A tragicomédia Depois a Louca Sou Eu, dirigida por Julia Rezende (Como é Cruel Viver a Vida Assim), chegou ao catálogo do Amazon Prime Video.
O tema da obra, protagonizada por Débora Falabella (da novela Av. Brasil) e Gustavo Vaz (da série Coisa Mais Linda), tornou-se ainda mais simbólico em tempos de distanciamento social e incertezas sobre o futuro. Baseado no livro homônimo da publicitária, colunista e roteirista Tati Bernardi, Depois a Louca sou Eu apresenta a divertida e sensível trajetória de uma mulher de 30 e poucos anos lidando com suas crises de angústia, de ansiedade e da finitude da vida.
Produzido por Mariza Leão (De Pernas pro Ar 3), a comédia dramática apresenta uma estética caprichada, discussões pertinentes, atuações cômicas e um relato irônico de um problema real. Ou seja, um grande programa cinematográfico. O CinePOP, portanto, separou SEIS argumentos para levá-lo a prestigiar esta produção no streaming.
1 – Aborda Temáticas Contemporâneas: crise de angústia e o uso ansiolíticos
A protagonista Dani Teixeira (Débora Falabella) é uma mulher em busca da liberdade dos seus próprios medos. Como uma em cada duas pessoas neste planeta, ela lida com as angústias do fracasso e do medo de sair da sua zona de conforto. Com o desejo de tornar-se uma grande escritora, ela enfrenta os pequenos dilemas de sair da casa e da proteção sufocante da sua mãe, dos relacionamentos amorosos e dos riscos profissionais.
Para ela, no entanto, o estresse mental tem um efeito severo no seu corpo: ataques de pânico. Para se livrar das crises, ela mergulha no mundo dos ansiolíticos. Se você já está neste barco ou pensa entrar nele, observe a personagem, baseada na experiência da escritora Tati Bernardi. A perspectiva trará importantes reflexões sobre esse perigoso caminho.
Veja também: Entrevista exclusiva de Débora Falabella, protagonista de Depois a Louca Sou Eu, para o CinePOP
2 – Motiva a Desconstrução da Masculinidade Tóxica
Um dos grandes acertos do roteiro de Gustavo Lipsztein (1 Contra Todos) é o personagem Gilberto (Gustavo Vaz), baseado em vários homens presentes no livro. Ele é um psicanalista, mas demonstra suas vulnerabilidades, seus medos e não tem receio de deixar as lágrimas rolarem. Ou seja, essas características o apresentam como um homem normal, longe da perfeição, mas liberto da máscara do “macho alfa”, conhecida também como masculinidade tóxica.
O cinema por décadas representa os homens como seres menos emotivos, sem fragilidades e motivados apenas pela honra e a integridade. Já passou da hora de mais personagens como Gilberto que, mesmo cheios de erros, não tenham receio de expor seus conflitos e possam compreender os dos outros igualmente.
3 – Mostra que é Possível ser Feminista sem ser Militante
Por que é importante ressaltar este ponto? Simplesmente porque a polarização de ser contra ou a favor no debate público não quer dizer muita coisa quando trata-se de ações. Ninguém tem obrigação de pronunciar-se sobre todas as pautas igualitárias de forma enfática, vivê-las e respeitá-las já é um grande passo.
Dani representa uma mulher madura, inteligente e independente, lidando com um complexo jogo entre a mente e o corpo. Sua postura é altiva, desejante e liberal, contudo, ela não reivindica nenhum lugar de fala e utiliza o humor como mecanismo de defesa e chave para abrir portas. Ou seja, feminista, apesar de não entrar nesta luta, pois reconhece seus privilégios.
4 – Aponta a Terapia como Caminho: conflito entre Mãe e Filha
A comédia dramática é conduzida pelo relacionamento conflituoso entre Dani e sua mãe Silvia (Yara de Novaes). As duas são parecidas. Desde a infância, com a saída da figura paterna de casa, elas desenvolveram uma relação simbiótica e de interdependência. Com o passar dos anos, os medos e angústias da mãe recaem sobre a filha e, constantemente, elas têm um embate. Após buscar diversas terapias, somente a consteladora familiar (Débora Lamm) e sua técnica das almofadas fazem os sentimentos recalcados virem à tona. A mensagem é simples, busque ajuda, mesmo que o processo seja difícil.
5 – Desenvolve a Empatia em Lidar com a Angústia Alheia
Sabe aquele amigo que quer ir embora no meio da festa? Ou você mesmo(a), já sentiu que a noite não ia ser boa ao chegar no local? Conhecidos como “os estraga festas”, as pessoas que sofrem de crises de ansiedade e pânico são sempre mal compreendidas.
Depois a Louca Sou Eu ajuda a enxergar esses vestígios de estresse no discurso e nas ações, levando-nos a entender os mecanismos de defesa do próximo, como deixar um táxi de sobreaviso em plena noite de réveillon. A empatia também é o trunfo do relacionamento entre Dani e Gilberto. A mensagem é cristalina: a compreensão é a chave do processo de harmonia entre amigos, familiares ou amantes.
6 – Capricha na Produção Artística e Edição
Por último, porém não menos importante, é pertinente destacar o trabalho artístico de Julia Rezende e sua equipe na composição de Depois a Louca Sou Eu. Desde a primeira cena das bolinhas de gude a se dispersarem pelo chão, uma referência do filme O Fábulas Destino de Amélie Poulain (2001), de Jean-Pierre Jeunet, até o arranjo estético entre o verde e o vermelho e dos cortes rápidos e dinâmicos, o filme foi bordado nos detalhes. Em entrevista ao CinePOP, Julia Rezende revelou ser apaixonada por Amélie Poulain e se baseou na utilização de câmeras grandes angulares da obra, além de ter buscado referências nos trabalhos de Michel Gondry (Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças) e Darren Aronofsky (Réquiem para um Sonho).
Assista também – Entrevista Exclusiva do CinePOP com Júlia Rezende: