quinta-feira , 21 novembro , 2024

Os 40 Anos de ‘Sexta-Feira 13’ | O Maior Slasher do Cinema

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Uma das franquias mais duradouras do cinema completa 40 anos em 2020. Lançado no dia 9 de maio de 1980 nos cinemas americanos (chegando ao Brasil em dezembro do mesmo ano), Sexta-Feira 13, um filme de história simples e direta, rendeu nada menos do que nove sequências, uma série de TV, um derivado e uma refilmagem. É claro, sem contar as inúmeras peças de marketing e produtos, como álbuns de figurinhas, camisas, bonecos, etc. .

Muito se falou numa continuação para o remake, a ideia, no entanto, não saiu do papel. Agora o plano é por um novo reboot – que possivelmente trará o jogador de basquete LeBron James à frente do projeto como produtor -, apesar de aparentemente estagnado, sem muitas novidades concretas. Uma nova série explorando o tema começou a ser filmada também, porém, prontamente cancelada antes de seu lançamento. Ou seja, a famosa data de azar no título parece ter pego a franquia.



O que importa na verdade, para todos os fãs e aficionados, é o aniversário da saga, que este ano se torna quarentona. E tudo começou aqui, com o primeiro Sexta-Feira 13. Como forma de homenagear este que se tornou o maior slasher de todos os tempos no cinema, o CinePOP traz esta nova matéria com muitas informações, comentários e diversas curiosidades interessantes que talvez muitos não saibam. Portanto, apaguem as luzes, olhem o calendário e vamos conhecer.

O Criador

O grande nome por trás da franquia é Sean S. Cunningham, o diretor e produtor que começou tudo. Cunningham tinha 39 anos quando lançou Sexta-Feira 13 nos cinemas, e já trabalhava como produtor e cineasta – na maioria, filmes de baixo orçamento que não ganharam muita notoriedade. Seu projeto mais famoso até então era Aniversário Macabro (1972), thriller intenso que virou cult, dirigido por Wes Craven (outro lendário nome do gênero), no qual trabalhou como produtor.

O desespero para conseguir sustentar a esposa e o filho tirou de Cunningham seu lado mais marqueteiro, e o sujeito só queria realizar um filme de sucesso. Esse era seu principal objetivo: pensar em um projeto unicamente por seu lado financeiro. Para isso, a primeira ideia do cineasta foi o título. Sexta-Feira 13 é impactante o suficiente. E isso era tudo o que ele tinha realmente quando criou um grande anúncio nas páginas de uma famosa revista da indústria na época, no qual mostrava a arte do título em terceira dimensão quebrando a tela de vidro – algo semelhante ao que é visto no trailer do filme. Foi assim que o cineasta ofereceu seu “filme” aos estúdios. Apesar disso, o título original pensado pelo roteirista era “A Long Night at Camp Blood” – algo como “Uma Longa Noite no Acampamento Sangrento”.

Provocados pelo título intrigante, alguns estúdios fizeram ofertas como num leilão e a Paramount acabou levando a melhor. Tudo o que a empresa estava comprando, no entanto, era um título. Com um orçamento de US$550 mil, o próximo passo era desenvolver a história.

A Ideia

Para o roteiro, Cunningham alistou o usual colaborador Victor Miller. E se o primeiro é o responsável por Sexta-Feira 13 existir, Miller é o responsável por tudo que vemos em tela. É dele a história sobre um grupo de jovens tentando reformar e reabrir um antigo acampamento de verão, mas sendo impedidos por uma presença misteriosa, que os mata um a um. Miller é muito claro (até hoje em entrevistas) sobre o pedido de seu produtor e diretor: imitar HalloweenA Noite do Terror (1978) – que havia se tornado um sucesso de bilheteria anos antes.

Miller, que não era fã de terror, foi então realizar sua pesquisa sobre filmes do gênero, em especial Halloween. A primeira coisa que notou era que precisava de uma tragédia prévia. Em Halloween, o filme abre com o menino Michael Myers matando sua irmã mais velha a facadas – depois, pulamos para o tempo presente. No roteiro de Miller, dois assassinatos ocorrem em 1958 e o acampamento Crystal Lake é fechado. Depois, ficamos sabendo que antes disso um menino chamado Jason havia se afogado no local, devido à negligência dos monitores que deveriam cuidar dele. Para quem conhece a trama, tal fato é toda a motivação do assassino.

