domingo , 22 dezembro , 2024

Confira 10 Filmes para Conhecer Paris sem Clichês

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Após um mês de discussões midiáticas sobre o lançamento de outubro na Netflix, Emily em Paris, protagonizado por Lily Collins, muita gente continua a se perguntar quais são os exageros e as verdades por trás dos clichês e a magia parisiense. Por conta desse debate, o CinePOP propõe um outro olhar sobre a capital francesa a partir de uma lista de filmes na cidade luz. 

Se a crítica francesa repudiou os estereótipos preconizados pela produção norte-americana, enquanto o público tem assistido entusiasmado, a gente apresenta outras maneira de enxergar o rio Sena e admirar a Torre Eiffel. Vale ressaltar que a série Emily em Paris permanece no TOP 10 da Netflix de vários países depois de um mês, inclusive na França. Ou seja, a antiga disputa Nova York e Paris continua. Aliás, vocês acham que Paris, Je t’aime (2006) é melhor do que New York, I Love You (2008)? 



Sem mais delongas, vamos à lista de filmes para conhecer Paris, no conforto do seu sofá, nos mais variados gêneros e épocas.

10. Os Sonhadores (The Dreams, 2003)

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Comandada pelo italiano Bernardo Bertolucci, a obra Os Sonhadores nos transporta para a Paris de 1968, época a qual jovens saíram às ruas em apelo a liberdades sociais, sexuais e direitos civis. Neste cenário, os irmãos Isabelle (Eva Green) e Theo (Louis Garrel) acolhem o estudante norte-americano Matthew (Michael Pitt) em sua casa. 

Apesar deles passarem boa parte do tempo no apartamento, os três reencenam uma cena de Bando à Parte (1964), de Jean-Luc Godard, ao correrem pelos corredores do Museu do Louvre. Além dessa emblemática sequência, o encontro entre os três é recheado de referências da época e discussões política, além claro do despertar sexual dos jovens. Como pano de fundo, além do museu, estão a Cinémathèque Françaises e as regiões do 1º, 8º e 16º distritos de Paris

Vale lembrar que este foi o primeiro longa-metragem de Eva Green (A Jornada).  

9. Acossado (À bout de souffle, 1960)

Já mencionado acima, Jean-Luc Godard faz a sua câmera percorrer as ruas, bares e hotéis de Paris no não convencional romance entre um suspeito de latrocínio (Jean-Paul Belmondo) e uma estudante de jornalismo norte-americana (Jean Seberg). Símbolo da Nouvelle-Vague, o filme tem um enredo surpreendente, escrito por François Truffaut, e recheado de explicações sobre expressões francesas, já que a curiosa estudante da Universidade de Sorbonne deseja dominar completamente a língua de Molière

Grande parte da ação ocorre na avenida de Champ-Élysées, onde está situado o Arco do Triunfo, numa ponta, e a Praça da Concórdia, do outro lado. Este último, emblemático para a história da França, afinal é onde Luís XIV foi decapitado durante a Revolução Francesa. Há cenas no Boulevard de Montparnasse e também no metrô de George V. Além de instigante, Acossado mostra o lado de Paris mais célebre e histórico de um ponto de vista cotidiano.

8. Charada (Charade, 1963)

Considerado o melhor filme de Hitchcock que ele nunca fez, Charada é um clássico do suspense protagonizado por Cary Grant e Audrey Hepburn na capital francesa. Por conta da atmosfera e reviravoltas, o filme de Staley Dolen (Cantando na Chuva) é percebido como uma obra do gênio do suspense, no entanto, grande parte desse charme apoia-se nos belíssimos cenários à beira do Rio Sena. 

Com passagens pela Jardim do Palácio Real, o célebre teatro da Comédie-Française e a sede da UNESCO, a narrativa acompanha a missão de Regina Lampert (Hepburn) em encontrar a fortuna roubada pelo seu falecido marido, enquanto é perseguida por diversos homens com o mesmo objetivo. Entre uma perseguição e outra, é possível passear e encantar-se por diversas áreas de Paris

7. Paris (Paris, 2008)

Conhecido pela trilogia Albergue Espanhol (2002), Bonecas Russas (2005) e O Enigma Chinês (2013), o diretor Cédric Klapisch tenta captar a essência múltipla dos parisienses em suas lentes por meio do bailarino Pierre (Romain Duris). Acometido por uma doença terminal, o dançarino acompanha da varanda do seu apartamento a dança de Paris diante de seus olhos. A partir dessa estética voyeurista, o roteiro de Klapisch segue diversos personagens e modos de vida. 

