domingo , 22 dezembro , 2024

Os 93 Anos do Clássico Metrópolis e o protótipo do estilo Cyberpunk

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Obra clássica de Fritz Lang tem todos os elementos que se consagraram no subgênero

Com o lançamento do jogo Cyberpunk 2077 o subgênero homônimo do jogo vai ganhando maior destaque; subgênero porque para muitos o cyberpunk é uma extensão do gênero maior que é a ficção científica (cujas outras ramificações são, por exemplo, o steampunk, dieselpunk, apocalíptico e pós-apocalíptico). Apesar desse estilo ter ganhado grande proeminência durante os anos 80, tanto é que os termos cyber e punk surgiram justamente nesse período, as regras básicas que seus enredos seguem remontam há muito antes.



O movimento expressionista alemão é um dos mais importantes na história do cinema, tendo inovado não só na estética dos filmes como também na forma de contar histórias. Dos nomes envolvidos o de Fritz Lang se destaca, tendo em sua filmografia uma coleção de filmes que melhor representam esse período. 

Exemplos são alguns de seus trabalhos como o suspense M – O Vampiro de Dusseldorf, de 1931, onde o diretor estabelece uma cidade que, assolada por uma onda de assassinatos envolvendo crianças, cansa de esperar por um posicionamento das autoridades e parte para uma caçada humana atrás do culpado. A partir de 1922 ele inicia a série de adaptações dos romances policiais de Norbert Jacques sobre o icônico Dr. Mabuse.

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Com “M ” Lang entrega ao espectador uma cidade a beira do caos

Nenhuma obra, porém, se compara a Metrópolis. o filme mudo de 1927 se propõe a apresentar um cenário divisivo. Por um lado é mostrada uma bela cidade onde todos os seus habitantes vivem bem, apresentam certo nível de riqueza e a paisagem é tomada por prédios, pistas de atletismo, jardins e pela opulenta Nova Torre de Babel. Por outro lado existe todo um submundo menos favorecido que é responsável por manter funcionando essa “utopia”.

Essa parcela da população vive em guetos abaixo da terra e diariamente revezam em turnos para manter as máquinas funcionando, pondo em risco suas vidas no processo. Logo de cara é evidente que um elemento primordial do subgênero cyberpunk dá as caras: a divisão social. Comumente em obras desse tipo a sociedade é representada como um local onde as disparidades entre ricos e pobres é tão gritante que também se tornou irreversível. 

A forma como Fritz Lang, junto ao roteiro de Thea von Harbou, abordou essa diferença foi justamente tornando-a um elemento central da trama, onde o protagonista é oriundo de uma família rica da superfície e, após se apaixonar por uma moça pertencente a sociedade do subsolo, adquire uma “consciência de classe” e passa a confrontar seu pai sobre o porquê do mundo ser da forma que é.

A cidade em Metrópolis, simbolizada pela Nova Torre de Babel, possui uma profunda divisão social

Esse autoquestionamento, aliás, que o protagonista Freder adquire e desenvolve ao longo da história foi um dos elementos mais polêmicos (para não dizer subversivo) na época de seu lançamento. Em 1927, apesar do mundo não viver ainda a paranoia da Guerra Fria, havia sim temor por parte de governos e setores da Europa a respeito do movimento comunista. Lembrando que em 1922 a União Soviética foi oficialmente instaurada e o assassinato do czar Nicholau II bem como de toda a sua família durante a revolução russa de 1917 ainda estava muito fresco na memória das elites europeias.

Portanto, quando Metrópolis estreou nos cinemas alemães com uma história que remetia em muito a teoria da luta de classes proposta por Marx e Engels muitos teceram críticas ferrenhas ao filme, isso fica muito evidente no livro Fritz Lang: The Nature of the Beast de Patrick McGilligan. Outro fator que pesou contra o filme foi sua duração; inicialmente o corte que foi para os cinemas da época tinha mais do que duas horas de duração e isso foi algo tanto inovador quanto negativo para o filme.

Importante lembrar que a essa altura o cinema estava em meio a era dos filmes mudos e, naturalmente, tais produções eram bem curtas. Então, quando Lang surgiu com esse material com mais de duas horas de duração, o estúdio exigiu de imediato que cortes de edição fossem feitos para tornar a obra menor e mais de acordo com o que era a regra até então. O resultado não poderia ser outro senão uma nova versão confusa e consequentemente subestimada (um caso muito parecido com o que aconteceu com Blade Runner em 1982).

