sexta-feira , 15 novembro , 2024

Crítica | A Mulher na Janela – Amy Adams brilha em suspense que discute depressão e síndrome do pânico

Janela Indiscreta

Filmes que possuem uma produção tranquila são uma verdadeira dádiva. Tudo precisa funcionar de forma cronometrada. Quando se trata da adaptação de um material complexo vira e mexe ouvimos relatos sobre a epopeia de alguns cineastas e estúdios. É o caso com este A Mulher na Janela, baseado no livro homônimo de suspense do autor A. J. Finn, best-seller lançado em 2018. O escritor é dono de suas próprias polêmicas, e o filme de sua obra não seria diferente.

Inicialmente planejado para estrear em 2019, as exibições teste deixaram a audiência confusa e assim o longa foi empurrado para 2020 a fim de realizar algumas refilmagens. Segundo a produtora Elizabeth Gabler, trata-se de um processo natural já que a obra é de difícil adaptação e a ideia era deixa-la mais palatável ao grande público. Nesse meio tempo, primeiro veio a aquisição da Fox pela Disney (A Mulher da Janela marca o último lançamento da Fox 2000 antes da reestruturação do novo estúdio), e depois a pandemia do Coronavírus, o que adiou o filme uma segunda vez, agora para 2021 com lançamento restrito na Netflix.



Com este “touro indomável” em mãos, somente um diretor do porte de Joe Wright (Orgulho & Preconceito, Desejo e Reparação e O Destino de uma Nação) para segurar suas rédeas conseguindo montá-lo até o fim da exibição. Se não ganha com louvor, ainda assim entrega um thriller honesto e eficiente, com salpicos de brilhantismo, pairando acima de grande parte do entretenimento atual. Percebemos toques magistrais inseridos no longa que conseguem transcender sua história, em partes, simplista; seja através de uma técnica apurada (fotografia, direção de arte, coreografia de cenas, etc.), na atuação comprometida (em especial da protagonista Amy Adams) do elenco, ou no roteiro acelerado e enxuto do dramaturgo Tracy Letts (na primeira adaptação de um texto que não seja seu) – que também coadjuva no papel do terapeuta Dr. Landy.

Na trama, o grande chamariz é a presença da talentosa Amy Adams dando tudo de si no papel da personagem repleta de camadas Anna Fox, uma psicóloga que se vê no outro lado da moeda, extremamente abalada emocionalmente devido à sua atual condição de agorofóbica: uma espécie de síndrome do pânico, que faz com que pessoas se tornem reclusas, impossibilitadas de sair na rua. Ou seja, algo muito condizente com nosso estado durante a pandemia. Adams já é conhecida por ser não apenas uma das melhores intérpretes de sua geração, mas também por ser uma das maiores injustiçadas no Oscar, dona de 6 indicações em 15 anos sem vitórias ainda.

A mudança de uma família para a casa de frente da protagonista é o que dá o pontapé inicial na história. Assim, a reclusa Anna começa a observar (ou espionar) seus novos vizinhos como a mais recente distração. Assim como Jeffries (James Stewart), o filme exibe suas tintas de Janela Indiscreta (1954), do mestre Alfred Hitchcock, alterando o percalço de uma perna quebrada para a agorofobia. Um a um ela conhece os membros do clã. Ethan (Fred Hechinger), o filho adolescente, é o primeiro, um rapaz sensível e incompreendido, demonstrando uma estrutura partida. Depois chega Jane (Julianne Moore), a mãe, acelerada, divertida e cheia de atitude. O último, Alistair (Gary Oldman), o pai, é ríspido, duro e aparentemente dono de seus próprios segredos. Dentre os jogadores principais temos também David (Wyatt Russell), o inquilino de Anna que mora em seu porão.

Logo de cara a protagonista percebe que esta família está longe de pertencer a um comercial de margarina. Mas é quando, numa de suas espiadinhas, acredita ter presenciado o assassinato da matriarca, que a situação se eleva a um nível sem retorno. Para piorar, “outra mãe” surge apresentada como Jane (Jennifer Jason Leigh), como se ali sempre estivesse. E agora, tudo não passa de delírios da mente da protagonista (que vive se entupindo de remédios e bebida) ou existe uma conspiração nefasta por trás de tudo?

