sábado , 21 dezembro , 2024

Crítica | O Assassino – David Fincher entrega suspense intimista, PERTURBADOR e cômico

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Como é estar na mente de um assassino em série profissional? Após as obras-primas de jogos macabros da mente humana, como o original Seven – Os Sete crimes Capitais (1995) e as adaptações Clube da Luta (1999), Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres (2011) e Garota Exemplar (2014)  para citar algumas  , David Fincher apresenta uma trajetória pela consciência de um matador em O Assassino (The Killer), protagonizado por Michael Fassbender (Shame). 

Adaptação do graphic novel  Le Tueur, dos franceses Luc Jacamon & Matz, o longa ousa em colocar o espectador em constante desconforto sonoro e, algumas vezes, visual. O enredo, no entanto, é permeado de surpreendentes momentos cômicos, os quais as singelas piadas e tiradas funcionam perfeitamente com os acontecimentos e os jogos de cena entre os atores. 



Com os 20 minutos iniciais apenas com a narração em off da consciência do matador (Fassbender), O Assassino parece à primeira vista arrastado ao demorar a colocar o espectador dentro do seu ambiente caótico, com pinceladas do jogo visual de Janela Indiscreta (1954), de Alfred Hitchcock. Em Paris, o homicida disfarça-se de turista e nos faz acompanhar todos os seus pensamentos, digressões e metodologia de trabalho, isto é, ele não se sente como um vilão maldoso, mas nem particularmente gentil. 

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Para cumprir suas “tarefas”, o protagonista segue regras básicas e precisas, como concentração no objeto de abate, não ter empatia com as pessoas ao redor e nunca entrar em brigas sem ser pago. Aos poucos, essas regras ganham novos contornos e nos aprofundamos nas intenções e na mente de uma pessoa “normal”, porém fatal aos seus inimigos. 

O ponto de vista da câmera   intencionalmente incômodo muda constantemente da perspectiva do assassino ao plano inteiro da ação. Um modo conveniente de perturbar o público ao colocá-lo na mente transtornada do assassino e de dificultar uma possível empatia pelo personagem. Michael Fassbender encontra o ponto de balanço certeiro em sua interpretação fria e sutilmente jocosa.

Após cometer o equívoco de puxar o gatilho por alguns milésimos de segundos e errar o seu alvo, o assassino desencadeia uma onda de caos e reparação do seu próprio sistema de recompensas. De frio, distante e calculista, o matador de aluguel passa a ser um homem com uma missão em defesa de sua tranquilidade quando o seu ciclo de matança vira-se contra ele. 

Sem uma identidade, o protagonista é chamado pelos nomes Lou, Félix, Oscar, entre outros, com carteiras de motoristas e passaportes de diferentes nacionalidades. Com um perfil de agente secreto, como Ethan Hunt, Jason Bourne e James Bond, o matador em questão trabalha sozinho e apresenta uma facilidade de obtenção de documentos e armas como John Wick. 

Dessa vez a fúria não é despertada por causa do asassinato de um cachorro, mas de uma agressão desproporcional da namorada do sujeito. As comparações com outros famosos matadores profissionais param por aqui, porque O Assassino é um suspense mais intimista e não oferece cenas perseguições em alta velocidade ou lutas dentro, em baixo ou em cima de trens. 

Nesta produção, as cenas de ação exacerbadas são substituídas por um monólogo constante da consciência do protagonista sobre suas escolhas em momentos chaves. Em diversas situações, os planos do assassino são frustrados e ele precisa improvisar para conseguir os seus objetivos com os meios disponíveis ao seu redor. Esses momentos funcionam como alívios cômicos numa trama de paulatina tensão. 

Dividido em capítulos, a narrativa segue o matador na caçada dos agressores (Tilda Swinton e Sala Baker) da sua companheira no seu refúgio particular na República Dominicana. Além da Europa e América Central, o personagem passa por Nova Orleans, Flórida, Nova York e Chicago. Depois de obter a descrição dos espancadores de Magdala (Sophie Charlotte), ele faz muita gente, culpada ou não, pagar pela sua dor e quebra a sua regra de não ter empatia pelas pessoas. 

Embora seja rápida — apenas duas cenas —, a participação da atriz brasileira na produção de David Fincher é importante. A personagem é a pivô da trajetória de vingança. Além disso, a sua cena no hospital é bastante intensa e emotiva. Um bom começo para os próximos passos de Sophie Charlotte (Meu nome é Gal) no cinema internacional. O desejo de mais cenas entre ela e Michael Fassbender, entretanto, permanece. 

Enquanto David Fincher continua seu contrato com a Netflix, e a terceira temporada de MindHunter (2017-2019) nunca verá a luz do dia, podemos apreciar sua verve impiedosa de brutalidade, suspense e humor ácido em O Assassino. Com um final redentor e algumas facilidades do roteiro, o projeto fica aquém dos seus títulos mais conhecidos, porém muito mais envolvente do que seu último filme em parceria com a plataforma, Mank (2020). 

