terça-feira , 3 dezembro , 2024

Crítica Netflix | Camaleões – Benicio Del Toro lidera MORNA Investigação Policial com Justin Timberlake

Cenas de um casal em crise se desenrolam nos primeiros minutos de Camaleões (Reptile), primeiro longa-metragem do estadunidense Grant Singer, conhecido por conduzir videoclipes de celebridades do mundo pop. O diálogo entre o casal não existe, Will Grant (Justin Timberlake) tenta em vão aproximar-se de Summer (Matilda Lutz), mas a frieza, as camas separadas e as ausências mostram que algo não está dentro dos conformes. Ambos são corretores de imóveis e as residências vazias são esconderijos dos segredos e a metáfora do vácuo entre eles até um crime acontecer.

Antes de tornar-se vítima numa investigação policial, Summer encontra uma casca de serpente no domicílio à venda, entre o literal e a metáfora, o roteiro — escrito a seis mãos: Grant Singer, Benjamin Brewer e Benicio Del Toro — coloca em evidência um perigo iminente para a jovem. Como esperado, o “réptil” do título é o suspeito do assassinado. Com 13 facadas, vestígios de sêmen e lesões pelo corpo, o crime parece ser um caso passional, ou seja, realizado por um parceiro sexual. 



Para resolver o mistério e encontrar o culpado, o capitão da polícia de Scarborough Robert Allen (Eric Bogosian), designa o sério detetive Tom Nichols (Benicio Del Toro) e o ajudante Dan Cleary (Ato Essandoh) para a investigação. Aparentemente abalado, Will confessa ter tido brigas com a namorada, ainda casada legalmente com o ex-marido Sam Gifford (Karl Glusman) e, portanto, um dos principais suspeitos. 

Para dar gás à narrativa, Michael Pitt (Os Sonhadores) incorpora um vizinho alucinado, vingativo e traumatizado pela família de Grant. Em uma interpretação exótica, o personagem serve de despistagem e, posteriormente, pontes para a solução dos mistérios. Em um percurso de desenganos, falsas interpretações e mortes por conta da ganância, Camaleões tem uma condução lenta e contemplativa. 

O detetive Nichols é pintado como homem de virtude, apaixonado pela esposa Judy Nichols (Alicia Silverstone) e incapaz de traí-la mesmo quando a oportunidade bate à porta. Já os seus companheiros de profissão apresentam caráter mais duvidoso, seja pelas falas, seja pelas atitudes. De forma bem dualista, o roteiro desenha condutas de mocinhos e vilões. 

Com algumas descobertas fáceis, outras forçadas e pistas bastante chamativas, Grant Singer deseja criar uma trama com a marca de David Fincher, porém acerta nos romances policiais de bancas de jornais. Desse modo, o longa apresentado no TIFF 2023, e distribuído pela Netflix, consegue manter o espectador interessado nas ações do seu protagonista de impecável reputação, porém não apresenta cenas marcantes ou momentos surpreendentes. 

Como uma produção inicial, Camaleões pode ser considerado uma boa tentativa de filmes de gênero, contudo poderia ter uma cena de confronto final melhor trabalhada e um roteiro menos mastigado. Sendo um lançamento Netflix, é possível compará-lo com o insosso suspense tragicômico Sorte de Quem? (2022), de Charlie McDowell, que mesmo com um bom elenco [Jesse Plemons, por exemplo], não consegue empolgar e torna-se uma experiência deletável. 

Apesar da presença de Benicio Del Toro e um apagado Justin Timberlake, Camaleões é um filme básico de detetives envolvidos em traições e reviravoltas dentro de uma pequena atmosfera da classe média suburbana norte-americana.

Uma pena que a talentosa atriz italiana Matilda Lutz — do maravilhoso filme Vingança (2017), de Coralie Fargeat, — tenha apenas segundos de tela. O crime inicial torna-se pano de fundo para dar espaço a uma investigação sobre a conduta nada ilibada da polícia estadunidense e dos seus cidadãos de bens da classe média, os camaleões. 

 

Camaleões estreou mundialmente em setembro no Festival Internacional de Cinema de Toronto – TIFF. No Brasil, o longa estará disponível na Netflix a partir de 29 de setembro de 2023. 

Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Cenas de um casal em crise se desenrolam nos primeiros minutos de Camaleões (Reptile), primeiro longa-metragem do estadunidense Grant Singer, conhecido por conduzir videoclipes de celebridades do mundo pop. O diálogo entre o casal não existe, Will Grant (Justin Timberlake) tenta em vão aproximar-se de Summer (Matilda Lutz), mas a frieza, as camas separadas e as ausências mostram que algo não está dentro dos conformes. Ambos são corretores de imóveis e as residências vazias são esconderijos dos segredos e a metáfora do vácuo entre eles até um crime acontecer.

Antes de tornar-se vítima numa investigação policial, Summer encontra uma casca de serpente no domicílio à venda, entre o literal e a metáfora, o roteiro — escrito a seis mãos: Grant Singer, Benjamin Brewer e Benicio Del Toro — coloca em evidência um perigo iminente para a jovem. Como esperado, o “réptil” do título é o suspeito do assassinado. Com 13 facadas, vestígios de sêmen e lesões pelo corpo, o crime parece ser um caso passional, ou seja, realizado por um parceiro sexual. 

Para resolver o mistério e encontrar o culpado, o capitão da polícia de Scarborough Robert Allen (Eric Bogosian), designa o sério detetive Tom Nichols (Benicio Del Toro) e o ajudante Dan Cleary (Ato Essandoh) para a investigação. Aparentemente abalado, Will confessa ter tido brigas com a namorada, ainda casada legalmente com o ex-marido Sam Gifford (Karl Glusman) e, portanto, um dos principais suspeitos. 

Para dar gás à narrativa, Michael Pitt (Os Sonhadores) incorpora um vizinho alucinado, vingativo e traumatizado pela família de Grant. Em uma interpretação exótica, o personagem serve de despistagem e, posteriormente, pontes para a solução dos mistérios. Em um percurso de desenganos, falsas interpretações e mortes por conta da ganância, Camaleões tem uma condução lenta e contemplativa. 

O detetive Nichols é pintado como homem de virtude, apaixonado pela esposa Judy Nichols (Alicia Silverstone) e incapaz de traí-la mesmo quando a oportunidade bate à porta. Já os seus companheiros de profissão apresentam caráter mais duvidoso, seja pelas falas, seja pelas atitudes. De forma bem dualista, o roteiro desenha condutas de mocinhos e vilões. 

Com algumas descobertas fáceis, outras forçadas e pistas bastante chamativas, Grant Singer deseja criar uma trama com a marca de David Fincher, porém acerta nos romances policiais de bancas de jornais. Desse modo, o longa apresentado no TIFF 2023, e distribuído pela Netflix, consegue manter o espectador interessado nas ações do seu protagonista de impecável reputação, porém não apresenta cenas marcantes ou momentos surpreendentes. 

Como uma produção inicial, Camaleões pode ser considerado uma boa tentativa de filmes de gênero, contudo poderia ter uma cena de confronto final melhor trabalhada e um roteiro menos mastigado. Sendo um lançamento Netflix, é possível compará-lo com o insosso suspense tragicômico Sorte de Quem? (2022), de Charlie McDowell, que mesmo com um bom elenco [Jesse Plemons, por exemplo], não consegue empolgar e torna-se uma experiência deletável. 

Apesar da presença de Benicio Del Toro e um apagado Justin Timberlake, Camaleões é um filme básico de detetives envolvidos em traições e reviravoltas dentro de uma pequena atmosfera da classe média suburbana norte-americana.

Uma pena que a talentosa atriz italiana Matilda Lutz — do maravilhoso filme Vingança (2017), de Coralie Fargeat, — tenha apenas segundos de tela. O crime inicial torna-se pano de fundo para dar espaço a uma investigação sobre a conduta nada ilibada da polícia estadunidense e dos seus cidadãos de bens da classe média, os camaleões. 

 

Camaleões estreou mundialmente em setembro no Festival Internacional de Cinema de Toronto – TIFF. No Brasil, o longa estará disponível na Netflix a partir de 29 de setembro de 2023. 

Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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