sábado, abril 27, 2024

Crítica | Alice: Keke Palmer e Common estrelam drama racial insosso

Filme assistido durante o Festival de Sundance 2022

Entre ficção e realidade, Alice é um drama racial que volta os seus olhos para um tempo não tão distante, em que homens e mulheres negros permaneciam escravizados em certas regiões dos Estados Unidos – em pleno século XX -, sem sequer saber da existência da Proclamação de Emancipação. Mas mesmo com tantos relatos reais dolorosos e simbólicos, a produção se perde em si mesma. Rasa e com pouco desenvolvimento de personagens, ela é um resultado insosso e sem alma, um terrível erro de qualidade fílmica que abafa tragédias genuínas que poderiam ter sido delicadamente honradas.

Keke Palmer and Common appear in Alice by Krystin Ver Linden, an official selection of the U.S. Dramatic Competition at the 2022 Sundance Film Festival. Courtesy of Sundance Institute Eliza Morse.
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A história de Alice se torna esquecida antes mesmo de chegar ao Brasil. Simplista demais em seu roteiro, Krystin Ver Linden nunca vai além na construção de seus personagens, sempre entregando conflitos rasos e repetitivos que caminham de forma cíclica. Reprisando os mesmos abusos que tanto já lemos sobre ou já assistimos em outras aclamadas produções, o longa não sabe muito bem para que direção seguir. Sua protagonista homônima caminha um tanto perdida, com pouca profundidade e substancialidade. Os coadjuvantes seguem quase como figurantes de suas histórias e nem mesmo o abuso das cenas de violência contra pretos promove em nós o impacto e a dor necessários. Genérico e com poucas camadas, Alice não tem identidade nem em sua heroína, tão pouco em seu filme.

E Keke Palmer tenta fazer o seu melhor com o que tem. Com a trama essencialmente girando em torno de si mesma, ela nos sustenta ao longo de todo o filme com uma ótima atuação. Mostrando seu potencial em tela, ela consegue brilhar – ainda que os principais elementos ao seu redor não colaborem. Na trama, ela é uma jovem escrava que anseia por se libertar de uma vida de opressão e abusos em uma fazenda. Ao conseguir fugir, ela se surpreende com um terrível choque de realidade, ao descobrir que de fato estaria no ano de 1973 e a escravidão já havia sido abolida há mais de um século. Sem qualquer noção da realidade e como alguém que acaba de descobrir o que de fato é o mundo, ela agora se tornará uma espécie de justiceira, que luta para libertar sua comunidade que permanece presa no tempo e em uma trágica e dolorosa vida escravocrata.

O grande problema de Alice é ser simplista demais em toda sua construção narrativa. Explorando um leque tão valioso de assuntos correlacionados, Ver Linden não sabe o que fazer com as informações que possui em mãos e se distrai da historicidade afro-americana. Mesmo com um background sociocultural rigoroso e detalhado, ela não sabe aproveitar a duração de seu filme, estabelece conflitos profundos sem realmente aprofundá-los, além de soluções fáceis. Nada parece funcionar organicamente em tela, tornando Alice uma mulher esquecível, não importa o quão forte seja o seu ímpeto de justiceira alada.

Trazendo ares e referências do cinema Blaxploitation em sua direção e roteiro, o longa abusa de sua trilha sonora de época e tenta se estabelecer como uma versão renovada do amado clássico Coffy: Em Busca da Vingança. E ainda que tente fazer de Palmer e Common os alicerces de sustentação de toda sua trama, a cineasta falha miseravelmente no processo. Uma oportunidade perdida, Alice não serve nem como drama, nem como uma ode ao cinema black norte-americano e muito menos como uma reflexiva denúncia. É realmente uma pena.

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