O que fazer com o que não tem explicação científica? Um dos maiores clássicos dos anos 80 e um dos filmes mais lembrados quando pensamos no gênero ficção científica, O Enigma de Outro Mundo nos leva a uma viagem assustadora para Antártida no inverno do início dos anos 80 onde encontramos personagens lidando com dilemas nas diferentes formas de interagir com o absurdo, com as maneiras de entender as portas que se abrem para a sobrevivência. Dirigido pelo espetacular cineasta John Carpenter, com trilha sonora assinada por ninguém mais, ninguém menos, que Ennio Morricone, essa obra-prima é um suspense que se estabelece no confronto entre o acreditar e o duvidar.
Na trama, acompanhamos um grupo de cientistas em uma estação de ciências norte-americana na Antártida que acabam sendo atacados por integrantes de uma base norueguesa que estão indo atrás de um cachorro. Após a peculiar situação, os cientistas percebem que estão na presença de uma força alienígena que consegue mudar de forma e assumir a aparência humana, transformando qualquer um daqueles sobreviventes em suspeito. Assim, em meio ao caos, e com dificuldades de comunicação com o resto do mundo, o ex-piloto de guerra MacReady (Kurt Russell) assume o comando da situação.
Baseado na obra Who Goes There? escrito por John W. Campbell Jr., livro que também serviu para a adaptação de um outro longa-metragem, na década de 50, chamado The Thing from Another World, O Enigma de Outro Mundo levanta uma questão que segue durante todo seu roteiro, uma nova sociedade, onde a quebra das relações vira algo constante com novas leis impostas por quem não deixa se consumir pelas tragédias que se acumulam. Aqui, o destaque vai para seu protagonista, MacReady, um homem com nítidos problemas com álcool, traumatizado por um passado em uma dolorosa guerra, o mais preparado para enfrentar os desafios. Kurt Russell ganhou esse papel após algumas negativas de astros da época, como Nick Nolte, a primeira escolha.
O clima de tensão e sua manutenção durante toda a projeção é um dos méritos da narrativa desse filme que completou quatro décadas recentemente. Atividades celulares vindas de outro lugar, a loucura, a desconfiança, o abstrato e o que se pode ver se tornam variáveis nos conflitos dos personagens. O choque entre o drama, o suspense e o terror vira um explosivo caminho de reflexões. Chamativos efeitos especiais para a época, criado pelo jovem Rob Bottin, na época com apenas 22 anos, conseguem personificar o inimaginável, o medo, o desespero. John Carpenter comanda com genialidade todos os elementos que tem em mãos.
Dentro do suspense instaurado, tem um pouco de Agatha Christie, quando chegamos no ponto das desconfianças, de quem seria o ‘traidor’, ou melhor, o corpo usado pelo alienígena, mistério esse que perdura até os últimos momentos. Com tantos pontos positivos nesse atmosfera de tensão, o filme ganhou referências em outras obras audiovisuais, como num capítulo do seriado Arquivo X, intitulado Ice, exibido em novembro de 1993.
Orçado em 15 milhões de dólares, um valor relativamente alto para a época de seu lançamento, a ficção científica, hoje adorada pelos fãs, foi virando um clássico cult ao longo dos anos. Na época de seu lançamento um fracasso já estava associado pela baixa bilheteria. O curioso é que esse projeto estreou no mesmo dia de outro filme que viraria um outro projeto marcante para os fãs de cinema: Blade Runner.
Hoje em dia, um dos filmes mais bem avaliados da IMDB, O Enigma de Outro Mundo é um daqueles clássicos do cinema que você precisa assistir pelo menos uma vez na vida.