domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | ‘Everbody’s Talking About Jamie’ tem o coração no lugar certo, mas tropeça pelo caminho

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‘Everybody’s Talking About Jamie’ pode não ser um musical muito conhecido, mas sem sombra de dúvida causou um grande impacto quando lançado em 2017 em Sheffield e, logo depois, em West End, no efervescente cenário teatral londrino. A história, criada por Tom McRae, gira em torno de um adolescente de dezesseis anos que enfrenta todas as dificuldades pelas quais um jovem gay poderia passar para descobrir uma nova expressão artística com a arte das drag queens. Elogiada pelos especialistas pela atuação do elenco e pelas belíssimas mensagens de empoderamento para a comunidade queer, não levou muito tempo até que a Amazon Studios e a New Regency unissem forças para transformar a narrativa em uma adaptação cinematográfica, que chegou ao catálogo da plataforma de streaming no último dia 17 de setembro.

Mantendo a premissa original, a trama acompanha o último ano de Jamie New (interpretado pelo estreante Max Harwood), que é obrigado a lidar com os sonhos medíocres da pequena cidade onde mora. Exilado pelo restante dos colegas de classe, que constantemente zombam de sua orientação sexual, Jamie reúne a força necessária para revelar que, quando crescer, deseja ser famoso como uma drag queen, performando nos principais palcos do mundo. Entretanto, os alunos e a própria professora (Sharon Horgan) diminuem o projeto que criou para seu futuro e acreditam que ele nunca conseguirá ser reconhecido – destilando um velado preconceito que dialoga com a aparência nada normativa e tradicionalista de Jamie.



Felizmente, o rapaz tem apoio incondicional de algumas pessoas em sua vida, incluindo a mãe, Margaret (Sarah Lancashire), Ray (Shobna Gulati), uma velha conhecida da família, e Pritti (Lauren Patel), sua melhor amiga. Apesar das turbulências que enfrentam, as três insurgem como as principais motivadoras para que Jamie corra atrás dos sonhos – que começam a se tornar realidade quando ele cruza caminho com Hugo Battersby (Hugo E. Grant em mais uma atuação aplaudível), icônico performer que se apresentava como Loco Channelle nos anos 1980 e 1990. Hugo ajuda Jamie a se montar pela primeira vez, dando-lhe dicas de como enfrentar aqueles que não compreendem a força da arte e a diversidade do mundo – dentro de uma formulaica e prática homenagem aos mentores das jornadas heroicas clássicas.

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O drama coming-of-age encontra bastante sucesso estético ao diferenciar os dois mundos do protagonista: na escola, ele se amalgama em meio a pessoas que contentam-se com a zona de conforto e que almejam a carreiras que darão a elas o mínimo para sobreviver; nos palcos e na loja de roupas delegada por Hugo, ele é envolvido pelo glamour dos vestidos e pelo libertação promovida pelos sapatos de salto alto e pelas maquiagens carregadas de glitter. Não é surpresa que, prestes a fazer sua estreia como Mimi Me, Jamie sinta a euforia dos artistas, dominando os palcos como ninguém e tornando-se tópico principal de discussão na cidade.

Entretanto, vemos certas escolhas que poderiam ser mais ousadas e que poderiam beber da fonte de investidas similares – como a recente releitura de ‘The Boys in the Band’, da Netflix. O roteiro, mesmo estendendo-se ao longo de duas horas, não consegue encontrar o ritmo certo para arquitetar um arco bem resolvido; em outras palavras, cada ato transborda com acontecimentos que envolvem as subtramas de Pritti e de Margaret, o relacionamento tóxico entre Jamie e o pai ausente, a nostalgia memorialística de Hugo e o preço da fama. Como se não bastasse, há também inflexões efêmeras que revelam a dificuldade enfrentada pela comunidade LGBTQIA+ nas décadas passadas, bem como o preconceito que Jamie sofre pelo valentão da escola, Dean (Samuel Bottomley).

O longa marca a estreia diretorial de Jonathan Butterell, conhecido coreógrafo cuja carreira se estende pelo West End e pela Broadway. Butterell tem um material bastante conciso com o que trabalhar e, quando não se leva a sério, consegue criar mágica: temos a perspicaz emulação de Madonna e de Andy Warhol com a sequência “Work of Art”, e também a tocante rendição de Margaret em “He’s My Boy” – um dos momentos mais emocionantes do enredo; mas, no geral, há um senso de justaposição paradigmática que se alastra pela maior parte da obra que nos impede de conectar por completo com as adoráveis e densas personalidades. A história de Hugo é contada de forma muito rápida e esquecível, enquanto Pritti rende-se a uma coadjuvante que existe em subserviência ao personagem principal. Além disso, há um tom frenético adotado pela produção, que parece ter pressa em terminar o que se iniciou.

