domingo , 22 dezembro , 2024

Primeiras Impressões | ‘Expats’ já se consagra como uma das MELHORES produções do ano

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O texto a seguir não contém spoilers e engloba os dois primeiros episódios da produção.

Três mulheres que vivem em Hong Kong se veem interligadas por uma tragédia inimaginável e com repercussões catastróficas – que se desenrolam de forma afoita e angustiante em meio a uma efervescência urbana e claustrofóbica. Essa é a instigante premissa de Expats, a nova série de suspense dramática do Prime Video que traz ninguém menos que Nicole Kidman, Sarayu Blue e Ji-young Yoo como as protagonistas e que, logo de cara, se consagra como uma das produções mais interessantes de 2024 e uma ótima adição ao catálogo da plataforma de streaming.



Composta por seis episódios, a obra criada por Lulu Wang é um deleite para os olhos e conta com um time incrível à frente e atrás das câmeras – e, considerando seu ótimo trabalho na aclamada comédia dramática A Despedida, estrelada por Awkwafina, era natural que a showrunner acertasse em cheio com um pungente retrato da complexidade das relações humanas. O resultado é brilhante em todos os aspectos, talvez com exceção de um ou dois convencionalismos necessários para fornecer ritmo ou solidez à estrutura da produção, e nos convida para uma jornada de ressentimento, frustração, falsas amizades e tragédias que finaliza o primeiro mês do ano de modo glorioso.

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O enredo é centrado, como já mencionado no primeiro parágrafo, em três mulheres: Margaret, interpretada por Kidman, uma traumatizada mulher que carrega mágoas de um passado não muito distante e que se vê flutuando entre a realidade e a insanidade conforme lida com fantasmas que continuam a assombrá-la; Mercy (Yoo), uma jovem que vive em Hong Kong e que trabalha dia após dia em diversos bicos para poder sobreviver – e que nutre de uma relação bastante conturbada e perigosa com Margaret e com uma tragédia que ainda desconhecemos; e Hilary (Blue), cujos laços de amizade com Margaret estão deteriorados e que lida com um casamento falido, pautado nas mentiras do marido e em algo que, ao que tudo indica, é imperdoável. Todas conectadas por uma mesma tragédia e que, pouco a pouco, deixam claro que nada voltará a ser como era.

Falar da potência performática do elenco é quase desnecessário, considerando o poder das atrizes envolvidas. Kidman entrega-se a um tour-de-force pautado no vórtice da loucura, abalada pela tragédia envolvendo sua família e Mercy à medida que se rende a um desesperado aterrador que preenche todas as lacunas do episódio – mas ela não está sozinha nessa empreitada. Temos também Yoo, que traz uma jovialidade culpabilizada às telinhas e já demonstra uma profunda persona logo no monólogo de abertura, em que se coloca como culpada e quer que seu lado da história seja ouvido; e, por fim, Blue é engolfada em um equilíbrio mandatório entre o certo e o errado, o que de fato acontece e as máscaras sociais que é forçada a colocar – até se sentir confortável para mostrar sua vulnerabilidade ao mundo.

Se Wang já havia feito um ótimo trabalho com o supracitado longa-metragem A Despedida, aqui ela parece se aprofundar nos íntimos temas esquadrinhados anteriormente com mais astúcia e mais acidez. O foco aqui são as personagens que fazem parte de uma sociedade de luxo, cada qual tendo um importante papel nas engrenagens que a movem – e de que forma o conflito de classes e o egocentrismo predatório se unem como um só e convergem para uma tragédia sem precedentes. Não sabemos em que acreditar, só sabemos que existe uma tensão palpável entre as protagonistas que é tratada com cautela ao mesmo tempo em que se deixa explodir em um barril de pólvora mortal.

Enquanto as atuações e o roteiro são o principal elemento de sucesso da série, as investidas técnicas e artísticas não deixam a desejar, por mais que reconheçamos algumas escolhas bastante familiares dentro do gênero. Por se tratar de um drama de situações, Wang e seu time criativo optam por cores mais sóbrias, como o melancólico azul e o estagnado verde, para reiterar a pesarosa e pessimista ambientação que cerca as protagonistas; em oposição, os momentos de tensão são marcados pelo amarelo e pelo dourado, pincelados com tons de vermelho; e, quando chegamos ao ápice, a paleta de cores funde-se à costumeira câmera na mão e à montagem frenética, indicando que as respostas demorarão a vir e que há muitas coisas em jogo para serem resolvidas.

