sábado , 2 novembro , 2024

Crítica de Álbum | Kesha reencontra a alegria de viver com ‘High Road’

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Os últimos anos têm sido bastante complicados para Kesha: depois de passar por um centro de reabilitação devido aos seus distúrbios alimentares e entrar numa batalha sem fim contra o produtor Dr. Luke devido a assédio sexual, abuso emocional e discriminação de gênero, ela voltou aos holofotes em 2017 com ‘Rainbow’, que sem sombra de dúvida insurgiu como um poderoso solilóquio (e, de quebra, uma obra-prima em todos os seus aspectos) acerca de temas complexos e que precisavam de espaço dentro de uma indústria marcada por traumas e por relações de poder ridiculamente controversas. Três anos depois, a cantora resolveu mudar sua perspectiva artística ao declarar abertamente para o mundo sua reconciliação com a felicidade e seu reencontro com a paz, com a dança e com a música – lançando o aguardado High Road, seu quarto álbum de estúdio.

Antes de tudo, é necessário dizer que é sempre ótimo ver algum nome outrora prolífico voltar com a força necessária para superar tantos obstáculos e, independente da qualidade musical que Kesha nos apresenta aqui, seu principal objetivo (como já mencionado) é se tornar autossuficiente e se divertir – o que explica seu apreço instantâneo pela infusão dos gêneros e subgêneros do pop que explorou em investidas anteriores (marcando um saudosista abraço para singles como “Blow”, “Tik Tok” e “Your Love Is My Drug”, aproximando-se de sonoridades familiares e alcançando um amadurecimento claro. É nesse escopo chamativo em que “Tonight” é firmado, em meio a dissonâncias propositais e reflexões sonoras bizarras, mas cativantes.

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De fato, o impactante classicismo do começo da década passada deixa de existir em prol de uma fusão do pop com um rap mais brando e lapidado, por assim dizer. Em outras palavras, a bem-vinda brutalidade encontra um equilíbrio com a cândida (e irreverente, não se deixem enganar) personalidade da lead singer. “My Own Dance”, por exemplo, nos recorda em ritmo e em visual da polêmica era Bangerz de Miley Cyrus, ao passo que se situa em um nicho único. Na verdade, as quatro primeiras tracks pulsam com esteroides sintéticos, desconstruindo e reconstruindo dentro de seus próprios termos um respaldo que outrora acharíamos saturado – o que é interessante, visto que grande parte dos cantores e compositores agora se rendeu à ascensão inexplicável do trap music.

Neste novo CD, Kesha não tangencia e nem mesmo deseja passar de uma polidez pré-fabricada: ela faz o que bem entende e o que lhe dá prazer e, no final das contas, é exatamente isso o que prezamos quando tentamos nos conectar com uma peça fonográfica. Não é surpresa (ou talvez seja) quando nos deparamos com uma faixa tão inesperada quanto “Potato Song (Cuz I Want To)” ou a união de um expressivo coral com o grave minimalismo de um baixo e os versos cantados de um declamatório hino de triunfo em “Shadow”.

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A performer, jamais abandonando o que fez com que nos apaixonássemos por ela vários anos atrás, sabe como dosar frenéticas rendições com pinceladas drenadas de baladas country com facilidade invejável e assustadora – e é esse tipo de estranheza que nos mantém de ouvidos atentos com as múltiplas camadas que ela nos fornece. Enquanto o conto interiorano “Cowboy Blues” encanta por sua teatral cantiga, a música-título vibra com ondas coloridas de provocação; logo depois, retorna para as origens e honra Dolly Parton e Jo Dee Messina ao lado de Brian Wilson com “Resentment”, apenas para se jogar de cabeça na deliciosa, senão formulaica canção-marchinha “Little Bit of Love”.

Entre incursões circenses e anacrônicas que transformam as escolhas mais excêntricas em construções sólidas e divertidas por todos os motivos que consigamos pensar, o álbum continua nos fascinando do começo até o fim. Porém, em certos momentos, Kesha parece almejar tanto a uma coisa nova e diferente do que o público está acostumado a ouvir, que acaba se submetendo a uma convergência de estilos que demora a engatar; é claro que sua navegação profunda pelos instrumentais oitentistas e noventistas são compilados em um capítulo novo e modernizado, mas alguns deles não são fortes o suficiente para nos livrar do prolongamento desnecessário de certos momentos em produções como “Kinky”.

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Incrivelmente, a obra fica cada vez melhor e não se desconecta das mensagens que procura nos entregar. Com a trindade “BFF”, “Father Daughter Dance” e “Chasing Thunder”, High Road é uma incrível adição à discografia de Kesha, provando que a artista precisava apenas de um empurrãozinho para reencontrar sua felicidade e sua alegria de fazer o que sempre amou: música.

