Não é novidade que a Hollywood atual investe pesado em franquias. A era dos astros foi finalmente suplantada pela era das marcas. Cada grande estúdio deseja sua fatia do mercado, tentando criar aquele nome reconhecível que acerte o alvo, seja revivendo o que deu certo no passado ou adaptando de outra mídia de sucesso (a originalidade é cada vez um item mais raro).
No entanto, ter um produto que ressoe junto ao público não é tudo. É necessário ter o mínimo de qualidade em seu filme. Pense, por exemplo, em Guardiões da Galáxia (2014), que pegou um produto obscuro e trouxe para os holofotes graças ao esforço do time responsável. Com a máxima “nem tudo que Hollywood toca vira ouro” em mente, o CinePOP cria uma nova lista com as potenciais franquias que não decolaram. Reunimos os primeiros, segundos, ou terceiros filmes que foram interrompidos pelos mais variados motivos, sendo seu objetivo lucrar rios de dinheiro para seu respectivo estúdio, na forma da mais nova mania mundial. Vamos a eles.
Boa leitura, bom divertimento e não esqueça o comentário.
#10) A Série Divergente (2014, 2015 e 2016)
Este é um caso curioso. Divergente é baseado numa série literária juvenil de sucesso, que claramente bebe na fonte de títulos como Harry Potter e Jogos Vorazes. O problema foi justamente quando sua contraparte cinematográfica também tentou trilhar pela mesma estrada. As aventuras de Tris e seus amigos foram a cada exemplar decaindo no gosto da crítica e público. O fato bastou para que os produtores decidissem lançar o quarto e último filme, que fecharia a série, direto para a TV.
O que acontece foi que assim como as franquias citadas acima, Divergente dividiu seu último livro em dois filmes – aqui claramente uma façanha visando apenas o lucro financeiro. Como resultado, a produção está embargada, com sua protagonista Shaielene Woodley afirmando que não participará se o lançamento não ocorrer nos cinemas. Que sirva de lição para a ganância corporativa acima da qualidade. Que tal fazer um filme e se ele der certo, pensar na continuação? Quem sofre são os fãs.
Solução: um meio termo precisa ser achado. Ou Woodley aceita protagonizar a produção para a TV, em respeito unicamente aos fãs, ou os produtores devem arcar com as consequências e realizar o último longa nos cinemas, doa a quem doer.
#9) Super Mario Bros (1993)
A primeira adaptação de um vídeo game para o cinema também não teve a vida fácil. Super Mario Bros era uma febre nos anos 1980 e 1990. Não existia uma criança na época que não conhecesse o jogo do encanador descendente de italiano Mario e seu irmão Luigi, que se aventuravam em mundos estranhos de fantasia com o objetivo de resgatar uma princesa. Entre escorregar por um cano aqui, e pisar em tartarugas ali, Super Mario se tornou uma das franquias mais conhecidas, rendendo de tudo, desde desenho animado até todo tipo de merchandising.
Na hora de realizar a transição para o cinema, a empolgação não podia ser maior. O trailer jogou as crianças da época na lua, afinal, quantas vezes seus personagens favoritos dos games que passavam horas jogando já tinham aparecido nos cinemas? Nenhuma. O resultado, no entanto, foi menos do que satisfatório, criando, ao invés de um filme mágico com o visual próximo ao que todos estavam acostumados, uma produção soturna, suja e depressiva, numa espécie de Mad Max encontra Gotham City. Nem um Dennis Hopper caricato e parecendo se divertir de verdade na pele do Rei Koopa consegue salvar a produção da apatia. Super Mario Bros se tornou cult, mas naquela categoria de prazer culposo, o que não é o que nenhum fã deseja. Está mais do que na hora de ser revitalizado.
Solução: pegando carona no sucesso de Uma Aventura LEGO (2014) e Angry Birds – O filme (2016), um novo longa do Mario poderia ser criado todo em animação. Foi a solução encontrada para o terceiro Smurfs (lançado recentemente nos cinemas), que se mostrou a melhor investida da franquia.
#8) O Espetacular Homem-Aranha 2 (2014)
Quando a notícia de que a Sony iria realizar o reboot da franquia Homem-Aranha, após o malfadado terceiro episódio de 2007, ao invés de seguir a série com Tobey Maguire e Sam Raimi na direção – ambos interessados em participar de um quarto filme – a maioria dos fãs achou que a proposta era um disparate. O fato é que Homem-Aranha (2002), um dos longas responsáveis por esta era de ouro dos super-heróis no cinema, havia sido lançado há apenas dez anos, tempo insuficiente para formar uma geração que não o conhecia.
