O atual conflito entre Rússia e Ucrânia vem afetando a economia global e dividindo opiniões. Enquanto existem países pró-Rússia, pró-Ucrânia e neutros, o mundo teme um guerra de maiores proporções. Neste contexto de tensão e visões distintas de ocidente e oriente, o cinema acaba sendo também afetado, principalmente após um boicote ocidental generalizado a obras da cultura russa. Esse movimento ganhou força na última semana, após um pedido da Academia Ucraniana de Cinema, que propôs o fim da visibilidade para o mercado cinematográfico russo no período da guerra. Na petição, eles dizem que: “Vários filmes russos são constantemente aceitos na programação de grande parte dos festivais de cinema do mundo, e uma verba significativa costuma ser gasta nas divulgações. O resultado disso não é apenas a disseminação de propaganda e fatos distorcidos. Isso é também um incentivo a promoção da cultura de um estado agressor, que iniciou uma guerra injustificável na Europa”.
O caso mais comentado por aqui foi o do ator, ativista e diretor Sean Penn, que desde novembro de 2021 trabalhava em um documentário sobre o impacto da política russa na Ucrânia. Quando o conflito estourou, o ator estava em terras ucranianas, onde conversou com políticos, jornalistas e pessoas comuns. Em meio à guerra, o ator permaneceu no país nos primeiros dias de guerra, mas teve de fugir andando com sua equipe para cruzar a fronteira da Polônia, onde estariam seguros.
Mas não é só neste projeto que a guerra influenciou. Por isso, o CinePOP separou o posicionamento de estúdios e eventos no conflito entre Rússia e Ucrânia. Confira.
Blockbusters
Os grandes sucessos da temporada estão suspensos enquanto houver guerra. O primeiro estúdio a suspender seus lançamentos na Rússia foi a Disney. Em seguida, a Warner e a Sony se uniram ao protesto. Por fim, ontem (3/03), foi a vez da Paramount anunciar que suas duas próximas grandes produções não serão lançadas no país europeu, caso ainda haja guerra.
O grande lançamento da Disney para esse mês é a animação Red – Crescer é Uma Fera, programado para chegar ao Disney+. O filme foi citado como exemplo na nota de repúdio à invasão russa, no qual também dizia que o conflito poderia afetar outros projetos. Apesar de não constar na nota, a próxima grande produção da Disney para o mês de março é a série Cavaleiro da Lua, o próximo anti-herói do MCU., que estreia no dia 30.
Pelo lado da Warner, o grande filme suspenso foi Batman, que deveria estrear na Rússia nesta sexta-feira (4). Com a invasão ucraniana, o estúdio adiou indefinidamente o lançamento do filme, que traz Robert Pattinson no papel do bilionário herói de Gotham City. O comunicado da empresa também afirma que vai monitoram a situação da guerra para ver como procederá com os próximos longas. Depois de Batman, o blockbuster “na fila” é Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore, que estreia em 14 de abril.
Assim como a Warner, a Sony anunciou que seu filme de um protagonista “morcegoso” baseado em HQs também está suspenso no país. No caso, é o novo filme do “AranhaVerso”, Morbius, que traz Jared Leto no papel principal. Mas cá entre nós, esse filme já sofreu tantos adiamentos que é capaz dos russos nem perceberem. E como o próximo blockbuster do estúdio está programado para daqui a alguns meses, a princípio, somente Morbius está sob “risco” de adiamento.
Já a Paramount foi menos otimista e já anunciou o adiamento de dois filmes nos quais o estúdio aposta muito, ambos com previsão de lançamento mais próxima de abril do que março. São eles: Sonic 2: O Filme e Cidade Perdida. Enquanto o primeiro deveria estrear em 31 de março, o segundo tinha previsão de chegar aos cinemas em 7 de abril.
Streamings
Conforme dito anteriormente, o Disney+ não lançará Red na Rússia, mas o streaming que mais se posicionou na questão da guerra foi a Netflix. A empresa anunciou que não comprará mais produções feitas na Rússia para seu catálogo enquanto houver o conflito.
Da mesma forma, quatro produções originais Netflix realizadas no país foram suspensas. Uma delas, inclusive, já estava nas filmagens, mas agora não sabe quando poderá ou se poderá finalizar o trabalho.
Festivais
Por fim, mas não menos importante, os grandes festivais de cinema também se manifestaram. Atendendo à petição da Academia Ucraniana de Cinema, que propôs um boicote a nível mundial do cinema russo, o primeiro festival a excluir filmes russos foi o de Glasgow, que está acontecendo até o dia 13 de março, no Reino Unido. Depois deles, foi a vez do festival de Estocolmo, na Suécia, confirmar a exclusão das produções russas de seu programa.
Mas talvez a declaração mais significativa tenha sido a do Festival de Cannes, que divulgou uma nota na imprensa, na qual reconhece o esforço do povo russo para produzir audiovisual no país, principalmente dos cineastas que enfrentam o sistema, mas que, devido ao momento, não aceitará a presença de profissionais que apoiem as ações de Putin.
Ou seja, eles não explicitam se excluirão ou não as produções russas no geral, mas afirmam que aquelas que apoiem o atual regime não serão bem-vindas na premiação que está programada para maio deste ano.
Por outro lado, quem decidiu não acatar a solicitação ucraniana foi o Festival Internacional de Cinema de Locarno, na Suíça. Eles alegam que a exclusão das produções russas seria uma grande violação do direito à liberdade de expressão, algo primordial na produção de arte. Tal qual o festival, vários internautas de todo o mundo questionaram o real efeito do boicote à arte russa. Até que ponto isso seria realmente um boicote e não apenas um tipo de xenofobia contra os russos, alguns sugerem.
Fato é que nos próximos dias, caso não haja uma resolução, outras empresas e festivais do mundo do cinema devem se posicionar quanto à guerra.