Ainda que erguendo-se sobre uma importante temática e evocando mensagens de amor-próprio e de força, ‘Everybody’s Talking About Jamie’ tropeça no caminho em obstáculos que poderiam ser evitados. É claro que o espetacular elenco consegue nos manter presos do começo ao fim, mas não o suficiente para que não percebamos as constantes falhas. De qualquer forma, o musical é uma pedida interessante para assistir em família e deve satisfazer aqueles que buscam por uma diversão tranquila e despreocupada.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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‘Everybody’s Talking About Jamie’ pode não ser um musical muito conhecido, mas sem sombra de dúvida causou um grande impacto quando lançado em 2017 em Sheffield e, logo depois, em West End, no efervescente cenário teatral londrino. A história, criada por Tom McRae, gira em torno de um adolescente de dezesseis anos que enfrenta todas as dificuldades pelas quais um jovem gay poderia passar para descobrir uma nova expressão artística com a arte das drag queens. Elogiada pelos especialistas pela atuação do elenco e pelas belíssimas mensagens de empoderamento para a comunidade queer, não levou muito tempo até que a Amazon Studios e a New Regency unissem forças para transformar a narrativa em uma adaptação cinematográfica, que chegou ao catálogo da plataforma de streaming no último dia 17 de setembro.

Mantendo a premissa original, a trama acompanha o último ano de Jamie New (interpretado pelo estreante Max Harwood), que é obrigado a lidar com os sonhos medíocres da pequena cidade onde mora. Exilado pelo restante dos colegas de classe, que constantemente zombam de sua orientação sexual, Jamie reúne a força necessária para revelar que, quando crescer, deseja ser famoso como uma drag queen, performando nos principais palcos do mundo. Entretanto, os alunos e a própria professora (Sharon Horgan) diminuem o projeto que criou para seu futuro e acreditam que ele nunca conseguirá ser reconhecido – destilando um velado preconceito que dialoga com a aparência nada normativa e tradicionalista de Jamie.

Felizmente, o rapaz tem apoio incondicional de algumas pessoas em sua vida, incluindo a mãe, Margaret (Sarah Lancashire), Ray (Shobna Gulati), uma velha conhecida da família, e Pritti (Lauren Patel), sua melhor amiga. Apesar das turbulências que enfrentam, as três insurgem como as principais motivadoras para que Jamie corra atrás dos sonhos – que começam a se tornar realidade quando ele cruza caminho com Hugo Battersby (Hugo E. Grant em mais uma atuação aplaudível), icônico performer que se apresentava como Loco Channelle nos anos 1980 e 1990. Hugo ajuda Jamie a se montar pela primeira vez, dando-lhe dicas de como enfrentar aqueles que não compreendem a força da arte e a diversidade do mundo – dentro de uma formulaica e prática homenagem aos mentores das jornadas heroicas clássicas.

O drama coming-of-age encontra bastante sucesso estético ao diferenciar os dois mundos do protagonista: na escola, ele se amalgama em meio a pessoas que contentam-se com a zona de conforto e que almejam a carreiras que darão a elas o mínimo para sobreviver; nos palcos e na loja de roupas delegada por Hugo, ele é envolvido pelo glamour dos vestidos e pelo libertação promovida pelos sapatos de salto alto e pelas maquiagens carregadas de glitter. Não é surpresa que, prestes a fazer sua estreia como Mimi Me, Jamie sinta a euforia dos artistas, dominando os palcos como ninguém e tornando-se tópico principal de discussão na cidade.

Entretanto, vemos certas escolhas que poderiam ser mais ousadas e que poderiam beber da fonte de investidas similares – como a recente releitura de ‘The Boys in the Band’, da Netflix. O roteiro, mesmo estendendo-se ao longo de duas horas, não consegue encontrar o ritmo certo para arquitetar um arco bem resolvido; em outras palavras, cada ato transborda com acontecimentos que envolvem as subtramas de Pritti e de Margaret, o relacionamento tóxico entre Jamie e o pai ausente, a nostalgia memorialística de Hugo e o preço da fama. Como se não bastasse, há também inflexões efêmeras que revelam a dificuldade enfrentada pela comunidade LGBTQIA+ nas décadas passadas, bem como o preconceito que Jamie sofre pelo valentão da escola, Dean (Samuel Bottomley).

O longa marca a estreia diretorial de Jonathan Butterell, conhecido coreógrafo cuja carreira se estende pelo West End e pela Broadway. Butterell tem um material bastante conciso com o que trabalhar e, quando não se leva a sério, consegue criar mágica: temos a perspicaz emulação de Madonna e de Andy Warhol com a sequência “Work of Art”, e também a tocante rendição de Margaret em “He’s My Boy” – um dos momentos mais emocionantes do enredo; mas, no geral, há um senso de justaposição paradigmática que se alastra pela maior parte da obra que nos impede de conectar por completo com as adoráveis e densas personalidades. A história de Hugo é contada de forma muito rápida e esquecível, enquanto Pritti rende-se a uma coadjuvante que existe em subserviência ao personagem principal. Além disso, há um tom frenético adotado pela produção, que parece ter pressa em terminar o que se iniciou.

Ainda que erguendo-se sobre uma importante temática e evocando mensagens de amor-próprio e de força, ‘Everybody’s Talking About Jamie’ tropeça no caminho em obstáculos que poderiam ser evitados. É claro que o espetacular elenco consegue nos manter presos do começo ao fim, mas não o suficiente para que não percebamos as constantes falhas. De qualquer forma, o musical é uma pedida interessante para assistir em família e deve satisfazer aqueles que buscam por uma diversão tranquila e despreocupada.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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