quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Flag Day | Sean Penn apresenta tépido conflito entre pai e filha embalado em folk-rock

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Sexto projeto de Sean Penn (Na Natureza Selvagem) na direção, Flag Day (na tradução livre Dia da Bandeira) é baseado no livro de memórias da jornalista norte-americana Jennifer Vogel, Flim-Flam Man: The True Story of My Father’s Counterfeit Life (2004), no qual relata a relação com seu pai, um falsário congênito. Apresentado ao mundo no Festival de Cannes 2021, o projeto é marcado pela primeira vez que Sean Penn dirige a si mesmo e atua ao lado da sua filha Dylan Penn (Condemned). 

Contado pela perspectiva de Jennifer (Dylan Penn), o filme transcorre da infância até o dia em que a jornalista é chamada à delegacia e a comissária de polícia (Regina King) conta os crimes do seu pai John Vogel (Sean Penn). Assim, Flag Day revisita o final dos anos 1970, 1980 até 1992. Com a estonteante fotografia de Daniel Moder (da série Dead to Me), uma das principais cenas é a iluminação solar sobre um campo de centeio. Uma memória marcante da pequena Jennifer (Jadyn Rylee), revisitada várias vezes no filme, por ser um dos últimos passeios em família com o seu irmão (Hopper Penn) e seus pais. 



Assim como a rápida aparição de Regina King, Flag Day conta a participação especial de Josh Brolin, como Tio Beck, em menos de três minutos em tela. Outra parceria fiel no projeto de Sean Penn é do cantor Eddie Vedder, o qual canta ao lado da filha Oliva Vedder a canção principal There Is a Girl. A trilha sonora, a propósito, é uma espetáculo à parte para os amantes do folk-rock. Além do vocalista da banda Pearl Jam, as cenas de um Estados Unidos de 40, 30 anos atrás são embaladas por Cat Power (Dreams) e Glen Hansard (As You Did Before), ex-banda The Frames

Com a saída de John Vogel de casa, o crescimento de Jennifer é marcado pelo abandono emocional da mãe alcoólatra (Katheryn Winnick, da série Vikings) e a eterna esperança de reunir-se com ele. O pai, entretanto, está sempre envolvido em esquemas secretos, enquanto declara ser um empreendedor. A mentira, portanto, torna-se uma constante na vida da menina. 

Nos anos 1980, Jennifer transforma-se numa adolescente rebelde e viciada em drogas para fugir do seu cotidiano. Seu padrasto (Norbert Leo Butz) rendido à bebida lhe faz visitas noturnas sob a vista grossa da própria mãe. Sem esperança de continuar na escola e determinada a fugir do abuso domiciliar, a jovem parte para construir uma vida ao lado do pai. Apesar de não ser bem recebida, os dois tentam edificar uma convivência equilibrada, mas não por muito tempo. 

Com uma peruca de cabelos escuros, a adolescente Jennifer é a parte mais arrastada da história. A narrativa recupera-se com as cenas entre pai e filha, no qual a jovem toma a responsabilidade de colocá-lo nos eixos. Nesses momentos, Dylan Penn brilha e apresenta a força necessária para torná-la uma protagonista legítima. É evidente que existe uma potência de estar ao lado do seu verdadeiro pai, visto que Sean Penn sabe como poucos atores vestir a capa do vigarista implacável, tanto quanto do fracassado arrependido.  

Por um lado, a dramática relação entre pai e filha funciona e os sentimentos confusos da personagem, entre a admiração infantil e a decepção da realidade, são tocantes. Em contrapartida, Flag Day exibe uma narrativa morna sobre a penúria de crescer em uma família desfeita e as decisões imprudentes tomadas a partir dessa vivência.

Se o roteirista Jez Butterworth (No Limite do Amanhã) retirasse as graciosas cenas de diálogos entre pai e filha, nas quais o mentiroso inexorável continua a usar suas astúcias para a filha já madura, o filme é fraquíssimo. Sem grandes impressões, Jennifer torna-se uma jornalista com um pai presidiário. Flag Day estampa o sentimento de decepção de uma filha por seu pai não ter sido o herói dos seus sonhos.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Contado pela perspectiva de Jennifer (Dylan Penn), o filme transcorre da infância até o dia em que a jornalista é chamada à delegacia e a comissária de polícia (Regina King) conta os crimes do seu pai John Vogel (Sean Penn). Assim, Flag Day revisita o final dos anos 1970, 1980 até 1992. Com a estonteante fotografia de Daniel Moder (da série Dead to Me), uma das principais cenas é a iluminação solar sobre um campo de centeio. Uma memória marcante da pequena Jennifer (Jadyn Rylee), revisitada várias vezes no filme, por ser um dos últimos passeios em família com o seu irmão (Hopper Penn) e seus pais. 

Assim como a rápida aparição de Regina King, Flag Day conta a participação especial de Josh Brolin, como Tio Beck, em menos de três minutos em tela. Outra parceria fiel no projeto de Sean Penn é do cantor Eddie Vedder, o qual canta ao lado da filha Oliva Vedder a canção principal There Is a Girl. A trilha sonora, a propósito, é uma espetáculo à parte para os amantes do folk-rock. Além do vocalista da banda Pearl Jam, as cenas de um Estados Unidos de 40, 30 anos atrás são embaladas por Cat Power (Dreams) e Glen Hansard (As You Did Before), ex-banda The Frames

Com a saída de John Vogel de casa, o crescimento de Jennifer é marcado pelo abandono emocional da mãe alcoólatra (Katheryn Winnick, da série Vikings) e a eterna esperança de reunir-se com ele. O pai, entretanto, está sempre envolvido em esquemas secretos, enquanto declara ser um empreendedor. A mentira, portanto, torna-se uma constante na vida da menina. 

Nos anos 1980, Jennifer transforma-se numa adolescente rebelde e viciada em drogas para fugir do seu cotidiano. Seu padrasto (Norbert Leo Butz) rendido à bebida lhe faz visitas noturnas sob a vista grossa da própria mãe. Sem esperança de continuar na escola e determinada a fugir do abuso domiciliar, a jovem parte para construir uma vida ao lado do pai. Apesar de não ser bem recebida, os dois tentam edificar uma convivência equilibrada, mas não por muito tempo. 

Com uma peruca de cabelos escuros, a adolescente Jennifer é a parte mais arrastada da história. A narrativa recupera-se com as cenas entre pai e filha, no qual a jovem toma a responsabilidade de colocá-lo nos eixos. Nesses momentos, Dylan Penn brilha e apresenta a força necessária para torná-la uma protagonista legítima. É evidente que existe uma potência de estar ao lado do seu verdadeiro pai, visto que Sean Penn sabe como poucos atores vestir a capa do vigarista implacável, tanto quanto do fracassado arrependido.  

Por um lado, a dramática relação entre pai e filha funciona e os sentimentos confusos da personagem, entre a admiração infantil e a decepção da realidade, são tocantes. Em contrapartida, Flag Day exibe uma narrativa morna sobre a penúria de crescer em uma família desfeita e as decisões imprudentes tomadas a partir dessa vivência.

Se o roteirista Jez Butterworth (No Limite do Amanhã) retirasse as graciosas cenas de diálogos entre pai e filha, nas quais o mentiroso inexorável continua a usar suas astúcias para a filha já madura, o filme é fraquíssimo. Sem grandes impressões, Jennifer torna-se uma jornalista com um pai presidiário. Flag Day estampa o sentimento de decepção de uma filha por seu pai não ter sido o herói dos seus sonhos.

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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