sexta-feira, abril 26, 2024

Crítica | Big Little Lies 2×02: Tell-Tale Hearts: O som ensurdecedor das mentiras mal ditas

É difícil se atualizar com elas. As mentiras, quando saem de nós, navegam de forma descontrolada, percorrem conversas, geram ruídos, segundos e terceiros questionamentos e ganham vida própria. E há quem minta pelo sadismo patológico, porque mentir é muito melhor do que reconhecer qualquer verdade, por mais tola e desnecessária que essa mentirinha branca seja. Há quem minta para preservar a sanidade alheia. Independente de qual seja a motivação, ambas se racham mais facilmente que um cristal. E em Big Little Lies, as mentiras já são incapazes de percorrer com fluidez. Exauridas de sustentação, elas começam a ruir. E Mary Louise (Meryl Streep) é a força motriz que vai retirar cada tijolo restante dessa muralha em iminente destruição.

Já sabemos que ela quer respostas. Então, naturalmente, a segunda temporada de Big Little Lies caminhará nessa direção, como aquele inconveniente fio solto de uma peça de lã, que inesperadamente desmembra toda a roupa, quando puxado inofensivamente. Mas aqui, enquanto a mentira maior ainda prevalece – a trancos e barrancos, as menores, aquelas que pareciam inofensivas ou esquecidas, começam a dar sua caras, se despindo diante dos nossos protagonistas. E mais rápido do que imaginávamos, Ed (Adam Scott) confirmou aquilo que temia. A famigerada traição de Madeline (Reese Witherspoon) veio à tona em meio a uma cozinha movimentada, com alimentos, legumes e condimentos espalhados e três rostos surpresos pelo fato de uma simples conversa entre mãe e filha ter escalonado freneticamente.

Mas Tell-Tale Hearts efervesce logo nos primeiros minutos, muito antes dessa eclosão, nos preparando para uma sucessão de revelações grandiosas. Seguindo seu impecável ritmo narrativo, Big Little Lies caminha com agilidade e pontualidade, não é prolixa, assim como também não procrastina. Como uma série que parece até mesmo seguir o curto tempo de vida útil das mentiras, seu segundo capítulo é enérgico, com frases simples se transformando em gatilhos mentais e uma perspicácia quase sagaz, de uma mãe/avó que insiste – com muita frieza, por sinal – em não reconhecer os crimes do seu belo filho de cabelos loiros e tende a fazer o clássico shaming de vítimas de estupro e abuso doméstico. Até porque, a mulher só pode ter feito algo para merecer o tratamento que teve.

E nesse novo episódio, as dinâmicas familiares das nossas protagonistas crescem vertiginosamente como o grande destaque, com segredos desconhecidos vindo à tona, fraudes bancárias sendo reveladas e passados indesejados voltando para assombrar a suntuosa riqueza e glamour de Monterey. Aqui, Laura Dern entrega a profundidade mais plena de sua atuação, roubando a cena a cada instante em tela. E mais rapidamente do que esperávamos, as belas e impecáveis mansões começam a falar pelos mortos, vivos e por aquelas ensurdecedoras mentiras mal ditas. E sob a direção de Andrea Arnold (Docinho da América), contemplamos mais um capítulo riquíssimo, do roteiro à fotografia, que faz aquele equilíbrio surpreendente entre um thriller dramático, com uma trilha sonora que nos faz cantarolar do começo ao fim.

Tragicômico, Tell-Tale Hearts é um episódio que traz toda a dramaticidade de BLL, com pequenos espasmos de humor negro/ácido, hora expressos na já clássica dinâmica Madeline-Mary Louise ou até mesmo no comportamento peculiar do novo interesse amoroso de Jane Chapman (Shailene Woodley). Sendo ainda capaz de manter o suspense que sempre orbita ao redor de sua narrativa, a produção segue com maestria, mantém nossa atenção com facilidade e nos envolve em um mistério que, embora conheçamos em parte – vendo como que por espelho em enigma, ainda veremos face a face até o sétimo capítulo. Amém.

 

 

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