domingo, abril 28, 2024

‘Contato de Risco’ (Gigli) – Ben Affeck, Jennifer Lopez e os 20 anos de um dos maiores fracassos da história do cinema!

Qual o verdadeiro poder de um filme? O mais conhecido é que eles são capazes de entreter e divertir. Um filme pode também, é claro, inspirar, ensinar, educar, fazer se apaixonar e despertar sentimentos que nem sabíamos que possuíamos em nosso interior. Mas, quando falamos dos envolvidos na realização de um filme, ele é capaz também de acabar com carreiras e terminar relacionamentos apaixonados. Sim, quando temos dinheiro envolvido, a arte se torna um negócio. Aqui, nesta nova matéria, iremos abordar os 20 anos de ‘Gigli’, ou ‘Contato de Risco’, um dos maiores fiascos da história da sétima arte. Confira.

Se você é um cinéfilo, certamente já ouviu falar sobre ‘Gigli – Contato de Risco’. Acontece que os apaixonados por cinema também ficam sabendo sobre os filmes considerados fracassos monumentais. E esse é justamente o caso com esta obra, que traz grandes nomes na frente e atrás das câmeras. Todo ano ganhamos um punhado de produções que fracassam, dando prejuízo ao seu estúdio. Mas assim como o melhor filme de cada ano, também temos o grande destaque negativo de seu respectivo ano, que pode vir a receber também as “honrarias” de se tornar um dos piores da década e quem sabe da história do cinema.

‘Contato de Risco’ (Gigli) com os astros Ben Affleck e Jennifer Lopez viveu para se tornar um dos piores filmes da história do cinema.

Por outro lado, poucos são os filmes capazes de terminar o relacionamento de seus protagonistas. ‘Contato de Risco’ teve esse poder. Mas comecemos pelo começo. Na alma de ‘Gigli’ se encontra o cineasta duas vezes indicado ao Oscar Martin Brest. Diretor, produtor e roteirista, o realizador despontaria para a fama absoluta em 1984, ao capitanear um dos maiores sucessos dos anos 80 com ‘Um Tira da Pesada’, que colocou o nome de Eddie Murphy no mapa, e ainda hoje é celebrado como um dos grandes exemplares da ação (com muito humor) policial saído da década mais que especial. Quatro anos depois e Martin Brest repetiria a dose com ‘Fuga à Meia-Noite’ que, embora não seja tão popular quanto seu primeiro sucesso, viveu para se tornar um cult querido e um dos filmes mais divertidos de Robert De Niro na citada década.

Com a chegada dos anos 90, Martin Brest atingiria outro patamar. Seus dois primeiros sucessos, para a Paramount e a Universal, eram obras divertidas de entretenimento, mas 1992 o diretor estava disposto a demonstrar que também podia comandar filmes mais sérios, dramáticos e prestigiados. Não deu outra. ‘Perfume de Mulher’ se tornou um dos grandes títulos do Oscar daquela temporada e de quebra rendeu para Al Pacino seu tão esperado prêmio de melhor ator. Agora Martin Brest estava no time A de Hollywood, e para seu trabalho seguinte, confeccionou o ambicioso ‘Encontro Marcado’, filme em que Brad Pitt interpreta a morte, vindo buscar o personagem de Anthony Hopkins, mas decidindo passar uma temporada junto com os vivos, ainda mais depois que se afeiçoa pela filha do sujeito (papel de Claire Forlani). O filme não desceu redondo na época, mas descobriu sua audiência em vídeo, se tornando cult.

Ben Affleck e Jennifer Lopez eram o casal mais quente de Hollywood há 20 anos, mas devem ter feito essa cara após o lançamento de ‘Gigli’.

Com tamanho renome na maior indústria de cinema do mundo, Martin Brest planejava seu próximo projeto como um verdadeiro épico, no qual adentraria pela primeira vez o cinema de máfia. Produzindo, escrevendo e dirigindo, o cineasta planejou uma visão sombria sobre uma história de um sujeito chamado Larry Gigli, que precisa se provar para a máfia, e para isso precisa vestir uma carapaça dura, mesmo que por dentro não seja tão cruel assim. De fato, reza a lenda que Brest possui essa versão mais sombria e cruel do filme, contando com 160 minutos de projeção, e que inclusive teria um bad ending, com a morte do protagonista. O que saiu errado então? A contratação do casal protagonista!

Acontece que nos papeis protagonistas foram escalados o vencedor do Oscar Ben Affleck (que na época gozava de seu prêmio como melhor roteirista por ‘Gênio Indomável’ e de sucessos como ‘Armageddon’) no papel de Larry Gigli, e a musa latina Jennifer Lopez, estrela do cinema e que já havia se estabelecido também como estrela da música, lançando uma bem-sucedida segunda carreira como cantora pop. Uma mistura quentíssima em tela. Para apimentar ainda mais as coisas, na vida real os dois eram o casal mais badalado do momento, com o mundo todo de olho em sua relação. É claro que isso encheu os olhos dos executivos da Columbia – que iriam financiar e lançar o longa. Afinal não se compra publicidade assim, com todos querendo uma fatia de “Bennifer” (como era conhecido o casal na época), e só a Columbia teria os dois para vender ao público.

Os executivos da Columbia estavam certos que o público queria mesmo era ver uma comédia romântica e não um filme de máfia, com o casal “Bennifer”.