Metrópolis sofreu muito com cortes na edição

Se por um lado a abordagem da trama e a edição final geraram uma recepção negativa, por outro a estética se tornou referência histórica para o cinema desde o primeiro momento. A arquitetura da cidade em Metrópolis teve grande inspiração em estilos artísticos como o Art Deco ou a escola artística Bauhaus. A segunda, em particular, talvez tenha maior ligação ainda com o filme pois tanto ela quanto a obra em si foram criados durante o período da República de Weimar; período democrático esse que antecedeu a ascensão do nazismo.

Aqui já surge outro elemento que se tornaria regra para o obras futuras de cyberpunk que é o visual urbano. Apesar de não contar com várias cenas externas pela cidade e dessa forma o espectador vê bem pouco daquilo tudo, o que se tem é esse ambiente urbano claustrofóbico em que em cada canto tem um prédio ou um carro e no centro a Nova Torre de Babel. De fato, é notável a escassez de letreiros em neon (apesar de haverem) que são marcas registradas desse nicho, porém, há de se ressaltar não só as limitações técnicas da época como também que os famosos letreiros só se popularizaram nos anos 80.

Por fim, como uma peça final tem o robô identificado apenas como Maschinenmensch (ou Homem-Máquina) que dá as caras na parte final da obra. Além da estética humanoide dourada que inspirou principalmente George Lucas e sua equipe durante a produção inicial de Star Wars, tem-se ali um debate sobre questões de humanidade. Tanto a revolta da máquina contra seu criador quanto a subsequente conversão da mesma em humana ressalta o debate sobre até onde uma inteligência artificial pode ou não ser considerada humana.

Muito já foi dito sobre o clássico de Fritz Lang. Analisado e dissecado aos montes, ele influenciou, corretamente, todo o gênero da ficção científica subsequente; não importando se é no cinema ou na literatura. Mais especificamente ao cyberpunk muitos dos ingredientes podem ser vistos ali, ainda que não elaborados com essa finalidade.

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Com o lançamento do jogo Cyberpunk 2077 o subgênero homônimo do jogo vai ganhando maior destaque; subgênero porque para muitos o cyberpunk é uma extensão do gênero maior que é a ficção científica (cujas outras ramificações são, por exemplo, o steampunk, dieselpunk, apocalíptico e pós-apocalíptico). Apesar desse estilo ter ganhado grande proeminência durante os anos 80, tanto é que os termos cyber e punk surgiram justamente nesse período, as regras básicas que seus enredos seguem remontam há muito antes.

O movimento expressionista alemão é um dos mais importantes na história do cinema, tendo inovado não só na estética dos filmes como também na forma de contar histórias. Dos nomes envolvidos o de Fritz Lang se destaca, tendo em sua filmografia uma coleção de filmes que melhor representam esse período. 

Exemplos são alguns de seus trabalhos como o suspense M – O Vampiro de Dusseldorf, de 1931, onde o diretor estabelece uma cidade que, assolada por uma onda de assassinatos envolvendo crianças, cansa de esperar por um posicionamento das autoridades e parte para uma caçada humana atrás do culpado. A partir de 1922 ele inicia a série de adaptações dos romances policiais de Norbert Jacques sobre o icônico Dr. Mabuse.

Com “M ” Lang entrega ao espectador uma cidade a beira do caos

Nenhuma obra, porém, se compara a Metrópolis. o filme mudo de 1927 se propõe a apresentar um cenário divisivo. Por um lado é mostrada uma bela cidade onde todos os seus habitantes vivem bem, apresentam certo nível de riqueza e a paisagem é tomada por prédios, pistas de atletismo, jardins e pela opulenta Nova Torre de Babel. Por outro lado existe todo um submundo menos favorecido que é responsável por manter funcionando essa “utopia”.

Essa parcela da população vive em guetos abaixo da terra e diariamente revezam em turnos para manter as máquinas funcionando, pondo em risco suas vidas no processo. Logo de cara é evidente que um elemento primordial do subgênero cyberpunk dá as caras: a divisão social. Comumente em obras desse tipo a sociedade é representada como um local onde as disparidades entre ricos e pobres é tão gritante que também se tornou irreversível. 