Com um elenco de estrelas francesas, como Juliette Binoche (Vidas Duplas), Mélanie Laurent (Bastardos Inglórios) e François Cluzet (Os Intocáveis), é possível acompanhar a relação de uma estudante e seu professor na Universidade de Sorbonne; vendedores de frutas e verduras no Mercado da Cidade de Rungis, no subúrbio de Paris; e uma dona de padaria preconceituosa aos arredores de Montmartre, no 18º distrito. 

Enfim, são muitas histórias e diversas paisagens, como as Catacombes de Paris, no 14º, a bela Ponte de Bir-Hakeim ao 15º, e a Ópera Garnier, localizada no 9º distrito, por exemplo. 

6. Antes do Pôr do Sol (Before Sunset, 2004)

O segundo filme da trilogia Antes do Amanhecer (1995), de Richard Linklater, apresenta Celine (Julie Delpy) e Jesse (Ethan Hawke) em um inesperado reencontro após nove anos dos acontecimentos em Viena, na Áustria. Com muito papo para por em dia, o casal caminha pelas ruas de Paris descortinando recantos da região. A aventura começa na famosa livraria Shakespeare & Company, dedicada à literatura inglesa e fundada em 1951 no atual local, no entanto, a original data de 1919. 

De lá, o casal caminha por algumas ruas em direção ao Le Pure Café, no 11º distrito. Na realidade, o trajeto entre os dois é de 3.5 km, mas detalhes geográficos não atrapalham em nada o enredo do filme. Tal como a longa distância entre o Rio Sena e Coulée Verte René-Dumont, também conhecido como Promenade Plantée (em tradução livre, Passeio pela Plantação). Pouco conhecido pelos turistas, o local é uma antiga linha de trem de 4.7 km a uma distância de 10 metros do solo. Ou seja, um passeio no 12º distrito de Paris, mas com o silêncio das alturas. 

Além das locações, Antes do Pôr-do-Sol é ótimo para escutar a conversa sobre a vida, a cidade e os estereótipos entre um estadunidense e uma parisiense. Julie Delpy é uma das roteiristas do longa, indicado ao Oscar.

5. Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris, 2011)

Se apaixonar por Paris é possível, Woody Allen é o cineasta mais próximo de apresentar esse efeito inebriante. Em uma convergência entre a Paris atual e a dos anos de 1920, o escritor Gil (Owen Wilson) tenta buscar inspiração e respostas para o seu relacionamento com a sua futura esposa Inez (Rachel McAdams). Nesta lúdica viagem no tempo, ele nos leva para passear pela ruelas de Montmartre e várias docas ao longo do rio Sena, como a Quai des Orfèvres, localizada na Île de la Cité

Além de Paris, o escritor nos embala pelas cidades a poucas horas de distância, como Versalhes, sede do Palácio de Luís XIV e Marie Antonieta até o início da Revolução Francesa, em 1789; e Giverny, onde encontra-se a casa e os jardins eternizados nas pinturas de Claude Monet. Contudo, não é necessário viajar no tempo para ter as mesmas impressões do filme. Por exemplo, você lembra do Carrossel de bicicletas que a personagem de Marion Cotillard apresenta durante a festa dos Fitzgeralds? A cena foi filmada no Musée des Arts Forains, de portas abertas na região de Bercy, no 12º distrito.

4. Um Lugar na Plateia (Fauteuils d’orchestre, 2006)

Dirigido pela cineasta Danièle Thompson (Primo, prima), essa comédia dramática conta a história da jovem Jessica (Cécile de France), recém-chegada do interior da França a Paris com o sonho de viver no mundo luxuoso contato por sua avó. Desse modo, ela consegue um emprego como garçonete na badalada Avenue Montaigne, ao lado da Champ-Elysée, isto é, o metro quadrado mais caro da cidade, e começa a acompanhar o movimento da classe alta parisiense.  

