domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | O Chef – Plano Sequência Explosivo dos Bastidores de Glamour Gastronômico

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Angústia. Este é o sentimento que resume a experiência dos 92 minutos sem cortes de O Chef (Boiling Point, no original), do britânico Philip Barantini

Estrelado por Stephen Graham (da série Peaky Blinders), O Chef é a extensão de um curta-metragem do mesmo diretor de 2019. A audácia do projeto é acompanhar uma noite em um restaurante chique e todos os conflitos do ambiente em plano sequência. Isto é, a câmera não descola “os olhos” da ação nem por um segundo. E, claro, o público igualmente.



Se a narrativa de guerra 1917 (2019), de Sam Mendes, prometia um filme em plano sequência, mas apresentou um produto com cortes escondidos, uns mais evidentes que outros. O Chef, por outro lado, promete e entrega um material visceral. Para ter uma ideia, a produção realizou quatro tomadas diretas e a terceira delas é a que vemos em tela. 

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Tudo começa com a chegada do chef Andy Jones (Stephen Graham) ao estabelecimento, minutos antes da abertura. Pela mise en scène de Philip Barantini, é possível sentir um clima hostil e pesado sobre o capitão da locomotiva gourmet. Garrafas de álcool no escritório, chamadas realizadas que sempre vão a caixa postal, olhos turvos, ou seja, a vida de Andy não parece bem. Do escritório para a cozinha, ele começa a tentar colocar as coisas em ordem. 

Sua maneira de falar com os ajudantes é agressiva, alguns são inexperientes, mas esforçados, outros nem tanto. Dentro deste microambiente, o roteiro desvela várias camadas e expressivos personagens. Mesmo que os problemas e o estresse do chef estejam no centro da narrativa, todos os outros trabalhadores têm os seus dilemas explorados. 

Paulatinamente as conversas e as cobranças vão ganhando pressão e começam a chegar ao ponto de ebulição (aliás, esta é tradução literal do título original). Desde a lavadora de pratos, passando pela subchefe Carly, o barman, as garçonetes e a gerente, todos estão sob uma devastadora tensão de apresentar um serviço perfeito, enquanto estão destruídos por dentro. 

Carly (Vinette Robinson) sente-se desvalorizada apesar de segurar a barra da cozinha inteira, enquanto Andy anda aéreo com seus problemas pessoais. Ela pede um aumento a fim de recusar a proposta de outro estabelecimento, ele é o responsável por passar o pedido à gerente Beth (Alice Feetham), filha do proprietário. 

Pela perspectiva da jovem manager, ela carrega o peso de reganhar uma estrela perdida após uma desastrosa auditoria. Ali, estão as mulheres se redobrando para conseguir mostrar um bom trabalho, enquanto os homens nem tanto, um dos auxiliares, por exemplo, some durante minutos para fumar um beck nos fundo do restaurante. 

Sem falar do tratamento dos clientes com as garçonetes. Os pedidos customizados de alguns deles, a má educação de outros, racismo, soberba, cada mesa é um drama. É palpável o sentimento de desconforto de uma das empregadas com assédio de um grupo de amigos no recinto.

O cenário de candelabros ao teto e velas à mesa com taças de vinho e champanhe dão um tom de ambiente aconchegante, O Chef, no entanto, mostra o sangue fervendo por várias artérias. A cereja do bolo é a presença de uma crítica gastronômica (Lourdes Faberes) e do ex-sócio de Andy (Jason Flemyng) no salão a fim de mexer ainda mais com as emoções do protagonista e de toda a equipe. 

São tantos sentimentos em jogo e a câmera não nos deixa respirar nem um segundo, que o ponto de ebulição cria uma real sensação de estafa e aflição. Depois uma paulada atrás da outra, o diretor e roteirista Philip Barantini consegue apresentar um reflexo da sociedade britânica (e do mundo) dentro do microcosmo de um restaurante. As relações de poder e as recompensas por meio da duvidosa meritocracia e do verdadeiro pré-julgamento social estão todos colocados em cena.