A verdade é que após o encerramento da era Raimi, com divergências fervorosas entre o cineasta e o estúdio, negadas hoje em dia, a Sony não queria perder os direitos do personagem e sua galinha dos ovos de ouro, que seriam revertidos para a Marvel, propriedade da Disney. A solução foi realizar este reinício, com outro diretor e outro protagonista. O Espetacular Homem-Aranha (2012) foi um filme bem morno, no qual fica difícil destacar elementos que satisfaçam. Mas foi com esta sequência de 2014, que tudo foi para o ralo. A Ameaça de Electro é ruim, caindo no quesito prazer culposo e sendo comparável a Batman & Robin (1997) em questão de vergonha alheia. O pior foi ter o plugue puxado sem uma conclusão. Pobre Andrew Garfield, tão empolgado ao ganhar o papel. Pobre Shailene Woodley, a Mary Jane que nunca foi.
Solução: já temos um novo Homem-Aranha nas formas de Tom Holland, um novo diretor nas formas de Jon Watts, e um novo filme em parceria com a Disney/Marvel. A estreia de Homem-Aranha 3 ocorre em 2022 e pode trazer de volta Garfield no Aranhaverso.
#7) O Último Mestre do Ar (2010)
Recentemente falei sobre O Último Mestre no Ar na maratona Shyamalan que fiz para o CinePOP. Uma vez um mestre da sétima arte, em pleno domínio de sua forma, M. Night Shyamalan deixou seu ego falar mais alto, travou uma batalha contra os críticos e os fãs e caiu em desgraça. O ápice desta fase negra, como muitos apontam, foi este filme, onde Shyamalan resolveu adaptar para o cinema o famoso desenho Avatar, objeto de paixão de seus filhos. Com a obra, o cineasta entregava sua primeira superprodução, um blockbuster bem diferente do que estava acostumado a fazer, geralmente longas mais autorais e intimistas.
Um dos motivos do fracasso de O Último Mestre do Ar foi a falta de bom humor, presente no material original. Shyamalan cria um filme sorumbático, longe do tipo de sentimento geralmente associado a uma produção mirada ao público infantil. Este é um épico sério e enfadonho, sem alívios ou beleza visual – até os efeitos são carregados na sobriedade. O carisma dos protagonistas não são o suficiente para livrar o filme da apatia. O curioso é que, assim como muitos que tentam agarrar com unhas e dentes a chance de uma continuidade, O Último Mestre do Ar deixa a porta escancarada para uma sequência – que nunca viria, obviamente.
Solução: com a salvadora Netflix resgatando tudo que é série e filme de status cult do ostracismo, bem que o colosso do audiovisual poderia dar mais uma chance para a franquia Avatar. A história poderia ser continuada ou reiniciada através de uma série em live action, como a empresa fez com Desventuras em Série ou Os Instrumentos Mortais.
#6) O Besouro Verde (2011)
Mesmo quando achamos que nada pode dar errado em produções que parecem nascer vencedoras, o acaso entra em jogo, subvertendo tudo. Seth Rogen estava na crista da onda na época, como um dos humoristas norte-americanos de maior proeminência, saído dos sucessos consecutivos de Ligeiramente Grávidos, Superbad, Segurando as Pontas e do aclamado Tá Rindo do Que? (2009). Ao lado de seu parceiro de roteiro usual Evan Goldberg, criar um roteiro para a série cult O Besouro Verde soava como ideia genial. No elenco, o vencedor do Oscar Christoph Waltz e o astro asiático Jay Chou.
Se na frente das câmeras, o elenco era mais do que convidativo, atrás tínhamos o cineasta francês cultuado Michel Gondry, que colocou seu nome no coração dos cinéfilos graças a Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (2004). A proposta aqui era realizar um filme de super-herói diferente, apostando mais no humor e rindo do ridículo da coisa. Comparando, era mais para o Batman galhofeiro da década de 1960 e menos para o próprio Besouro Verde, uma série da mesma época levada num tom mais sóbrio. Apesar de escolhas técnicas criativas, o roteiro capenga e a falta de química entre os atores e seus personagens, deixou o público a ver navios e o filme naufragou. Rogen e sua turma fazem inclusive piadas sobre a desgraça da produção atualmente. Uma pena, pois poderia render uma franquia divertida e nostálgica.
Solução: a mesma do item acima poderia ser aplicada, já que dificilmente algum estúdio iria investir novamente um orçamento de dezenas de milhões de dólares em uma aposta arriscada, que mostrou não dar certo. A solução aqui seria por algo menor, como uma série de TV, com novo elenco e novos envolvidos, revitalizando o material, sob novo aspecto.