Nesse ambiente de luxo e exuberância, Um Lugar na Plateia apresenta o glamour do Théâtre des Champ-Elysées e o Hôtel Plaza Athénée, e, obviamente, a opulência do Arco do Triunfo, como pano de fundo. Como garçonete, Jessica conhecerá artistas e seus dilemas, enquanto sonha com o seu próprio momento de tornar-se alguém na multidão. Como grande parte do filme se passa em um café, prepare a sua xícara para ouvir  a história da vida francesa de uma atriz, um colecionador de arte e um pianista, entre outros habitantes da Paname, apelido francês da cidade.

3. O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (Le fabuleux destin d’Amélie Poulain, 2001)

Responsável por projetar Audrey Tautou para o mundo, a fábula escarlate de Jean-Pierre Jeunet apresenta os prazeres minimalistas da jovem Amélie. Vinda de uma família um pouco peculiar da campagne, isto é, no interior, a moça decide descobrir a sedução de Paris. Moradora de um apartamento na região de Montmartre, ela trabalha no Café Les Deux Moulin, o qual tornou-se ponto turístico da região. Assim como o Canal de Saint Martin, entre o 10º e 11º distritos, onde ela faz saltar pedrinhas na superfície d’água. 

Embora esses sejam os locais mais marcantes do filme, a produção dedica bastante tempo às estações de trem e metrô da cidade. Vale dizer que é difícil morar, ou apenas visitar  Paris e não andar nos transportes públicos subterrâneos, uma vez que eles ligam completamente a cidade a todos municípios adjacentes. O grande mistério do longa desenrola-se exatamente na enorme estação de Gare de L’est, assim como nos metrôs de Strasbourg-Saint-Denis (linhas 4, 8 e 9), Abbesses (linha 2), Porte de la Chapelle e Lamarck-Caulaincourt (ambas linhas 12). 

2. Paris, Eu Te Amo (Paris, Je t’aime, 2006)

Entender a complexidade e encanto de Paris foi o pontapé inicial do projeto Cities of Love (composto por Nova York, Rio de Janeiro, Tbilisi e Berlim) do produtor Emmanuel Benbihy. Com 20 curtas-metragens apaixonantes em diferentes distritos da cidade, é possível conhecer vários redutos históricos e prestigiados. Contudo, vale o destaque de dois segmentos em especial para sentir a profusão da cidade. 

Dirigido por Tom Tykwer (Corra, Lola, Corra), o episódio Faubourg Saint-Denis, no 10º distrito, apresenta o desgaste da relação entre Francine (Natalie Portman) e Thomas (Melchior Derouet). Conforme a narrativa transcorre, observamos as locações nas estações Gare du Nord e Gare de l’Est, além dos belíssimos Porte Saint-Denis e Porte Saint-Martin, dois dos quatro Arcos do Triunfo em Paris. Os outros dois são: Jardin de Tuileries, ao lado do Museu do Louvre, e o mais famoso ao final da Champ-Elysée

Já o segundo destaque é comandado por Alexander Payne (Nebraska). O segmento 14e arrondissement mostra o amor de uma turista estadunidense (Margo Martindale) ao realizar o seu sonho de conhecer Paris. Contudo, sozinha na cidade luz, ela caminha pelas ruas, observa as pessoas e recente de viver essa experiência sozinha, ao mesmo tempo que celebra essa emoção. A icônica imagem final passe-se no banco do Parque Montsouris, lindo pela diversidade de árvores e pássaros, além da escondida Petite Ceinture de Paris.

1. Os Incompreendidos (Le 400 Coups, 1959)

Precursor do movimento da Nouvelle Vague, François Truffaut apresenta em seu primeiro filme como diretor o desenvolvimento de um jovem numa Paris decadente e proletária, bem antes da revolução de 1968. A narrativa segue o personagem de Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud), um menino de 14 anos  com constantes problemas na escola e pouca atenção dos pais. Os três moram em um pequeno estúdio na Place de Clichy, no qual o menino dorme no sofá entre a sala e a cozinha, por falta de espaço. Um dia, Antoine decide faltar a escola e começa uma avalanche de mentiras e roubos. 

O menino perambula pelas ruas de Pigalle, zona de prostituição ao lado da área de cabarés de Montmartre, até ser enviado para um reformatório. Ou seja, através dessa obra se contempla a parte decadente da sociedade parisiense, que também é um forma de conhecer a sua história e construção. Com um final redentor para o jovem transgressor, a imagem inicial da Torre Eiffel é simbólica nesse enredo de sonhos e desesperança.  