Nota por faixa:

  • Tonight – 3,5/5
  • My Own Dance – 4,5/5
  • Raising Hell (feat. Big Freedia) – 3/5
  • High Road – 4/5
  • Shadow – 4,5/5
  • Honey – 5/5
  • Cowboy Blues – 5/5
  • Resentment (feat. Brian Wilson, Sturgill Simpson e Wrabel) – 5/5
  • Little Bit of Love – 4,5/5
  • Birthday Suit – 4/5
  • Kinky – 3/5
  • The Potato Song (Cuz I Want To) – 4,5/5
  • BFF (feat. Wrabel) – 4,5/5
  • Father Daughter Dance – 5/5
  • Chasing Thunder – 5/5
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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Antes de tudo, é necessário dizer que é sempre ótimo ver algum nome outrora prolífico voltar com a força necessária para superar tantos obstáculos e, independente da qualidade musical que Kesha nos apresenta aqui, seu principal objetivo (como já mencionado) é se tornar autossuficiente e se divertir – o que explica seu apreço instantâneo pela infusão dos gêneros e subgêneros do pop que explorou em investidas anteriores (marcando um saudosista abraço para singles como “Blow”, “Tik Tok” e “Your Love Is My Drug”, aproximando-se de sonoridades familiares e alcançando um amadurecimento claro. É nesse escopo chamativo em que “Tonight” é firmado, em meio a dissonâncias propositais e reflexões sonoras bizarras, mas cativantes.

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De fato, o impactante classicismo do começo da década passada deixa de existir em prol de uma fusão do pop com um rap mais brando e lapidado, por assim dizer. Em outras palavras, a bem-vinda brutalidade encontra um equilíbrio com a cândida (e irreverente, não se deixem enganar) personalidade da lead singer. “My Own Dance”, por exemplo, nos recorda em ritmo e em visual da polêmica era Bangerz de Miley Cyrus, ao passo que se situa em um nicho único. Na verdade, as quatro primeiras tracks pulsam com esteroides sintéticos, desconstruindo e reconstruindo dentro de seus próprios termos um respaldo que outrora acharíamos saturado – o que é interessante, visto que grande parte dos cantores e compositores agora se rendeu à ascensão inexplicável do trap music.

Neste novo CD, Kesha não tangencia e nem mesmo deseja passar de uma polidez pré-fabricada: ela faz o que bem entende e o que lhe dá prazer e, no final das contas, é exatamente isso o que prezamos quando tentamos nos conectar com uma peça fonográfica. Não é surpresa (ou talvez seja) quando nos deparamos com uma faixa tão inesperada quanto “Potato Song (Cuz I Want To)” ou a união de um expressivo coral com o grave minimalismo de um baixo e os versos cantados de um declamatório hino de triunfo em “Shadow”.

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A performer, jamais abandonando o que fez com que nos apaixonássemos por ela vários anos atrás, sabe como dosar frenéticas rendições com pinceladas drenadas de baladas country com facilidade invejável e assustadora – e é esse tipo de estranheza que nos mantém de ouvidos atentos com as múltiplas camadas que ela nos fornece. Enquanto o conto interiorano “Cowboy Blues” encanta por sua teatral cantiga, a música-título vibra com ondas coloridas de provocação; logo depois, retorna para as origens e honra Dolly Parton e Jo Dee Messina ao lado de Brian Wilson com “Resentment”, apenas para se jogar de cabeça na deliciosa, senão formulaica canção-marchinha “Little Bit of Love”.

Entre incursões circenses e anacrônicas que transformam as escolhas mais excêntricas em construções sólidas e divertidas por todos os motivos que consigamos pensar, o álbum continua nos fascinando do começo até o fim. Porém, em certos momentos, Kesha parece almejar tanto a uma coisa nova e diferente do que o público está acostumado a ouvir, que acaba se submetendo a uma convergência de estilos que demora a engatar; é claro que sua navegação profunda pelos instrumentais oitentistas e noventistas são compilados em um capítulo novo e modernizado, mas alguns deles não são fortes o suficiente para nos livrar do prolongamento desnecessário de certos momentos em produções como “Kinky”.

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Incrivelmente, a obra fica cada vez melhor e não se desconecta das mensagens que procura nos entregar. Com a trindade “BFF”, “Father Daughter Dance” e “Chasing Thunder”, High Road é uma incrível adição à discografia de Kesha, provando que a artista precisava apenas de um empurrãozinho para reencontrar sua felicidade e sua alegria de fazer o que sempre amou: música.

Nota por faixa:

  • Tonight – 3,5/5
  • My Own Dance – 4,5/5
  • Raising Hell (feat. Big Freedia) – 3/5
  • High Road – 4/5
  • Shadow – 4,5/5
  • Honey – 5/5
  • Cowboy Blues – 5/5
  • Resentment (feat. Brian Wilson, Sturgill Simpson e Wrabel) – 5/5
  • Little Bit of Love – 4,5/5
  • Birthday Suit – 4/5
  • Kinky – 3/5
  • The Potato Song (Cuz I Want To) – 4,5/5
  • BFF (feat. Wrabel) – 4,5/5
  • Father Daughter Dance – 5/5
  • Chasing Thunder – 5/5
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