Comédia não é fácil de fazer. Afinal, o que pode ser engraçado para mim, pode não funcionar para você. Assim, se torna quase impossível agradar todo tipo de público. Fora isso, existem aqueles filmes que utilizam um tipo de humor que não é abraçado por todos: humor incorreto ou humor peculiar.
Nesta nova lista, resolvemos apostar não apenas em um tipo de humor, mas em vários.
Para a confecção da lista, foram incluídas comédias escrachadas, de censura alta, humor incorreto, ácido, comédias que funcionam à base de referência, tiração de sarro e também o humor mais adulto e mais sóbrio, que tira risos da estranheza de situações reais. Bem, podemos dizer que tem comédia para todos os gostos. Justamente por isso, peguem leve nos comentários e se algum item da lista (ou quem sabe todos) não for o seu tipo de humor, nos diga abaixo quais são as suas comédias preferidas, que te fizeram gargalhar sem freio. Lembramos também que o apanhado de filmes se concentra apenas nos últimos cinco anos. Vem conhecer.
Crítica | Te Peguei! – Warner acerta de novo em uma comédia depois de ‘A Noite do Jogo’
A Noite do Jogo
Começamos a lista com um item novíssimo. A Noite do Jogo estreou nos cinemas mundiais na primeira metade de 2018 e já acumula prestígio cômico o suficiente para figurar entre os filmes mais engraçados dos últimos anos. Protagonizado por Rachel McAdams (que há muito não se mostrava tão divertida assim) e Jason Bateman na pele de um casal muito competitivo, o longa aposta na censura alta, violência, certo teor incorreto, mas também em muitas referências na hora de tirar seu humor. A graça aqui chega com outro gênero adicionado à mistura: o suspense. Apesar de hilária, a obra ainda aposta em certo teor de mistério, no qual não sabemos exatamente no que acreditar, no que está acontecendo de verdade e este sentimento de thriller, de certa adrenalina, é o ingrediente que a faz funcionar tão bem.
Artista do Desastre
Aqui temos outro tipo de humor na lista. O filme The Room (2003), produzido, escrito, dirigido e protagonizado pelo figuraça Tommy Wiseau entrou para a história como um dos piores de todos os tempos. Muito antes do hype levantado recentemente, The Room já era uma lenda urbana. Novo interesse pela obra – que é tão ruim que chega a ser boa e hilária – foi levantado quando o ator James Franco decidiu bancar Wiseau e criar sua homenagem ao icônico filme ruim. Artista do Desastre fala sobre os bastidores de The Room, e é daí que tira toda a sua graça. Ser levado por trás das cortinas deste verdadeiro desastre é uma experiência muito engraçada e a figura de Wiseau por si só já é estranha o suficiente para deixarmos seu comportamento bizarro passar impune.
Festa da Salsicha
Agora temos uma animação na lista. À primeira vista pode soar estranho ter um filme do gênero entre os mais engraçados, no entanto, basta uma segunda olhada para entender que Festa da Salsicha está longe de ser um filme para os pequenos. Muito pelo contrário, esta é uma animação adulta, de censura máxima, portanto, nem pense em mostrá-la para a criançada. Com as mentes pornográfica de Seth Rogen e Evan Goldberg por trás do roteiro – os mesmos do lascivo Superbad: É Hoje (2007) – Festa da Salsicha é incorreto, violento e extremamente sacana. O filme aposta no erotismo de comidas e em todo tipo de humor impróprio. As comidas, entre elas salsichas, salgadinhos, bolachas, pães, batatas, etc., descobrem seu terrível destino: ser comidos pelos humanos. Assim, iniciam uma jornada rumo à salvação. Nem mesmo a religião escapa de ser alvo das piadas. Definitivamente não é para todos os públicos e os que se ofendem facilmente devem passar bem longe.