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Após um mês de discussões midiáticas sobre o lançamento de outubro na Netflix, Emily em Paris, protagonizado por Lily Collins, muita gente continua a se perguntar quais são os exageros e as verdades por trás dos clichês e a magia parisiense. Por conta desse debate, o CinePOP propõe um outro olhar sobre a capital francesa a partir de uma lista de filmes na cidade luz. 

Se a crítica francesa repudiou os estereótipos preconizados pela produção norte-americana, enquanto o público tem assistido entusiasmado, a gente apresenta outras maneira de enxergar o rio Sena e admirar a Torre Eiffel. Vale ressaltar que a série Emily em Paris permanece no TOP 10 da Netflix de vários países depois de um mês, inclusive na França. Ou seja, a antiga disputa Nova York e Paris continua. Aliás, vocês acham que Paris, Je t’aime (2006) é melhor do que New York, I Love You (2008)? 

Sem mais delongas, vamos à lista de filmes para conhecer Paris, no conforto do seu sofá, nos mais variados gêneros e épocas.

10. Os Sonhadores (The Dreams, 2003)

Comandada pelo italiano Bernardo Bertolucci, a obra Os Sonhadores nos transporta para a Paris de 1968, época a qual jovens saíram às ruas em apelo a liberdades sociais, sexuais e direitos civis. Neste cenário, os irmãos Isabelle (Eva Green) e Theo (Louis Garrel) acolhem o estudante norte-americano Matthew (Michael Pitt) em sua casa. 

Apesar deles passarem boa parte do tempo no apartamento, os três reencenam uma cena de Bando à Parte (1964), de Jean-Luc Godard, ao correrem pelos corredores do Museu do Louvre. Além dessa emblemática sequência, o encontro entre os três é recheado de referências da época e discussões política, além claro do despertar sexual dos jovens. Como pano de fundo, além do museu, estão a Cinémathèque Françaises e as regiões do 1º, 8º e 16º distritos de Paris

Vale lembrar que este foi o primeiro longa-metragem de Eva Green (A Jornada).  

9. Acossado (À bout de souffle, 1960)

Já mencionado acima, Jean-Luc Godard faz a sua câmera percorrer as ruas, bares e hotéis de Paris no não convencional romance entre um suspeito de latrocínio (Jean-Paul Belmondo) e uma estudante de jornalismo norte-americana (Jean Seberg). Símbolo da Nouvelle-Vague, o filme tem um enredo surpreendente, escrito por François Truffaut, e recheado de explicações sobre expressões francesas, já que a curiosa estudante da Universidade de Sorbonne deseja dominar completamente a língua de Molière

Grande parte da ação ocorre na avenida de Champ-Élysées, onde está situado o Arco do Triunfo, numa ponta, e a Praça da Concórdia, do outro lado. Este último, emblemático para a história da França, afinal é onde Luís XIV foi decapitado durante a Revolução Francesa. Há cenas no Boulevard de Montparnasse e também no metrô de George V. Além de instigante, Acossado mostra o lado de Paris mais célebre e histórico de um ponto de vista cotidiano.

8. Charada (Charade, 1963)

Considerado o melhor filme de Hitchcock que ele nunca fez, Charada é um clássico do suspense protagonizado por Cary Grant e Audrey Hepburn na capital francesa. Por conta da atmosfera e reviravoltas, o filme de Staley Dolen (Cantando na Chuva) é percebido como uma obra do gênio do suspense, no entanto, grande parte desse charme apoia-se nos belíssimos cenários à beira do Rio Sena. 

Com passagens pela Jardim do Palácio Real, o célebre teatro da Comédie-Française e a sede da UNESCO, a narrativa acompanha a missão de Regina Lampert (Hepburn) em encontrar a fortuna roubada pelo seu falecido marido, enquanto é perseguida por diversos homens com o mesmo objetivo. Entre uma perseguição e outra, é possível passear e encantar-se por diversas áreas de Paris

7. Paris (Paris, 2008)

Conhecido pela trilogia Albergue Espanhol (2002), Bonecas Russas (2005) e O Enigma Chinês (2013), o diretor Cédric Klapisch tenta captar a essência múltipla dos parisienses em suas lentes por meio do bailarino Pierre (Romain Duris). Acometido por uma doença terminal, o dançarino acompanha da varanda do seu apartamento a dança de Paris diante de seus olhos. A partir dessa estética voyeurista, o roteiro de Klapisch segue diversos personagens e modos de vida. 