O Assassino tem previsão de estreia para 26 de outubro em cinemas selecionados e em 10 de novembro na Netflix no Brasil. Lançado em setembro no Festival de Cinema de Veneza 2023, o filme foi visto na pré-estreia de 13 de outubro na Cinémathèque Française em Paris. 

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Adaptação do graphic novel  Le Tueur, dos franceses Luc Jacamon & Matz, o longa ousa em colocar o espectador em constante desconforto sonoro e, algumas vezes, visual. O enredo, no entanto, é permeado de surpreendentes momentos cômicos, os quais as singelas piadas e tiradas funcionam perfeitamente com os acontecimentos e os jogos de cena entre os atores. 

Com os 20 minutos iniciais apenas com a narração em off da consciência do matador (Fassbender), O Assassino parece à primeira vista arrastado ao demorar a colocar o espectador dentro do seu ambiente caótico, com pinceladas do jogo visual de Janela Indiscreta (1954), de Alfred Hitchcock. Em Paris, o homicida disfarça-se de turista e nos faz acompanhar todos os seus pensamentos, digressões e metodologia de trabalho, isto é, ele não se sente como um vilão maldoso, mas nem particularmente gentil. 

Para cumprir suas “tarefas”, o protagonista segue regras básicas e precisas, como concentração no objeto de abate, não ter empatia com as pessoas ao redor e nunca entrar em brigas sem ser pago. Aos poucos, essas regras ganham novos contornos e nos aprofundamos nas intenções e na mente de uma pessoa “normal”, porém fatal aos seus inimigos. 

O ponto de vista da câmera   intencionalmente incômodo muda constantemente da perspectiva do assassino ao plano inteiro da ação. Um modo conveniente de perturbar o público ao colocá-lo na mente transtornada do assassino e de dificultar uma possível empatia pelo personagem. Michael Fassbender encontra o ponto de balanço certeiro em sua interpretação fria e sutilmente jocosa.

Após cometer o equívoco de puxar o gatilho por alguns milésimos de segundos e errar o seu alvo, o assassino desencadeia uma onda de caos e reparação do seu próprio sistema de recompensas. De frio, distante e calculista, o matador de aluguel passa a ser um homem com uma missão em defesa de sua tranquilidade quando o seu ciclo de matança vira-se contra ele. 

Sem uma identidade, o protagonista é chamado pelos nomes Lou, Félix, Oscar, entre outros, com carteiras de motoristas e passaportes de diferentes nacionalidades. Com um perfil de agente secreto, como Ethan Hunt, Jason Bourne e James Bond, o matador em questão trabalha sozinho e apresenta uma facilidade de obtenção de documentos e armas como John Wick. 

Dessa vez a fúria não é despertada por causa do asassinato de um cachorro, mas de uma agressão desproporcional da namorada do sujeito. As comparações com outros famosos matadores profissionais param por aqui, porque O Assassino é um suspense mais intimista e não oferece cenas perseguições em alta velocidade ou lutas dentro, em baixo ou em cima de trens. 

Nesta produção, as cenas de ação exacerbadas são substituídas por um monólogo constante da consciência do protagonista sobre suas escolhas em momentos chaves. Em diversas situações, os planos do assassino são frustrados e ele precisa improvisar para conseguir os seus objetivos com os meios disponíveis ao seu redor. Esses momentos funcionam como alívios cômicos numa trama de paulatina tensão. 

Dividido em capítulos, a narrativa segue o matador na caçada dos agressores (Tilda Swinton e Sala Baker) da sua companheira no seu refúgio particular na República Dominicana. Além da Europa e América Central, o personagem passa por Nova Orleans, Flórida, Nova York e Chicago. Depois de obter a descrição dos espancadores de Magdala (Sophie Charlotte), ele faz muita gente, culpada ou não, pagar pela sua dor e quebra a sua regra de não ter empatia pelas pessoas. 

Embora seja rápida — apenas duas cenas —, a participação da atriz brasileira na produção de David Fincher é importante. A personagem é a pivô da trajetória de vingança. Além disso, a sua cena no hospital é bastante intensa e emotiva. Um bom começo para os próximos passos de Sophie Charlotte (Meu nome é Gal) no cinema internacional. O desejo de mais cenas entre ela e Michael Fassbender, entretanto, permanece. 

Enquanto David Fincher continua seu contrato com a Netflix, e a terceira temporada de MindHunter (2017-2019) nunca verá a luz do dia, podemos apreciar sua verve impiedosa de brutalidade, suspense e humor ácido em O Assassino. Com um final redentor e algumas facilidades do roteiro, o projeto fica aquém dos seus títulos mais conhecidos, porém muito mais envolvente do que seu último filme em parceria com a plataforma, Mank (2020). 

O Assassino tem previsão de estreia para 26 de outubro em cinemas selecionados e em 10 de novembro na Netflix no Brasil. Lançado em setembro no Festival de Cinema de Veneza 2023, o filme foi visto na pré-estreia de 13 de outubro na Cinémathèque Française em Paris. 

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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