O que Fazemos nas Sombras
Agora chegamos a um item na lista que faz parte do subgênero conhecido como “mockumentary”, muito utilizado na comédia também. Trata-se de um documentário falso, criado com o único propósito de arrancar risadas. Aqui, por exemplo, uma equipe de filmagem consegue acesso à intimidade de um clã de vampiros, seguindo de perto seu dia a dia e sua rotina. Todo tipo de criaturas da noite que viemos a conhecer no cinema é representado no filme, desde os mais antigos como Nosferatu, até os clássicos europeus (tipo Drácula), chegando à nova geração. Simplesmente hilário, o filme de Taika Waititi – que também participa como ator – te fará nunca mais encarar os sanguessugas da mesma forma sóbria de antes.
Dois Caras Legais
O diretor Shane Black possui seu próprio tipo de humor: inteligente, rápido e ácido. A comédia nos filmes do diretor está nos detalhes, os quais muitas vezes sequer pescamos em uma primeira investida. São tiradas espertinhas que permeiam diálogos e até mesmo a narrativa, tirando o humor das situações, sem precisar apelar ao exagero ou ao escracho. Um dos melhores exemplos disso está contido na comédia policial Beijos e Tiros (2005), união de gêneros que o cineasta domina bem e sabe dosar como ninguém. Black repete a dose em Dois Caras Legais, voltando para a década de 1970 e brincando com o subgênero dos filmes detetives e noir. Além disso, une uma dupla muito improvável, que se mostra muito eficiente na comédia – Russell Crowe e Ryan Gosling – funcionando de forma cronometrada. Dois Caras Legais é uma montanha russa de risadas que merecia muito uma continuação.
Relatos Selvagens
Mais um filme incomum na lista, que funciona muito mais do que várias comédias declaradas. Esta produção argentina é o que podemos chamar de definição do humor negro, refletindo situações cotidianas, das quais passamos sem nos dar conta. O tema aqui é nossa fúria interior reprimida – refletindo aquele momento no qual desejamos mandar tudo às favas e simplesmente explodir com as coisas imbecis do dia a dia que precisamos lidar. O cineasta hermano Damián Szifron cria seis pequenas histórias em sua coletânea, variando no nível de insanidade, para representar nossas insatisfações diárias. Uma das obras cult – fora do radar dos grandes filmes – mais abraçadas dos últimos tempos, Relatos Selvagens é simplesmente histérico, utilizando um tipo de humor bem pouco convencional. Quem poderá esquecer a terrível e visceral briga causada por uma divergência no transito que termina de forma “romântica”, o engenheiro ‘bombita’ e o casamento mais alucinado da história do cinema. Filmame esto, Néstor!
LEGO Batman: O Filme
Mais uma animação ganha espaço na lista. Uma Aventura Lego (2014) muito bem poderia ter encontrado lugar aqui, porque se mostrou uma das animações mais engraçadas e improváveis dos últimos tempos. No entanto, preferimos escolher seu derivado, que vai ainda mais longe na veia humorística ao descortinar como nunca antes a mitologia em torno de uma das figuras mais icônicas do audiovisual, o vigilante de Gotham, Batman. Nem mesmo no seriado galhofa da década de 1960, o personagem havia sido alvo de tantas piadas – a série inclusive rende risadas aqui também. Tudo que sempre pensamos sobre o herói, todas as nossas dúvidas nunca respondidas, entram em cena nesta hilariante animação, que se mostra muito mais eficiente para os fãs do personagem, conhecedores de toda sua mitologia e suas diversas encarnações no cinema e TV. Nada está livre do sarro no longa, nem mesma a relação do herói com seu arqui-inimigo Coringa.
