sexta-feira, março 29, 2024

O Juízo | Fernanda Torres e Andrucha Waddington falam sobre trabalho em família e suspense [EXCLUSIVO]

Um dos filmes nacionais mais aguardados dos próximos meses, O Juízo tem sua estreia nas telonas prevista para o dia 12 de dezembro. Antes disso, o suspense integrou a programação da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Na ocasião, o diretor Andrucha Waddington e a roteirista Fernanda Torres falaram com exclusividade ao CinePOP sobre o novo trabalho.

Casados na vida real, Andrucha e Fernanda já trabalharam juntos várias vezes, com destaque para Gêmeas e Casa de Areia. E tal união entre vida profissional e pessoal se estende para outros membros da família. Em O Juízo, a dupla também trabalha com Fernanda Montenegro (mãe de Torres) e Joaquim Torres Waddington (filho do casal). “É algo natural pra gente. Somos também um grupo de artistas que trabalham juntos. Eu nem penso, ‘ah, é o meu marido, é a minha mãe.’ É a Fernanda, o Andrucha. É uma relação de circo, em que você trabalha naturalmente com o outro. Mas também não trabalha. Ninguém ali é dependente do outro pra trabalhar, mas todos temos prazer em trabalhar juntos”, destacou Torres.

Fernanda Torres (Foto: Natali Hernandes/ agenciafoto.com.br)

Waddington também ligou a relação da família com um grupo circense. “Eu costumo brincar que a gente é meio uma família de circo. Um faz o trapézio, um faz malabarismo, o outro é palhaço. É natural que se converse muito dentro de casa sobre o ofício”, disse.

A grande novidade do longa é a presença de Joaquim, em sua estreia como ator. Fernanda foi só elogios ao trabalho do filho, mas não viu muita relação na escolha dele em trabalhar como ator com a decisão dela em seguir a carreira dos pais. “Com 13 anos, eu queria ser atriz. Havia algo muito forte na minha geração que todo mundo queria ser ator por causa do Asdrúbal (grupo teatral do Rio de Janeiro). Então, eu tinha a minha mãe, o meu pai, e toda essa questão geracional. O caso do Joaquim não é bem assim. Ele fez o filme, fez uma participação em Sob Pressão, mas o foco dele está mais na faculdade de filosofia”, apontou a atriz e roteirista.

Já o diretor fez questão de ressaltar que a ideia de escalar o filho acabou partindo de um dos produtores da obra. Inicialmente reticente, Andrucha fez questão de não participar do teste com o garoto, deixando nas mãos da diretora de elenco. Após ver o resultado do teste, Joaquim foi aprovado. “A gente não escolhe a profissão de filho. Mas fiquei surpreso dele querer. E percebi que ele tem esse negócio dentro dele”, falou Waddington.  

O Juízo conta a história de um pai falido que se muda com a esposa e o filho para uma fazenda que herdou no interior. Recluso e desesperado, o homem começa a ficar cada vez mais instável no local, que tem um histórico brutal dos tempos da escravidão. “O Brasil foi o último país a abolir a escravidão e o fez de uma maneira completamente leviana. E quando a escravidão era exercida aqui, era algo muito cruel. Apesar do filme ser um suspense, ele traz para primeiro plano esse absurdo e mostra a conta chegando lá na frente”, destacou o cineasta. Segundo Torres, o desejo de abordar essa reparação histórica a fez, inclusive, mudar o roteiro inicial. “Inicialmente, a figura do Criolo era um holandês traficante de pedras. Ele trabalhava no garimpo e roubava. Mas quando o projeto foi se desenvolvendo, foi ficando esquisito um filme em Minas com aquele pirata holandês. A nossa grande dívida histórica é a da escravidão. Era muito melhor se esse cara estivesse inserido nessa questão”, disse.

Andrucha Waddington (Foto: Natali Hernandes/ agenciafoto.com.br)

Em um momento político polarizado, que rendeu ataques inclusive à figuras como Fernanda Montenegro, fazer arte acaba funcionando como uma forma de resistência para o casal. “Acho que o Brasil se radicalizou muito, como o mundo. Tanto a social democracia, quanto a globalização deixaram a dever algo. A gente vive hoje em um mundo em que as pessoas ganham menos que seus pais ganhavam, a perspectiva do emprego é menor e a ameaça da tecnologia, é como uma queda do Império Romano. Isso cria muita instabilidade e este desejo por figuras violentas que devolvam uma lógica e uma ordem que não existem mais. Cabe à arte lidar com isso”, apontou Torres. Já Waddington falou em sobreviver: “Acho que os artistas podem ter suas posições políticas, mas a arte é uma questão de estado e não de governo. O nosso cinema é mais forte do que um governo. Dentro da conjuntura política, acho que a arte tem que sobreviver.

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