Recentemente, lançamos aqui no CinePOP uma lista com as melhores produções cinematográficas desta primeira metade de 2016. Como nem tudo são flores, nosso trabalho envolve também assistir a muita porcaria, filmes tão ruins que nos fazem questionar nossa existência e reavaliar a profissão. São produções que nos tiram duas horas de vida (em média) que nunca mais recuperaremos; e a lista dos piores serve justamente para apontar dedos e dar nomes aos bois.
Existem críticos que consideram antiético formular tais listas, no entanto, elas não passam verdadeiramente de uma grande brincadeira, já que um filme considerado ruim pode atingir status de cult, e terminar mais divertido do que muitas obras consideradas “sérias” ou “boas”. Fora isso, o que seriam dos bons filmes sem os ruins. Tudo isso é apenas outra forma de celebrarmos os filmes e, por que não, promove-los. Vamos à infame contagem dos pontos negativos deste início de 2016.
Garota nada Exemplar
Eu adoro a atriz Rosamund Pike. Além de ser um colírio para os olhos, a britânica é ótima atriz, como provou quando recebeu a chance de atuar em Garota Exemplar (2014), filme que se tornou um divisor de águas em sua carreia, rendendo para ela uma indicação ao Oscar. Mas será que tal marco foi bom?
Existe um termo chamado “a maldição do Oscar”, e ele se refere ao fato de que quando um ator está na crista da onda, com todo o reconhecimento e prestígio que os prêmios da Academia podem trazer para sua carreira, nada lhes resta a não ser o caminho para baixo. Nem sempre isso é verdade, mas já se provou inúmeras vezes. E infelizmente, com Rosamund Pike isso parece ter ocorrido.
É só dar uma olhada nos trabalhos da atriz pós Garota Exemplar, como, por exemplo, o infantil O que Nos Fizemos no Nosso Feriado, um filme tão bobinho que seria domado demais até para uma exibição da Sessão da Tarde. Temos também o suspense Sede de Vingança, que descaradamente tenta capitalizar em cima da imagem fria e calculista que a atriz adquiriu como Amy Dunne, do citado indicado ao Oscar. Sede de Vingança, no entanto, soa inacabado e amador, não podendo sequer usar como desculpa o fato de ter sido uma produção feita direto para vídeo – o que não é mais uma definição pejorativa. Ambas as produções citadas se encontram na plataforma Netflix, assista por conta e risco.
Sete Dias Sem Fim
De certa forma, esta produção lembra Álbum de Família, filme estrelado por Julia Roberts e Meryl Streep, lançada em 2013. Os dois filmes retratam a união forçada de uma família disfuncional, precisando permanecer juntos para o funeral do patriarca. A estrutura é a mesma, só os componentes (e a qualidade) são alterados. Álbum de Família não é unânime e levou sua cota de criticas negativas dos especialistas, no entanto, prevalece sobre este filme dirigido pelo destrambelhado Shawn Levy (Uma Noite no Museu e Os Estagiários).
Nada funciona aqui. As tentativas de humor morrem na praia e o drama é equivalente ao de uma novela mexicana. Cenas desconexas e desnecessárias se amontoam na tela. Os personagens ficam carentes de bom desenvolvimento e o mais curioso é o pedigree do elenco, todos manchando um pouco seus currículos. Veja só, temos Jane Fonda, Adam Driver, Jason Bateman, Tina Fey, Rose Byrne, Corey Stoll, Timothy Olyphant, entre outros. Ou seja, o item “atuação” não é o problema.
Outro detalhe curioso é que inicialmente Sete Dias Sem Fim estava programado para um lançamento nas salas de cinema brasileiras, tendo seus cartazes espalhados por alguns salões de tais estabelecimentos. A distribuidora responsável deve ter pensado duas vezes após se deparar com a verdadeira qualidade do produto, optando pelo mercado de home vídeo ao invés.
As Leis do Crime
Produção da interessante distribuidora A24, especializada em cinema alternativo e independente, esse filme de crime conta ainda com uma presença muito ilustre dando seu aval e abrilhantando com seu nome a produção: Martin Scorsese. O grande mestre Scorsese é um especialista no cinema de crime e aqui a história foca na máfia chinesa residente em Nova York na década de 1980. Mais do que isso, As Leis do Crime conta a história de dois amigos de infância, crescendo em meio a tal ambiente e sendo influenciados por ele.
