Em outubro de 2022 finalmente conheceremos o desfecho da nova trilogia do maníaco da máscara branca Michael Myers, com Halloween Ends – que estreia no dia 13 de outubro aqui no Brasil. Com produção da Universal Pictures e da Blumhouse, o diretor David Gordon Green teve carta branca para criar sua própria história sobre os personagens icônicos da franquia de terror 40 anos depois do clássico Halloween – A Noite do Terror. A nova trilogia, que começou em 2018 e seguiu em 2021, ficou entre erros e acertos, não conseguindo agradar a todos. Seja como for, os fãs não conseguirão se manter indiferentes quanto a este encerramento, que pode definir os destinos de Laurie (Jamie Lee Curtis) e de um dos maiores vilões do cinema.
Embora muito badalado e alardeado, esse não foi o primeiro retorno da veterana Jamie Lee Curtis para a franquia slasher que moldou sua carreira. O filme original (de 78) foi responsável por colocar o nome da atriz no mapa, e ela ainda voltaria em 1981 para a continuação – escrita e produzida por John Carpenter – o pai de tudo. Na década de 1980, no entanto, a carreira da atriz alçava novos voos e ela se manteve distante de três dos filmes da franquia (as partes quatro, cinco e seis). Porém, em 1998, a coisa mudava de figura. Era o aniversário de 20 anos do filme original, e Jamie Lee Curtis estava com sua carreira estabelecida, já sendo considerada uma veterana na indústria, adentrando sua segunda década de atuação em Hollywood. A própria achou por bem comemorar o filme que havia lhe dado uma carreira e se tornou o pilar desta sequência celebrativa. Nascia Halloween H20.
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Certamente você conhece o ditado “não podemos dar uma mão, porque querem o braço”. Em Hollywood a coisa funciona exatamente desta forma. O sucesso de Halloween H20, que deveria ter sido o encerramento da franquia, fez os executivos do estúdio crescerem os olhos e exigirem mais. Jamie Lee Curtis, por sua vez, havia orquestrado um encerramento digno de uma ópera, ao menos em sua concepção, e se despedia de Halloween com chave de ouro. Ledo engano. E quatro anos depois, uma sequência direta de Halloween H20 chegava às telas de cinema, realizada pelos donos da franquia, Moustapha Akkad e seu filho Malek, e os produtores da Miramax (que bancava a empreitada) os irmãos Weinstein.
Antes do filme que de fato recebemos se concretizar, algumas outras versões foram cogitadas. A mais curiosa delas era a proposta de uma nova antologia, com uma história nova de terror sem qualquer ligação com Michael Myers e Laurie Strode – ideia que já não havia dado certo lá atrás em 1982, quando proposta por John Carpenter em Halloween 3 (o ponto fora da curva na série). Isso facilitaria as coisas na hora de desenvolver o roteiro, já que Halloween H20 havia deixado pouco espaço para uma sequência. No filme de 1998, Laurie (Jamie Lee Curtis) termina o filme decapitando Michael Myers com um machado. Logo após sua cabeça rolar pelo chão com máscara e tudo, os créditos sobem. Para onde se vai depois disso? A premissa de um próximo filme sem Myers seria logo descartada após pesquisas com o público revelaram ao estúdio que os fãs queriam mesmo era a volta do maníaco de máscara branca. Que surpresa!
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Aqui é onde ocorre outro impasse de como as coisas podem realmente ter acontecido. Como sabemos, Jamie Lee Curtis aparece em Halloween: Ressurreição, numa participação especial que abre o filme. Alguns relatos, no entanto, afirmam que a atriz não fazia ideia que a continuação estava sendo produzida e que a princípio não queria saber de mais um filme, por achar que H20 havia encerrado de maneira mais que satisfatória seu arco neste universo. Por outro lado, existia um contrato que Curtis havia assinado na época de H20 que garantia sua presença em uma eventual continuação. A verdade é que a atriz provavelmente achou que os produtores não teriam como continuar a narrativa após seu vilão perder (literalmente) a cabeça – e que uma eventual sequência com novos personagens, incluindo um novo antagonista, não precisaria de sua participação. Essa ideia de um novo assassino já vinha sendo flertada desde Halloween H20, que quase apresentou “o filho de Michael Myers”. Acredite!
Assim, contratualmente obrigada, Jamie Lee Curtis retornou para um novo Halloween (seu quarto, até aquele momento). Mas, segundo a própria, só o fez para se certificar que sua personagem recebesse um destino definitivo, para que não precisasse mais voltar a tais filmes. Mal sabia ela. Quatro anos depois de H20, encontramos Laurie Strode (Curtis) num sanatório psiquiátrico, traumatizada pelos eventos do desfecho no filme anterior. A heroína, porém, não está buscando tratamento por ter matado o irmão psicopata, muito pelo contrário. Está ali por tê-lo deixado viver, matando acidentalmente um infeliz qualquer. Sim, acreditem, essa foi a desculpa mais que esfarrapada que os realizadores encontraram para dizer que Myers ainda estava vivo e com a cabeça no lugar. Ele teria se disfarçado de paramédico e colocado a máscara no sujeito de quem roubou a roupa, esmagando sua traqueia para que não fosse descoberto. Com uma reviravolta destas, talvez tivesse sido melhor Michael colar sua cabeça com superbonder de novo no pescoço…
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Assim, no hospital psiquiátrico e desiludida, encontramos uma Laurie quase catatônica, bem diferente da guerreira que lutou até o fim no filme anterior. Michael Myers, o verdadeiro, obviamente aparece no local em busca de terminar o serviço e dar cabo definitivo de sua irmã. Mas ela não é um alvo tão indefeso assim. Na realidade, Laurie orquestrou ainda um novo plano para eliminar Myers de uma vez por todas, no próprio hospital, já prevendo que o psicopata iria caça-la por lá. Assim, ela foge até o terraço do prédio, e com uma armadilha captura Michael pelo pé, que fica virado de ponta cabeça do lado de fora do terraço. Tudo o que Laurie precisava fazer era derrubá-lo daquela altura. Mas antes ela precisa se certificar que desta vez é ele mesmo – afinal muitos outros “inocentes” poderiam ir atrás dela por lá tentando mata-la (só que não). E aí, o pior acontece… . Tal justificativa para eliminar a protagonista é outro momento capenga do longa. Aliás, mesmo participando apenas da introdução do filme, Curtis ganha o topo dos créditos, como se fosse a protagonista.