Levando em conta que o filme tem nada menos que 40 anos, a esta altura todos devem saber seu segredo. Caso não queiram levar um spoiler, parem de ler, corram para assistir a este novo clássico e continuem este texto depois. Estão avisados.

Uma das sacadas do roteiro de Miller é usar o artifício do “whodunnit”. Isto é, todos os assassinatos são cometidos em primeira pessoa e nunca vemos o rosto do vilão – apenas vislumbres de seus pés e mãos. O filme faz questão de esconder a identidade do psicopata até seu desfecho. No entanto, o culpado não é nenhum personagem que tenha sido apresentado previamente. O assassino aqui é uma mulher – coisa rara em obras do gênero – e não apenas isso, mas é a típica e acolhedora mamãe americana, a Sra. Voorhees. A ideia de Miller era subverter o conceito da agradável mãe de família, que faz tortas de maçã e cuida do marido e dos filhos, a transformando numa psicopata sanguinária e feroz. Ela havia trabalhado no local como cozinheira, e Jason, o menino afogado, era seu filho. Agora, ela retorna para se vingar de todos que pensam em reabrir o local.

O Elenco

Para os personagens que seriam eliminados um a um, Cunningham buscava um elenco jovem e bonito. Esses eram os únicos requisitos. Nas palavras do próprio, eles precisavam parecer figurantes num comercial de Pepsi. No entanto, grande parte destes jovens eram atores de musicais da Broadway, com conhecimento do palco, mas em seu primeiro trabalho no cinema. Dentre os jovens, Kevin Bacon viria a se tornar o rosto mais conhecido – e o único que atualmente evita falar sobre sua participação no terror slasher.

Curiosamente, na época não era o nome de Kevin Bacon o planejado para chamar atenção no elenco dos jovens. Seguindo novamente de perto os planos de Halloween, que trouxe como protagonista Jamie Lee Curtis (filha dos astros Tony Curtis e Janet Leigh), os produtores de Sexta-Feira 13 escalaram Harry Crosby (filho do lendário Bing Crosby) para sua estreia no cinema, no papel do protagonista masculino Bill. A ideia era atrair o público com este chamariz. Ao contrário da protagonista de Halloween, no entanto, a carreira do filho de Crosby não decolou.

A verdadeira protagonista do filme, porém, é Alice, papel de Adrianne King. Ela é a chamada “final girl”, a heroína que sempre sobrevive ao final em todo filme de terror slasher, derrotando o vilão. Curiosamente, ela não é impulsionada desta forma durante a projeção, ganhando protagonismo meio sem querer, ao seguir vivendo enquanto seus amigos são eliminados. Ganhamos, inclusive, uma brincadeira no estilo de Psicose (1960), clássico irretocável de Hitchcock, onde o filme tenta nos vender uma falsa protagonista, que se torna a primeira vítima – aqui a caronista Annie (Robbi Morgan), a nova cozinheira que nunca chega ao acampamento.

O verdadeiro nome de peso em Sexta-Feira 13 na época, entretanto, era o da atriz Betsy Palmer, que interpreta a vilã Sra. Voorhees. Palmer, falecida em 2015 aos 88 anos, era uma atriz estabelecida da década de 1950, que havia parado de atuar. Entrando no ostracismo e precisando do dinheiro, ela aceitaria o papel mesmo tendo achado o roteiro uma boa m*rda, palavras da própria. Mal sabia ela que esta viria a se tornar sua personagem mais famosa e a que a deixaria imortalizada para sempre. Palmer tentou dar o máximo de credibilidade ao papel, atuando de forma contida e séria (dentro do possível), evitando exageros megalomaníacos – mesmo que possamos perceber claramente sua loucura no desfecho. Betsy Palmer recebeu US$1 mil por dia, e trabalhou apenas dez dias na produção.

Maquiagem e Trilha Sonora

Apesar de algumas surpresas em sua trama e alguns diferenciais (como ter uma assassina mulher, uma senhora em busca de vingança pela morte do filho), o roteiro de Sexta-Feira 13 não é um primor, por assim dizer. Então, o longa foi vendido através de alguns outros possíveis atrativos. Um deles foi a sua maquiagem e efeitos visuais – os melhores da época no gênero. Para tanto, a produção foi atrás de Tom Savini, que havia criado tais elementos para Despertar dos Mortos, de George Romero, dois anos antes, e impressionado a equipe deste filme. E grande parte do sucesso de Sexta-Feira 13 se deve aos impressionantes efeitos sangrentos que Savini trouxe para a produção. São flechas atravessando pescoços, machadadas na cara, decapitações e todo tipo de cortes, perfurações e machucados – que chocaram e entretiveram a plateia da época, assim como um trem fantasma de parque de diversão. Ou uma montanha russa, repleta de sustos e adrenalina.

