Responsável por nossas reflexões sobre as ações que tomamos, emoções e parte de quem somos como ser humano, a memória é algo como se fosse um legado de nossa história não só para nos descobrirmos quem somos mas também como os outros nos enxergam. O precário funcionamento do cérebro pode chegar de diversas formas, além de doenças associadas à velhice como o Mal de Alzheimer ou até mesmo um grupo de sintomas cognitivos e sociais que interfere nas funções diárias (demência).
No cinema, vários filmes tratam sobre esse complexo e amplo assunto de várias formas, em vários recortes e fases de avanço da perda de memória, e mais, o que ainda dá pra ser feito quando a doença avançar nas impossibilidades. Buscando refletir sobre esse assunto, e tentando fugir de uma obviedade cinéfila sobre o tema (Identidade Bourne, Diários de uma Paixão, Longe Dela, Amnésia, Como se Fosse a Primeira Vez, entre outros famosos filmes que também se encaixam nessa questão) separamos abaixo uma lista com 5 Filmes impactantes que exploram a perda de memória.
Min så kallade pappa
A força da maternidade é maior que as leis da natureza. Lançado na Suécia em setembro de 2014, o longa-metragem Min så kallade pappa (ainda sem tradução para o Brasil) é um daqueles belos filmes que infelizmente quase certo de eu nunca veremos por aqui. O projeto conta com o grande ator sueco Michael Nyqvist e é dirigido pelo experiente diretor Ulf Malmros. Utilizando bem a realidade e os pés nos chão para contar uma história que tinha tudo para ser um filminho de sessão da tarde, Min så kallade pappa é um filme que você precisa conferir.
Na trama, conhecemos a futura mamãe e professora do jardim de infância Malin (Vera Vitali), uma mulher com garra e atitude que está passando por um momento de separação com o futuro pai de seu primeiro filho. Definida a tomar atitudes corajosas sobre seu futuro, resolve ir em busca do pai que nunca conhecemos, Martin (Michael Nyqvist), um veterano ator de teatro que nunca fez questão de procurar notícias de sua única filha. Durante o inusitado encontro, Martin sofre uma espécie de derrame e perde parte da memória. Assim, é a grande oportunidade de Malin se aproximar de seu desconhecido pai.
Como superar o que para você mesmo é insuperável? Indicado a seis Oscars em 2021, Meu Pai, é uma espécie de um jogo de suposições dentro de um labirinto de situações. Um vai e vem emocional constante, do êxtase à amargura. Um engenheiro aposentado cheio de manias, apreciador de ópera, dentro de um apartamento em Londres com um quebra-cabeça para resolver, um jogo de um jogador apenas, mesmo com personagens surgindo a todo instante, passa seus dias, de alguma forma, bastante solitário. Nossos olhos são Anthony, vamos descobrindo onde cada peça se encaixa junto com ele. Um roteiro primoroso onde não conseguimos tirar os olhos da tela. Magistral atuação de Anthony Hopkins. Roteiro e direção assinados pelo cineasta francês Florian Zeller, seu primeiro longa-metragem como diretor.
Na trama, conhecemos Anthony (Anthony Hopkins), um homem já no terço final de sua vida, perto dos 80 anos, que vive seus dias em um apartamento confortável em Londres onde recebe a visita constante de sua filha Anne (Olivia Colman). Quando essa última conta para ele que está indo morar em Paris, situações diferentes começam a aparecer nos seus dias, até mesmo personagens diferentes mas que significam algo ao redor da vida dele, e assim conflitos familiares são trazidos à tona. Alucinações? Lembranças? Quais peças não estão lugar?
Sem Palavras
Sempre teremos tudo aquilo que quisermos, mas, às vezes, só o tempo dirá quando. Navegando pelo caótico universo capitalista e competitivo que vivemos, somos testemunhas de mais um brilhante refém dos nossos tempos, que consome sua vida de Workholic se cuidando mal e dando pouco valor a sua família. Dirigido pelo cineasta francês Hervé Mimran, em seu terceiro longa-metragem no currículo, Sem Palavras é um filme guiado por um assunto complexo mas que tem no leme um dos mais habilidosos artistas do mundo, especialista em caminhar entre o drama e a comédia de maneira elegante e muito carismática, o fantástico Fabrice Luchini. A melancolia que estaciona entre alguns arcos deixa o filme pouco dinâmico mas com Luchini em cena tudo pode mudar em minutos, ele puxa para si a responsabilidade de emocionar. E consegue. A história é inspirada no livro J’étais un homme pressé de Christian Streiff. ex-CEO da Airbus e da Peugeot Citroen.
Na trama, ambientada na mais famosa cidade francesa e seu enorme centro egocêntrico de concorrência coorporativa, conhecemos o brilhante professor e homem de negócios Alain Wapler (Fabrice Luchini) que passa mais tempo no trabalho do que em casa, tendo pouca proximidade com a filha, principalmente após a perda da esposa. Durante uma semana corrida e cansativa, Alain tem um AVC que afeta seu cérebro na região da memória e onde grava palavras, assim, precisa passar um tempo longe do trabalho para se recuperar e conta com a ajuda de sua filha Julia (Rebecca Marder) e da Fonoaudióloga Jeanne (Leïla Bekhti). Com o passar dos dias Alain percebe que sua vida entrou em uma grande e inesperada mudança. Tem na Amazon Prime Video e na Globoplay.
E se todas as lembranças de nossas vidas simplesmente sumissem ou nunca mais conseguíssemos lembrá-las mais? Para falar sobre o terrível Mal de Alzheimer nas telonas, os diretores Richard Glatzer e Wash Westmoreland criam uma história forte, convincente e comovente que envolve problemas existenciais de uma impactante mulher. Para Sempre Alice é muito mais que um drama tocante, é uma lição de vida onde o público presencia uma das grandes atrizes em atividade no auge do seu talento.
Na trama, conhecemos Alice (Julianne Moore), uma conceituada professora e autora de livros que se encontra em uma fase conturbada de sua vida ao ser diagnosticada com Mal de Alzheimer aos 50 anos. Tentando não enlouquecer e espantando a tristeza, encontra um desafogo para suas dores na tentativa de reaproximação com sua filha mais nova, com quem sempre teve muitos problemas e discussões. Tem na HBO MAX.
Certas histórias não precisam ser perfeitas para emocionar. Dirigido pela cineasta espanhola Maria Ripoll, Viver Duas Vezes, mais um filme lançamento no super catálogo da Netflix, é uma linda fábula sobre o amor que percorre barreiras do tempo e quando o destino chama, entendemos o porquê é tão lindo viver. O roteiro de María Mínguez transborda simpatia apoiado na construção não original de um protagonista rabugento mas que vai se abrindo conforme as situações acontecem. Nesse caso, a fórmula dá certo pela competência e brilhantismo do grande ator argentino Oscar Martínez.
Na trama, conhecemos o mal humorado ex-professor de matemática Emílio (Oscar Martínez), um homem no terço final e sua vida que dedicou grande parte de seu tempo na terra para decifrar os enigmas da famosa ciência mais exata, chegando até a encontrar um desconhecido número primo. Quando essa mente brilhante é diagnosticado com Alzheimer, sua filha Julia (interpretado pela ótima Inma Cuesta) e sua neta Blanca (Mafalda Carbonell em uma atuação marcante e emocionante) se aproximam dele e juntos partem em uma inusitada aventura em busca do primeiro amor de Emílio.