Viva o cinema nacional! A cada novo ano o número de produções brasileiras só aumenta. Hoje, conseguimos até mesmo exportar mundo afora filmes de gênero (como o terror) de qualidade. Isso sem falar em nossos verdadeiros campeões de bilheteria. Um dos grandes favoritos do público são as comédias, que possuem em nomes como Leandro Hassum, Paulo Gustavo, Ingrid Guimarães, Mônica Martelli e Tatá Werneck grandes representantes. Isso sem falar em nossos verdadeiros astros, gente do nível de Wagner Moura, Selton Mello, Deborah Secco, Cléo Pires, Lázaro Ramos e Débora Falabella, por exemplo, capazes de arrastar verdadeiras multidões aos cinemas.
Aqui no CinePOP, vira e mexe lançamos matérias relembrando o passado e comemorando através da homenagem obras que completam aniversário. E por que não reviver celebradas produções nacionais também? A ocasião é sempre a ideal para revisitarmos determinados filmes e saber como se comportam após tanto tempo. Ou até mesmo darmos aquela chance para algum longa que deixamos passar em nosso radar, consertando tal deslize. Aqui, voltaremos 10 anos no tempo, para uma época de grandes lançamentos brasileiros. Confira abaixo.
Bruna Surfistinha
Falando em Deborah Secco, aqui a talentosa jovem atriz entregava um dos melhores e mais corajosos desempenhos de sua carreira ao personificar uma famosa garota de programa real, se entregando de corpo e alma ao papel. Produção polêmica pelo seu teor (ao menos para os mais conservadores ou hipócritas) a ressonância do trabalho foi tanta, que terminou “impedindo” a atriz de viver a santificada Irmã Dulce no filme homônimo de 2014, para o qual já estava escalada, devido à sua imagem ainda muito associada à personagem subversiva. Se fosse lá fora não teria tanto problema, mas lembrem-se que vivemos num país ainda muito atrasado. Bruna Surfistinha é baseado no livro de Raquel Pacheco, a “surfistinha” real, e marcou a estreia na direção de Marcus Baldini – que depois viria a entregar sucessos como Os Homens São de Marte… E é pra Lá que Eu Vou (2014) e Uma Quase Dupla (2018). O sucesso da história e do filme foi tanto que terminou gerando um novo produto, a série do canal Fox Premium Me Chama de Bruna, que já tem quatro temporadas, e onde a protagonista é interpretada agora pela atriz Maria Bopp.
O Homem do Futuro
Quem disse que o Brasil não investe em filmes de gênero. Aqui temos fantasia e ficção científica misturados com comédia e romance neste longa com toques da trilogia De Volta para o Futuro ao abordar viagem no tempo. No filme, nosso astro número 1 em Hollywood, Wagner Moura, interpreta o cientista Zero. O sujeito nunca superou a perda do amor de sua vida, a belíssima Helena, papel da fotogênica Alinne Moraes. Assim, através de sua mais nova criação, o protagonista consegue voltar no tempo vinte anos no passado, para 1991, e tentar restaurar seu relacionamento. Mas a teoria do efeito borboleta entra em cena, rearranjando sua realidade no presente quando ele retorna. No roteiro e direção, o criativo Cláudio Torres, que já havia brincado com as possibilidades fora da caixinha em A Mulher Invisível (2009), seguindo para tocar a versão deste filme na forma de uma série de TV, e também a excelente Magnífica 70, da HBO.
O Palhaço
Selton Mello é definitivamente um dos melhores que temos. Tesouro nacional, o jovem ator tem um estilo único de atuação e sobressai quando interpreta o típico malandro de nosso país, como nos já clássicos modernos O Auto da Compadecida (2000) e Lisbela e o Prisioneiro (2003). Mas o astro também se sai muito bem em papeis mais sérios, é só conferir seu trabalho em séries como O Mecanismo e Sessão de Terapia. Isso sem falar quando passa para trás das câmeras. Talento esse revelado há 10 anos neste longa. Tudo bem que sua estreia mesmo como diretor de cinema foi em Feliz Natal (2008), mas a produção é obscura e pouco conhecida. Em O Palhaço, Selton decidiu protagonizar em seu próprio filme e daí o chamariz foi bem maior. Apesar do título, este não é filme engraçado, e está mais para o conhecido conceito do “palhaço triste”. Na trama, escrita pelo próprio, o ator vive o palhaço Pangaré, insatisfeito com sua profissão no circo e decidido a abandonar a família para sair em busca de seu verdadeiro lugar no mundo. Completamente existencial, é daqueles filmes tão belos que doem o coração. Não por menos é uma de nossas melhores produções nos últimos anos.
