sexta-feira, abril 19, 2024

Crítica | ‘CRASH’ reafirma o status de Charli XCX como uma das maiores artistas da atualidade

Charli XCX é uma das artistas mais interessantes do cenário contemporâneo musical e, desde sua estreia, vem quebrando barreiras entre os gêneros e construindo uma identidade única, digna de nossa atenção. Seu último álbum, ‘how i’m feeling now’, reverberou na grandiosidade do PC music e do hyperpop aos nossos ouvidos (inclusive tendo entrado para nossa lista de melhores do ano) – e, agora, a performer britânica está de volta com ‘CRASH’, uma obra testamentária que revisita cada momento de sua carreira e que se consagra, com seus breves 33 minutos de duração, como uma das mais espetaculares do ano.

A verdade é que todo lançamento de Charli deixa este que vos fala bastante animado, por saber que coisas novas serão trazidas a um escopo fonográfico que se vale demais de repetições – ou mais do que deveria. Para promover sua quinta investida artística, a cantora e compositora originou o lead single “Good Ones”, uma mistura enérgica e irretocável de synthwave e electro-pop que nos convida para as pistas de dança em uma nostalgia gritante e uma sagacidade lírica invejável; talvez o aspecto mais interessante da faixa seja seu respaldo no mainstream em vez dos experimentalismos clássicos de sua imagética sonora, bem como o fato de uma quantidade considerável de compositores se unir para um bem em comum (algo que costuma não funcionar, mas aqui exala uma coesão vibrante); como se não bastasse, suas colaborações também funcionam numa geometria instrumental orgásmica, dividindo os holofotes com nomes que vêm dominando a boca do povo.

A parceria com Christine and the Queens e Caroline Polachek, “New Shapes”, é retumbante e não pensa duas vezes antes de se iniciar com uma impactante profusão de sintetizadores que se aglutina a vocais multiplicados e quase dêiticos. O reflexo oitentista é bem maior na track, principalmente quando paramos para prestar atenção à redundância proposital da bateria e do teclado eletrônico, aliados a uma narrativa divertida e a pincelada de um violino clássico – cortesia da produção conhecida de Lotus IV, que já trabalhou com Zedd e Avicii, por exemplo. Em “Beg for You”, Charli une forças com a incrível Rina Sawayama para uma viagem de volta aos anos 2000, valendo-se de uma homenagem clara e desconstruída a “Cry for You”, de September, infundidos com uma paixão eletrônica que repercute a qualquer um que se aventure pelo disco.

Charli sempre soube como conduzir a si própria e nunca dependeu de ninguém para fazer o que quis – motivo pelo qual demonstra um apreço gigantesco pela complexidade da antítese. Cada música do álbum parte da premissa de nos encantar com uma produção pungente e explosiva, algo que os fãs conhecem há muito tempo (é só nos lembrarmos de “Vroom Vroom”). E, da mesma maneira, ela arquiteta versos que falam sobre autodestruição e sobre ressentimento, mascarados por uma atmosfera metafórica que nos induz a refletir para além da superfície e do óbvio. Em “Move Me”, ela agradece a pessoa amada que salvou sua vida em uma dramática e minimalista rendição que prenuncia o electro-trap do refrão; “Baby” aposta em um enredo mais visceral e sexy, em que a trama é acompanhada pelas narcóticas investidas Hi-NRG exploradas anteriormente por Jessie Ware em ‘What’s Your Pleasure?’ e pela marcação setentista do nu-disco.

Retomar o passado vem se tornando uma estética bastante utilizada pelos artistas musicais, como vemos desde 2020 com o lançamento de álbuns que recuperaram os anos 1980 e 1990 com originalidade e mimetismo surpreendentes – e é claro que Charli não ficaria de fora. Todavia, diferente dos outros, ela se mantém fiel a si mesma e às raízes do PC music que a colocou no centro dos holofotes. Dessa forma, temos a presença da evocativa e sensorial “Lightning”, em que ela “espirala por todo lugar” ao sentir o amor de seu par romântico, aproveitando para destilar suas afeições à eletrônica e à performance robótica de outrora; “Every Rule” dá início ao final da incrível jornada, diminuindo o frenesi e mergulhando numa balada techno que vale a pena por sua escrita e sua comedida produção.

A obra é uma enorme mixórdia de diversos estilos que, fundidos com um objetivo específico, irrompem em resultados mágicos que só alguém com o nível criativo de Charli e de seus inúmeros colaboradores poderia criar – e devo dizer que, pelo fato de assinar todas as tracks, a cantora tem controle completo do que quer fazer. No geral, somos presenteados com um resumão do que a indústria fonográfica foi capaz de fazer, desde a intensa faixa-titular, que abre de forma irrefreável, até a ode ao electro-house e ao power-pop dos anos 2000 com “Used To Know Me”, pegando elementos emprestados de Steve AngelloLaidback Luke com a memorável “Show Me Love”.

Não deixe de assistir:

‘CRASH’ é um state-of-art, uma construção magnífica que explora, dentro da proposta escolhida, uma gama infinita de possibilidades que ergue-se como uma das melhores iterações da carreira de Charli e como aquela que reitera seu importantes status na música atual.

Nota por faixa:

1. Crash – 5/5
2. New Shapes, feat. Christine and the Queens & Caroline Polachek – 5/5
3. Good Ones – 5/5
4. Constant Repeat – 4,5/5
5. Beg for You, feat. Rina Sawayama – 5/5
6. Move Me – 4,5/5
7. Baby – 5/5
8. Lightning – 5/5
9. Every Rule – 4,5/5
10. Yuck – 4,5/5
11. Used to Know Me – 5/5
12. Twice – 5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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