Expats tangencia a perfeição e é uma adição muito bem-vinda à plataforma de streaming. Kidman, Yoo e Blue brilham com performances avassaladoras, enquanto Wang domina os bastidores com uma mente sagaz, apresentando uma perspectiva derradeira sobre o que significa existir e o que significa lidar com dores tão profundas e tão marcantes.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Composta por seis episódios, a obra criada por Lulu Wang é um deleite para os olhos e conta com um time incrível à frente e atrás das câmeras – e, considerando seu ótimo trabalho na aclamada comédia dramática A Despedida, estrelada por Awkwafina, era natural que a showrunner acertasse em cheio com um pungente retrato da complexidade das relações humanas. O resultado é brilhante em todos os aspectos, talvez com exceção de um ou dois convencionalismos necessários para fornecer ritmo ou solidez à estrutura da produção, e nos convida para uma jornada de ressentimento, frustração, falsas amizades e tragédias que finaliza o primeiro mês do ano de modo glorioso.

O enredo é centrado, como já mencionado no primeiro parágrafo, em três mulheres: Margaret, interpretada por Kidman, uma traumatizada mulher que carrega mágoas de um passado não muito distante e que se vê flutuando entre a realidade e a insanidade conforme lida com fantasmas que continuam a assombrá-la; Mercy (Yoo), uma jovem que vive em Hong Kong e que trabalha dia após dia em diversos bicos para poder sobreviver – e que nutre de uma relação bastante conturbada e perigosa com Margaret e com uma tragédia que ainda desconhecemos; e Hilary (Blue), cujos laços de amizade com Margaret estão deteriorados e que lida com um casamento falido, pautado nas mentiras do marido e em algo que, ao que tudo indica, é imperdoável. Todas conectadas por uma mesma tragédia e que, pouco a pouco, deixam claro que nada voltará a ser como era.

Falar da potência performática do elenco é quase desnecessário, considerando o poder das atrizes envolvidas. Kidman entrega-se a um tour-de-force pautado no vórtice da loucura, abalada pela tragédia envolvendo sua família e Mercy à medida que se rende a um desesperado aterrador que preenche todas as lacunas do episódio – mas ela não está sozinha nessa empreitada. Temos também Yoo, que traz uma jovialidade culpabilizada às telinhas e já demonstra uma profunda persona logo no monólogo de abertura, em que se coloca como culpada e quer que seu lado da história seja ouvido; e, por fim, Blue é engolfada em um equilíbrio mandatório entre o certo e o errado, o que de fato acontece e as máscaras sociais que é forçada a colocar – até se sentir confortável para mostrar sua vulnerabilidade ao mundo.

Se Wang já havia feito um ótimo trabalho com o supracitado longa-metragem A Despedida, aqui ela parece se aprofundar nos íntimos temas esquadrinhados anteriormente com mais astúcia e mais acidez. O foco aqui são as personagens que fazem parte de uma sociedade de luxo, cada qual tendo um importante papel nas engrenagens que a movem – e de que forma o conflito de classes e o egocentrismo predatório se unem como um só e convergem para uma tragédia sem precedentes. Não sabemos em que acreditar, só sabemos que existe uma tensão palpável entre as protagonistas que é tratada com cautela ao mesmo tempo em que se deixa explodir em um barril de pólvora mortal.

Enquanto as atuações e o roteiro são o principal elemento de sucesso da série, as investidas técnicas e artísticas não deixam a desejar, por mais que reconheçamos algumas escolhas bastante familiares dentro do gênero. Por se tratar de um drama de situações, Wang e seu time criativo optam por cores mais sóbrias, como o melancólico azul e o estagnado verde, para reiterar a pesarosa e pessimista ambientação que cerca as protagonistas; em oposição, os momentos de tensão são marcados pelo amarelo e pelo dourado, pincelados com tons de vermelho; e, quando chegamos ao ápice, a paleta de cores funde-se à costumeira câmera na mão e à montagem frenética, indicando que as respostas demorarão a vir e que há muitas coisas em jogo para serem resolvidas.

Expats tangencia a perfeição e é uma adição muito bem-vinda à plataforma de streaming. Kidman, Yoo e Blue brilham com performances avassaladoras, enquanto Wang domina os bastidores com uma mente sagaz, apresentando uma perspectiva derradeira sobre o que significa existir e o que significa lidar com dores tão profundas e tão marcantes.

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