quinta-feira , 21 novembro , 2024

Um dos PIORES filmes do século faz três anos em 2023; Relembre ‘Dolittle’!

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Apesar de ser lançada em 1967, a saga do Dr. Dolittle ganhou fama apenas em 1998 ao ser imortalizada pela performance de Eddie Murphy como o personagem-título. Depois de algumas sequências esquecíveis – incluindo aquelas com a filha do personagem de Murphy -, chegou a vez de Robert Downey Jr. encarnar o excêntrico clínico, voltando várias décadas no tempo para uma espécie de drama de época que tenta se situar na transição do século XIX para o XX. A levar em consideração o elenco de peso e a promessa de uma narrativa mais profunda (ao menos em comparação às últimas investidas da franquia), o diretor Stephen Gaghan nos convidava para uma divertida viagem em busca de uma árvore perdida com poderes miraculosos.

Entretanto, o convite parece ter sido extraviado, visto que o resultado é completamente diferente do que imaginávamos: em meio a uma circinal trama que não faz o menor sentido, Dolittle é uma fusão inexplicavelmente péssima do anacronismo cênico com a falta de prospecto cinematográfico, visando a pedantes metáforas que engasgam em si próprias. Ademais, toda a estética do filme pende para um trash que passa longe de ser proposital, recuando para um meio-termo cru entre o fotorrealismo de obras como O Rei Leão’ e Mogli – O Menino Lobo’ e a aproximação antropomorfizada das envelhecidas animações do império Disney – em outras palavras, um desastre de proporções inenarráveis que mais se assemelha a uma sessão de entretenimento masoquista.



A história se inicia com um interessante prólogo – os únicos cinco minutos aproveitáveis do longa-metragem: John Dolittle (Downey Jr.) e sua esposa Lily (Kasia Smutniak) funcionam como “a dupla perfeita” de investigadores, viajantes e aventureiros que passaram a vida salvando animais de prisões e maus-tratos, abrindo um santuário aberto para todos – e servindo como refúgio para as queridas criaturas. Entretanto, depois que uma tragédia leva a vida de Lily embora, John se confina em seus aposentos, fechando as portas de sua casa e recusando-se a manter contato com qualquer pessoa (preferindo muito mais a companhia de seus amigos animalescos). E, seguindo uma fórmula usada e reutilizada diversas vezes pelo amadorismo heroico de primeira viagem, as coisas mudam quando o jovem Tommy (Harry Collett) acidentalmente atira em um esquilo e é guiado até o lar de Dolittle para que ele possa ajudá-lo.

Diferente do que seria costumeiro – ainda mais em se tratando de um conto voltado para o público infantil -, o roteiro poderia optar por apenas um tratamento em vez de fornecer uma perspectiva nova para o romance de Hugh Lofting. Afinal, a presença dos protagonistas e coadjuvantes não é equilibrada o bastante a ponto de permitir que os espectadores dialoguem ou criem relações sólidas o suficiente, tornando seus arcos superficiais e esquecíveis demais: além de Tommy, John e uma trupe de criaturas humanizadas, temos a insossa aparição de Lady Rose (Carmel Laniado), uma moça que recruta as habilidades de Dolittle para curar a enferma Rainha Victoria (Jessie Buckley) e, dessa forma, impedir que sua mansão caia nas mãos de um corrupto governo.

E isso infelizmente não é tudo: temos também as subtramas conspiratórias que vêm à tona nas personas de Lorde Thomas (Jim Broadbent) e do Dr. Blair Müdfly (Michael Sheen), cujas artimanhas se concretizam conforme planejaram até a aparição irreverente de John; a necessidade impalpável de Tommy em encontrar seu lugar no mundo (cuja jornada de amadurecimento não é respaldada por qualquer lógica, nem mesmo interna); e o embate ridículo entre Dolittle e seu ex-sogro, Rassouli (Antonio Banderas em uma performance risível, ainda mais considerando sua rendição em Dor & Glória’ um ano antes da estreia do filme), que nutre de ressentimentos pelo genro e quer vingança pela morte precoce da filha.

Como se não bastasse, a condução do filme deixa a desejar em praticamente todos os momentos. Com exceção do primeiro ato, que é erguido em um território fértil dentro dos limites que impõe a si mesmo, nada se encaixa; nem o parco potencial apresentado é explorado com vontade, deixando que diálogos atravessados, quebras de expectativa ascorosas e um forçado sotaque provindo do âmago cansado de Downey Jr. rejam essa apocalíptica tentativa de reviver personagens clássicos da literatura infantil (nem mesmo Emma Thompson em todo seu cinismo como Polly consegue se salvar de uma tragédia imensurável).

