoal inesperada com o assassino, lançando-a em uma corrida contra o tempo. Contando com nomes como Maika Monroe e Nicolas Cage no elenco, a narrativa é uma amálgama certeira de inúmeras subgêneros do terror, além de trazer elementos de enredos detetivescos a uma atmosfera de pura tensão – apostando em atuações aplaudíveis e uma releitura inesperada de thrillers religiosos.
3. RELÍQUIA (2020)
“A estreia de Natalie Erika James nas telonas a colocou no centro dos holofotes, seguindo os passos de conterrâneos como Ari Aster e Robert Eggers, que também causaram um grande barulho quando surgiram na indústria audiovisual. A simples premissa de um thriller psicológico é conduzido com maestria através de alegorias sobre etarismo, capacitismo, legado e relações familiares, girando em torno de uma família que sofre de um mal incurável. Apesar de certas convulsões – incluindo certas sequências que talvez não tenham sido trabalhadas com a cautela necessária -, o resultado final é de tirar o fôlego e certamente coloca o longa-metragem na lista dos melhores dos últimos tempos (ainda mais numa época em que precisamos dessas joias cênicas no nossos catálogo)” – Thiago Nolla
2. A SUBSTÂNCIA (2024)
“Como Elizabeth Sparkle, a qual assiste o seu corpo ser despedaçado pelo o crescimento da sua ambição e da vontade de ser amada, ‘A Substância’ nos reverbera que no fundo tudo o que todos querem é serem amados e desejados. Sem esses dois elementos, as vidas — por vezes, até mesmo as bastantes confortáveis — passam a não fazer mais sentido e a metáfora do enredo é, ao mesmo tempo, um aceno ao mito da bruxa, voltada às mulheres idosas, ao passo que os homens idosos tornam-se sábios no meio social” – Letícia Alassë
1. O HOMEM INVISÍVEL (2020)
“‘O Homem Invisível’ é o melhor dos dois mundos: consegue fazer gelar a espinha e inserir de forma exata todos os seus sustos (sem abusar deles) como os melhores filmes de “terror de shopping”, ao mesmo tempo em que entrega profundidade, análise comportamental e grandes personagens parecendo saídos diretamente dos chamados “terror de arte”. É seguro dizer que com o filme, os envolvidos, sejam atores, diretores ou produtores, entregam um de seus melhores trabalhos nas telonas. E estão de parabéns. Agora, esperamos que a Universal siga no bom fluxo, e por que não criar tendência com os monstros? A de inserir uma mensagem forte, real e importante mesclada à diversão de seus personagens” – Pablo Bazarello