Foi inclusive devido à maquiagem de Savini que ganhamos o maior vilão que esta franquia veria: Jason. Como dito acima, a assassina aqui é a Sra. Voorhees, a mãe de Jason – o próprio aparece apenas em flashback se afogando enquanto sua mãe conta sobre sua morte acidental. Originalmente, Jason não estaria no primeiro filme, e em partes não está.

Acontece que os realizadores perceberam que precisavam de um final apoteótico, e seguiram à risca “copiando” de sucessos recentes da época. O escolhido como “inspiração” para terminar o longa foi Carrie – A Estranha (1976), que utiliza um jump scare final de uma mão saindo do túmulo – uma sequência de sonho. Em Sexta-Feira 13, foi criada a cena final em que o menino Jason pula do lago e leva Alice para o fundo. Ela acorda no hospital, mostrando que era apenas um sonho, assim como no filme citado de Brian De Palma. Para que o susto ficasse ainda mais impactante, Savini desenvolveu a maquiagem deformada para o rosto de Jason, além do lodo e das plantas, por ter ficado todo este tempo dentro do lago. Daí nascia o conceito do grande vilão dos slasher.

Quanto à música, a famosa trilha de Sexta-Feira 13, o responsável foi o compositor Harry Manfredini. Sua ideia foi usar a nervosa música apenas nos ataques do assassino. E para isso, tirou dos delírios da Sra. Voorhees a amálgama de sílabas das palavras por ela proferidas durante o filme para criar a icônica “tchi tchi tchi tcha tcha tcha”. Na verdade, ecos de sintetizadores que ressoam o “ki ki ki” da palavra kill (matar) e “ma ma ma” de mommy (mamãe). Ou seja, trechos do diálogo “mate ela mamãe”, que a vilã, no melhor estilo Norman Bates e sua mãe, profere a si mesma.

Recepção e Legado

Sexta-Feira 13 estreou e se tornou um verdadeiro sucesso de bilheteria. Com um orçamento de US$550 mil, o terror rendeu US$40 milhões somente nos EUA. O filme virou uma febre e viveu para se tornar o mais famoso dentro do subgênero slasher – podemos até mesmo afirmar que foi o responsável por impulsioná-lo ao mainstream, e criar tendência. De repente, todo mundo queria uma fatia deste sucesso, e diversas produções no estilo eram criadas, pelos mais variados estúdios e produtoras. Até mesmo Halloween, o filme imitado, se viu correndo atrás dos louros de seu imitador – os produtores obrigaram John Carpenter a confeccionar uma sequência para surfar no sucesso de Sexta-Feira 13.

Mostrando que crítica e público nem sempre respondem a um filme da mesma forma, Sexta-Feira 13 foi massacrado pela imprensa especializada. As principais acusações eram a violência excessiva e a violência direcionada à mulher. Acusado de misoginia, o filme foi usado como exemplo no programa especial dos críticos Gene Siskel e Roger Ebert (os primeiros e mais famosos “críticos em vídeo” do mundo) sobre a violência contra jovens mulheres neste tipo de filme. Siskel foi além, chegando ao ponto de divulgar o endereço de Betsy Palmer no jornal em que escrevia (um veículo importante de Chicago), incentivando os fãs decepcionados da atriz a lhe escreverem cartas criticando sua escolha de projeto. Felizmente para Palmer, o crítico divulgou o endereço errado.

Sexta-Feira 13 é violento, assustador e sangrento. Seu único objetivo era o sucesso financeiro e isto foi atingido por seu criador Sean S. Cunningham. Mas nem mesmo ele, o roteirista Victor Miller, ou qualquer envolvido poderia prever o sucesso meteórico do filme junto aos fãs de terror e dos jovens. Para termos uma ideia, as críticas conservadoras de gente como Gene Siskel citado acima, apenas serviram para catapultar ainda mais as vendas de ingresso. É a famosa estratégia publicitária do falem mal, mas falem de mim. Seu rendimento foi tão satisfatório que a Paramount tratou de dar sinal verde instantâneo para a sequência, lançada logo no ano seguinte. E assim novas continuações foram lançadas durante praticamente todos os anos da década de 1980 – com um total de oito filmes lançados até 1989.

