sexta-feira, março 29, 2024

Crítica | CODA: Atriz de ‘Lock & Key’ estrela impecável dramédia teen sobre uma família surda

Filme assistido durante o Festival de Sundance 2021

Em meio ao som ensurdecedor da fase da adolescência – regada por seus hormônios e exaustivas pressões sociais -, paira um silêncio absurdo e quase desconfortável. Na vida da jovem Ruby (Emilia JonesLock & Key), estrondo e quietude se colidem de forma caótica, se misturando e complicando ainda mais a arte de navegar por um dos estágios mais conturbados do desenvolvimento humano. E CODA é essa comédia dramática exuberante, simbólica e necessária, que projeta os holofotes para o seio familiar de uma família de surdos, onde cabe à apenas uma adolescente de 17 anos, a responsabilidade de dar voz aos seus – em um universo de pessoas absolutamente alheias à necessidade de inclusão da deficiência auditiva.

A still from CODA by Siân Heder, an official selection of the U.S. Dramatic Competition at the 2021 Sundance Film Festival. Courtesy of Sundance Institute.
All photos are copyrighted and may be used by press only for the purpose of news or editorial coverage of Sundance Institute programs. Photos must be accompanied by a credit to the photographer and/or ‘Courtesy of Sundance Institute.’ Unauthorized use, alteration, reproduction or sale of logos and/or photos is strictly prohibited.

Vencedor de quatro prêmios no Festival de Sundance 2021, CODA nunca foi tão fundamental. Se apropriando do subgênero coming of age de forma grandiosa, a diretora e roteirista Siân Heder (Tallulah) entrega uma história absolutamente original e que cruza as próprias fronteiras estabelecidas por esse mesmo formato de filme. Aqui, o contraste entre a fase de transformação juvenil e a responsabilidade dicotômica de ter que dar conta de ser adolescente, mas também de ser uma adulta antes da hora, se digladiam constantemente. Nos levando para os locais mais intimistas de cada um dos personagens – protagonistas e coadjuvantes -, a produção faz um relato real dos dissabores de uma família surda, à medida em que explora uma questão social genuína e que até hoje não pode ser resolvido corretamente: Como romper com o preconceito e incluir deficientes auditivos na sociedade?

Na trama, Ruby divide o seu tempo entre os estudos e o barco pesqueiro de sua família, de classe baixa. Dependentes dela até para executar a pesca em alto mar – uma vez que pessoas surdas não podem desempenhar a função sozinhas -, eles desconhecem o mundo para além da sua pequena e humilde comunidade. Sem muitas ambições e emocionalmente atados à sua limitação física, seus pais e irmão lutam para pagar as contas e poder manter uma renda mínima com a venda de peixes. Mas à medida em que Ruby começa a se abrir para as atividades escolares – neste caso o Coral estudantil, mais ela descobrirá duas paixões em sua vida: O crush (Ferdia Walsh-Peelo, Sing Street) com quem fará um dueto e o canto como uma possível carreira profissional. Dividida entre o seu sonho e a responsabilidade familiar assumida desde a infância, ela terá que tomar uma das decisões mais difíceis da sua vida.

Eugenio Derbez appears in CODA by Siân Heder, an official selection of the U.S. Dramatic Competition at the 2021 Sundance Film Festival. Courtesy of Sundance Institute | photo by Mark Hill.
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Fazendo um equilíbrio perfeito entre o drama e a comédia, CODA é excepcional ao mostrar as discrepâncias entre as dificuldades de uma família surda em ser compreendida e aceita pela sua própria comunidade, e uma jovem que nunca teve a sua voz ouvida dentro do seu próprio lar. Usando a trilha sonora como muito mais do que um recurso técnico audiovisual, Heder faz da música do longa um instrumento de contraste com o silêncio inevitável dos personagens surdos, além de também torná-la a voz da sua protagonista – que aprende a se relacionar socialmente por meio do canto.

Esses técnica, associada à uma direção intimista e delicada, transformam a produção em uma das experiências cinematográficas mais ricas e sinestésicas dos últimos anos. Divertido e comovente, o longa é agridoce do começo ao fim, sempre elevando a audiência para o nível de profundidade das atuações do elenco, que brilha em tela, nos hipnotizando por sua intensidade e entrega. Aqui, os atores se completam a cada quadro, protagonizando momentos que vão da extrema leveza ao humor absurdo, passando ainda por uma densa carga dramática que nos arrebata.

Emilia Jones appears in CODA by Siân Heder, an official selection of the U.S. Dramatic Competition at the 2021 Sundance Film Festival. Courtesy of Sundance Institute.
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Reflexivo e imersivo, a produção não apenas debate bravamente sobre a importância da inclusão social de pessoas com deficiência, como também convida a audiência para refletir sobre sua própria condição humana e sobre o seu papel como um agente social nesse processo de mudança. Confrontador, mas também reconfortante e hilário, CODA é – de longe – uma das melhores comédias dramáticas teens lançadas em todos os tempos e de quebra ainda nos ensina algo profundamente valioso sobre a importância da vida compartilhada em comunidade.

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