sexta-feira, abril 26, 2024

Crítica | Imaculada – Sydney Sweeney protagoniza o HORROR do cruzamento da Virgem Maria com o Bebê de Rosemary

Lançado no SXSW Festival nos EUA, Imaculada reúne a experiência de déjà-vu à catarse sanguinária com a atriz do momento Sydney Sweeney (Todos Menos Você). Não é um exagero dizer que a atriz norte-americana de 26 anos carregou a produção nas costas, presente em cada frame do enredo, ela também é produtora e responsável por levar a ideia às telas por meio da NEON

Para isso, Sydney uniu-se a Michael Mohan pela terceira vez na sua carreira. Diretor e criador da série da Netflix Everything Sucks! (2018) e diretor e roteirista de The Voyeurs:  Observadores (2021), disponível no Prime Video, Mohan já pode considerar Sydney sua musa. Desta vez, porém, o roteiro é do desconhecido Andrew Lobel e sofre bastante com reviravoltas sem base e clichês do gênero terror. 

Com uma ambientação em um convento italiano, Imaculada consegue criar uma atmosfera intrigante e ressaltar toda a mística religiosa em torno dos atos de contrição e fé. A cena inicial do longa tal como apresentação deste universo recorrente nos filmes de horror dita a regra principal da história: uma vez dentro deste convento, não se pode sair. O que motiva os espectadores a questionarem: o que existe de tão ruim atrás das barras de ferro daquele portão? 

Em seguida, vemos a chegada da noviça Cecilia (Sydney Sweeney) na Itália para realizar seus votos em um novo convento na Europa, após o fechamento das portas do seu último estabelecimento religioso nos EUA. Sem saber muitas palavras de italiano, a jovem atravessa o oceano em busca de uma razão para sua vida e sobrevivência de um trágico evento ainda na pré-adolescência. A partir deste incidente, Cecília decidiu dedicar sua vida a Deus e descobrir porque Ele a salvou. 

Ao lado da sensível e recatada Cecília são apresentadas duas outras noviças antagonistas Mary (Simona Tabasco) e Gwen (Benedetta Porcaroli). Enquanto Mary parece ser sistemática, pouco simpática e, por fim, invejosa, Gwen é rebelde, desafiadora e amiga, sendo assim um dos pontos de apoio à adaptação ao convento e à comunicação em inglês, com um elenco predominantemente italiano. 

Logo após as celebrações da cerimônia de votos a profissão de fé, Cecilia acompanha uma das irmãs e vê seu rosto totalmente coberto por uma máscara vermelha. Sem saber como reagir, ela é interpelada por uma freira mais experiente, a qual conta possuir umas das relíquias da crucificação de Jesus Cristo e Cecília desmaia. Esta é a deixa para suspeitarmos de todas as próximas cenas com as figuras de poder Madre Superior (Dora Romano), Cardinal Franco Merola (Giorgio Colangeli) e Padre Sal Tedeschi (Álvaro Morte).

Não deixe de assistir:

Com um recurso deveras recorrente dos filmes de horror, as imagens de choques são introduzidas em uma alusão entre realidade e sonhos. Do mesmo modo, a sonoplastia aproveita-se de todos os momentos para “presentear” a plateia com jumpscares, já batidos de tão repetidos em filmes da Blumhouse. O roteiro utiliza até mesmo pássaros batendo contra a vidraça da janela para causar um baque repentino sem nenhuma utilidade para a trama. 

Após assistir ao filme The Voyeurs:  Observadores, é possível afirmar uma inclinação do diretor Michael Mohan em filmar olhos cujas retinas escondem segredos e as lágrimas de Sydney Sweeney inundam diversas sequências. Com o surgimento de uma gravidez no enredo, Imaculada dialoga com o clássico do gênero O Bêbe de Rosemary (1968), de Roman Polanski. O impacto, no entanto, é bastante aquém do martírio de Mia Farrow

Se no título dos anos 60, a intriga é realmente inquietante e o espectador percorre os meandros de suspense e descoberta com a protagonista, neste filme as revelações são simplistas e pouco elaboradas. A personalidade de Cecília muda completamente do início para os 30 minutos finais do filme.

Aterrorizada por conta da sua imaculada gravidez e os destinos de Mary e Gwen, a educada e inocente freira torna-se uma pessoa sem impedimentos para cometer repetidamente um dos pecados mais graves dos Dez Mandamentos bíblicos. Sem coerência narrativa e situações pouco factíveis, toda a mise-en-scene do convento e das leis divinas e das loucuras humanas em nome Dele são jogadas fora para apresentar sangue pelo sangue.


Os derradeiros minutos são louváveis por dar à Cecília o poder de decisão usurpado dela durante toda a narrativa. O final, contudo, funcionaria muito melhor sem tornar a mesma personagem em uma pessoa completamente amoral e diferente de nove meses atrás. Por conta da falha de construção da protagonista, Imaculada torna-se apenas mais um filme de jumpscares e sanguinários sem conectar-se com o público ou produzir medo ou repulsa. 

O temor pela personagem é inexistente, pois ela nunca é retratada com uma pessoa real, embora Sydney Sweeney incorpore o estereótipo da Scream Queen, ela não encara as complexidades entre crença e manipulação. Diferente do desespero de Agnes de encontrar uma saída em O Banho do Diabo, apresentado no Festival de Berlim 2024, ou da dor emocional de Mia em Fale Comigo (2022), de Danny Philippou e Michael Philippou apenas para citar bons exemplos do gênero —, Imaculada é uma espetáculo macabro sem essência.

 

Visto em pré-estreia em Paris, Imaculada estreou no dia 12 de março no SXSW Festival em Austin, no Texas. O longa está previsto para chegar aos cinemas do Brasil em 30 de maio de 2024.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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