Ninguém imaginaria a proporção que a coisa tomaria e a dimensão desta propriedade, adorada até hoje. Cunningham construiu um mini império e os envolvidos continuam famosos e adorados. Mesmo com uma ideia simples, talvez datada hoje, mas bem executada, Sexta-Feira 13 é um pré-requisito e uma obra indispensável para todos que se dizem fãs do gênero terror no cinema.

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Muito se falou numa continuação para o remake, a ideia, no entanto, não saiu do papel. Agora o plano é por um novo reboot – que possivelmente trará o jogador de basquete LeBron James à frente do projeto como produtor -, apesar de aparentemente estagnado, sem muitas novidades concretas. Uma nova série explorando o tema começou a ser filmada também, porém, prontamente cancelada antes de seu lançamento. Ou seja, a famosa data de azar no título parece ter pego a franquia.

O que importa na verdade, para todos os fãs e aficionados, é o aniversário da saga, que este ano se torna quarentona. E tudo começou aqui, com o primeiro Sexta-Feira 13. Como forma de homenagear este que se tornou o maior slasher de todos os tempos no cinema, o CinePOP traz esta nova matéria com muitas informações, comentários e diversas curiosidades interessantes que talvez muitos não saibam. Portanto, apaguem as luzes, olhem o calendário e vamos conhecer.

O Criador

O grande nome por trás da franquia é Sean S. Cunningham, o diretor e produtor que começou tudo. Cunningham tinha 39 anos quando lançou Sexta-Feira 13 nos cinemas, e já trabalhava como produtor e cineasta – na maioria, filmes de baixo orçamento que não ganharam muita notoriedade. Seu projeto mais famoso até então era Aniversário Macabro (1972), thriller intenso que virou cult, dirigido por Wes Craven (outro lendário nome do gênero), no qual trabalhou como produtor.

O desespero para conseguir sustentar a esposa e o filho tirou de Cunningham seu lado mais marqueteiro, e o sujeito só queria realizar um filme de sucesso. Esse era seu principal objetivo: pensar em um projeto unicamente por seu lado financeiro. Para isso, a primeira ideia do cineasta foi o título. Sexta-Feira 13 é impactante o suficiente. E isso era tudo o que ele tinha realmente quando criou um grande anúncio nas páginas de uma famosa revista da indústria na época, no qual mostrava a arte do título em terceira dimensão quebrando a tela de vidro – algo semelhante ao que é visto no trailer do filme. Foi assim que o cineasta ofereceu seu “filme” aos estúdios. Apesar disso, o título original pensado pelo roteirista era “A Long Night at Camp Blood” – algo como “Uma Longa Noite no Acampamento Sangrento”.

Provocados pelo título intrigante, alguns estúdios fizeram ofertas como num leilão e a Paramount acabou levando a melhor. Tudo o que a empresa estava comprando, no entanto, era um título. Com um orçamento de US$550 mil, o próximo passo era desenvolver a história.

A Ideia

Para o roteiro, Cunningham alistou o usual colaborador Victor Miller. E se o primeiro é o responsável por Sexta-Feira 13 existir, Miller é o responsável por tudo que vemos em tela. É dele a história sobre um grupo de jovens tentando reformar e reabrir um antigo acampamento de verão, mas sendo impedidos por uma presença misteriosa, que os mata um a um. Miller é muito claro (até hoje em entrevistas) sobre o pedido de seu produtor e diretor: imitar HalloweenA Noite do Terror (1978) – que havia se tornado um sucesso de bilheteria anos antes.

Miller, que não era fã de terror, foi então realizar sua pesquisa sobre filmes do gênero, em especial Halloween. A primeira coisa que notou era que precisava de uma tragédia prévia. Em Halloween, o filme abre com o menino Michael Myers matando sua irmã mais velha a facadas – depois, pulamos para o tempo presente. No roteiro de Miller, dois assassinatos ocorrem em 1958 e o acampamento Crystal Lake é fechado. Depois, ficamos sabendo que antes disso um menino chamado Jason havia se afogado no local, devido à negligência dos monitores que deveriam cuidar dele. Para quem conhece a trama, tal fato é toda a motivação do assassino.

Levando em conta que o filme tem nada menos que 40 anos, a esta altura todos devem saber seu segredo. Caso não queiram levar um spoiler, parem de ler, corram para assistir a este novo clássico e continuem este texto depois. Estão avisados.