Dolittle segue a marola de remakes que não deveriam nem ao menos serem considerados, ainda mais por desperdiçar cada elemento que se presta a trazer para as telonas. O resultado é palidamente insípido, passível até mesmo de ser rechaçado pelas mentes mais ingênuas que se prestem a assistir a esse filme.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Entretanto, o convite parece ter sido extraviado, visto que o resultado é completamente diferente do que imaginávamos: em meio a uma circinal trama que não faz o menor sentido, Dolittle é uma fusão inexplicavelmente péssima do anacronismo cênico com a falta de prospecto cinematográfico, visando a pedantes metáforas que engasgam em si próprias. Ademais, toda a estética do filme pende para um trash que passa longe de ser proposital, recuando para um meio-termo cru entre o fotorrealismo de obras como O Rei Leão’ e Mogli – O Menino Lobo’ e a aproximação antropomorfizada das envelhecidas animações do império Disney – em outras palavras, um desastre de proporções inenarráveis que mais se assemelha a uma sessão de entretenimento masoquista.

A história se inicia com um interessante prólogo – os únicos cinco minutos aproveitáveis do longa-metragem: John Dolittle (Downey Jr.) e sua esposa Lily (Kasia Smutniak) funcionam como “a dupla perfeita” de investigadores, viajantes e aventureiros que passaram a vida salvando animais de prisões e maus-tratos, abrindo um santuário aberto para todos – e servindo como refúgio para as queridas criaturas. Entretanto, depois que uma tragédia leva a vida de Lily embora, John se confina em seus aposentos, fechando as portas de sua casa e recusando-se a manter contato com qualquer pessoa (preferindo muito mais a companhia de seus amigos animalescos). E, seguindo uma fórmula usada e reutilizada diversas vezes pelo amadorismo heroico de primeira viagem, as coisas mudam quando o jovem Tommy (Harry Collett) acidentalmente atira em um esquilo e é guiado até o lar de Dolittle para que ele possa ajudá-lo.

Diferente do que seria costumeiro – ainda mais em se tratando de um conto voltado para o público infantil -, o roteiro poderia optar por apenas um tratamento em vez de fornecer uma perspectiva nova para o romance de Hugh Lofting. Afinal, a presença dos protagonistas e coadjuvantes não é equilibrada o bastante a ponto de permitir que os espectadores dialoguem ou criem relações sólidas o suficiente, tornando seus arcos superficiais e esquecíveis demais: além de Tommy, John e uma trupe de criaturas humanizadas, temos a insossa aparição de Lady Rose (Carmel Laniado), uma moça que recruta as habilidades de Dolittle para curar a enferma Rainha Victoria (Jessie Buckley) e, dessa forma, impedir que sua mansão caia nas mãos de um corrupto governo.

E isso infelizmente não é tudo: temos também as subtramas conspiratórias que vêm à tona nas personas de Lorde Thomas (Jim Broadbent) e do Dr. Blair Müdfly (Michael Sheen), cujas artimanhas se concretizam conforme planejaram até a aparição irreverente de John; a necessidade impalpável de Tommy em encontrar seu lugar no mundo (cuja jornada de amadurecimento não é respaldada por qualquer lógica, nem mesmo interna); e o embate ridículo entre Dolittle e seu ex-sogro, Rassouli (Antonio Banderas em uma performance risível, ainda mais considerando sua rendição em Dor & Glória’ um ano antes da estreia do filme), que nutre de ressentimentos pelo genro e quer vingança pela morte precoce da filha.

Como se não bastasse, a condução do filme deixa a desejar em praticamente todos os momentos. Com exceção do primeiro ato, que é erguido em um território fértil dentro dos limites que impõe a si mesmo, nada se encaixa; nem o parco potencial apresentado é explorado com vontade, deixando que diálogos atravessados, quebras de expectativa ascorosas e um forçado sotaque provindo do âmago cansado de Downey Jr. rejam essa apocalíptica tentativa de reviver personagens clássicos da literatura infantil (nem mesmo Emma Thompson em todo seu cinismo como Polly consegue se salvar de uma tragédia imensurável).

Dolittle segue a marola de remakes que não deveriam nem ao menos serem considerados, ainda mais por desperdiçar cada elemento que se presta a trazer para as telonas. O resultado é palidamente insípido, passível até mesmo de ser rechaçado pelas mentes mais ingênuas que se prestem a assistir a esse filme.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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