domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Druk – Mais Uma Rodada é uma Intoxicante Obra de Amor à Vida

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  • Filme visto em outubro de 2020 em Paris. 

Selecionado pela Dinamarca para representar o país no Oscar 2021, Druk – Mais uma Rodada (Druk) é uma inebriante tragicomédia de celebração à vida, com estreia prevista para 25 de março no Brasil. É impossível sentir-se indiferente diante do impávido roteiro, cunhado a quatro mãos por Thomas Vinterberg e Tobias Lindholm, sobre um grupo de amigos quarentões em crise existencial. Oito anos após o instigante e bem-sucedido A Caça (2012), a dupla reencontra-se com o majestoso Mads Mikkelsen (Rogue One: Uma História Star Wars) e entrega uma obra-prima intoxicante, sedutora e, sobretudo, impecável. 

Se a quantidade de adjetivos soa exagerada, a orquestra de Vinterberg para fazer o público mergulhar na trajetória nebulosa e redentora de quatro professores do ensino médio mostra-se merecedora de hipérboles. Com uma premissa ousada, Druk desenvolve sua narrativa a partir da experimentação de uma hipótese científica, a qual propõe que a permanência de 0,05% de álcool no sangue garante um melhor desempenho tanto no âmbito profissional quanto pessoal. Ora, quem não quer viver uma versão melhor de si mesmo? A provocação é evidente. 



Com base neste argumento, o enredo questiona se para sermos pessoas melhores necessitaríamos de aditivos, tal como uma máquina precisa de óleo nas engrenagens. Para testar essa afirmativa, os cobaias serão os professores Martin (Mads Mikkelsen), Tommy (Thomas Bo Larsen), Nikolaj (Magnus Millang) e Peter (Lars Ranthe). Amigos de longa data, o grupo encontra-se apático em relação à vida, ao trabalho, à família e, até mesmo, o próprio corpo é um fardo a suportar. 

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A partir de uma jantar lúgubre de comemoração aos 40 anos, Nikolaj coloca na mesa a ideia deste artigo aos seus amigos, como uma estratégia de fuga da letargia que os acomete. A princípio de maneira moderada, eles começam a ir ao trabalho com algumas doses de vodka. Os primeiros indícios são satisfatórios. Martin, por exemplo, passa de um professor modorrento a um historiador dinâmico e cativante. Em sala de aula, ele promove um jogo de como o moralismo cega as nossas escolhas. Ao apresentar perfis de comportamento, o líder político de moral “exemplar” acaba por ser o mais sanguinário da história moderna.  

A mesma provocação permeia a tela com imagens de líderes mundiais, como os ex-presidentes Bill Clinton (EUA) e Nicolas Sarkozy (França), assim como o soviético Leonid Brezhnev e o russo Boris Yeltsin. O embate sobre os entorpecentes lícitos progride ao passo que o comportamento dos quatro amigos começam a atrapalhar suas atividades e a provocar risos trágicos. A questão do filme, no entanto, não é um debate sobre o consumo de álcool, mas como viver a vida, sob que perspectiva e como encontrar este caminho. A bebida, portanto, seria uma ferramenta dentro da lógica de “os fins justificam os meios”.  

Logo no início, Thomas Vinterberg dedica os primeiros segundos de tela a uma festiva competição entre os adolescentes da cidade. Eles correm, bebem, carregam caixas de cerveja, se esbaldam e celebram a satisfação de se divertirem. Esta euforia jorrante em espumas de cervejas e risos escancarados traça um forte paralelo com a solenidade de aniversário de 40 anos em um restaurante refinado. De fato, a contraposição das situações indaga como a alegria de estar vivo se perde ao longo do caminho. 

Casado e com dois filhos adolescentes, Martin começa a conversar com a esposa e a passar um tempo com os filhos. Surpresos com a mudança repentina, a família hesita em aceitar este “novo” Martin. Assim, ele percebe que existe uma ponte a construir após anos de abstinência de coragem; agora fornecida pela bebida. Já Tommy reencontra a satisfação de ser técnico escolar; mas também a dor dos dias vazios ao lado do seu cachorro. Enquanto Peter depara-se com sua covardia diária em relação ao trabalho, Nikolaj busca estabelecer um propósito na criação dos filhos. O ponto final do teste é diferente para cada um; às vezes triste, tocante, por outras, arrebatador e esplêndido.   

Mads Mikkelsen está encantador. Sua performance na cena final é de colocar um sorriso nos rostos das pessoas mais devastadas e pessimistas. Ao som da canção What a Life, de Scarlet Pleasure, Mikkelsen reverbera a agitação dos sentimentos do seu personagem e apresenta corporalmente o seu grito de desejo de liberdade.

