domingo , 22 dezembro , 2024

RoboCop (3)

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Mesmo não se aprofundando em críticas sociais, novo RoboCop é um filme original, de trama inteligente e ritmo eletrizante.

Algumas pessoas se enganam a respeito de RoboCop – O Policial do Futuro (1987), de Paul Verhoeven, por ter em mente apenas a figura canastrona do lento ciborgue policial que, seguindo diretrizes organizacionais, ia pras ruas matar bandidos e aplicar violentamente leis impostas. Porém, estas não se atentaram aos principais tópicos que nele são abordados, como ampla crítica social, capitalismo exacerbado e a influência do poder político e judiciário, em meio a todo caos das ruas de Detroit. E que trazia, além do lado indutivo, cenas impactantes, diálogos primorosos e efeitos práticos que permanecem intactos até hoje.

Sabendo disso, fica clara a ligação do cineasta brasileiro, José Padilha, ao clássico de Verhoeven, já que toda sua carreira foi, praticamente, em cima desses temas. Principalmente no petardo Tropa de Elite (2007), que também trazia uma espécie de RoboCop, aqui chamado de Capitão Nascimento. Onde, manipulado pelo sistema, decidiu, através de seu cargo, pôr em prática a justiça com as próprias mãos. Sendo deveras uma boa aposta da Sony, que pretende trazer de volta a franquia que, em outrora, fez tanto sucesso – pegando carona, também, nos filmes de super-heróis, subgênero que é o maior filão da indústria cinematográfica americana.



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E, sim, é louvável como Padilha conduziu este trabalho, criando uma narrativa sóbria, mas chocante, a ponto de nunca parar; parece que algo de importante está sempre acontecendo em tela. Mesmo num filme de estúdio, na sombra do PG-13, o diretor conseguiu introduzir seu habitual estilo documental, com câmeras nervosas, recheadas de planos detalhes, acompanhando, de perto, as cenas ilustradas. Que, pela ótica cominada, tem lá seus momentos crus e impactantes. Assim como o roteiro de Joshua Zetumer é enxuto e certeiro – também possuindo uma tola conclusão –, em que, ajudado pela montagem da dupla Peter McNulty e Daniel Rezende, parece seguir o estilo linear do mestre Jorge Amado, de deixar sempre o leitor ansioso pelo próximo parágrafo – aqui seria a próxima tomada.

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Mesmo sem tanto carisma, Joel Kinnaman (The Killing) convence como o policial, pai e marido, Alex Murphy, por conferir um ar natural, e mais ainda como Robocop, pelo seu trabalho corporal, que em nenhum momento soa falso. Mas é em nomes como Gary Oldman (O Espião Que Sabia Demais), Michael Keaton (Batman) e Jackie Earle Haley (Watchmen: O Filme) que se concentram os papéis mais verdadeiros do conto. Todos ambiciosos, que usam a falácia do “bem de todos” para pôr em prática atrocidades – embora que o personagem de Oldman venha se redimir depois.

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Destaco também a presença de Samuel L. Jackson (The Avengers – Os Vingadores), que mais parece o repórter policial José Luiz Datena, por sua constante luta pela barbárie e dos discursos travestidos em apoio a violência radical – provavelmente, mais uma cínica alfinetada de Padilha, assim como havia feito em Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora É Outro, no polêmico Fortunato, vivido por André Mattos.

Alguns aspectos mais técnicos, como a fotografia de Lula Carvalho (À Beira do Caminho), tem função de deixar o clima frígido, através de lentes azuladas, mas ao mesmo tempo limpas, fazendo uma rima pontual com a personalidade de Alex e o robô que se tornou. Ou na trilha sonora assinada por Pedro Bromfman (Mataram Irmã Dorothy), que aparece como auxílio narrativo, apenas para pontuar algumas cenas aludidas. Inserindo, até, em alguns momentos, a passagem mais marcante da composição de Basil Poledouris, do primeiro filme da franquia, que, sim, empolgará os fãs de longa data.

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Não podemos garantir que a investida surtirá efeito no quesito comercial – até mesmo porque sua estreia nos EUA não foi tão agradável –, mas, do ponto de vista artístico, o reboot de RoboCop não faz feio a sua obra de origem e consegue superar todas as terríveis continuações. Pois, ainda que não tenha a mesma proposta fílmica do anterior, possui um ritmo eletrizante, é detentor de uma trama inteligente, que consegue prender a atenção do espectador, do início ao fim, impetrando êxito total no que se refere a entretenimento.