O que a maior parte dos fãs reclamam mesmo, deste que é o menos apreciado episódio da franquia inteira, é do que serve de trama central desta continuação de Halloween H20. Para entender melhor a sacada de “Jênio” do roteiro escrito por Larry Brand, é preciso contextualizar que esta era a época em que os reality shows estavam bombando nos EUA. Essa fase ainda está em pleno vigor aqui no Brasil, com a popularidade extrema, reestabelecida pelo programa Big Brother. Em Hollywood, algumas produções já haviam abordado o tema de forma precisa e crítica – em especial O Show de Truman (1998), um filme quintessencial sobre o tópico. No rastro viria Ed TV (1999). No início dos anos 2000, o conceito de câmeras vigiando era servido por produções como 15 Minutos (2001), Showtime (2002) e pelo terror O Olho que Tudo Vê (2002). Assim surgia também o oitavo filme da franquia Halloween.
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Aliás, Halloween: Ressurreição guarda muitas semelhanças com o citado terror O Olho que Tudo Vê, da Universal Pictures, lançado no mesmo ano e que contava com um dos primeiros trabalhos da carreira de Bradley Cooper. Neste filme obscuro, um grupo de jovens aceita passar um tempo numa casa isolada numa área rural, sendo vigiados por câmeras num reality. A sacada estava nos planos nefastos dos produtores, cuja exibição do programa se dava na deep web, hoje um conceito mais compreendido do que na época – de certa forma fazendo do longa um visionário. Na trama do oitavo Halloween (ou quarto, como queiram), um produtor fanfarrão interpretado pelo rapper Busta Rhymes resolve embarcar na onda dos programas de “realidade” na TV e bola a “brilhante” ideia de reunir um grupo de jovens desafortunados para passar algumas noites na casa que pertenceu ao maníaco Michael Myers. O produtor até tinha planos de assustar por conta própria essa galera corajosa, mas nem foi preciso, já que o próprio resolve aparecer por lá, com direito à nova máscara, e promove um massacre na frente das câmeras.
Um reality show emulando “found footage” não casa muito com o estilo da franquia Halloween, e os realizadores aprenderam isso da pior forma possível. Ressurreição ainda guarda diálogos ruins, cenas de muita vergonha alheia e momentos doloridos de assistir, como quando Busta Rhymes caracterizado como Myers dá “esporro” no verdadeiro, acreditando ser um ator; ou quando o rapper decide lutar caratê com o psicopata, fazendo barulhos dignos de comédia pastelão. Ah sim, os personagens são todos descartáveis, incluindo a protagonista vivida pela gracinha Bianca Kajlich (revelada no filme) e a produtora personificada pela modelo Tyra Banks.
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Tudo isso fez Halloween: Ressurreição ser considerado o pior filme da franquia de Michael Myers pelos críticos e também pelos fãs. Ainda mais se pensarmos que foi a continuação direta do querido e eficiente Halloween H20. Mesmo os produtores tentando disfarçar a participação forçada de Jamie Lee Curtis, dizendo que a atriz havia adorado o roteiro e aceitou aumentar suas cenas, a própria não tem papas na língua ao se pronunciar sobre o longa, o considerando “uma piada”. E deixando claro que só retornou pela obrigação do contrato. Outro que “se contorceu” ao se deparar com o longa foi o criador de tudo John Carpenter – fazendo menção à experiência nada agradável de assisti-lo.
Halloween: Ressurreição teve sua pré-estreia no dia 1º de julho nos EUA, estreando em grande circuito por lá no dia 12 de julho. No Brasil, o longa ganharia as salas de cinema no dia 18 de julho. Com um orçamento de US$13 milhões, o filme não foi mal de bilheteria como pode-se imaginar, arrecadando para o estúdio US$30 milhões e mais US$7 milhões ao redor do mundo. Embora não tenha sido um fracasso desastroso, ficou muito aquém de seu potencial, ainda mais se comparado ao predecessor H20 (1998), que passou dos US$$55 milhões somente nos EUA. O que matou mesmo Ressurreição (com o perdão do trocadilho irônico) foram as críticas, digamos, destroçadoras que o longa colecionou. O fato colocou uma pá de cal nos planos de uma continuação direta – que já estava sendo desenvolvida. Na última cena, após ter ardido em um incêndio, Michael Myers abre os olhos no necrotério, dando o susto final do longa. E um próximo filme traria para o jogo o filho de Laurie Strode, John, a ser interpretado novamente por Josh Hartnett. Ele partiria numa jornada de vingança pelo assassinato da mãe, e teria a companhia do xerife Brackett (Charles Cyphers) do filme original. Essa narrativa seria completamente abandonada e o filme que ganharíamos a seguir seria o remake de Rob Zombie, cinco anos depois.