Mais vale um pecador arrependido, do que um anjo mal intencionado. Exibido no último Festival de Cannes, o novo trabalho do excelente cineasta francês Jean-François Richet (do excepcional Inimigo Público nº 1 Parte 1 e 2) é pura adrenalina, do início ao fim. Richet pegou uma trama simples, baseada na obra de Peter Craig (que também assina o roteiro), e conseguiu criar um universo de ação sem limites, com cenas fortes e uma carga dramática muito bem apresentada, principalmente pelo seu protagonista interpretado pelo vovô fortão, nosso eterno Martin Riggs (de Maquina Mortífera), Mel Gibson.
Na trama, acompanhamos o solitário tatuador sessentão Link (Mel Gibson), um homem com um passado bem complicado, durante anos ficou preso em uma penitenciária barra pesada por não querer entregar o líder de uma gangue de motoqueiros. Durante o período que estava preso, perdeu a mulher e a filha desapareceu. Certo dia, durante mais um dia comum na vida do experiente tatuador seu telefone toca e do outro lado da linha está Lydia (Erin Moriarty), sua filha sumida. A questão é que a jovem ligou para o pai, sua única alternativa, pois acabara de se meter em uma confusão envolvendo um parente de uma temida família do crime na fronteira. Resgatando o espírito de anos atrás e explorando uma violência hoje mais contida, Link vai atrás de sua filha e fará de tudo para protegê-la.
O filme correu um sério risco de ser mais um filme do gênero ‘mais do mesmo’. Porém, alguns fatores foram fundamentais para fugir das mesmices de outros filmes parecidos. Primeiro, o protagonista é apresentado de maneira rápida mas sua construção, em relação ao passado e a fúria que controla, é exposta de maneira inteligente e o personagem se torna cada vez mais interessante aos olhos da plateia. É um grande trabalho de Gibson, cirúrgico em alguns momentos. Segundo, por mais que a ação sobreponha o drama, o elo familiar estabelecido pela chegada de Lydia à trama é fundamental para que lacunas sejam preenchidas e objetivos sejam traçados. Há um carinho acumulado do pai em relação a sua única filha, talvez seja a última chance de ele aproveitar esse momento, isso explica o desespero e as saídas que encontra para proteger sua filha. Esse relação dos dois é muito bem encaixada dentro da trama e realmente sentimos uma grande dedicação dos atores nos diálogos e sequências.
Em relação ao roteiro propriamente dito, se define por alguns atos bem amarrados e uma leve viajada no seu arco do meio. Alguns personagens aparecem mais pra explicar como era o protagonista em seu passado do que qualquer outra coisa. Incomoda um pouco o personagem Kirby (William H. Macy) ser tão pouco aproveitado. Mas no final, o filme tem muito mais méritos do que qualquer outra coisa. Com estreia prevista para a próxima quinta-feira (08), Herança de Sangue deve agradar bastante o público que curte filmes de ação como eram feitos antigamente mas também o público que gosta de uma boa história.