terça-feira , 5 novembro , 2024

Primeiras Impressões | Watchmen é um violento e fundamental manifesto sócio racial

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Tulsa, Oklahoma, 1921. Ao longo de 16 horas entre os dias 31 de maio e 01 de junho, as comunidades negras do nordeste do estado norte-americano foram brutalmente atacadas por grupos supremacistas brancos. O rico distrito de Greenwood, considerado à época “The Negro Wall Street“, foi reduzido ao pó, sendo completamente destruído. Mais de 800 pessoas foram internadas em hospitais locais, mais de 6.000 moradores de Greenwood presos e detidos ilegalmente. Cerca de 10 mil negros desalojados, com 35 quadras com mais de 1.200 residências destruídas pelo fogo. E é com este doloroso episódio histórico – brutalmente abafado durante um bom tempo – que Watchmen inicia sua jornada. Resgatando a memória que muitos negaram, a adaptação livre dos quadrinhos homônimos de Alan Moore e Dave Gibbons inicia sua jornada introduzindo uma antiga rebelião racial que nunca esteve tão atual como antes.

Das lutas travadas pelas comunidades negras norte-americanas contra o racismo, o fatídico episódio de Tulsa talvez seja o menos conhecido ao redor do mundo. Mas aqui, um antigo silêncio fora quebrado, com essa narrativa real se tornando de fato os alicerces de uma outra narrativa fictícia, onde super heróis e o universo fantástico dos quadrinhos se mesclam, novamente extrapolando o subgênero de adaptações de HQs. E tanto a HBO como Damon Lindelof foram ousados, ao centralizar a trama de uma das séries mais aguardadas de 2019 – aquela que veio para ocupar o espaço vago deixado por Game of Thrones, logo ao lado de Westworld – exatamente em um assunto tão polêmico e, ironicamente, controverso. Ao combater de frente o racismo social incrustado na sociedade mundial, Watchmen se transforma, logo em seu primeiro episódio, em um salivante e violento manifesto sócio racial.

De maneira corajosa, a emissora decide trazer uma temática profunda e vigente para o seu horário nobre mais valioso, invadindo as residências de fãs de todos os tipos de backgrounds, criações e raças, promovendo um debate conflitante e acalorado sobre como os negros (policiais ou não) continuam sendo tratados na sociedade. Uma fanfic que dá sequência na narrativa original ao qual se baseia, a série dá o seu recado logo de cara e revira a antiga estratégia da TV norte-americana, ao trazer um elenco predominantemente negro para a história. Dessa vez, o canal BET – Black Entertainment Television não precisou intervir para garantir a representatividade na indústria do entretenimento.

E contrariando as sucessões de anos onde as principais séries de TV deixaram de fora personagens negros, asiáticos e de origem indígena, como é o caso de Friends, How I Met Your Mother, Barrados no Baile, Seinfeld, Buffy, A Caça Vampiros, Arquivo X, Twin Peaks, entre tantas milhares, a HBO passa a também inovar em seu quadro televisivo, introduzindo uma Regina King voraz, condizente com o contexto atual e que – por sinal – está no auge de sua carreira. Aqui, ela luta com maestria e dureza, sem perder sua delicadeza feminina, e traz em seus olhos a ira e a fúria de alguém que não tem mais tempo de seguir as regras do jogo. Destinada a descobrir quem foi o mandante de um atentado contra um policial negro e quem seria o líder do grupo supremacista a Sétima Cavalaria, ela conduz uma caçada sangrenta e aniquiladora, à medida que é forçada a esconder sua identidade profissional por trás da fachada de uma doceira, assim como todos os demais policiais. E em uma terra onde ser um agente da lei nunca foi tão arriscado, heróis (quase) comuns começam a emergir diante das telas, moldando uma trama que já parece saber como harmonizar a fábula dos super heróis com as adversidades reais que muitos países ainda enfrentam por conta do racismo.

E em um episódio de uma hora de duração, Watchmen soube administrar bem os seus personagens. Sabendo construí-los de maneira prática, rápida e enfática, ela consegue facilmente conquistar o coração do público e aquele sentimento de empatia e identificação sempre tão almejado por cada série de TV ou filme. E dessa forma, somos apresentados não apenas à Angela (King), mas também ao chefe da polícia Judd Crawford (Don Johnson), ao detetive Looking Glass (Tim Blake Nelson), ao esposo da protagonista, Cal Abar (Yahya Abdul-Mateen II), e ao possível Lord of a Country Manor (Jeremy Irons). Fazendo o seu tempo render, a adaptação dos quadrinhos é ainda regada pelos elementos chave que fazem um bom e velho leitor de quadrinhos salivar. Entre bombas, tiroteios e confrontos corporais, a produção é cheia de atitude, é violenta e mantém o seu nível elevado do começo ao fim.