É o Fim
Voltando para o humor de Seth Rogen e Evan Goldberg, que pode não ser recomendado para todos. No entanto, é indiscutível que eles são dois dos comediantes de maior prestígio na atualidade, quer você gosto do tipo de comédia que eles fazem ou não. Por aqui, adoramos! É claro que nem tudo que os amigos fazem é ouro ou dá certo. No entanto, além da animação Festa da Salsicha (2016), resolvemos escolher esta obra apocalíptica como o ponto alto do humor deles. Gerando grande hype na época de seu lançamento, devido ao mistério que escondida sua trama, É o Fim brinca com metalinguagem ao trazer um grupo de amigos atores interpretando a si mesmos e elevando o conceito de piada interna a um novo nível colossal. A mescla com outros gêneros, como o terror e a ficção apocalíptica, é o tempero especial para quem gosta destes tipos de filme também. Vale mencionar que esta é igualmente uma comédia de censura alta – como todas da dupla -, então espere piadas pra lá de ácidas, incômodas, sexuais e de baixo calão permeando a obra. Entre os chistes já icônicos: Jonah Hill sendo currado pelo coisa ruim e uma Emma Watson que nunca vimos antes.
Descompensada
Não é à toa que a humorista Amy Schumer se tornou uma grande sensação nos EUA. Descoberta por Judd Apatow, a humorista saída dos palcos fez seu debute nas telonas com este longa – que infelizmente não chegou às nossas salas de cinema. Apesar da direção de Apatow, Descompensada é um filme totalmente de Schumer, já que a loira assina o roteiro e protagoniza suas próprias piadas. Foi justamente isso que faltou em seus filmes seguintes, já que Viagem das Loucas (2017) e Sexy por Acidente (2018) não contaram com um texto seu. Para atingir o status de sua estreia, talvez a humorista precise voltar ao batente e começar a escrever de novo. No longa, ela interpreta o retrato de muitas mulheres modernas, individualistas e centradas unicamente na carreira. Não existe lugar em sua vida para relacionamento, e o sexo é casual. Deste cenário extremamente atual, Schumer se faz e tira muito humor de situações cotidianas, as quais todos nós temos conhecemos de perto.
A Espiã que Sabia de Menos
Outra comediante de grande prestígio atualmente, Melissa McCarthy começou sua carreira na TV como coadjuvante. Seu divisor de águas no cinema veio justamente servido pelo diretor Paul Feig em Missão Madrinha de Casamento (2011), no qual foi indicada ao Oscar – acredite! A cada novo trabalho, o jogo entre a dupla era elevado. Daí seguiram As Bem Armadas (2013), com Sandra Bullock, e finalmente Caça-Fantasmas (2016), que infelizmente se mostrou a parceria menos satisfatória do diretor com a atriz. No meio disso, Feig e McCarthy atingiam seu auge com A Espiã que Sabia de Menos, brincadeira divertidíssima com o gênero do cinema de espiões, que atinge as notas certas e com muita inteligência subverte inúmeros conceitos dentro da fórmula. A protagonista, por exemplo, é uma burocrata que recebe a chance de agir no campo pela primeira vez e se torna alvo de muitas das piadas devido a sua aparência de “senhora dos gatos”. Além disso, temos também o durão Jason Statham tirando sarro com sua persona de durão e vivendo o personagem mais pateta de sua carreira.
BÔNUS:
Deadpool 2
Tudo bem, Deadpool é um filme de super-heróis. Mas é inegável que é o mais engraçado do gênero e desde 2016, com o primeiro filme, quebrou barreiras na parte cômica também. Com sua censura alta, o humor é para maiores, a maioria abaixo da linha da cintura. A continuação consegue elevar ainda mais o conceito, se tornando uma verdadeira metralhadora de piadas e gags, todas direcionadas à cultura pop. Ninguém está a salvo e o humor é tão rápido, inserido entre os diálogos, que se tornam necessárias novas visitas a fim de pegar tudo que nos é jogado em tela. Muito da comicidade é tirada da interação de Deadpool com os dois novos personagens, Cable (“você é tão sombrio, tem certeza que não é do Universo DC?”) e Domino (a “Viúva negra, negra”) – os quais queremos ver num próximo filme, criando nova dinâmica hilária com o anti-herói.