O cineasta Joe Wright homenageia o cinema antigo em diversos momentos de seu thriller, como se brincasse feliz com o gênero. Além de sua condição clínica, podemos dizer que a protagonista é também uma cinéfila. Ela dorme sempre em frente à TV com algum clássico em preto e branco sendo exibido, sabe citar de cor os diálogos em tais filmes (que parecem ser um dos poucos pontos de alegria em sua vida), e em casa tem uma coleção de DVDs de respeito, os quais empresta com orgulho ao vizinho, citando que seu ex-marido a acusava de possuir filmes demais – o dilema de todo colecionador. Fora isso, Wright monta A Mulher na Janela cheio de trejeitos dos suspenses da era de ouro, com se utilizasse os artifícios do passado em sua construção. Assim temos flashbacks que interrompem a narrativa para revelações, dúvidas que se amontoam nas reviravoltas, explanações finais e uma obra que se apoia bastante em atuações.

A Mulher na Janela pode se gabar de ter um dos melhores elencos de anos recentes, com Adams puxando o bonde e seguida de perto por Gary Oldman (vencedor do Oscar), Julianne Moore (vencedora do Oscar), Jennifer Jason Leigh (indicada ao Oscar), Brian Tyree Henry, a revelação do jovem Fred Hechinger, e para os fãs da Marvel a reunião da dupla de Falcão e o Soldado Invernal, Anthony Mackie e Wyatt Russell. Todos eficientes pontuando suas deixas, porém, como dito, esse é um show de Amy Adams – colocada para “rebolar” pelo diretor, ela luta, corre, se molha na chuva, faz suas cenas de ação e ainda é severamente golpeada de forma visceral como nunca anteriormente foi visto em tela. Ah sim, também atua dramaticamente demonstrando todo seu alcance performático.

Aqui podemos encontrar material para dois filmes. O primeiro é um estudo psicológico, funcionando como drama da personagem de Adams. Como dito sua condição é especial por si só, e rende uma discussão séria sobre depressão e autoexclusão social. O outro filme é um suspense mais rotineiro, desses que podem ser achados facilmente nas exibições do Supercine, mas um que promete agradar a parcela do público aficionado pelo gênero. O que posso dizer é que a trama nos mantém querendo adivinhar a todo instante qual será a solução do grande mistério. E quando ela vem… bem, digamos que precisava terminar de alguma forma, não é?

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Inicialmente planejado para estrear em 2019, as exibições teste deixaram a audiência confusa e assim o longa foi empurrado para 2020 a fim de realizar algumas refilmagens. Segundo a produtora Elizabeth Gabler, trata-se de um processo natural já que a obra é de difícil adaptação e a ideia era deixa-la mais palatável ao grande público. Nesse meio tempo, primeiro veio a aquisição da Fox pela Disney (A Mulher da Janela marca o último lançamento da Fox 2000 antes da reestruturação do novo estúdio), e depois a pandemia do Coronavírus, o que adiou o filme uma segunda vez, agora para 2021 com lançamento restrito na Netflix.

Com este “touro indomável” em mãos, somente um diretor do porte de Joe Wright (Orgulho & Preconceito, Desejo e Reparação e O Destino de uma Nação) para segurar suas rédeas conseguindo montá-lo até o fim da exibição. Se não ganha com louvor, ainda assim entrega um thriller honesto e eficiente, com salpicos de brilhantismo, pairando acima de grande parte do entretenimento atual. Percebemos toques magistrais inseridos no longa que conseguem transcender sua história, em partes, simplista; seja através de uma técnica apurada (fotografia, direção de arte, coreografia de cenas, etc.), na atuação comprometida (em especial da protagonista Amy Adams) do elenco, ou no roteiro acelerado e enxuto do dramaturgo Tracy Letts (na primeira adaptação de um texto que não seja seu) – que também coadjuva no papel do terapeuta Dr. Landy.