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Wilker Medeiroshttps://www.youtube.com/imersaocultural
Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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Mesmo não se aprofundando em críticas sociais, novo RoboCop é um filme original, de trama inteligente e ritmo eletrizante.

Algumas pessoas se enganam a respeito de RoboCop – O Policial do Futuro (1987), de Paul Verhoeven, por ter em mente apenas a figura canastrona do lento ciborgue policial que, seguindo diretrizes organizacionais, ia pras ruas matar bandidos e aplicar violentamente leis impostas. Porém, estas não se atentaram aos principais tópicos que nele são abordados, como ampla crítica social, capitalismo exacerbado e a influência do poder político e judiciário, em meio a todo caos das ruas de Detroit. E que trazia, além do lado indutivo, cenas impactantes, diálogos primorosos e efeitos práticos que permanecem intactos até hoje.

Sabendo disso, fica clara a ligação do cineasta brasileiro, José Padilha, ao clássico de Verhoeven, já que toda sua carreira foi, praticamente, em cima desses temas. Principalmente no petardo Tropa de Elite (2007), que também trazia uma espécie de RoboCop, aqui chamado de Capitão Nascimento. Onde, manipulado pelo sistema, decidiu, através de seu cargo, pôr em prática a justiça com as próprias mãos. Sendo deveras uma boa aposta da Sony, que pretende trazer de volta a franquia que, em outrora, fez tanto sucesso – pegando carona, também, nos filmes de super-heróis, subgênero que é o maior filão da indústria cinematográfica americana.

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E, sim, é louvável como Padilha conduziu este trabalho, criando uma narrativa sóbria, mas chocante, a ponto de nunca parar; parece que algo de importante está sempre acontecendo em tela. Mesmo num filme de estúdio, na sombra do PG-13, o diretor conseguiu introduzir seu habitual estilo documental, com câmeras nervosas, recheadas de planos detalhes, acompanhando, de perto, as cenas ilustradas. Que, pela ótica cominada, tem lá seus momentos crus e impactantes. Assim como o roteiro de Joshua Zetumer é enxuto e certeiro – também possuindo uma tola conclusão –, em que, ajudado pela montagem da dupla Peter McNulty e Daniel Rezende, parece seguir o estilo linear do mestre Jorge Amado, de deixar sempre o leitor ansioso pelo próximo parágrafo – aqui seria a próxima tomada.

Mesmo sem tanto carisma, Joel Kinnaman (The Killing) convence como o policial, pai e marido, Alex Murphy, por conferir um ar natural, e mais ainda como Robocop, pelo seu trabalho corporal, que em nenhum momento soa falso. Mas é em nomes como Gary Oldman (O Espião Que Sabia Demais), Michael Keaton (Batman) e Jackie Earle Haley (Watchmen: O Filme) que se concentram os papéis mais verdadeiros do conto. Todos ambiciosos, que usam a falácia do “bem de todos” para pôr em prática atrocidades – embora que o personagem de Oldman venha se redimir depois.

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Destaco também a presença de Samuel L. Jackson (The Avengers – Os Vingadores), que mais parece o repórter policial José Luiz Datena, por sua constante luta pela barbárie e dos discursos travestidos em apoio a violência radical – provavelmente, mais uma cínica alfinetada de Padilha, assim como havia feito em Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora É Outro, no polêmico Fortunato, vivido por André Mattos.

Alguns aspectos mais técnicos, como a fotografia de Lula Carvalho (À Beira do Caminho), tem função de deixar o clima frígido, através de lentes azuladas, mas ao mesmo tempo limpas, fazendo uma rima pontual com a personalidade de Alex e o robô que se tornou. Ou na trilha sonora assinada por Pedro Bromfman (Mataram Irmã Dorothy), que aparece como auxílio narrativo, apenas para pontuar algumas cenas aludidas. Inserindo, até, em alguns momentos, a passagem mais marcante da composição de Basil Poledouris, do primeiro filme da franquia, que, sim, empolgará os fãs de longa data.

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Não podemos garantir que a investida surtirá efeito no quesito comercial – até mesmo porque sua estreia nos EUA não foi tão agradável –, mas, do ponto de vista artístico, o reboot de RoboCop não faz feio a sua obra de origem e consegue superar todas as terríveis continuações. Pois, ainda que não tenha a mesma proposta fílmica do anterior, possui um ritmo eletrizante, é detentor de uma trama inteligente, que consegue prender a atenção do espectador, do início ao fim, impetrando êxito total no que se refere a entretenimento.

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Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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