A forma como Fritz Lang, junto ao roteiro de Thea von Harbou, abordou essa diferença foi justamente tornando-a um elemento central da trama, onde o protagonista é oriundo de uma família rica da superfície e, após se apaixonar por uma moça pertencente a sociedade do subsolo, adquire uma “consciência de classe” e passa a confrontar seu pai sobre o porquê do mundo ser da forma que é.

A cidade em Metrópolis, simbolizada pela Nova Torre de Babel, possui uma profunda divisão social

Esse autoquestionamento, aliás, que o protagonista Freder adquire e desenvolve ao longo da história foi um dos elementos mais polêmicos (para não dizer subversivo) na época de seu lançamento. Em 1927, apesar do mundo não viver ainda a paranoia da Guerra Fria, havia sim temor por parte de governos e setores da Europa a respeito do movimento comunista. Lembrando que em 1922 a União Soviética foi oficialmente instaurada e o assassinato do czar Nicholau II bem como de toda a sua família durante a revolução russa de 1917 ainda estava muito fresco na memória das elites europeias.

Portanto, quando Metrópolis estreou nos cinemas alemães com uma história que remetia em muito a teoria da luta de classes proposta por Marx e Engels muitos teceram críticas ferrenhas ao filme, isso fica muito evidente no livro Fritz Lang: The Nature of the Beast de Patrick McGilligan. Outro fator que pesou contra o filme foi sua duração; inicialmente o corte que foi para os cinemas da época tinha mais do que duas horas de duração e isso foi algo tanto inovador quanto negativo para o filme.

Importante lembrar que a essa altura o cinema estava em meio a era dos filmes mudos e, naturalmente, tais produções eram bem curtas. Então, quando Lang surgiu com esse material com mais de duas horas de duração, o estúdio exigiu de imediato que cortes de edição fossem feitos para tornar a obra menor e mais de acordo com o que era a regra até então. O resultado não poderia ser outro senão uma nova versão confusa e consequentemente subestimada (um caso muito parecido com o que aconteceu com Blade Runner em 1982).

Metrópolis sofreu muito com cortes na edição

Se por um lado a abordagem da trama e a edição final geraram uma recepção negativa, por outro a estética se tornou referência histórica para o cinema desde o primeiro momento. A arquitetura da cidade em Metrópolis teve grande inspiração em estilos artísticos como o Art Deco ou a escola artística Bauhaus. A segunda, em particular, talvez tenha maior ligação ainda com o filme pois tanto ela quanto a obra em si foram criados durante o período da República de Weimar; período democrático esse que antecedeu a ascensão do nazismo.

Aqui já surge outro elemento que se tornaria regra para o obras futuras de cyberpunk que é o visual urbano. Apesar de não contar com várias cenas externas pela cidade e dessa forma o espectador vê bem pouco daquilo tudo, o que se tem é esse ambiente urbano claustrofóbico em que em cada canto tem um prédio ou um carro e no centro a Nova Torre de Babel. De fato, é notável a escassez de letreiros em neon (apesar de haverem) que são marcas registradas desse nicho, porém, há de se ressaltar não só as limitações técnicas da época como também que os famosos letreiros só se popularizaram nos anos 80.

Por fim, como uma peça final tem o robô identificado apenas como Maschinenmensch (ou Homem-Máquina) que dá as caras na parte final da obra. Além da estética humanoide dourada que inspirou principalmente George Lucas e sua equipe durante a produção inicial de Star Wars, tem-se ali um debate sobre questões de humanidade. Tanto a revolta da máquina contra seu criador quanto a subsequente conversão da mesma em humana ressalta o debate sobre até onde uma inteligência artificial pode ou não ser considerada humana.

Muito já foi dito sobre o clássico de Fritz Lang. Analisado e dissecado aos montes, ele influenciou, corretamente, todo o gênero da ficção científica subsequente; não importando se é no cinema ou na literatura. Mais especificamente ao cyberpunk muitos dos ingredientes podem ser vistos ali, ainda que não elaborados com essa finalidade.

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