#5) O Poder e a Lei (2011)
Nem só de super-heróis de quadrinhos, vídeo games, desenhos animados, séries antigas de TV e literatura infanto-juvenil vivem as franquias que não deram certo no cinema. Esta aqui, no entanto, é uma das que mais dói no coração cinéfilo não ter emplacado, impossibilitando os fãs e amantes do cinema de verem novas aventuras jurídicas do advogado malandro Mick Haller (Matthew McConaughey), um dos melhores personagens criados no cinema mainstream nos últimos anos. E dói principalmente por sabermos que O Poder e a Lei (The Lincoln Lawyer) é, no mínimo, um ótimo filme.
O filme adapta o livro homônimo, parte de uma série criada pelo autor Michael Connelly, protagonizado pelo personagem escorregadio, um advogado cheio de artimanhas que tem como escritório o carro Lincoln (daí o título original) e com ele percorre toda a cidade atrás de clientes. Além disso, O Poder e a Lei figura como primeira produção da chamada “McConaissance”, a renascença de Matthew McConaughey, resgatado de filmes ruins. O Poder e a Lei infelizmente não atingiu o esperado pelo estúdio e melou os planos de outros filmes, mesmo uma continuação sendo de grande interesse do astro e dos envolvidos.
Solução: quem sabe agora que Matthew McConaughey voltou às boas com o sucesso de crítica e público (embora tenha sofrido um novo leve declínio pós Oscar), algum produtor ou estúdio não desenvolva interesse em levar os livros de Connelly e o personagem de volta aos cinemas. Se McConaughey desse uma de Ryan Reynolds e investisse no lobby, a coisa poderia sair do papel.
#4) Sombras da Noite (2012)
Uma das produções mais broxantes desta nova década, que nos fez perder bastante fé em Johnny Depp e no diretor Tim Burton. Anunciado por anos como um projeto dos sonhos de Depp, um aficionado pela série original da década de 1960, sobre uma família para lá de estranha – cujos membros eram desde vampiros até outras criaturas sombrias – que fazia de sua missão levar Barnabas Collins e sua trupe para as telonas. As primeiras notícias sobre a produção enchiam o coração cinéfilo de esperança. O tom de terror de mentirinha pedia a direção de Burton, que por sorte é um grande amigo de Depp e parecia ter nascido para desenvolver o projeto.
Além disso, Sombras da Noite marcava a tão aguardada reunião de Burton com a veterana Michelle Pfeiffer, depois de icônico Batman – O Retorno (1992). Se tivesse dado certo, poderíamos ver a cada par de anos novas confusões desta família disfuncional. O maior problema do longa foi a falta de compromisso com um tom, oscilando entre cenas saídas tipicamente de um filme de horror (como quando Barnabas mata um grupo de hippies) e uma comédia, que não funciona com piadas seguras demais e muito velhas (como a cansada dinâmica do peixe fora d´água, o personagem vindo do passado não conhece a televisão e por aí vai).
Solução: uma paixão antiga não morre assim tão fácil. Desta forma, ainda reside dentro de Depp e Burton a frustração de não terem sido bem sucedidos com a obra. Isso pode mudar se a dupla propuser para um destes veículos de streaming ou canal a cabo, uma série sobre o tema, produzida por eles. E quem sabe, protagonizada pelos mesmos atores, já que o filme não é tão antigo assim e todos estão em perfeita forma para retornarem a seus personagens.
#3) Lanterna Verde (2011)
A Warner, dona dos direitos dos personagens da DC Comics, via o início da construção do universo cinematográfico da rival Marvel nesta época. Se com a rival deu certo investir num personagem do escalão B de seu acervo, como o Homem de Ferro, trazer o Lanterna Verde como protagonista de seu próprio filme parecia ser uma opção acertada. A proposta de tirar o foco dos medalhões da casa, Superman e Batman, poderia até ter dado certo, caso os envolvidos estivessem verdadeiramente empenhados. O diretor Martin Campbell, por exemplo, confessa ter sido apenas um diretor de aluguel, sem qualquer apreço pelo material.
A Warner sentiu também que tentar replicar o clima descontraído e colorido da rival, em um personagem que não pedia, não era a solução. Pior para o ator Ryan Reynolds, que com o longa participou de sua terceira incursão malfadada pelo subgênero (depois de Blade Trinity, de 2004, e X-Men: Origens – Wolverine, de 2009), sendo resgatado somente com o sucesso de Deadpool (2016). Reynolds inclusive fez questão de tirar sarro do personagem no longa citado, e de positivo do projeto levou apenas o casamento com sua colega de cena, Blake Lively. Este é outro filme que deixou tudo encaminhado, como mostra sua cena pós-créditos, para uma sequência e uma possível franquia, que não vingou.
