sexta-feira, abril 26, 2024

Crítica | Os Espetaculares – Comédia com Rafael Portugal e Luísa Perissé lançada no Amazon Prime

Saber se uma produção cômica foi exitosa é fácil, basta notar o quanto você riu durante a apresentação. Lançado direto via streaming do Amazon Prime Video por conta da pandemia da Covid-19, Os Espetaculares, de André Pellenz (Minha Mãe é Uma Peça), faz graça com a carreira de comediante de palco sob a perspectiva do experiente Ed Lima (Paulo Mathias Jr.), o frustrado Ítalo (Rafael Portugal) e a iniciante Sara (Luísa Perissé). Logo, há tiradas humoradas por todos os lados, porém isso não significa gargalhadas o tempo inteiro. 

Verdade seja dita, o elenco é ótimo, exceto algumas caracterizações forçadas, mas o tom das piadas é do início do Zorra Total, da TV Globo. Para não polemizar a história, as chacotas ficaram longe das crises sociais e políticas brasileiras. Os bordões mais atuais são sobre namoro por aplicativo e a exagerada conectividade do jovem à internet, de resto fica a sensação de “já ouvi isso em algum outro lugar”. 

Para dar um ar mais carismático, porém, incômodo, Os Espetaculares é todo narrado em off pelo filho de 12 anos (DJ Amorim) do comediante Ed Lima. O ator mirim é talentoso, no entanto, a narrativa exacerbada é desgastante até mesmo para os curtos 87 minutos de filme. Além disso, os dizeres do menino não se encaixam exatamente aos acontecimentos em tela. Ele descreve viver uma crise existencial, menciona Freud, Lacan e Jung, mas o seu cotidiano é de uma criança privilegiada comum, mesmo com a separação dos pais e as dúvidas sobre a profissão paterna.

Encarregado de gravar um vídeo com as apresentações de Ed Lima e os seus colegas para participarem de um concurso, o pré-adolescente começa a acompanhar de perto o ofício do pai e a desenvolver uma admiração pelo progenitor e pela carreira artística. Com este artifício, André Pellenz nos propõe enxergar a jornada dos comediantes por um prisma mais cândido e afetivo. 

Para dar início a este cenário, é criado o conflito entre Ed Lima e a ex-esposa por conta das pensões atrasadas do filho. Isto é, se não pagar, a prisão lhe aguarda. Para fugir desta situação, o comediante precisa ganhar o prêmio de um concurso de trios cômicos, algo desafiador para um homem ególatra com ele. Sem mais esperanças, Ed vai atrás de parceiros e surgem os seus pitorescos suportes cênicos, Ítalo, Sara e o atendente da padaria (Victor Meyniel).

Diz a lenda que se Rafael Portugal coloca um balde na cabeça, as pessoas já riem. Revelado pelo canal Parafernalha e galgado ao topo dos humoristas pelo Porta dos Fundos, o comediante continua engraçado, mas é ofuscado pelos personagens de Paulo Mathias Jr. e Luísa Perissé. Afinal, Ítalo é um ator frustrado que foi para comédia rir de si mesmo, pois nunca encontrou espaço na dramaturgia. Durante o percurso fílmico, no entanto, ele se dá conta que provocar risos aos outros é mais saboroso do que levá-los a reflexões e lágrimas. 

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Com roteiro de Sylvio Gonçalves (Ricos de Amor), Os Espetaculares alfineta essa falsa dualidade entre a comédia e o drama. Contudo, não questiona os limites da piada, apenas mostra, por exemplo, um comediante a sofrer as consequências de uma jocosa provocação centrada no ego masculino e no apelo sexual. Embora o filme apresente o conceito de piada nerd, por meio da personagem Sara, o gênero fica apenas na teoria já que ela constantemente apela para falar do membro masculino em suas apresentações.

Já se perguntou, por curiosidade, por quê Porta dos Fundos fez mais sucesso do que Parafernalha? Uma das respostas possíveis é a relevância dos temas abordados para o público. Esta é exatamente a falha na comicidade de Os Espetaculares. O protagonista chove no molhado, apresenta-se com um repertório vencido e sem assinatura. Seria fácil aceitar que os personagens não fazem sucesso porque são equivocados como comediantes, mas não é essa a sugestão da obra. 

 

É louvável a perspectiva da jornada de autoconhecimento dos três artistas cômicos, cada um ao seu tempo e modo, no entanto, Os Espetaculares exagera cenas de palco, as quais não apresentam uma verdadeira virada de trajetória dos personagens. Assim, o filme se distancia do principal, isto é, mostrar que subir ao palco, pegar o microfone e começar a falar é questão de coragem, prática e criatividade. O elenco domina todos esses quesitos, mas o desfecho pouco plausível torna a mensagem capenga.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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