Com um elenco de estrelas francesas, como Juliette Binoche (Vidas Duplas), Mélanie Laurent (Bastardos Inglórios) e François Cluzet (Os Intocáveis), é possível acompanhar a relação de uma estudante e seu professor na Universidade de Sorbonne; vendedores de frutas e verduras no Mercado da Cidade de Rungis, no subúrbio de Paris; e uma dona de padaria preconceituosa aos arredores de Montmartre, no 18º distrito. 

Enfim, são muitas histórias e diversas paisagens, como as Catacombes de Paris, no 14º, a bela Ponte de Bir-Hakeim ao 15º, e a Ópera Garnier, localizada no 9º distrito, por exemplo. 

6. Antes do Pôr do Sol (Before Sunset, 2004)

O segundo filme da trilogia Antes do Amanhecer (1995), de Richard Linklater, apresenta Celine (Julie Delpy) e Jesse (Ethan Hawke) em um inesperado reencontro após nove anos dos acontecimentos em Viena, na Áustria. Com muito papo para por em dia, o casal caminha pelas ruas de Paris descortinando recantos da região. A aventura começa na famosa livraria Shakespeare & Company, dedicada à literatura inglesa e fundada em 1951 no atual local, no entanto, a original data de 1919. 

De lá, o casal caminha por algumas ruas em direção ao Le Pure Café, no 11º distrito. Na realidade, o trajeto entre os dois é de 3.5 km, mas detalhes geográficos não atrapalham em nada o enredo do filme. Tal como a longa distância entre o Rio Sena e Coulée Verte René-Dumont, também conhecido como Promenade Plantée (em tradução livre, Passeio pela Plantação). Pouco conhecido pelos turistas, o local é uma antiga linha de trem de 4.7 km a uma distância de 10 metros do solo. Ou seja, um passeio no 12º distrito de Paris, mas com o silêncio das alturas. 

Além das locações, Antes do Pôr-do-Sol é ótimo para escutar a conversa sobre a vida, a cidade e os estereótipos entre um estadunidense e uma parisiense. Julie Delpy é uma das roteiristas do longa, indicado ao Oscar.

5. Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris, 2011)

Se apaixonar por Paris é possível, Woody Allen é o cineasta mais próximo de apresentar esse efeito inebriante. Em uma convergência entre a Paris atual e a dos anos de 1920, o escritor Gil (Owen Wilson) tenta buscar inspiração e respostas para o seu relacionamento com a sua futura esposa Inez (Rachel McAdams). Nesta lúdica viagem no tempo, ele nos leva para passear pela ruelas de Montmartre e várias docas ao longo do rio Sena, como a Quai des Orfèvres, localizada na Île de la Cité

Além de Paris, o escritor nos embala pelas cidades a poucas horas de distância, como Versalhes, sede do Palácio de Luís XIV e Marie Antonieta até o início da Revolução Francesa, em 1789; e Giverny, onde encontra-se a casa e os jardins eternizados nas pinturas de Claude Monet. Contudo, não é necessário viajar no tempo para ter as mesmas impressões do filme. Por exemplo, você lembra do Carrossel de bicicletas que a personagem de Marion Cotillard apresenta durante a festa dos Fitzgeralds? A cena foi filmada no Musée des Arts Forains, de portas abertas na região de Bercy, no 12º distrito.

4. Um Lugar na Plateia (Fauteuils d’orchestre, 2006)

Dirigido pela cineasta Danièle Thompson (Primo, prima), essa comédia dramática conta a história da jovem Jessica (Cécile de France), recém-chegada do interior da França a Paris com o sonho de viver no mundo luxuoso contato por sua avó. Desse modo, ela consegue um emprego como garçonete na badalada Avenue Montaigne, ao lado da Champ-Elysée, isto é, o metro quadrado mais caro da cidade, e começa a acompanhar o movimento da classe alta parisiense.  