Assalto ao Banco Central
Nosso país é riquíssimo e possui inúmeras histórias a ser contadas, só é preciso encontrar a maneira certa. Com ares de superprodução do gênero policial – um tipo de filme que adoramos por aqui também – temos relatada uma trama tão absurda que só poderia ser real, soando muito como algo tirado do filme Trapaceiros (2000), de Woody Allen. Um roubo é planejado ao banco central de Fortaleza, Ceará. E para isso, um túnel foi cavado pelo subterrâneo de uma casa ligando ao cofre do local. Quem arquitetou tudo foi o criminoso Barão, vivido pelo ótimo Milhem Cortaz, e o filme conta ainda com um elenco de primeira, como Eriberto Leão, Hermila Guedes e os veteranos Lima Duarte, Giulia Gam e Cássio Gabus Mendes. Na direção, o saudoso Marcos Paulo (igualmente conhecido como ator) em seu último trabalho como realizador, vindo a falecer no ano seguinte.
Xingu
Seguimos pelas mais variadas histórias reais e incríveis de nosso rico país, esta sendo uma muito edificante. Uma aventura em estilo de matinê, o filme conta a jornada de três irmãos, os Villas Boas, interpretados por João Miguel, Caio Blat e Felipe Camargo, que durante a década de 1940 saíram para desbravar o Brasil Central e suas intensas selvas em uma expedição, terminando por se depararem com tribos indígenas desconhecidas e criar a maior reserva indígena do mundo, o parque nacional Xingu. Embora seja repleta de percalços e perigos, o verdadeiro desafio nesta trajetória é a interação e o relacionamento destes homens bem diferentes. Xingu marcou o último trabalho no cinema como diretor, até o momento, de Cao Hamburger (Castelo Rá-Tim-Bum: O Filme e O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias). No roteiro, outra verdadeira mestra, a prestigiadíssima Anna Muylaert (diretora de Que Horas Ela Volta? e Mãe Só Há Uma).
Capitães da Areia
Quer mais cultura pop icônica brasileira nas telonas? Há 10 anos tínhamos. Baseado no famoso livro de sucesso de um de nossos melhores escritores, Jorge Amado, a história sobre meninos de rua vivendo sob suas próprias leis em Salvador, Bahia, na década de 1950, ganhava os cinemas se tornando logo um dos chamarizes daquele ano. E aqui temos levada de forma literal a frase de um projeto em família, já que no comando e adaptação do texto temos ninguém menos que Cecília Amado, neta do autor. Cecília é uma diretora de segunda unidade bem conhecida no meio e aqui dava o próximo passo em sua carreira, assumindo pela primeira vez a direção total de um longa-metragem. Infelizmente, a artista não se aventurou de novo na função, preferindo retornar para seu cargo de conforto. O fato demonstra ainda mais o quão pessoal e especial foi a produção. Um ciclo completo.
Trabalhar Cansa
Que tal um filme de terror para sacudir as coisas na lista. Misto de drama, suspense, terror social e psicológico, este longa já chega demonstrando todo o talento de seus realizadores e a linha que seguiriam ao longo de suas filmografias. Aqui temos a estreia da dupla Juliana Rojas e Marco Dutra no cinema, que seguiriam para produções maiores até culminar no sucesso internacional As Boas Maneiras (2017). Aqui, a dupla em seu início narra a jornada de Helena (Helena Albergaria), uma jovem mãe de família que decide abrir seu próprio negócio, uma loja de doces. Assim precisa contratar uma empregada para cuidar de sua filha e da casa. Após o marido ser demitido, as coisas começam a dar uma guinada para o estranho e o bizarro, mesclando o sofrimento da mulher pela pressão psicológica e por elementos, talvez, sobrenaturais. Tema recorrente nas obras dos cineastas é o relacionamento profissional e humano que mantemos em nossas vidas, especialmente entre patrões e empregados.
Cilada.com
Fechando a lista, temos esta adaptação para o cinema de uma série popular da TV a cabo protagonizada por Bruno Mazzeo, filho do lendário humorista brasileiro Chico Anysio. Com foco em situações do cotidiano nas quais nos pegamos sem saída ou desconcertados, Cilada fez grande sucesso durando 6 temporadas, em meados da década de 2000. Assim, dois anos depois do fim do programa, a ideia foi levada para as telonas, já fazendo uso dos possíveis malefícios de uma vida filmada e publicada online. Na trama, Bruno (Mazzeo) é flagrado traindo sua namorada, quando o vídeo viraliza na internet. Agora o sujeito precisa reverter o quadro. A comédia contou com um verdadeiro desfile de rostos conhecidos no elenco, vide Carol Castro, Fernanda Paes Leme, Alexandre Nero, Marcos Caruso, Fabiula Nascimento, Serjão Loroza e Dani Calabresa, mas apesar do sucesso terminou, até agora, não rendendo a esperada franquia de filmes com continuações. Na direção, o veterano José Alvarenga Jr. tem preciosidades em seu currículo, como diversos filmes dos Trapalhões, das décadas de 1980 e 1990.