Diretor nutre um visível fascínio pelo período
O nome de Paul Thomas Anderson é um dos mais respeitados do cinema norte-americano na última década, sendo que sua parceria com o ator Daniel Day Lewis sempre rende obras que figuram como favoritas em premiações como o Oscar.
O cineasta demonstra em todas as suas obras uma atenção à construção de personalidade do protagonista, em torná-lo um indivíduo que, mesmo realizando atos de moralidade questionável, ainda assim tem um embasamento prévio que justifica tais ações aos olhos do público. Não à toa, o diretor tira embasamento justamente do ambiente em que tal personagem está inserido.
Um exemplo é em Sangue Negro, provavelmente sua obra mais cultuada, que segue um magnata inescrupuloso do petróleo, interpretado por Day Lewis, que criou sua fortuna do nada e utiliza de métodos enganosos para comprar poços descobertos em propriedades humildes. Mesmo sendo alguém antiético e muitas vezes exigente com o filho, o ambiente hostil e pobre do qual ele veio torna sua postura em algo justificável.
Entretanto, se há um ambiente que parece seduzir pessoalmente o diretor esse é os anos 70, mais especificamente a Califórnia dessa década. Com a cada vez mais próxima estreia de seu novo filme, Licorice Pizza, é certo que ele irá visitar o cenário do cinema amador californiano; ainda que essa não seja a primeira vez.
Em 1988, Paul Thomas Anderson lançou um mockumentário (documentário ficcional) intitulado The Dirk Diggler Story como parte de um trabalho escolar. A premissa gira em torno da ascensão e queda de uma estrela fictícia do cinema pornográfico,ainda que inspirada no ator real John Holmes.
Nove anos depois, o cineasta, já com certa experiência após lançar Jogada de Risco em 1996, decide revisitar esse projeto. No entanto, dessa vez ele produziu uma narrativa tradicional ao redor da história de um jovem que ascende muito rapidamente na indústria dos filmes adultos nos anos 70 e 80, mantendo ainda o nome Dirk Diggler como uma alcunha artistica no meio.
Inicialmente com intenção de contar com o jovem Leonardo DiCaprio para o papel principal porém ele já estava comprometido com o projeto de Titanic com James Cameron; o diretor acabou por chegar em Mark Wahlberg, um nome que começava a se diferenciar dos demais após contracenar com o mencionado DiCaprio em The Basketball Diaries e protagonizar o suspense Fear.
A mesma rotação de atores valeu para o papel de Jack Horner que, antes de ser assumido por Burt Reynolds, foi oferecido a nomes como Sidney Pollack e Bill Murray. A própria relação que se formou entre Reynolds e Thomas Anderson se tornou famosa por sua tempestividade, com o consagrado ator afirmando que não tinha mais vontade de trabalhar com o diretor após Boogie Nights.
O elenco ainda fechou com mais nomes de peso como Julianne Moore, Don Cheadle e Philip Seymour Hoffman. Após seu lançamento, Boogie Nights contou com uma aclamação generalizada, o filme teve presença em alguns festivais antes da estreia o que lhe concedeu expectativa para o desempenho no Oscar de 1998.
Mesmo não ganhando, ele foi indicado a três categorias chave: melhor ator coadjuvante (algo que Anderson havia prometido a Reynolds que iria ocorrer se ele embarcasse no projeto), melhor atriz coadjuvante e melhor roteiro original. A longo prazo, na filmografia do cineasta, a obra se tornou curiosa pois é notável que muitos dos nomes do elenco evitam de publicamente expressar saudosismo ou admiração com o trabalho.
O protagonista Mark Wahlberg é um caso de que mesmo não criticando o conceito da produção, ainda assim evita comentar sobre ela. Heather Graham (que interpreta Rollergirl) teve imensa dificuldade de conseguir novos papéis após Boogie Nights. Nesse período seu trabalho de maior destaque foi em uma cena curta em Pânico 2 e somente em Austin Powers: O Agente Bond Cama ela voltaria a figurar com destaque em uma grande produção.