Na trama, o grande chamariz é a presença da talentosa Amy Adams dando tudo de si no papel da personagem repleta de camadas Anna Fox, uma psicóloga que se vê no outro lado da moeda, extremamente abalada emocionalmente devido à sua atual condição de agorofóbica: uma espécie de síndrome do pânico, que faz com que pessoas se tornem reclusas, impossibilitadas de sair na rua. Ou seja, algo muito condizente com nosso estado durante a pandemia. Adams já é conhecida por ser não apenas uma das melhores intérpretes de sua geração, mas também por ser uma das maiores injustiçadas no Oscar, dona de 6 indicações em 15 anos sem vitórias ainda.

A mudança de uma família para a casa de frente da protagonista é o que dá o pontapé inicial na história. Assim, a reclusa Anna começa a observar (ou espionar) seus novos vizinhos como a mais recente distração. Assim como Jeffries (James Stewart), o filme exibe suas tintas de Janela Indiscreta (1954), do mestre Alfred Hitchcock, alterando o percalço de uma perna quebrada para a agorofobia. Um a um ela conhece os membros do clã. Ethan (Fred Hechinger), o filho adolescente, é o primeiro, um rapaz sensível e incompreendido, demonstrando uma estrutura partida. Depois chega Jane (Julianne Moore), a mãe, acelerada, divertida e cheia de atitude. O último, Alistair (Gary Oldman), o pai, é ríspido, duro e aparentemente dono de seus próprios segredos. Dentre os jogadores principais temos também David (Wyatt Russell), o inquilino de Anna que mora em seu porão.

Logo de cara a protagonista percebe que esta família está longe de pertencer a um comercial de margarina. Mas é quando, numa de suas espiadinhas, acredita ter presenciado o assassinato da matriarca, que a situação se eleva a um nível sem retorno. Para piorar, “outra mãe” surge apresentada como Jane (Jennifer Jason Leigh), como se ali sempre estivesse. E agora, tudo não passa de delírios da mente da protagonista (que vive se entupindo de remédios e bebida) ou existe uma conspiração nefasta por trás de tudo?

O cineasta Joe Wright homenageia o cinema antigo em diversos momentos de seu thriller, como se brincasse feliz com o gênero. Além de sua condição clínica, podemos dizer que a protagonista é também uma cinéfila. Ela dorme sempre em frente à TV com algum clássico em preto e branco sendo exibido, sabe citar de cor os diálogos em tais filmes (que parecem ser um dos poucos pontos de alegria em sua vida), e em casa tem uma coleção de DVDs de respeito, os quais empresta com orgulho ao vizinho, citando que seu ex-marido a acusava de possuir filmes demais – o dilema de todo colecionador. Fora isso, Wright monta A Mulher na Janela cheio de trejeitos dos suspenses da era de ouro, com se utilizasse os artifícios do passado em sua construção. Assim temos flashbacks que interrompem a narrativa para revelações, dúvidas que se amontoam nas reviravoltas, explanações finais e uma obra que se apoia bastante em atuações.

A Mulher na Janela pode se gabar de ter um dos melhores elencos de anos recentes, com Adams puxando o bonde e seguida de perto por Gary Oldman (vencedor do Oscar), Julianne Moore (vencedora do Oscar), Jennifer Jason Leigh (indicada ao Oscar), Brian Tyree Henry, a revelação do jovem Fred Hechinger, e para os fãs da Marvel a reunião da dupla de Falcão e o Soldado Invernal, Anthony Mackie e Wyatt Russell. Todos eficientes pontuando suas deixas, porém, como dito, esse é um show de Amy Adams – colocada para “rebolar” pelo diretor, ela luta, corre, se molha na chuva, faz suas cenas de ação e ainda é severamente golpeada de forma visceral como nunca anteriormente foi visto em tela. Ah sim, também atua dramaticamente demonstrando todo seu alcance performático.

Aqui podemos encontrar material para dois filmes. O primeiro é um estudo psicológico, funcionando como drama da personagem de Adams. Como dito sua condição é especial por si só, e rende uma discussão séria sobre depressão e autoexclusão social. O outro filme é um suspense mais rotineiro, desses que podem ser achados facilmente nas exibições do Supercine, mas um que promete agradar a parcela do público aficionado pelo gênero. O que posso dizer é que a trama nos mantém querendo adivinhar a todo instante qual será a solução do grande mistério. E quando ela vem… bem, digamos que precisava terminar de alguma forma, não é?

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