Não é à toa que o título de “rainha do crime” foi conferido à escritora britânica Agatha Christie. Autora de dezenas de títulos extremamente populares na virada dos séculos XIX e XX, seus livros continuam em alta mesmo hoje, cerca de cem anos depois, ganhando adaptações audiovisuais em diversos formatos. É como se Agatha Christie fosse uma grande novidade, sensação do momento no mundo hollywoodiano, sendo citada direta ou indiretamente em muitas produções e ganhando filmes e séries inspiradas em seus livros. A mais nova adaptação desse universo é ‘Veja Como Eles Correm’, filme com grande elenco que chegou a estrear nos cinemas lá fora, mas que aqui no Brasil chegou diretamente na plataforma da Starplus nessa virada de ano.
Durante a comemoração da 100a apresentação da peça ‘A Ratoeira’, de Agatha Christie, elenco, convidados e produção se reúnem em uma grande festa. Porém, após arrumar confusão com o protagonista do espetáculo, Leo Kopernick (Adrien Brody), diretor do novo filme baseado nessa história, é encontrado morto no cenário. Primeira a chegar na cena do crime, a policial Stalker (Saoirse Ronan), fã do mundo do cinema, mal pode conter sua emoção de estar no caso, mas quando o investigador Stoppard (Sam Rockwell) chega, a realidade bate à porta: todos os presentes são suspeitos do homicídio. Na busca pelo misterioso assassino de sobretudo e chapéu, realidade e ficção se misturarão em uma intrincada história onde nem mesmo a própria autora escapa.
Em uma hora e quarenta de duração, ‘Veja Como Eles Correm’ presta uma grande homenagem a esta que é uma das maiores escritoras de entretenimento do mundo. Entretanto, ao contrário dos envolventes livros da autora, ao longa de Tom George falta-lhe ritmo, falta-lhe aquele ingrediente tão especial nas histórias de mistério de Agatha. Por optar em usar a metalinguagem como seu principal elemento condutor (ou seja, quando a história fala da própria história), o roteiro de Mark Chappell perde potência pois toda hora que a trama parece avançar, ela para e volta em flashbacks, tentando se auto-explicar para os personagens e para o espectador. No fim de uma hora a gente já se sente meio aborrecido com a condução dos protagonistas.
O par de investigadores ajuda a construir uma sensação no espectador de que estamos sendo subestimados: enquanto Stoppard é um machistinha que adora beber (característica que não influencia no enredo), Stalker é excessivamente infantil e faladeira, o que reforça não só o estereótipo das personagens como também cria um abismo entre elas, tornando difícil ao espectador acompanhar esses dois condutores da história por falta de carisma neles.
Ainda assim, ‘Veja Como Eles Correm’ é esteticamente bonito, com cores muito marcantes, uma boa produção de arte e brinca, de maneira fabulesca, com a técnica mais famosa de crime e mistério tão bem usada pela rainha do crime. Suco de entretenimento para quem quer se divertir no fascinante mundo de Agatha Christie.