Narrando esta sinopse o filme até parece bom e você se pergunta por que diabos o incluí entre os piores da primeira metade do ano. Acontece que embora tenha uma trama digna, que poderia muito bem render mais um épico do crime, dentre tantos já explorados por Scorsese, este carece da emoção que geralmente move as obras citadas. Tudo é retratado de uma forma leve, sem a profundidade usual esperada do diretor, que sempre cresce nos detalhes. Aqui, a palavra definidora é superficialidade. Os personagens são caricaturas e todos os momentos são clichês ruins. Com 1h34min de duração dá pra imaginar que esteja longe do desenvolvimento necessário. O lançamento foi na plataforma Netflix.
Deuses do Egito
Existem filmes ruins que de tão ruins transcendem o adjetivo se tornando bons. São os chamados prazeres culposos. E é exatamente o caso com este Deuses do Egito. O filme pega a mitologia por trás do título e resolve fazer uma brincadeira com o tema, recheando a trama com os mais variados exageros, personagens deliciosamente caricatos e efeitos canhestros, porém, muito divertidos.
Não existe dúvida de que o filme é um carnaval fora de época, mas se sua opção for por um entretenimento despretensioso, beirando o tosco, você até poderá encontrar diversão – em especial se adentrar com a mentalidade certa, a de não levar nada a sério. Me julguem, mas Deuses do Egito é o meu novo Anjos da Noite ou João e Maria – Caçadores de Bruxas, em matéria de entretenimento vergonhoso. Me deem Deuses do Egito quantas vezes for, mas não me deem Fúria de Titãs.
Mente Criminosa
É muito bom, como fã de cinema, presenciar a volta por cima na carreira do veterano Kevin Costner. O ator já foi considerado o maior astro de Hollywood e no início da década de 1990 era quem mandava na cidade. O tempo passou, Costner envelheceu (o que por si só já se traduz em declínio profissional) e se meteu em alguns grandes fiascos. Mas como todos merecem novas chances, ele vem se reerguendo em bons novos trabalhos e se mantendo relevante.
Operação Sombra (2014), A grande Escolha (2014), 3 Dias para Matar (2014) e os filmes da DC (O Homem de Aço e Batman Vs. Superman) são alguns dos projetos de destaque de Costner nos últimos anos. Mesmo oscilando em resultado, nenhum se compara a este Mente Criminosa quando o quesito é falta de originalidade e graça.
Um projeto que tinha tudo para manter o nível de entretenimento alto, Mente Criminosa conta com um dos elencos mais chamativos do ano (Ryan Reynolds, Tommy Lee Jones, Gary Oldman, Gal Gadot, Alice Eve, Antje Traue) e uma trama tão ridiculamente mirabolante, que causa espanto o resultado desastroso. Muitos irão dizer que funciona na forma de um prazer culposo, mas para tal o filme precisaria se levar menos a sério. A história mistura A Outra Face (1997) e o recente Sem Retorno (Self/Less, igualmente protagonizado por Reynolds e dirigido por Tarsem Singh), e traz a transferência da mente de um espião (sim, você leu certo) para um criminoso (papel de Costner). A obra tinha grande potencial, mas termina sem brilho e altamente esquecível. Tudo soa genérico. Os atores aparentam o desconforto.
A Escolha
Digam o que quiserem, mas Nicholas Sparks é um escritor talentoso de muito sucesso. O problema é que ele vem refazendo a mesma ideia repetidas vezes sem que o público note – ou talvez note, mas não se importe. O que funcionou uma vez continua a encher os bolsos do escritor de dinheiro e o que temos é a mesma trama reciclada, a cada novo lançamento.
Este A Escolha, por exemplo, não é nada que já não tenhamos visto em diversos filmes anteriores que levam a assinatura do autor. Uma jovem sonhadora, um sujeito mulherengo e desapegado, família amorosa, doenças, mortes e problemas a serem superados. Tudo parece um comercial de margarina nesses filmes ou então um destes filmes religiosos, tamanha é a pieguice.