Com um episódio inaugural bem dirigido, que passeia entre o passado e o presente, a nova série original da HBO tem tudo para alcançar um belo hibridismo, se estabelecendo como a possível nova favorita dos fãs órfãos de Game of Thrones, à medida que apresenta um potencial artístico digno das premiações. Com uma fotografia que explora o amarelo vibrante dos quadrinhos de Watchmen em aspectos cruciais – como a máscara dos policiais e características de seus veículos e uniformes, a série explora o seu belo e contrastante figurino, com uma direção que se destaca nas cenas mais difíceis. Hipnotizante e também responsável, Watchmen nos instiga a descobrir nos próximos episódios com quantos confrontos se faz uma bela trama transformadora.

 

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Das lutas travadas pelas comunidades negras norte-americanas contra o racismo, o fatídico episódio de Tulsa talvez seja o menos conhecido ao redor do mundo. Mas aqui, um antigo silêncio fora quebrado, com essa narrativa real se tornando de fato os alicerces de uma outra narrativa fictícia, onde super heróis e o universo fantástico dos quadrinhos se mesclam, novamente extrapolando o subgênero de adaptações de HQs. E tanto a HBO como Damon Lindelof foram ousados, ao centralizar a trama de uma das séries mais aguardadas de 2019 – aquela que veio para ocupar o espaço vago deixado por Game of Thrones, logo ao lado de Westworld – exatamente em um assunto tão polêmico e, ironicamente, controverso. Ao combater de frente o racismo social incrustado na sociedade mundial, Watchmen se transforma, logo em seu primeiro episódio, em um salivante e violento manifesto sócio racial.

De maneira corajosa, a emissora decide trazer uma temática profunda e vigente para o seu horário nobre mais valioso, invadindo as residências de fãs de todos os tipos de backgrounds, criações e raças, promovendo um debate conflitante e acalorado sobre como os negros (policiais ou não) continuam sendo tratados na sociedade. Uma fanfic que dá sequência na narrativa original ao qual se baseia, a série dá o seu recado logo de cara e revira a antiga estratégia da TV norte-americana, ao trazer um elenco predominantemente negro para a história. Dessa vez, o canal BET – Black Entertainment Television não precisou intervir para garantir a representatividade na indústria do entretenimento.

E contrariando as sucessões de anos onde as principais séries de TV deixaram de fora personagens negros, asiáticos e de origem indígena, como é o caso de Friends, How I Met Your Mother, Barrados no Baile, Seinfeld, Buffy, A Caça Vampiros, Arquivo X, Twin Peaks, entre tantas milhares, a HBO passa a também inovar em seu quadro televisivo, introduzindo uma Regina King voraz, condizente com o contexto atual e que – por sinal – está no auge de sua carreira. Aqui, ela luta com maestria e dureza, sem perder sua delicadeza feminina, e traz em seus olhos a ira e a fúria de alguém que não tem mais tempo de seguir as regras do jogo. Destinada a descobrir quem foi o mandante de um atentado contra um policial negro e quem seria o líder do grupo supremacista a Sétima Cavalaria, ela conduz uma caçada sangrenta e aniquiladora, à medida que é forçada a esconder sua identidade profissional por trás da fachada de uma doceira, assim como todos os demais policiais. E em uma terra onde ser um agente da lei nunca foi tão arriscado, heróis (quase) comuns começam a emergir diante das telas, moldando uma trama que já parece saber como harmonizar a fábula dos super heróis com as adversidades reais que muitos países ainda enfrentam por conta do racismo.

E em um episódio de uma hora de duração, Watchmen soube administrar bem os seus personagens. Sabendo construí-los de maneira prática, rápida e enfática, ela consegue facilmente conquistar o coração do público e aquele sentimento de empatia e identificação sempre tão almejado por cada série de TV ou filme. E dessa forma, somos apresentados não apenas à Angela (King), mas também ao chefe da polícia Judd Crawford (Don Johnson), ao detetive Looking Glass (Tim Blake Nelson), ao esposo da protagonista, Cal Abar (Yahya Abdul-Mateen II), e ao possível Lord of a Country Manor (Jeremy Irons). Fazendo o seu tempo render, a adaptação dos quadrinhos é ainda regada pelos elementos chave que fazem um bom e velho leitor de quadrinhos salivar. Entre bombas, tiroteios e confrontos corporais, a produção é cheia de atitude, é violenta e mantém o seu nível elevado do começo ao fim.

Com um episódio inaugural bem dirigido, que passeia entre o passado e o presente, a nova série original da HBO tem tudo para alcançar um belo hibridismo, se estabelecendo como a possível nova favorita dos fãs órfãos de Game of Thrones, à medida que apresenta um potencial artístico digno das premiações. Com uma fotografia que explora o amarelo vibrante dos quadrinhos de Watchmen em aspectos cruciais – como a máscara dos policiais e características de seus veículos e uniformes, a série explora o seu belo e contrastante figurino, com uma direção que se destaca nas cenas mais difíceis. Hipnotizante e também responsável, Watchmen nos instiga a descobrir nos próximos episódios com quantos confrontos se faz uma bela trama transformadora.

 

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