De boas ideias Hollywood está cheia. Aliás, a recente greve evidenciou o quanto a indústria de cinema estadunidense depende dos seres humanos com boas ideias para criar histórias que possam ser desenvolvidas em produções cinematográficas. Entretanto entre esses muitas vezes há um abismo enorme: uma boa ideia pode ter uma péssima execução, assim como uma ideia ruim pode ser produzida e competentemente transformada em algo melhor. Os cinéfilos sabem disso e já viram este fenômeno acontecer algumas vezes nas telonas. E agora esse fenômeno volta a se repetir com ‘Hypnotic: Ameaça Invisível’, thriller de ação que teve exibição prévia no Festival do Rio 2023 e que estreia no circuito nacional a partir da próxima semana.
Danny Rourke (Ben Affleck) é um policial detetive afastado de seu cargo desde que uma tragédia se abatera sobre sua família: sua filha Minnie (Hala Finley) fora raptada em um parque e segue desaparecida desde então. Por fazer terapia, Danny acaba de ser liberado para voltar à sua rotina e se junta a seu parceiro Nicks (JD Pardo) para investigar a denúncia de um possível assalto a banco. Enquanto observam as movimentações nos arredores, Danny percebe algo incomum no suspeito (Carl Everett): ele parece dar comandos aos transeuntes na rua e curvá-los a fazer sua própria vontade. Diante do ineditismo da situação, Danny não poupará esforços para descobrir o que realmente está acontecendo, mesmo que isso o leve a confiar em na cartomante Diana Cruz (Alice Braga) cuja reputação é questionável.
Robert Rodriguez encabeçou projetos de grande reconhecimento público, como ‘Sin City’, ‘Pequenos Espiões‘ e as séries ‘O Mandaloriano’ e ‘O Livro de Boba Fett’. Desse modo, não faz muito sentido que um sujeito com essa trajetória e que tem um vencedor do Oscar no seu elenco, Ben Affleck, não consiga alcançar o ponto certo de sua produção, criando um vácuo entre o elenco, que parece distanciado da trama, e a história elaborada, cheia de nuances, mas que, ao contrário do título, não consegue hipnotizar o espectador. Ao contrário, parece que o diretor subestima o espectador, evidenciando coisas frequentemente na trama, como se não fôssemos capazes de perceber sozinhos (por exemplo, um sinal de “escadas” enormemente escrito num estacionamento, quando é evidente que aquela porta levaria a uma escada interna).
O roteiro dele com Max Borenstein parte de uma boa ideia – a manipulação mental de um mal feitor em cima da sociedade para fazer com que as pessoas façam o serviço sujo por ele. Dessa boa ideia, para se justificar o enredo acaba se apoiando em temas complexos demais para serem desenvolvidos em uma hora e trinta de duração, tais como teoria da conspiração, segredos obscuros do governo, problemas interpessoais entre os personagens, etc. Em determinado ponto os personagens simplesmente vão para o México sem nenhuma justificativa desse deslocamento para o país, o que nos leva a pensar que é somente para contemplar o diretor e assinalar o quanto os estadunidenses têm livre passagem na fronteira, ao ponto de ironicamente manipular os guardas – coisa que pessoas de outras nacionalidades não conseguem.
Por seu mote diferente então, dá para entender a inclusão desse filme na grade do Festival do Rio deste ano. A real é que nem mesmo os grandes nomes envolvidos nessa produção conseguiram fazer dela algo superior ao mediano.