domingo , 22 dezembro , 2024

Primeiras Impressões | Jodie Foster e Kali Reis comandam a IMPECÁVEL narrativa de ‘True Detective: Terra Noturna’

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Crítica livre de spoilers.

Lançada em 2014, a primeira temporada de True Detective causou um grande impacto na televisão ao reviver o gênero de mistério e suspense da maneira possível – e contando com um elenco guiado por Matthew McConaughey e Woody Harrelson. Entretanto, foi notável que as duas temporadas seguintes não conseguiram manter o altíssimo nível da série, frustrando tanto a crítica especializada quanto os espectadores. Agora, dez anos depois da estreia oficial da produção, somos convidados a voltar para o cosmos criado por Nic Pizzolatto com True Detective: Terra Noturna’ (que traz um time inteiramente novo à frente e atrás das câmeras).



Ambientada em Ennis, uma cidade fictícia do Alasca, a trama acompanha as detetives Liz Danvers (Jodie Foster) e Evangeline Navarro (Kali Reis), que unem forças para investigar um grupo de cientistas que inexplicavelmente desapareceu de uma estação de pesquisa na cidade. Colocando suas diferenças geracionais de lado e passando por inúmeros perigos, a dupla descobre que algo quase sobrenatural se esconde no pequeno vilarejo onde moram – e que pode estar atrelado a uma história que foi desenterrada e trouxe fantasmas de um passado não muito distante à tona.

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Diferente das iterações predecessoras, Pizzolatto não retornou como showrunner, abrindo espaço para que a incrível Issa López tomasse as rédeas da antologia. Além de supervisionar a temporada ao lado de Foster, que é uma das produtoras executivas, López também ficou responsável pelo roteiro e pela direção – e mostrou que seu nome merece enorme reconhecimento. Afinal, ela faz um trabalho impecável que coloca a iteração no mesmo patamar intocável do ciclo de estreia, garantindo que cada um dos elementos seja meticulosamente arquitetado para que as reviravoltas façam sentido e choquem o espectador a cada sequência cênica. E, nesse meio-tempo, López aproveita para fazer referências a clássicos do gênero e até mesmo do terror, pegando elementos emprestados de títulos como ‘Zodíaco’ e ‘O Enigma de Outro Mundo’ para fomentar esse cosmos angustiante.

É claro que as coisas não poderiam funcionar por completo sem performances irretocáveis do elenco protagonista e coadjuvante. De um lado, temos a vencedora do Oscar Jodie Foster fazendo seu retorno às telinhas de forma magistral, apostando fichas na conhecida construção calculista e fria dos detetives do imaginário popular – que é engolfada em um mandatório arco de questionamento ao lidar com o que pode ser o maior caso de sua vida; de outro, Reis, fazendo sua estreia no circuito seriado, alimenta esse embate intergeracional com Foster, mas sem estar submetida a ela – e sim funcionando por conta própria em um arco que explora conceitos como capitalismo predatório e perda de identidade cultural. Ambas dividem os holofotes em uma química invejável e que transborda das telinhas.

Entretanto, elas não são as únicas a emprestarem suas habilidades envolventes: temos também Fiona Shaw como Rose Aguineau, uma misteriosa mulher que sabe dos segredos enterrados em Ennis e de que forma eles se conectam com o desaparecimento dos cientistas; Isabella Star LaBlanc como Leah Danvers, filha de Liz, e que serve como uma das forças-motrizes para o arco da protagonista; e Finn Bennett e John Hawkes como Peter e Hank Prior, pai e filho que também são detetives e que nutrem de personalidades bem distintas – um ajudando Liz em sua investigação, e outro negando-se a colaborar -, cada qual com importância ímpar para o desenrolar da narrativa.

É notável, como já mencionado, o modo espetacular como as engrenagens se completam e permitem que a fluidez exista mesmo em momentos mais dramáticos ou de menos euforia criativa. Temos, por exemplo, a tétrica trilha sonora de Vince Pope, que arranja dissonâncias orquestrais a fim de promover a angústia e a melancolia reafirmadas pelos jogos cênicos – que muitas vezes coloca o ambiente e o ser humano em contraste excepcional – e pela paleta de cores – que aposta, obviamente em tons mais azulados e escuros, denotando a falta de esperança e de prospecto do enredo. E,  conhecendo a predileção de realizadores audiovisuais por histórias mirabolantes e pelo uso constante de convencionalismos do gênero, López nos surpreende ao nos guiar a caminhos diversos que, no final, não caem nos clichês e nas premeditações.

