quinta-feira, março 28, 2024

Crítica | ‘The Boys’ – Soldier Boy rouba a cena em quinto episódio ELETRIZANTE

[ANTES DE COMEÇAR A MATÉRIA, FIQUE CIENTE QUE ELA ESTÁ RECHEADA DE SPOILERS] 

Se você ainda não assistiu aos cinco primeiros episódios de The Boys, evite esta matéria, pois ela contém spoilers.

O grande destaque do episódio é novamente Billy Bruto e sua jornada de se tornar aquilo que jurou destruir. Conforme ele consegue mais Composto V Temporário, mais ele busca justificativas para seguir tomando a substância. E ele percebe que está se viciando, mas não consegue parar. Em certo ponto, ele conversa com o Hughie e vê nele a imagem do seu irmãozinho, Lenny. Esse paralelo já havia sido abordado anteriormente na série, mas acaba servindo agora tanto para justificar o uso do ‘V’ quanto para condenar as ações de Bruto em não impedir que o garoto tome a fórmula. Ao mesmo tempo em que ele vê aquilo como uma forma de protegê-lo, Billy sabe que o está expondo a algo viciante e que potencializa o lado ruim deles. É como o próprio Bruto disse ao longo do episódio: “Com grandes poderes, você vira um grande babaca”. Isso poderia ser apenas uma referência ao Tio Ben, mas é nítido pelo comportamento dos dois, tanto Hughie quanto Bruto, que o composto realmente deixa ambos mais confiantes e babacas. O que, no caso do Billy, pode levá-lo a um nível parecido com o do próprio Capitão Pátria, não à toa ele trai e droga o Leitinho, que planejava sua vingança contra o Soldier Boy, além de seguir dando ‘V’ ao Hughie. Já o garoto segue mentindo para a Luz-Estrela e agindo de forma questionável.

Pulando para o outro lado da mesma moeda, o Capitão Pátria se mostra cada vez mais Pária. Enfim assumindo o controle da Vought, ele deixa de lado um pouco do lado “super-herói” enquanto tenta aprender a ser um empresário/ acionista. O problema é que seu complexo de Deus fala mais alto e ele se recusa a aceitar opiniões de outros membros da diretoria. Seria interessante ver a Vought entrando numa potencial falência ou dele tendo que lidar com uma crise publicitária com a chegada do Soldier Boy.

Fato é que fora as pressões do mundo corporativo, ele já sabe do plano de outros membros dos 7 para derrubá-lo. Ele só não acredita que a Rainha Maeve e a Luz-Estrela serão capazes de alguma coisa. Além dos mais, ele tem o apoio do misterioso Black Noir, que mesmo que já tenha aparecido em cenas do passado, quando ele integrava os Payback, ainda parece muito cedo para afirmar que sua trama dos quadrinhos foi completamente abandonada. Afinal, a última vez que vimos seu rosto no passado, ele estava completamente deformado, andando em estado catatônico. Enfim, o personagem volta a ter destaque depois que a Rainha Maeve confronta o Pátria e o Noir aparece para derrubá-la e fazer sabe-se lá o quê.

Outro ponto interessante é ver como ao mesmo tempo em que tenta se distanciar da imagem da falecida Tempesta, o Capitão Pátria começa a reproduzir um discurso cada vez mais parecido com o dela, só não assumiu ainda a suástica. E como a temporada anterior mostrou, quanto mais ele chega próximo desse discurso, mais o povo americano o apoia.

Quando o assunto é discurso, não dá para não citar o arco do Trem-Bala. Depois de entregar o plano da Luz-Estrela para o Capitão Pátria, ele ganha uma moral mínima dentro da Vought, já que ele segue sem poder correr por conta do risco de parada cardíaca. Como recompensa, a empresa atende o pedido dele de conversar com o Blue Hawk, que vinha fazendo chacinas em bairros negros com a desculpa de estar apenas policiando o local. O problema é que o próprio Trem-Bala não está realmente envolvido na causa, ele vê nessa história de promover discursos antirracistas apenas uma alavanca para voltar a ter o prestígio de antes. Assim, quando ele tem a possibilidade de realmente falar alguma coisa e pedir a prisão ou – descer a porrada no ‘Gavião’ -, ele fica sem saber o que fazer e aceita que ele faça um “pedido de desculpas oficial”.

Claro que não dá certo, porque é apenas uma solução chapa branca para que o suposto herói se promova em cima das próprias chacinas e saia por cima da situação. A comunidade negra não aceita bem essa palhaçada e começa a questioná-lo sobre seus crimes. E aí, amigo… Um show de hipocrisia e preconceito sai da boca do Blue Hawk, que mete clichés como “não sou racista, tenho amigos negros”, “todas as vidas importam” e “eu mato negros porque tem mais bandidos negros”. É chorume puro, mas o mais assustador é que esse papinho babaca dele pode estar na boca até do seu vizinho. São tempos sombrios e a série retrata isso com maestria.

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E mostrando que nem sempre os Supers saem por cima, o Blue Hawk massacra os negros que protestavam sobre os crimes cometidos pelo dito herói, incluindo o irmão do Trem-Bala, que não morre, mas fica paraplégico. E para alguém cuja vida girava em torno das corridas, perder a capacidade de andar é algo mais frustrante que a morte. Espera-se que esse possa ser um ponto de virada para o velocista, que já foi humilhado de diversas formas pela Vought.