O que mais incomoda, no entanto, é a sensação de sabermos exatamente para onde tais filmes irão caminhar e tudo o que acontecerá na trama, sem tirar nem por – o que nem o mais carismático dos atores pode fazer esquecer. Olhando pelo lado positivo, os filmes de Sparks são à prova de spoiler, afinal todos já sabem mesmo o que irá acontecer.
Um Suburbano Sortudo
Na falta de mais um veículo para o comediante Leandro Hassum, temos que nos contentar com a primeira investida de Rodrigo Sant´Anna como protagonista de uma comédia nacional. Calma, calma, não me apedrejem. Obviamente, estou brincando.
O gênero que mais leva os brasileiros ao cinema realmente carece de uma produção digna, que tenha alguma qualidade de roteiro, senão as dos escrachos televisivos do país. Um Suburbano Sortudo, assim como as produções citadas de Hassum, exibem faíscas de vontade, ao apontarem questões políticas ou sociais. Rapidamente, tal vontade é soterrada por um humor rasteiro e fácil, apelando ao mais baixo denominador comum. Afinal, seria triste saber que em pleno ano de 2016 alguém ainda acha graça de humor flatulento.
13 Horas – Os Soldados Secretos de Benghazi
Os filmes de Michael Bay são grandes, barulhentos e confusos. A coisa nem sempre foi tão ruim e na era pré-Transformers, Bay ainda fazia filmes legais. Depois dos filmes dos robôs gigantes, Bay foi aos poucos virando uma paródia de si mesmo, verdadeiramente acreditando na mitologia cinematográfica por trás do homem – o que inclui achar que alguns detalhes técnicos repetidos em seus filmes são arte.
13 Horas é uma nova investida em um cinema sério, vide Pearl Harbor (2001) e Sem Dor, Sem Ganho (2013). Ao contrário dos citados, que possuem (mesmo que escassos) certos elementos satisfatórios, seu novo filme é um exercício em repetição, se comportando como um grande tiroteio de 2 horas e meia, cujos personagens são tão artificiais quanto os robôs de Transformers. O filme conta a história real do atentado a um embaixador americano na Líbia, tendo como protagonistas os soldados de uma equipe de segurança designados a protegê-lo.
Invasão a Londres
Se Invocação do Mal 2 mostrou que um raio pode cair no mesmo lugar duas vezes, Invasão a Londres prova que o fato é mais difícil do que pensamos. Muitos já haviam torcido o nariz para Invasão a Casa Branca, filme machão de 2013, que ecoava Duro de Matar e o cinema brucutu dos anos 1980.
Ao invés de repetir o feito, a continuação segue se tornando genérica e desagradável. Se no citado filme original ainda existia resquícios de humanidade (como uma criança em perigo) e certa legitimidade de perigo (consequências), a continuação joga tudo para o alto, sendo tão verossímil quanto os filmes de super-heróis que infestam os cinemas. Pior, Invasão a Londres é tão suave quanto um vídeo game, e sua ação se restringe a eliminar vilões armados conforme vão aparecendo em tela. Se for o caso, alugue novamente o primeiro, mas corra desta sequência.
A 5ª Onda
E finalmente temos um campeão. Alguns dos itens nesta lista exibem grande nível de violência gratuita e sem diversão. Não é o caso com o primeiro colocado, já que trata-se de um filme juvenil, baseado num livro de ficção adolescente de sucesso. Nem todos conseguem ser Harry Potter, Jogos Vorazes ou sequer Divergente, e de vez em quando ganhamos uma amálgama como A 5ª Onda.
Chloe Grace Moretz, que faz 4 entre 5 filmes lançados nos EUA por ano, tenta pegar para sua jovem carreira mais um sucesso, desta vez sem êxito. A trama, que realmente mistura de tudo um pouco (desde A Hospedeira, passando por Minha Nova Vida, até Crepúsculo), narra uma invasão alienígena diferente, que você nunca viu ou talvez nem queira ver. Alguns dos mais clássicos elementos da ficção científica de alienígenas são adaptados em versão adolescente, neste filme sem fôlego, graça ou alma.