Para se ter a ideia do estrelato da dupla na época, Ben Affleck recebeu um cachê de US12.5 milhões por sua participação, e J-Lo não ficou atrás com um salário de US$12 milhões. Curiosamente, o valor combinado recebido pelo casal dá três vezes mais do que o filme arrecadou em bilheteria mundial. Só para sentir o drama. Assim, crendo que tinham ouro em mãos, os executivos da Columbia começaram a pressionar Martin Brest para que modificasse totalmente o teor de seu filme. Eles estavam certos de que o que o público queria ver era um romance com o casal mais quente da época. Assim, o diretor foi forçado a transformar seu filme sombrio de mafiosos em uma comédia romântica, para aproveitar o starpower de seus protagonistas. Uma receita para dar ruim.

Martin Brest precisou eliminar pelo menos 40 minutos de seu corte original. Além disso, precisou também reescrever diversas cenas, e por consequência refilmar as mesmas, dando ênfase à comédia e ao romance entre os protagonistas. É claro que tudo isso teve um custo e o orçamento da produção inflou de US$54 milhões, para US$75.6 milhões.

O amor entre um machista inseguro e uma lésbica está no centro da trama da “comédia romântica” Gigli.

Na trama do filme que recebemos, como dito Affleck interpreta Gigli, um sujeito que para se provar a seus empregadores na máfia e subir na “família” recebe a tarefa de ficar de babá de uma potencial testemunha de um caso, o “segurando” e evitando que as autoridades o encontrem. A pegadinha está no fato de que o rapaz é deficiente mental, interpretado por Justin Bartha. Hoje, certamente esse desempenho seria considerado ofensivo e politicamente incorreto. Mas a atuação consegue ir além, porque é simplesmente ruim e irritante.

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Para ajudar Gigli na missão, os próprios mafiosos contratam também uma espécie de supervisora chamada Ricki, papel de Lopez. A intenção é que um fique de olho no outro, e ambos fiquem de olho no rapaz deficiente. É claro que o bronco Gigli começa a babar pela beldade cheia de atitude, e aí temos outra pegadinha: ela é lésbica, e corta as esperanças do protagonista. Mas ei, o que todos queriam era ver é o casal junto, certo? Afinal os produtores acreditavam que o público iria pagar e lotar as salas de cinema. Assim, é claro que o boçal machista iria aos poucos amansar o coração desta mulher decidida e empoderada, a fazendo mudar de ideia e pior ainda, de orientação sexual! Afinal, durante muito tempo, esse foi o sonho de todo “hétero top”: converter uma lésbica.

É dito que até hoje Ben Affleck se contorce de nervoso quando alguém menciona este filme.

Acontece que por muito pouco Jennifer Lopez não escapou dessa bomba. Isso porque a atriz planejada originalmente para contracenar com Affleck era Halle Berry. No fim das contas, a vencedora do Oscar precisou sair do projeto, por conflito com as gravações de ‘X-Men 2’, lançado no mesmo ano. Mas a sorte de Berry não duraria muito tempo, pois no ano seguinte assinaria para protagonizar ‘Mulher-Gato’.

Existe muita coisa errada com ‘Contato de Risco’. Na verdade, nada parece funcionar. É uma comédia, mas não tem graça. Não compramos a premissa nem por um minuto. Os personagens são ruins e não temos qualquer apreço por eles. A história de amor é sem pé nem cabeça e um total desserviço a causas LGBTQI+ já naquela época, o que dirá hoje em dia. O filme seria apenas mais um qualquer, mas o que chamou verdadeiramente atenção foi o talento envolvido.

Jennifer Lopez e Ben Affleck voltaram às boas, mas o diretor Martin Brest nunca mais dirigiria nada.

É claro que os planos de sucesso dos executivos da Columbia foram por água abaixo. Quando estreou em território americano, ‘Contato de Risco’ reservou 2.215 salas de cinema. O fracasso foi grande deixando estes cinemas às moscas. Quando chegou à sua terceira semana de exibição, apenas 73 salas em todo o território dos EUA exibiam o longa do casal “Bennifer”. Isso significou numa queda de simplesmente 97%, se tornando um recorde como a maior queda percentual da história. Essa má reputação fez todos os cinemas do Reino Unido tirarem o filme de cartaz após somente uma semana de exibição. Em termos de bilheteria, também se tornou responsável pelo recorde de queda em sua segunda semana, com menos 82% de rentabilidade.

No estilo “publicidade negativa também é publicidade”, em março de 2006 quando o canal FX começou a veicular um comercial alardeando a compra de ‘Gigli’ para ser exibido em sua rede, como forma de divulgação a propaganda resolveu se beneficiar, em partes, da recepção negativa do filme, anunciando “o filme mais falado que você nunca teve a chance de assistir”.

A pior punição de ‘Contato de Risco’ não foi nem mesmo o recorde no Framboesa de Ouro, nas cinco categorias principais: pior filme, pior diretor, pior ator, pior atriz e pior roteiro. Para o casal “Bennifer” significou o fim de seu romance fora das telas. Mas numa guinada no destino típica de finais felizes, 20 anos depois eis que o casal retoma a relação e finalmente se casam. Mas para o diretor Martin Brest, o final não seria tão feliz assim. Ao menos não por enquanto. Acontece que o diretor se retirou de cena após o fiasco de ‘Gigli’, e nunca mais dirigiu nem ao menos um comercial de margarina. Sim, os filmes têm esse poder.

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