sexta-feira, abril 19, 2024

Crítica | Sofia Carson aposta no romantismo musical em seu álbum de estreia homônimo

Tem sido um longo caminho até que Sofia Carson lançasse seu primeiro álbum oficial.

A performer que ganhou notoriedade no cenário do entretenimento depois de ter estrelado a trilogia ‘Descendentes’, do Disney Channel, já vinha apostando fichas em sua carreira musical há vários anos com o lançamento de diversos e ótimos singles soltos, e cumpriu com o prometido ao dar vida a seu disco de estreia homônimo. Ao longo de dez breves músicas, que se desenrolam em menos de meia hora, consagra-se como um árduo trabalho que percorreu um cauteloso caminho, desde “Back to Beautiful”, passando pela subestimada “Miss U More Than U Know” (integrante da nossa lista de melhores canções de 2020) e culminando em seu exuberante compilado de originais.

A cantora e compositora havia nos presenteado anteriormente um gostinho do que poderíamos esperar de seu álbum com a divulgação de “Fool’s Good”, uma das iterações mais bem produzidas do ano passado (que também fez parte de nossa lista), uma ode original e vibrante aos anos 1980, regada por vocais irretocáveis e uma paixão pela arte fonográfica vista com raridade no cenário mainstream atual. Com o passar dos meses, seu ambicioso projeto tomou ainda mais forma com o power-pop antêmico “LOUD”, arquitetado com versos de empoderamento feminino e uma dura crítica à disparidade de gênero que as mulheres enfrentam até hoje – bem como uma análise poética e pungente sobre gaslighting e mansplaning, por exemplo; e a divertida e nostálgica “He Love Me, But…”, promovendo um retorno aos anos 2000 com homenagens às inflexões do R&B e do electro-pop.

Que Carson é dotada de uma habilidade musical incrível, não é nenhuma surpresa. Participando da franquia musical supracitada, a artista deu vida à jovem Mal, filha de Malévola, e exibiu sua força vocal com “Rotten to the Core” e “One Kiss”; agora, ela adota uma persona mais amadurecida que abre um enérgico capítulo de sua carreira, rendendo-se a uma amálgama de gêneros que funcionam em boa parte e que destilam apenas uma prévia do potencial infinito que ela carrega. É claro que, vez ou outra, lidamos com algumas repetições incessantes que mancham a estrutura do EP – mas nada forte o suficiente para ofuscar a beleza dessa íntima jornada que ela entrega para seus fãs.

De fato, as melhores faixas se concentram na primeira metade da obra, logo de cara com a abertura “It’s Only Love, Nobody Dies”, uma narrativa romântica que fala sobre um relacionamento que pode superar quaisquer obstáculos – e que se finca com fervor nas tendências da década passada, alimentando um apreço significativo pelo balada electro-pop e oscilando entre o minimalismo pré-refrão e a aguardada explosão central, pincelada pelos toques retumbantes e acompanhada por rimas interessantes e que fogem da obviedade lírica; de maneira similar, seguimos para a densa produção de “Sugar”, similar a entradas de Doja Cat e Kylie Minogue (inclusive no flerte com um apaixonante e sensual soubrette que desponta no chorus).

Carson faz questão de honrar suas raízes latinas com a belíssima balada “Cómo, Cuándo y Dónde”, performada inteiramente em espanhol em uma pessoalidade dramática, tocante e teatral – cujo único erro é ser breve demais para que possamos aproveitá-la por completo. Seria interessante que outras faixas também trouxessem um pouco de sua veia artística colombiana e, por ser a única em uma língua diferente, soa um pouco distante das que a precedem e sucedem. Em “Still Love You”, ela se inclina para o melódico piano em uma triste realização amorosa que puxa referências de Ed Sheeran e Taylor Swift, dois artistas que citara como influências. Essa é a track em que a cantora se doa de corpo e alma para a melancólica trama criada, alcançando notas invejáveis sem ao menos tangenciar o pedantismo performático e apenas se deixando levar pelo ritmo.

Não deixe de assistir:

Em momento algum o álbum tem o desejo de revolucionar o mercado fonográfico ou ousar para além do que consegue – mas não se enganem: o disco sequer chega perto de ser simplista; pelo contrário, a ousadia em questão dá as caras no momento em que Carson percebe que não precisa se desvencilhar das fórmulas, e sim utilizá-las a seu favor. A ideia aqui é buscar originalidade no convencionalismo, através de mensagens que conversam com sua própria identidade e que contem uma história, sendo com músicas dançantes ou com melodias sensoriais que nos fazem apertar o botão de repeat de novo, e de novo, e de novo. E seu senso estético é provado por “a+b” quando chegamos ao fim da produção com o envolvente nu-disco de “Two Tears in a Bucket”.

A estreia homônima de Sofia Carson não poderia ter vindo em hora melhor – para alegria dos fãs e daqueles que buscam um ótimo compilado para ouvir neste mês. Apesar da brevidade (que pode ser frustrante para quem espera algo maior), o resultado é bem aprazível, coeso e condizente com alguém que ainda tem muito a nos trazer.

Nota por faixa:

1. It’s Only Love, Nobody Dies – 5/5
2. LOUD – 5/5
3. Sugar – 4/5
4. Timeless – 3,5/5
5. Stay – 4/5
6. Cómo, Cuándo y Dónde – 3,5/5
7. Still Love You – 4/5
8. Fool’s Gold – 5/5
9. He Loves Me, But… – 4/5
10. Two Tears in a Bucket – 5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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