Adam Sandler é um ator majoritariamente conhecido por interpretar papéis em filmes de comédia bobeirol. Tendo dedicado a maior parte da carreira em filmes de gosto duvidoso, mas com grande apelo popular, de vez em quando ele dá uma sacudida na carreira e surpreende ao público e à crítica com um filme emocionante, como ocorreu anos atrás com ‘Click’ e, mais recentemente, com ‘Joias Brutas’, na Netflix. Depois de dois longas com a gigante do streaming em que contracena fazendo mais do mesmo com Jennifer Aniston, eis que agora o ator volta a nos abismar ao emprestar a voz ao protagonista do longa de animação ‘Leo’, que já está disponível na plataforma.
Aos 74 anos o camaleão Leo (Adam Sandler) tem o sonho de conhecer o mundo, mas sempre procrastina tudo, afinal, vive em um aquário numa escola junto com seu amigo Squirtle (na voz de Bill Burr), uma tartaruga ranzinza e idosa que nem ele. Por serem bichinhos de estimação da escola os dois aprenderam muitas coisas ao longo dos anos, assistindo as aulas do último ano do ensino fundamental dos seres humanos. Certo dia, Leo aprende que a vida de um camaleão vai até os 75 anos de idade. Ao perceber que só tem mais um ano de vida Leo fica desesperado para realizar seu sonho de conhecer o Everglades, onde, acredita, é o paraíso dos animais livres. Quando chega sexta-feira a professora substituta escolhe uma criança para levar uma das duas mascotes para casa, tendo como tarefa cuidar dele ao longo do fim de semana. Ao chegar na casa da menina, Leo percebe que ela é cheia de insegurança e que precisa de ajuda. Mesmo se colocando em risco por revelar seu segredo de conseguir entender os humanos, Leo conversa com a menina, compartilhando sua experiência. Aos poucos o camaleão começa a ser super requisitado pelas crianças todo final de semana, e, assim, essas saídas da escola se tornam oportunidades pra ele tentar fugir e realizar o seu sonho de ser livre.
Despretensioso, ‘Leo’ é um filme que te pega de surpresa e de repente desperta emoções com as quais você não estava preparado para lidar ao sentar para assistir a um longa de animação que tem uma tartaruga e um camaleão como protagonistas. Numa vibe meio ‘Divertida Mente’, o roteiro de Robert Smigel, Adam Sandler e Paul Sado joga luz sobre as angústias dos pré-adolescentes em uma sociedade que não os ouve e que lhes cobra comportamentos e posturas, forçando-os a esconderem seus medos.
O belo no filme de Robert Marianetti, Robert Smigel e David Wachtenheim reside no fato de ele trazer uma mensagem tão tocante, colocando duas gerações convivendo juntas, mostrando o tempo todo como é possível sempre estarmos aprendendo, seja com os mais velhos, seja com os mais jovens. Tudo isso é apresentado por uma roupagem levemente dramática, que constantemente é suavizada com toques de humor, especialmente na relação de ciúme e deboche entre os dois amigos animais. Pela metáfora fabulesca, a sabedoria do mais velho conforta até mesmo o espectador.
‘Leo’ é um filme divertido, emocionante e extremamente profundo sem se esforçar em sê-lo. Dessas histórias que ficam no nosso coração mesmo depois de muito tempo. Uma aposta certa da Netflix na categoria animação para o Oscar 2024.