Vale ressaltar também o elenco de apoio dos protagonistas, principalmente o Francês e a Kimiko. Enquanto a mulher descobre que aparentemente perdeu os poderes, o que tiraria sua utilidade para o grupo e teoricamente permitiria que ela levasse uma vida normal, o Francês volta a se envolver com os russos, mas agora sem ter Bruto, Hughie e Leitinho por perto. A sequência musical na imaginação da Kimiko é um dos momentos mais fofos da série e também um dos mais tristes, porque ressalta que ela nada mais é que uma criança cuja vida foi tomada pelo Composto V, e agora sonha com um futuro que provavelmente nunca terá.

Já o Leitinho segue em sua vingança pessoal contra o Soldier Boy, enquanto vê o padrasto lerdão encher a cabeça de sua filha com os discursos deturpados do falso moralismo dos heróis da Vought. E quando ele está prestes a consumar sua vingança, que supostamente traria fim ao seu envolvimento com os Supers, ele é traído novamente por Bruto, que o dopa para usar seu arqui-inimigo para tentar derrotar o Pátria.

E nesse processo de ajudar Billy e Hughie a encontrar o paradeiro do Soldier Boy, o Leitinho traz para a série uma participação sensacional: A Lenda. Uma clara paródia do falecido Generalíssimo Stan Lee, o personagem foi o responsável por “vender” os Payback e os heróis do Século XX, o que fez dele uma celebridade muito influente no meio dos Supers.

Toda a arrogância e a influência dos anos 70 no personagem flertam bem não apenas com o lado marketeiro de Stan Lee, mas também com outro falecido ícone do século XX, o criador da Playboy, Hugh Hefner. Sua participação é breve, mas traz diversos easter eggs na sala do produtor. Trazê-lo nessa versão mais Hollywoodiana em vez da faceta de quadrinista das HQs foi uma sacada bem legal da série.

Por fim, precisamos falar do grande destaque dessa temporada: o Soldier Boy. Congelado desde os anos 80, quando foi submetido a testes pelos russos, com chancela de sua própria ex-namorada, a Condessa Escarlate, o personagem foi “despertado” pelos ‘Boys’ na viagem à Rússia do episódio anterior. Com sua nova habilidade de causar explosões com um raio peitoral, o ‘Capitão’ dá um jeito de voltar para os Estados Unidos, onde se depara com uma sociedade totalmente diferente.

Um dos pontos mais legais do retorno do Capitão América nos anos 60 é toda a história de adaptação do “Homem Fora de Seu Tempo”. Se a sociedade americana já avançou bastante entre 1945 e 1963, The Boys brinca com isso ao trazer as mudanças dos EUA entre a década de 80 e os anos 2020. Nesse ponto, o Soldier Boy é um homem fora de seu tempo, mas em vez de se adaptar, ele estranha coisas como a aceitação de casais inter-raciais e casais LGBT. Uma das piadas mais repetidas acerca do Capitão América do MCU é que ele deveria ter despertado em 2011 como um homem cheio de preconceitos da época e não o escoteiro amigo de todos. Sem perder tempo, The Boys vai pegar essa piada e explorá-la na persona do Soldier Boy.

E outro ponto interessante é que além de parodiar o Capitão América, o Soldier Boy da série traz elementos do Bucky, que teoricamente seria o falecido Pólvora nesse universo. Representando todos os estereótipos do ajudante mirim, o Pólvora herdou as polêmicas de ser o jovem sem poderes em roupa apertada que era assediado e abusado pelo imponente herói adulto, questão constantemente associada ao Batman e o Robin, e o Capitão América com o Bucky.

E como o Bruto assassinou o Pólvora com seus olhos laser, o personagem não terá tempo para ter seu arco de ‘Soldado Invernal‘. E nem será necessário, porque essa trama já foi adaptada para o próprio Soldier Boy. Os experimentos russos que ele sofreu, ter ficado em animação suspensa por meio de um gás e afins são muito similares aos procedimentos que o Bucky sofreu. Dessa forma, condensando dois personagens em um, o Soldier Boy promete ser o destaque da reta final da temporada.

Isso porque ele aceita a oferta de Bruto, assassina a Condessa Escarlate a sangue frio e parece estar disposto a voltar a ter o prestígio de antes. Vale lembrar que antes do Capitão Pátria virar ícone publicitário dos heróis e dessa palhaçada dos 7 virar febre, o Soldier Boy foi esse ícone, assim como os Payback foram o grande grupo de heróis do Século XX. A cena em que ele vê o mundo estampado pelos 7 já indica que ele não vai aceitar isso de boa, e como ele é tão babaca quanto o próprio Capitão Pátria, parece que essa aliança com Billy e Hughie vai enfim fazer com que o Pátria seja forçado a descer de seu pedestal nos próximos episódios. E caso o Soldier Boy realmente seja capaz de ocupar o lugar do Capitão, será mais ou menos como a relação polêmica e controversa entre EUA e Al-Qaeda, no qual os americanos criaram e fortaleceram seu próprio demônio e depois tiveram de lidar com ele. O que não deu muito certo.

E aí? Ansiosos para os próximos episódios? Lembrando que o próximo capítulo é o ‘Herogasm’, que deve ser uma das coisas mais bizarras da história da TV.

Os novos episódios de The Boys estreiam toda sexta-feira no Amazon Prime Video.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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