** O Chef estreia dia 1º de setembro de 2022 nos cinemas do Brasil. A partir de 27 de agosto, o filme está em pré-estreia em algumas cidade.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Angústia. Este é o sentimento que resume a experiência dos 92 minutos sem cortes de O Chef (Boiling Point, no original), do britânico Philip Barantini

Estrelado por Stephen Graham (da série Peaky Blinders), O Chef é a extensão de um curta-metragem do mesmo diretor de 2019. A audácia do projeto é acompanhar uma noite em um restaurante chique e todos os conflitos do ambiente em plano sequência. Isto é, a câmera não descola “os olhos” da ação nem por um segundo. E, claro, o público igualmente.

Se a narrativa de guerra 1917 (2019), de Sam Mendes, prometia um filme em plano sequência, mas apresentou um produto com cortes escondidos, uns mais evidentes que outros. O Chef, por outro lado, promete e entrega um material visceral. Para ter uma ideia, a produção realizou quatro tomadas diretas e a terceira delas é a que vemos em tela. 

Tudo começa com a chegada do chef Andy Jones (Stephen Graham) ao estabelecimento, minutos antes da abertura. Pela mise en scène de Philip Barantini, é possível sentir um clima hostil e pesado sobre o capitão da locomotiva gourmet. Garrafas de álcool no escritório, chamadas realizadas que sempre vão a caixa postal, olhos turvos, ou seja, a vida de Andy não parece bem. Do escritório para a cozinha, ele começa a tentar colocar as coisas em ordem. 

Sua maneira de falar com os ajudantes é agressiva, alguns são inexperientes, mas esforçados, outros nem tanto. Dentro deste microambiente, o roteiro desvela várias camadas e expressivos personagens. Mesmo que os problemas e o estresse do chef estejam no centro da narrativa, todos os outros trabalhadores têm os seus dilemas explorados. 

Paulatinamente as conversas e as cobranças vão ganhando pressão e começam a chegar ao ponto de ebulição (aliás, esta é tradução literal do título original). Desde a lavadora de pratos, passando pela subchefe Carly, o barman, as garçonetes e a gerente, todos estão sob uma devastadora tensão de apresentar um serviço perfeito, enquanto estão destruídos por dentro. 

Carly (Vinette Robinson) sente-se desvalorizada apesar de segurar a barra da cozinha inteira, enquanto Andy anda aéreo com seus problemas pessoais. Ela pede um aumento a fim de recusar a proposta de outro estabelecimento, ele é o responsável por passar o pedido à gerente Beth (Alice Feetham), filha do proprietário. 

Pela perspectiva da jovem manager, ela carrega o peso de reganhar uma estrela perdida após uma desastrosa auditoria. Ali, estão as mulheres se redobrando para conseguir mostrar um bom trabalho, enquanto os homens nem tanto, um dos auxiliares, por exemplo, some durante minutos para fumar um beck nos fundo do restaurante. 

Sem falar do tratamento dos clientes com as garçonetes. Os pedidos customizados de alguns deles, a má educação de outros, racismo, soberba, cada mesa é um drama. É palpável o sentimento de desconforto de uma das empregadas com assédio de um grupo de amigos no recinto.

O cenário de candelabros ao teto e velas à mesa com taças de vinho e champanhe dão um tom de ambiente aconchegante, O Chef, no entanto, mostra o sangue fervendo por várias artérias. A cereja do bolo é a presença de uma crítica gastronômica (Lourdes Faberes) e do ex-sócio de Andy (Jason Flemyng) no salão a fim de mexer ainda mais com as emoções do protagonista e de toda a equipe. 

São tantos sentimentos em jogo e a câmera não nos deixa respirar nem um segundo, que o ponto de ebulição cria uma real sensação de estafa e aflição. Depois uma paulada atrás da outra, o diretor e roteirista Philip Barantini consegue apresentar um reflexo da sociedade britânica (e do mundo) dentro do microcosmo de um restaurante. As relações de poder e as recompensas por meio da duvidosa meritocracia e do verdadeiro pré-julgamento social estão todos colocados em cena.

** O Chef estreia dia 1º de setembro de 2022 nos cinemas do Brasil. A partir de 27 de agosto, o filme está em pré-estreia em algumas cidade.

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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