Nesse ambiente de luxo e exuberância, Um Lugar na Plateia apresenta o glamour do Théâtre des Champ-Elysées e o Hôtel Plaza Athénée, e, obviamente, a opulência do Arco do Triunfo, como pano de fundo. Como garçonete, Jessica conhecerá artistas e seus dilemas, enquanto sonha com o seu próprio momento de tornar-se alguém na multidão. Como grande parte do filme se passa em um café, prepare a sua xícara para ouvir  a história da vida francesa de uma atriz, um colecionador de arte e um pianista, entre outros habitantes da Paname, apelido francês da cidade.

3. O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (Le fabuleux destin d’Amélie Poulain, 2001)

Responsável por projetar Audrey Tautou para o mundo, a fábula escarlate de Jean-Pierre Jeunet apresenta os prazeres minimalistas da jovem Amélie. Vinda de uma família um pouco peculiar da campagne, isto é, no interior, a moça decide descobrir a sedução de Paris. Moradora de um apartamento na região de Montmartre, ela trabalha no Café Les Deux Moulin, o qual tornou-se ponto turístico da região. Assim como o Canal de Saint Martin, entre o 10º e 11º distritos, onde ela faz saltar pedrinhas na superfície d’água. 

Embora esses sejam os locais mais marcantes do filme, a produção dedica bastante tempo às estações de trem e metrô da cidade. Vale dizer que é difícil morar, ou apenas visitar  Paris e não andar nos transportes públicos subterrâneos, uma vez que eles ligam completamente a cidade a todos municípios adjacentes. O grande mistério do longa desenrola-se exatamente na enorme estação de Gare de L’est, assim como nos metrôs de Strasbourg-Saint-Denis (linhas 4, 8 e 9), Abbesses (linha 2), Porte de la Chapelle e Lamarck-Caulaincourt (ambas linhas 12). 

2. Paris, Eu Te Amo (Paris, Je t’aime, 2006)

Entender a complexidade e encanto de Paris foi o pontapé inicial do projeto Cities of Love (composto por Nova York, Rio de Janeiro, Tbilisi e Berlim) do produtor Emmanuel Benbihy. Com 20 curtas-metragens apaixonantes em diferentes distritos da cidade, é possível conhecer vários redutos históricos e prestigiados. Contudo, vale o destaque de dois segmentos em especial para sentir a profusão da cidade. 

Dirigido por Tom Tykwer (Corra, Lola, Corra), o episódio Faubourg Saint-Denis, no 10º distrito, apresenta o desgaste da relação entre Francine (Natalie Portman) e Thomas (Melchior Derouet). Conforme a narrativa transcorre, observamos as locações nas estações Gare du Nord e Gare de l’Est, além dos belíssimos Porte Saint-Denis e Porte Saint-Martin, dois dos quatro Arcos do Triunfo em Paris. Os outros dois são: Jardin de Tuileries, ao lado do Museu do Louvre, e o mais famoso ao final da Champ-Elysée

Já o segundo destaque é comandado por Alexander Payne (Nebraska). O segmento 14e arrondissement mostra o amor de uma turista estadunidense (Margo Martindale) ao realizar o seu sonho de conhecer Paris. Contudo, sozinha na cidade luz, ela caminha pelas ruas, observa as pessoas e recente de viver essa experiência sozinha, ao mesmo tempo que celebra essa emoção. A icônica imagem final passe-se no banco do Parque Montsouris, lindo pela diversidade de árvores e pássaros, além da escondida Petite Ceinture de Paris.

1. Os Incompreendidos (Le 400 Coups, 1959)

Precursor do movimento da Nouvelle Vague, François Truffaut apresenta em seu primeiro filme como diretor o desenvolvimento de um jovem numa Paris decadente e proletária, bem antes da revolução de 1968. A narrativa segue o personagem de Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud), um menino de 14 anos  com constantes problemas na escola e pouca atenção dos pais. Os três moram em um pequeno estúdio na Place de Clichy, no qual o menino dorme no sofá entre a sala e a cozinha, por falta de espaço. Um dia, Antoine decide faltar a escola e começa uma avalanche de mentiras e roubos. 

O menino perambula pelas ruas de Pigalle, zona de prostituição ao lado da área de cabarés de Montmartre, até ser enviado para um reformatório. Ou seja, através dessa obra se contempla a parte decadente da sociedade parisiense, que também é um forma de conhecer a sua história e construção. Com um final redentor para o jovem transgressor, a imagem inicial da Torre Eiffel é simbólica nesse enredo de sonhos e desesperança.  

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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