Uma das sacadas do roteiro de Miller é usar o artifício do “whodunnit”. Isto é, todos os assassinatos são cometidos em primeira pessoa e nunca vemos o rosto do vilão – apenas vislumbres de seus pés e mãos. O filme faz questão de esconder a identidade do psicopata até seu desfecho. No entanto, o culpado não é nenhum personagem que tenha sido apresentado previamente. O assassino aqui é uma mulher – coisa rara em obras do gênero – e não apenas isso, mas é a típica e acolhedora mamãe americana, a Sra. Voorhees. A ideia de Miller era subverter o conceito da agradável mãe de família, que faz tortas de maçã e cuida do marido e dos filhos, a transformando numa psicopata sanguinária e feroz. Ela havia trabalhado no local como cozinheira, e Jason, o menino afogado, era seu filho. Agora, ela retorna para se vingar de todos que pensam em reabrir o local.

O Elenco

Para os personagens que seriam eliminados um a um, Cunningham buscava um elenco jovem e bonito. Esses eram os únicos requisitos. Nas palavras do próprio, eles precisavam parecer figurantes num comercial de Pepsi. No entanto, grande parte destes jovens eram atores de musicais da Broadway, com conhecimento do palco, mas em seu primeiro trabalho no cinema. Dentre os jovens, Kevin Bacon viria a se tornar o rosto mais conhecido – e o único que atualmente evita falar sobre sua participação no terror slasher.

Curiosamente, na época não era o nome de Kevin Bacon o planejado para chamar atenção no elenco dos jovens. Seguindo novamente de perto os planos de Halloween, que trouxe como protagonista Jamie Lee Curtis (filha dos astros Tony Curtis e Janet Leigh), os produtores de Sexta-Feira 13 escalaram Harry Crosby (filho do lendário Bing Crosby) para sua estreia no cinema, no papel do protagonista masculino Bill. A ideia era atrair o público com este chamariz. Ao contrário da protagonista de Halloween, no entanto, a carreira do filho de Crosby não decolou.

A verdadeira protagonista do filme, porém, é Alice, papel de Adrianne King. Ela é a chamada “final girl”, a heroína que sempre sobrevive ao final em todo filme de terror slasher, derrotando o vilão. Curiosamente, ela não é impulsionada desta forma durante a projeção, ganhando protagonismo meio sem querer, ao seguir vivendo enquanto seus amigos são eliminados. Ganhamos, inclusive, uma brincadeira no estilo de Psicose (1960), clássico irretocável de Hitchcock, onde o filme tenta nos vender uma falsa protagonista, que se torna a primeira vítima – aqui a caronista Annie (Robbi Morgan), a nova cozinheira que nunca chega ao acampamento.

O verdadeiro nome de peso em Sexta-Feira 13 na época, entretanto, era o da atriz Betsy Palmer, que interpreta a vilã Sra. Voorhees. Palmer, falecida em 2015 aos 88 anos, era uma atriz estabelecida da década de 1950, que havia parado de atuar. Entrando no ostracismo e precisando do dinheiro, ela aceitaria o papel mesmo tendo achado o roteiro uma boa m*rda, palavras da própria. Mal sabia ela que esta viria a se tornar sua personagem mais famosa e a que a deixaria imortalizada para sempre. Palmer tentou dar o máximo de credibilidade ao papel, atuando de forma contida e séria (dentro do possível), evitando exageros megalomaníacos – mesmo que possamos perceber claramente sua loucura no desfecho. Betsy Palmer recebeu US$1 mil por dia, e trabalhou apenas dez dias na produção.

Maquiagem e Trilha Sonora

Apesar de algumas surpresas em sua trama e alguns diferenciais (como ter uma assassina mulher, uma senhora em busca de vingança pela morte do filho), o roteiro de Sexta-Feira 13 não é um primor, por assim dizer. Então, o longa foi vendido através de alguns outros possíveis atrativos. Um deles foi a sua maquiagem e efeitos visuais – os melhores da época no gênero. Para tanto, a produção foi atrás de Tom Savini, que havia criado tais elementos para Despertar dos Mortos, de George Romero, dois anos antes, e impressionado a equipe deste filme. E grande parte do sucesso de Sexta-Feira 13 se deve aos impressionantes efeitos sangrentos que Savini trouxe para a produção. São flechas atravessando pescoços, machadadas na cara, decapitações e todo tipo de cortes, perfurações e machucados – que chocaram e entretiveram a plateia da época, assim como um trem fantasma de parque de diversão. Ou uma montanha russa, repleta de sustos e adrenalina.