Os méritos de Druk – Mais Uma Rodada estão no fechar de portas ao maniqueísmo e às lições de moral sobre o álcool, ao mesmo tempo em que nos faz refletir de forma sensível e celebratória a dádiva de ter uma vida para usufruir. Após a tragédia pessoal do diretor durante a produção do filme em 2019, junto ao ano de 2020, em que a morte esteve presente em todos os meios de comunicação, Druk é uma potência discursiva e imagética de apreciação ao agora.

Veja também: 🍻 DRUK – MAIS UMA RODADA é um dos MELHORES filmes de 2020! 🍺

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Se a quantidade de adjetivos soa exagerada, a orquestra de Vinterberg para fazer o público mergulhar na trajetória nebulosa e redentora de quatro professores do ensino médio mostra-se merecedora de hipérboles. Com uma premissa ousada, Druk desenvolve sua narrativa a partir da experimentação de uma hipótese científica, a qual propõe que a permanência de 0,05% de álcool no sangue garante um melhor desempenho tanto no âmbito profissional quanto pessoal. Ora, quem não quer viver uma versão melhor de si mesmo? A provocação é evidente. 

Com base neste argumento, o enredo questiona se para sermos pessoas melhores necessitaríamos de aditivos, tal como uma máquina precisa de óleo nas engrenagens. Para testar essa afirmativa, os cobaias serão os professores Martin (Mads Mikkelsen), Tommy (Thomas Bo Larsen), Nikolaj (Magnus Millang) e Peter (Lars Ranthe). Amigos de longa data, o grupo encontra-se apático em relação à vida, ao trabalho, à família e, até mesmo, o próprio corpo é um fardo a suportar. 

A partir de uma jantar lúgubre de comemoração aos 40 anos, Nikolaj coloca na mesa a ideia deste artigo aos seus amigos, como uma estratégia de fuga da letargia que os acomete. A princípio de maneira moderada, eles começam a ir ao trabalho com algumas doses de vodka. Os primeiros indícios são satisfatórios. Martin, por exemplo, passa de um professor modorrento a um historiador dinâmico e cativante. Em sala de aula, ele promove um jogo de como o moralismo cega as nossas escolhas. Ao apresentar perfis de comportamento, o líder político de moral “exemplar” acaba por ser o mais sanguinário da história moderna.  

A mesma provocação permeia a tela com imagens de líderes mundiais, como os ex-presidentes Bill Clinton (EUA) e Nicolas Sarkozy (França), assim como o soviético Leonid Brezhnev e o russo Boris Yeltsin. O embate sobre os entorpecentes lícitos progride ao passo que o comportamento dos quatro amigos começam a atrapalhar suas atividades e a provocar risos trágicos. A questão do filme, no entanto, não é um debate sobre o consumo de álcool, mas como viver a vida, sob que perspectiva e como encontrar este caminho. A bebida, portanto, seria uma ferramenta dentro da lógica de “os fins justificam os meios”.  

Logo no início, Thomas Vinterberg dedica os primeiros segundos de tela a uma festiva competição entre os adolescentes da cidade. Eles correm, bebem, carregam caixas de cerveja, se esbaldam e celebram a satisfação de se divertirem. Esta euforia jorrante em espumas de cervejas e risos escancarados traça um forte paralelo com a solenidade de aniversário de 40 anos em um restaurante refinado. De fato, a contraposição das situações indaga como a alegria de estar vivo se perde ao longo do caminho. 

Casado e com dois filhos adolescentes, Martin começa a conversar com a esposa e a passar um tempo com os filhos. Surpresos com a mudança repentina, a família hesita em aceitar este “novo” Martin. Assim, ele percebe que existe uma ponte a construir após anos de abstinência de coragem; agora fornecida pela bebida. Já Tommy reencontra a satisfação de ser técnico escolar; mas também a dor dos dias vazios ao lado do seu cachorro. Enquanto Peter depara-se com sua covardia diária em relação ao trabalho, Nikolaj busca estabelecer um propósito na criação dos filhos. O ponto final do teste é diferente para cada um; às vezes triste, tocante, por outras, arrebatador e esplêndido.   

Mads Mikkelsen está encantador. Sua performance na cena final é de colocar um sorriso nos rostos das pessoas mais devastadas e pessimistas. Ao som da canção What a Life, de Scarlet Pleasure, Mikkelsen reverbera a agitação dos sentimentos do seu personagem e apresenta corporalmente o seu grito de desejo de liberdade.

Os méritos de Druk – Mais Uma Rodada estão no fechar de portas ao maniqueísmo e às lições de moral sobre o álcool, ao mesmo tempo em que nos faz refletir de forma sensível e celebratória a dádiva de ter uma vida para usufruir. Após a tragédia pessoal do diretor durante a produção do filme em 2019, junto ao ano de 2020, em que a morte esteve presente em todos os meios de comunicação, Druk é uma potência discursiva e imagética de apreciação ao agora.

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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