quarta-feira, abril 17, 2024

Crítica TIFF | Jungleland: Charlie Hunnam brilha em drama sobre boxe cheio de clichês

Filme assistido durante o Festival de Toronto 2019

Entre trapaças, trambiques e uma falta absurda de dinheiro, há sempre uma motivação alucinante para se chegar onde se almeja, ainda que os meios sejam mais escusos. Como uma espécie de ciclo vicioso, quem aprende a vencer da forma errada, segue perpetuando tal comportamento, na garantia de que a boa sorte seja tão incoerente e suja o bastante a ponto de estar ao seu favor. E em Jungleland, dois irmãos tentam conquistar sua independência de mafiosos, da pobreza e da falta de tudo por meio do boxe, fazendo dessas suas principais armas. Com um sendo dono de uma certa pureza pueril e de uma certa ingenuidade, o outro se contorce em meio a todo esse cenário complexo, usando o talento do caçula como sua válvula de escape para uma vida mais estável, mesmo que seja dentro de uma eterna instabilidade.

Uma das fragilidades de Jungleland está exatamente em unir uma série de clichês impressos em inúmeros longas do gênero. Reciclando sua trama com elementos exatamente iguais como visto em outros filmes bem melhores, o drama aborda a saga de dois irmãos que visam ganhar um campeonato de boxe, a fim de se livrar das dívidas com agiotas e mafiosos do meio. Com a vida de uma jovem garota em mãos – que deve ser vendida como uma espécie de escrava sexual, eles ainda se digladiam com novas questões morais, à medida que tentam chegar ao seu destino final e quem sabe conquistar uma bolada de dinheiro. Aqui, a trama é um tipo de requentado, formado por características de produções como O Vencedor, Virando o Jogo, O Campeão, O Trambique do Século e tantos outros. Sem uma premissa original, o drama parece estar à deriva dentro do gênero em que ousou se encaixar.

O novo filme de Max Winkler tem o seu valor, mas corre sérios riscos de perecer como mais um longa blasé, que traz aquele cara excepcional de Sons of Anarchy, sobre como a vida é dura quando se passa o tempo inteiro dando nó em pingo d’água. Explorando o cenário esportivo do boxe e aqueles urubus que insistem em contaminar o esporte com apostas ilegais, acordos e compra e venda de resultados, a produção peca em sua falta de criatividade e autenticidade. Para uma audiência mais desavisada e pouco preocupada com algo mais extraordinário, o drama funciona como uma refeição bem básica, não acrescenta novos sabores e não te estimula a continuar se alimentando de sua narrativa. Para um público cinematograficamente mais maduro, seus raros momentos de deleite são efêmeros e apáticos demais para sequer serem lembrados. Com um roteiro bem óbvio, as ações de seus personagens são previsíveis e predestinadas, permitindo que o cinéfilo monte o quebra cabeça de maneira quase integral até o final da primeira metade do filme.

Trazendo Charlie Hunnam profundamente dedicado à sua atuação, ele segue encantador como aquele ator que merece muito mais valor do que já lhe é devido e faz de Jungleland um filme centralizado em seu comportamento egoísta, doentio e egocêntrico. Como um personagem que necessariamente mete os pés pelas mãos em quase todas as cenas, sua caracterização ainda é capaz de gerar uma doce e serena empatia. Ele até tenta fazer a coisa certa, mas parece que ninguém o ensinou corretamente por onde começar. Sua performance naturalmente brilha, fazendo de Jack O’Connell, intérprete do irmão caçula/boxeador, um coadjuvante que às vezes passa despercebido. Orbitando ao redor deles está Jessica Barden, da série The End of The F***ing World, uma adição que não possui metade do peculiar carisma de sua interpretação da produção original da Netflix.

Se esforçando tecnicamente para garantir uma boa direção, Winkler acerta em sua abordagem simples, que explora ambientes noturnos e sabe fazer um bom uso das luzes artificiais e naturais quando necessários. Mas ainda que tente fazer do filme uma experiência memorável, digna dos grandes sucessos que passam por festivais como o próprio TIFF, Jungleland fica a ver navios, é uma colcha de retalhos que copia referências – ao invés de homenageá-las, e faz de Hunnam sua base de apoio para tentar atrair o sucesso. Simplório demais para ser lembrado, o filme serve de fato como uma boa lembrança de tantos outros dramas do gênero que já tivemos a oportunidade de conferir. E em um mundo onde até mesmo o spin-off Creed: Nascido Para Lutar consegue trazer o mesmo vigor e originalidade que Rocky nos apresentou em 1976, nem será necessário fazer muito esforço para se esquecer de Jungleland.

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