Solução: muitos já queriam ver Hal Jordan, ou outro Lanterna Verde, no filme da Liga da Justiça, que será lançado no final deste ano. Muitos acreditam inclusive que a Warner está escondendo o jogo, e que o personagem estará sim presente no longa. Seja como for, outros projetos envolvendo o personagem não param de salpicar nas notícias. Um novo filme solo tendo o Lanterna Jon Stewart é mencionado, mas a certeza parece ser um filme com o time inteiro dos Lanternas, intitulado Tropa dos Lanternas Verdes (Green Lantern Corps), que possui data de estreia anunciada para 2020.
#2) Dredd (2012)
A primeira faz tchan, a segunda faz… O que acontece quando tentamos mais de uma vez, de diferentes formas e não atingimos nosso objetivo? Continuamos tentando ou desistimos? Se o projeto envolve muitos milhões de dólares, talvez seja o caso de repensar muito bem a ideia. Foi o que ocorreu com o personagem Juiz Dredd, dos quadrinhos obscuros ingleses criados por John Wagner e Carlos Ezquerra. A primeira incursão do personagem pelos cinemas aconteceu em 1995, numa era pré-boom do gênero, aonde foi protagonizado por Sylvester Stallone, num filme que entre outras coisas descaracterizou não apenas o personagem, como a proposta do material, criando um blockbsuter mundano.
A tragédia que foi O Juiz (1995) seria o suficiente para enterrar de vez o personagem. No entanto, em 2012, novo fôlego foi dado ao policial do futuro, que é juiz, júri e carrasco dos criminosos. Mais intimista, contando com um orçamento mais justo e uma história que misturava Operação Invasão, Cidade de Deus e filmes de ficção e ação, Dredd acertou em cheio, criando um cult instantâneo. Desta vez, no lugar de Stallone e seu ego, tínhamos o eficiente Karl Urban, que aceitou participar do filme inteiro usando o capacete do personagem, sem mostrar o rosto. No entanto, como nem tudo é perfeito, o filme não se mostrou um sucesso financeiro, apesar das críticas em sua maioria favoráveis, já que fazia uso de uma censura alta e nenhum humor.
Solução: até hoje Karl Urban e os envolvidos fazem campanha para a volta de Dredd, e uma espécie de crowdfunding, donativos do público para o orçamento da produção, entrou em vigor. A solução pode estar com a Netflix ou outro veículo de streaming, que poderia bancar a produção de um novo longa lançado direto em tal mídia. Não seria nada mau.
#1) Millennium (2011)
E a posição de número 1 da lista é The Girl with the Dragon Tattoo, de David Fincher. Este é o item que deixa o coração cinéfilo mais triste e chorando por uma franquia que infelizmente não virá, ao menos não como queríamos. O filme é a versão norte-americana dos livros de suspense protagonizados por uma das melhores personagens femininas dos últimos anos, Lisbeth Salander, escritos por Stieg Larsson, já falecido. O autor escreveu uma trilogia, que foi adaptada na forma de produções cinematográficas suecas (país de origem das obras literárias), embora uma série maior tenha sido planejada. Na trilogia sueca, Noomi Rapace deu vida à personagem.
No entanto, foi com a adaptação de David Fincher que a história atingiu novos níveis de excelência. Tudo foi aumentado em relação às produções suecas no longa de Fincher, inclusive o comprometimento da atriz principal – Rooney Mara tem um desempenho vertiginoso, até mesmo colocando piercing de verdade nos mamilos, e como resultado recebeu uma indicação ao Oscar. Mara é a Liesbeth Salander definitiva. Infelizmente, devido ao seu orçamento inflado, para uma produção de suspense de censura alta e temas para lá de polêmicos – como estupro, assassinato e abuso de mulheres – o filme deu certo prejuízo para a Sony, apesar das críticas extremamente positivas e de figurar na maioria das listas de melhores de seu respectivo ano.
Solução: aos poucos foi ficando cada vez mais distante o sonho de vermos Rooney Mara na pele de Lisbeth novamente, assim como uma continuação para o filme de Fincher. Agora, já está decidido que o caminho a ser tomado será um reboot, adaptando A Garota na Teia de Aranha, quarto livro da saga, escrito por David Lagercrantz desta vez. Fede Alvarez (O Homem nas Trevas) vai dirigir, e Claire Foy estrelar como Lisbeth!