Foi inclusive devido à maquiagem de Savini que ganhamos o maior vilão que esta franquia veria: Jason. Como dito acima, a assassina aqui é a Sra. Voorhees, a mãe de Jason – o próprio aparece apenas em flashback se afogando enquanto sua mãe conta sobre sua morte acidental. Originalmente, Jason não estaria no primeiro filme, e em partes não está.

Acontece que os realizadores perceberam que precisavam de um final apoteótico, e seguiram à risca “copiando” de sucessos recentes da época. O escolhido como “inspiração” para terminar o longa foi Carrie – A Estranha (1976), que utiliza um jump scare final de uma mão saindo do túmulo – uma sequência de sonho. Em Sexta-Feira 13, foi criada a cena final em que o menino Jason pula do lago e leva Alice para o fundo. Ela acorda no hospital, mostrando que era apenas um sonho, assim como no filme citado de Brian De Palma. Para que o susto ficasse ainda mais impactante, Savini desenvolveu a maquiagem deformada para o rosto de Jason, além do lodo e das plantas, por ter ficado todo este tempo dentro do lago. Daí nascia o conceito do grande vilão dos slasher.

Quanto à música, a famosa trilha de Sexta-Feira 13, o responsável foi o compositor Harry Manfredini. Sua ideia foi usar a nervosa música apenas nos ataques do assassino. E para isso, tirou dos delírios da Sra. Voorhees a amálgama de sílabas das palavras por ela proferidas durante o filme para criar a icônica “tchi tchi tchi tcha tcha tcha”. Na verdade, ecos de sintetizadores que ressoam o “ki ki ki” da palavra kill (matar) e “ma ma ma” de mommy (mamãe). Ou seja, trechos do diálogo “mate ela mamãe”, que a vilã, no melhor estilo Norman Bates e sua mãe, profere a si mesma.

Recepção e Legado

Sexta-Feira 13 estreou e se tornou um verdadeiro sucesso de bilheteria. Com um orçamento de US$550 mil, o terror rendeu US$40 milhões somente nos EUA. O filme virou uma febre e viveu para se tornar o mais famoso dentro do subgênero slasher – podemos até mesmo afirmar que foi o responsável por impulsioná-lo ao mainstream, e criar tendência. De repente, todo mundo queria uma fatia deste sucesso, e diversas produções no estilo eram criadas, pelos mais variados estúdios e produtoras. Até mesmo Halloween, o filme imitado, se viu correndo atrás dos louros de seu imitador – os produtores obrigaram John Carpenter a confeccionar uma sequência para surfar no sucesso de Sexta-Feira 13.

Mostrando que crítica e público nem sempre respondem a um filme da mesma forma, Sexta-Feira 13 foi massacrado pela imprensa especializada. As principais acusações eram a violência excessiva e a violência direcionada à mulher. Acusado de misoginia, o filme foi usado como exemplo no programa especial dos críticos Gene Siskel e Roger Ebert (os primeiros e mais famosos “críticos em vídeo” do mundo) sobre a violência contra jovens mulheres neste tipo de filme. Siskel foi além, chegando ao ponto de divulgar o endereço de Betsy Palmer no jornal em que escrevia (um veículo importante de Chicago), incentivando os fãs decepcionados da atriz a lhe escreverem cartas criticando sua escolha de projeto. Felizmente para Palmer, o crítico divulgou o endereço errado.

Sexta-Feira 13 é violento, assustador e sangrento. Seu único objetivo era o sucesso financeiro e isto foi atingido por seu criador Sean S. Cunningham. Mas nem mesmo ele, o roteirista Victor Miller, ou qualquer envolvido poderia prever o sucesso meteórico do filme junto aos fãs de terror e dos jovens. Para termos uma ideia, as críticas conservadoras de gente como Gene Siskel citado acima, apenas serviram para catapultar ainda mais as vendas de ingresso. É a famosa estratégia publicitária do falem mal, mas falem de mim. Seu rendimento foi tão satisfatório que a Paramount tratou de dar sinal verde instantâneo para a sequência, lançada logo no ano seguinte. E assim novas continuações foram lançadas durante praticamente todos os anos da década de 1980 – com um total de oito filmes lançados até 1989.

Ninguém imaginaria a proporção que a coisa tomaria e a dimensão desta propriedade, adorada até hoje. Cunningham construiu um mini império e os envolvidos continuam famosos e adorados. Mesmo com uma ideia simples, talvez datada hoje, mas bem executada, Sexta-Feira 13 é um pré-requisito e uma obra indispensável para todos que se dizem fãs do gênero terror no cinema.

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