segunda-feira, abril 15, 2024

Crítica | ‘Rua do Medo: 1994’, primeira parte da trilogia da Netflix, é uma exaustiva aventura slasher

Há um certo centro gravitacional que gira em torno do gênero cinematográfico slasher que sempre conquistou o público ao redor do mundo. Desde que tais narrativas ganharam as telonas nos anos 1970 e 1980, alcançando um auge metalinguístico nos anos 1990, diversos títulos entraram para o catálogo dos cinéfilos e são constantemente redescobertos e reassistidos como uma profunda celebração do gore e daquilo de que não podemos escapar. Dentre os inúmeros filmes-B que despontaram nessa época, de fato são três que melhor traduzem o que significa o slasher: as franquias ‘Sexta-Feira 13’, ‘A Hora do Pesadelo’ e ‘Pânico’. São poucas as pessoas que não conhecem essas obras – e que, por mais que achem a condução narrativa exagerada, foram marcados pela ilustre e mortal presença de alguns dos serial killers mais famosos de todos os tempos.

Agora, chegou a vez da Netflix investir em sua própria saga, dessa vez estendendo os braços para o lendário romancista infanto-juvenil R.L. Stine. Para aqueles não familiarizados com o nome, Stine fez sucesso com inúmeras séries de livros, incluindo ‘Goosebumps’, ‘Hora do Arrepio’ e ‘Rua do Medo’. As três compilações ganharam versões tanto para o cinema quanto para a televisão, com esta última sendo remodelada para 2021 em uma trilogia promissora. Meses após uma longa produção e poucos detalhes sobre as obras, o primeiro capítulo finalmente estreou na plataforma de streaming: intitulado ‘Rua do Medo: 1994’, a narrativa é centrada na pequena cidadezinha de Shadyside, Ohio, apelidada como a “capital da morte” dos Estados Unidos por uma série constante de assassinatos que ocorrem desde sua fundação.

Fear Street Part 1: 1994 – (Pictured) Skull Mask. Cr: Netflix © 2021

É nesse emblemático contexto que se alicerça uma das múltiplas tramas do longa-metragem – no caso, a principal: os homicídios em massa estão voltando a acontecer, tomando uma dimensão assustadora depois de um brutal massacre no shopping local encabeçado por um dos funcionários. Ao que tudo indica, os trágicos eventos estão associados ao fato de a cidade ser amaldiçoada por uma bruxa chamada Sarah Fier, que jurou vingança sobre os habitantes e seus descendentes três séculos atrás. E, para impedir que ela ataque novamente, surgem os nossos cinco protagonistas: Deena (Kiana Madeira), Sam (Olivia Welch), Josh (Benjamin Flores Jr.), Kate (Julia Rehwald) e Simon (Fred Hechinger), grupo de amigos que se une para enfrentar forças sobrenaturais para que Sarah os deixe em paz e, principalmente, não dê continuidade ao seu reino de caos.

Desde o princípio, ‘Rua do Medo’ mostra-se como uma carta de amor aos slashers clássicos e, no geral, cumpre com o prometido. A condução fílmica fica a encargo de Leigh Janiak, que fez um trabalho consideravelmente sólido sete anos depois de ter feito sua estreia com o mistério ‘Honeymoon’, em 2014. Janiak deixa bem claro que não quer dizer mais do que o necessário e que as mensagens são bastante claras: Deena e Sam formam um casal lésbico que, entre altos e baixos, se reúnem para lutar contra os poderes de Sarah e salvar Shadyside de mais um acontecimento caótico; Simon entra como o escape cômico comum a toda narrativa do gênero; Kate é a líder de torcida determinada e sem papas na língua; e Josh é o viciado em cultura nerd que, no final das contas, é uma das principais chaves para derrotar os espíritos.

É inegável que o filme ganhe popularidade entre um público acostumado a histórias infanto-juvenis ou que conheça o estilo literário de Stine – e, talvez por esse motivo, peque em certos elementos pela falta de tato estético e rítmico. O principal deslize situa-se na quantidade exacerbada de tramas e subtramas que tomam conta da obra: Janiak tem ciência de que é necessário fechar cada um dos arcos apresentados, mas parece não saber fazê-lo: os enlaces românticos, que despontam desde os primeiros minutos, são esquecidos em meio ao conflito entre vida e morte que os personagens enfrentam; a história de Sarah Fier é apresentada de modo frenético e extenuante, principalmente quando aliadas aos “capangas” que aparecem sem muitas explicações para caçar aqueles que violaram seu túmulo; e, por fim, as explicações se embolam em um circinal crescendo que visa ao esplendor do choque, mas se rende às obviedades formulaicas.

Apesar de uma estrutura desequilibrada, Janiak tem seu próprio estilo à medida que calca emulações bem-vindas de uma das épocas mais explosivas do cinema. Na era dos streamings, o resgate ao cult é uma jogada inteligente e funciona em termos visuais, seja pela paleta de cores, seja pelos recursos de câmeras dos quais se dispõe. E, enquanto o jovem elenco nos cativa pelo comprometimento com os papéis, é impossível desviar a atenção da bola de neve que se forma com tantas coisas acontecendo – e um tempo curto para concluí-las. Com exceção de algumas sequências inspiradas, o roteiro é desajeitado e previsível, caminhando para uma esperada conclusão e, por essa razão, tornando-se um frustrante tour-de-force adolescente.

Fear Street Part 1: 1994 – BENJAMIN FLORES JR. as JOSH and SKULL MASK. Cr: Netflix @ 2021

Dando o tom para os dois capítulos que ainda virão, ‘Rua do Medo: 1994’ de fato é interessante – mas não sabemos se pelos motivos certos ou errados. Falhando em pontos que poderiam ser trabalhados com maior cautela, o filme até consegue nos deixar intrigados para as continuações, mas, no geral, mostra-se como uma ofegante e monotônica aventura.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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