quinta-feira, abril 25, 2024

Crítica | ‘The Element of Freedom’, 4º álbum de Alicia Keys, entrega exatamente aquilo que promete

Durante o processo de construção de ‘The Element of Freedom’, Alicia Keys olhou para trás e para seus três primeiros álbuns de estúdio, tentando estabelecer uma jornada ascendente desde sua massiva estreia na indústria da música até o início de um amadurecimento lírico e sonoro. À época de anúncio do CD, Keys havia comentado à Billboard que começara a “encontrar o caminho para ser totalmente eu mesma e o que isso significava; descobrir quais escolhas eu queria fazer e não fazer para honrar a mim mesma”. Não é surpresa que essa necessidade de se libertar de quaisquer amarras restritivas tenha sido canalizado para o próprio título da produção e para a jornada de libertação esparramada ao longo de catorze novas faixas.

Aliando-se a colaboradores frequentes, como Kerry Brothers, e fechando contrato com o lendário Jeff Bhasker, que trabalhara anteriormente com nomes como Kanye West e Brandy, o quarto capítulo da carreira de Alicia representou o início de sua transição para o pop mainstream, sem deixar de lado suas raízes no R&B e suas homenagens aos ídolos que continuam a inspirá-la. Apostando mais uma vez na vulnerabilidade um alter-ego que abandonou a adolescência e o início da vida adulta para um amadurecimento agridoce, a cantora e compositora volta a falar de relacionamentos amorosos, do prospecto de viver sem aqueles que ama, tudo pincelado com análises sobre depressão e sobre a impactante realidade do final de década.

Apesar da similaridade com construções anteriores, principalmente em comparação a seus singles mais famosos, é notável como Keys se arrisca em territórios outrora inexplorados. O classicismo do piano transforma-se na revitalização do synth-pop oitentista, pegando algumas páginas emprestadas da recém-estreada Lady Gaga e do aclamado ‘The Fame’. “Try Sleeping with a Broken Heart” faz uma viagem astral ao passado, mantendo-se firme à reverberação do presente e movida pela dissonância dos sintetizadores e de vocais estupendos. É claro que os versos são simples, ainda mais considerando que a temática de seus primeiros capítulos não costumava variar muito; mas o modo como conta a história de um relacionamento fracassado e de como ela poderá superar o homem que esteve ao seu lado por tanto tempo. O mesmo acontece em “Love Is Blind”, que se apoia nas ácidas incursões do neo-soul.

Se há alguém que sabe como trazer a teatralidade das emoções à tona, é Alicia Keys. Mesmo quando não desfruta de todo seu potencial lírico, como acontece mais vezes do que o imaginado em ‘The Element of Freedom’, a performer sabe de que maneira desviar a atenção dos equívocos e levar seus fãs e qualquer um que ouse se aventurar por sua discografia à potência melismática de rendições espetaculares. Enquanto é uma verdade dizer que a sintética produção fin-du-siècle rege o panorama instrumental apresentado na obra, a linear nostalgia é calcada de modo a abrir espaço para investidas interessantes, como visto em “Wait Til You See My Smile” – uma sequência previsível, mas prática da faixa anterior.

Quando a artista de volta ao piano, ela o faz com maestria ou com um certo cansaço que denota uma inevitabilidade obrigatória de buscar pelo diferente. Em “Un-thinkable (I’m Ready)”, a semi-balada infundida com R&B é uma das tracks que mais ganham destaque, pela proposital apatia da qual ela se vale para desenrolar seu conto; entretanto, “That’s How Strong My Love Is” falha em fugir do óbvio e perde-se quando justaposta a outras exuberantes construções – isso sem mencionar a falta de criatividade que acomete os versos. “Put In a Love Song”, colaboração com a lendária Beyoncé, traz as melódicas teclas para um hip-pop que nada mais é que um rip-off da arquitetura extasiante de ‘I Am… Sasha Fierce” – apesar das batidas dançantes e da aprazível ambiência.

Certas canções passam uma sensação reciclada, como é o caso da dupla formada por “Distance and Time” e “How It Feels to Fly”, que partem da mesma catártica progressão e inclinam-se para elementos diferentes para fornecer uma sensibilidade que nunca se concretiza. De qualquer forma, a tocante escrita sobre amantes separados pela circunstância do tempo e a dramática performance de Alicia, respectivamente, são coesas o bastante para nos satisfazer até certo ponto. “This Bed”, a entrada mais inesperada de todo o álbum, revitaliza as inflexões já conhecidas da artista e flerta com o hi-NRG e com o nu-disco, à medida que transforma gêneros contraditórios entre si em uma celebração metalinguística da própria música – merecendo muito mais atenção do que tem.

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Chegando ao fim com “Empire State of Mind (Part II) Broken Down”, resposta da canção homônima que cantou ao lado de Jay-Z, Alicia Keys transforma as batidas do hip-hop em uma reinfluência reflexiva e que segue os padrões de tantas outras belíssimas midtempos que nos apresentou ao longo dos anos. No final das contas, ‘The Element of Freedom’ cumpre aquilo que propõe, em sua grande parte, ainda que não chegue aos pés das obras-primas que a artista nos mostrara no passado.

Nota por faixa:

  1. The Element of Freedom (Intro) – 4/5
  2. Love Is Blind – 4,5/5
  3. Doesn’t Mean Anything – 4,5/5
  4. Try Sleeping with a Broken Heart – 5/5
  5. Wait Til You See My Smile – 3,5/5
  6. That’s How Strong My Love Is – 4/5
  7. Un-Thinkable (I’m Ready) – 5/5
  8. Love Is My Disease – 3/5
  9. Like the Sea – 2,5/5
  10. Put It in a Love Song (feat. Beyoncé) – 2,5/5
  11. This Bed – 4/5
  12. Distance and Time – 3/5
  13. How It Feels to Fly – 2/5
  14. Empire State of Mind (Part II) Broken Down – 4/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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