sexta-feira, abril 26, 2024

Crítica Netflix | Emily em Paris – Segunda temporada evolui porém se mantém como um prazer culposo

Após uma fervorosa e polêmica primeira temporada, Emily em Paris volta à Netflix, neste 22 de dezembro, exatamente a partir do episódio final. A boa notícia é que os produtores e os roteiristas deram ouvidos às reclamações do público e diminuíram a avalanche de clichês. Assim como o enfadonho triângulo amoroso entre Emily (Lily Collins), Gabriel (Lucas Bravo) e Camille (Camille Razat) não toma toda a história, apesar de persistir entre os 10 episódios. 

Passado o deslumbre inicial de Emily, o enredo tenta estabelecer mais verossimilhanças, como, por exemplo, as dificuldades da protagonista por ainda não falar francês. De volta às aulas do nível A1, a publicitária encontra uma colega de Kiev, na Ucrânia, e um bancário londrino em transição após o Brexit. Esses são alguns dos personagens que tornam o enredo mais pautado na realidade do que no glamour “instagramável” da primeira temporada. 

Episódio 2.09 de Emily em Paris. Cr. Stéphanie Branchu/Netflix © 2021

Aliás, o vital Instagram de Emily torna-se coadjuvante para dar mais espaço aos personagens humanos ao redor dela. Ainda que a protagonista continue autocentrada, sua amiga Mindy Chen (Ashley Park) ganha mais camadas em busca de se reinventar como cantora fora da China. Sem permissão de trabalho na França, ela se vira com gorjetas num bar e alguns trocados de performances numa banda de rua. A propósito, uma das melhores cenas dessa temporada é sua apresentação ao lado de Benôit (Kevin Dias) uma ótima soma ao elenco para a canção Falling Slowly, de Glen Hansard e Markéta Irglová, do filme Once – Apenas uma Vez (2008).

Outra boa escolha dessa temporada é o maior aproveitamento da cultura europeia em traços do cotidiano. A graça de misturar a visão contemporânea com símbolos clássicos, sem recorrer a lugares-comuns, é um brinde aos apaixonados pelo cinema dos anos 1960, com alusões a Jules e Jim: Uma Mulher Para Dois (1962), de François Truffaut, e La Dolce Vita (1960), de Federico Fellini. Além de destacar como os países da União Europeia trabalham juntos e, portanto, os europeus costumam falar vários idiomas, temos um fotógrafo holandês, um outro alemão e até alguns diálogos em italiano são pronunciados por Sylvie (Philippine Leroy-Beaulieu).

Lily Collins (Emily), William Abadie (Antoine Lambert), e Ashley Park (Mindy) no episódio 2.06 de Emily em Paris. Cr. Stéphanie Branchu/Netflix © 2021

Assim, a chefona da agência Savoir ganha mais destaque na sua vida pessoal, com dois novos casos, um do passado (Arnaud Binard) e outro no presente (Søren Bregendal). Os colegas de trabalho Luc (Bruno Gouery) e Julien (Samuel Arnold), no entanto, persistem na sombra, tal como o passado de Gabriel. Se o seriado melhorou em aspectos culturais, a vida pessoal de Emily não avançou da mesma maneira. A protagonista permanece sem brilho, apesar dos looks chamativos, na cidade luz e seu profissionalismo é questionável, apesar de ser exaltado como excepcional no seriado.  

De um lado, os personagens franceses agora falam francês entre si, o que dá mais visibilidade à intérprete de Camille, e, finalmente, faz Emily sentir-se perdida, tal como no mundo real. Por outro lado, a mítica Paris está ainda presente e novos pontos turísticos entram em cena, como o cemitério de Père Lachaise (onde estão enterrados Edith Piaf, Chopin, Balzac, etc), La Place de Vosges (onde morou Victor Hugo), a Fontaine de Saint Michel, o Palácio de Versalhes, além de uma pequena ida à região de Côte-d’Azur, no sul da França. 

Lily Collins (Emily) e Lucas Bravo (Gabriel) no episódio 2.06 de Emily em Paris. Cr. Stéphanie Branchu/Netflix © 2021

O lado mágico de Paris, entretanto, passa a ser mais realista com a chegada de Alfie (Lucien Laviscount), um britânico crítico à imagem parisiense. Ele coloca em palavras a crítica feita por todos os espectadores à série: Paris é um ótimo produto de marketing, mas falso quando consumido. De acordo com o personagem, a sua cidade natal Londres é autêntica, ela não vende amor e encantamento, mas continua sendo um dos locais mais turísticos do mundo. 

O que é que o showrunner Darren Star (Younger) quer dizer com isso? Emily em Paris é la vie en rose porque é vista por essa perspectiva sonhadora. Este ponto, aliás, é inserido no roteiro e reiterado algumas vezes. A segunda temporada, portanto, defende o seu olhar de que a Torre Eiffel iluminada à noite vista do rio Sena continua ser um espetáculo inebriante, não importa o quanto a cidade seja, na verdade, suja e os habitantes sejam mal humorados. 

Philippine Leroy-Beaulieu (Sylvie), Samuel Arnold (Julien), Bruno Gouery (Luc) e Lily Collins (Emily) no episódio 2.06 de Emily em Paris. Cr. Stéphanie Branchu/Netflix © 2021

Em outras palavras, Emily em Paris tenta fazer as pazes com os franceses e apresenta a sua protagonista sob um ponto de vista mais reflexivo. Quando Madeline (Kate Walsh), a chefa estadunidense grávida, chega em Paris, a jovem volta a sua essência de boa soldado, ou seja, apenas uma funcionária metódica. Enquanto, por exemplo, Gabriel dá voos como um novo chef de um restaurante parisiense e Mindy reencontra o prazer de cantar em público. 

Não deixe de assistir:

Com a vida amorosa ainda na balança e uma difícil decisão profissional, Emily chega ao fim de cinco horas de espetáculo com a possibilidade de uma continuação. A questão pendente é se vale a pena seguir nessa aventura ao seu lado, já que ela está longe de ser uma Carrie Bradshaw (personagem icône de Sex and the City). Em suma, Lily Collins/Emily precisa mostrar mais que o seu entusiasmo de estar em Paris para nos convencer a ficar.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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