Imagine a sensação de estar dormindo em uma cama confortável enrolado em um cobertor quentinho. Pois essa é a sensação de assistir Sob o Mesmo Céu (Aloha). Trata-se de um filme, mesmo considerando todos os seus defeitos, bastante agradável de assistir. Que não tem momentos muito tristes, praticamente, mas raramente é monótono; Conseguindo nos manter minimamente atraídos sem deixar de ser aconchegante.
As relações entre os personagens e as atuações são os grandes pilares dessa sensação “ensolarada” que o filme nos dá. Embora algumas atuações pareçam esquemáticas em alguns momentos, em média tem um aspecto televisivo, no qual os personagens parecem estar de bem com a vida e todos se dão bem; algo que encaixa muito bem na narrativa. Isso é reforçado por cenas bastante cotidianas que mostram os personagens em sua casa ou trabalho, geralmente, em momentos felizes.
Embora Brian Gilcrest (Bradley Cooper) seja descrito pelos outros personagens como um sujeito infiel e mau caráter, visualmente, nunca soa assim. Brian é retratado como um homem que se entrega a paixões (embora só tenha uma, de fato) e que, mesmo sendo capaz de ludibriar pessoas para conseguir algum objetivo, quase sempre acaba optando pelo caminho mais correto. Até o resultado do conflito maior da narrativa, a colocação de uma espécie de satélite na órbita, é um resultado positivo.
Dessa forma, alguns aspectos do longa ficam confusos para quem assiste. Nunca sabemos se os personagens estão realmente felizes da maneira como se encontram. O relacionamento de Brian com Tracy (Rachel McAdams) nunca fica claro. Os dois transitam entre um amor instintivo e inevitável, para um esquecimento duro e forçado, mas que em alguns momentos, parecem genuinamente felizes na ausência do outro; nunca ficando clara a natureza da relação desses personagens. A própria Capitã Ng (Emma Stone) muda de acordo com a vontade do roteirista. Sendo retratada, de início, como uma mulher forte e disciplinada que é completamente comprometida com o exército, para momentos depois, se portar como uma mulher extrovertida e relaxada.
Junto a isso, há uma tentativa artificial de implantar uma dose de misticismo citando a mitologia havaiana, que se manifesta em cortinas balançando, céu nublado e portas batendo sozinhas (hã?). Algo que, apesar de não prejudicar o filme em excesso, não faz sentido e nem adiciona a história.
Se algumas das situações mais tensas são ofuscadas por uma montagem descontrolada e ineficaz, a comédia é um dos pontos altos do filme. John Krasinski e Bill Murray conseguem fazer rir sem dizer uma palavra, apenas com seus rostos.
As cenas cômicas e românticas são alternadas de modo orgânico. E por serem muito boas (salvo poucas exceções), o filme se torna gostoso de assistir.