True Detective: Terra Noturna’ é um sólido retorno à forma de uma antologia que ainda tem muito a contar. Com atuações soberbas e um cuidado estético, artístico e técnico que em nenhum momento esbarra no preciosismo, é bem provável que a nova temporada seja uma das, senão a melhor até então da antologia.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Ambientada em Ennis, uma cidade fictícia do Alasca, a trama acompanha as detetives Liz Danvers (Jodie Foster) e Evangeline Navarro (Kali Reis), que unem forças para investigar um grupo de cientistas que inexplicavelmente desapareceu de uma estação de pesquisa na cidade. Colocando suas diferenças geracionais de lado e passando por inúmeros perigos, a dupla descobre que algo quase sobrenatural se esconde no pequeno vilarejo onde moram – e que pode estar atrelado a uma história que foi desenterrada e trouxe fantasmas de um passado não muito distante à tona.

Diferente das iterações predecessoras, Pizzolatto não retornou como showrunner, abrindo espaço para que a incrível Issa López tomasse as rédeas da antologia. Além de supervisionar a temporada ao lado de Foster, que é uma das produtoras executivas, López também ficou responsável pelo roteiro e pela direção – e mostrou que seu nome merece enorme reconhecimento. Afinal, ela faz um trabalho impecável que coloca a iteração no mesmo patamar intocável do ciclo de estreia, garantindo que cada um dos elementos seja meticulosamente arquitetado para que as reviravoltas façam sentido e choquem o espectador a cada sequência cênica. E, nesse meio-tempo, López aproveita para fazer referências a clássicos do gênero e até mesmo do terror, pegando elementos emprestados de títulos como ‘Zodíaco’ e ‘O Enigma de Outro Mundo’ para fomentar esse cosmos angustiante.

É claro que as coisas não poderiam funcionar por completo sem performances irretocáveis do elenco protagonista e coadjuvante. De um lado, temos a vencedora do Oscar Jodie Foster fazendo seu retorno às telinhas de forma magistral, apostando fichas na conhecida construção calculista e fria dos detetives do imaginário popular – que é engolfada em um mandatório arco de questionamento ao lidar com o que pode ser o maior caso de sua vida; de outro, Reis, fazendo sua estreia no circuito seriado, alimenta esse embate intergeracional com Foster, mas sem estar submetida a ela – e sim funcionando por conta própria em um arco que explora conceitos como capitalismo predatório e perda de identidade cultural. Ambas dividem os holofotes em uma química invejável e que transborda das telinhas.

Entretanto, elas não são as únicas a emprestarem suas habilidades envolventes: temos também Fiona Shaw como Rose Aguineau, uma misteriosa mulher que sabe dos segredos enterrados em Ennis e de que forma eles se conectam com o desaparecimento dos cientistas; Isabella Star LaBlanc como Leah Danvers, filha de Liz, e que serve como uma das forças-motrizes para o arco da protagonista; e Finn Bennett e John Hawkes como Peter e Hank Prior, pai e filho que também são detetives e que nutrem de personalidades bem distintas – um ajudando Liz em sua investigação, e outro negando-se a colaborar -, cada qual com importância ímpar para o desenrolar da narrativa.

É notável, como já mencionado, o modo espetacular como as engrenagens se completam e permitem que a fluidez exista mesmo em momentos mais dramáticos ou de menos euforia criativa. Temos, por exemplo, a tétrica trilha sonora de Vince Pope, que arranja dissonâncias orquestrais a fim de promover a angústia e a melancolia reafirmadas pelos jogos cênicos – que muitas vezes coloca o ambiente e o ser humano em contraste excepcional – e pela paleta de cores – que aposta, obviamente em tons mais azulados e escuros, denotando a falta de esperança e de prospecto do enredo. E,  conhecendo a predileção de realizadores audiovisuais por histórias mirabolantes e pelo uso constante de convencionalismos do gênero, López nos surpreende ao nos guiar a caminhos diversos que, no final, não caem nos clichês e nas premeditações.

True Detective: Terra Noturna’ é um sólido retorno à forma de uma antologia que ainda tem muito a contar. Com atuações soberbas e um cuidado estético, artístico e técnico que em nenhum momento esbarra no preciosismo, é bem provável que a nova temporada seja uma das, senão a melhor até então da antologia.

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