domingo , 22 dezembro , 2024

‘O Último Jantar’ na HBO Max | Cult dos anos 90 com Cameron Diaz ressurge mais atual do que nunca!

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Quando o roteirista Dan Rosen escreveu o texto de ‘The Last Supper’ (no título original – algo como “a última ceia”) e a diretora Stacy Title filmou a história no final de 1994, com lançamento em circuito nos EUA no dia 5 de abril de 1996 (tendo antes estreado no prestigiado Festival de cinema de Toronto em 8 de setembro de 1995), dificilmente imaginaram que hoje, 28 anos depois, seu filme estaria mais atual e polêmico do que nunca!

Isso porque nas décadas de 1980 e 1990 o conservadorismo ainda imperava e muitas causas sociais estavam bem longe de tomar a potência que possuem hoje. Toda mudança avassaladora cria barreira de mentes mais fechadas para o que é novo – com muitos desejando que as coisas permaneçam do jeito que estão (isto é, se essa mudança não vier em benefício próprio). Ao mesmo tempo que pensamentos retrógrados inacreditavelmente ressurgem, como os vergonhosos conceitos do machismo, racismo e homofobia, é preciso reconhecer a conquista que nossa sociedade obteve justamente no apoio a estas causas e combate a estes movimentos criminosos.



Misto de humor ácido, suspense e discurso político carregado, ‘O Último Jantar’ passou em branco em 1995, mas é mais atual do que nunca.

E sim, é preciso combater o racismo, a homofobia e o machismo para que possamos viver numa sociedade igualitária – que é o que devemos almejar. Agora imagine esses pensamentos há 30 anos. Na época fazia muito sentido, embora muitos pudessem não estar a par de tais causas. Difícil é acreditar que esse combate ainda precisa ser severo nos dias de hoje, com tanta evolução em outras áreas que nossa sociedade passou. Dessa forma, não é aplicável também considerar o filme ‘O Último Jantar’ como um produto “lacração” ou “woke” (o termo em inglês), já que esse conceito sequer existia na época. O que podemos dizer é se tratar de um filme bem à frente de seu tempo – infelizmente.

O Último Jantar’ está atualmente disponível na plataforma da HBO Max para todos que quiserem conferir essa verdadeira pérola criativa e escondida dos anos 90, que indiscutivelmente passou fora dos radares de todos – até mesmo os que adoram a nostalgia dos anos 80 e 90. O chamariz para muitos aqui pode ser a presença da musa Cameron Diaz, em um de seus primeiros papeis no cinema. De fato, Diaz havia estreado no ano anterior com ‘O Máskara’ (1994), no qual explodiria com sua beleza e talento, se transformando numa estrela de Hollywood. Seu papel de destaque seguinte seria apenas em 1997, com ‘O Casamento do Meu Melhor Amigo’, no qual atuou ao lado de Julia Roberts. Mas entre um filme e outro Cameron Diaz atuou em nada menos do que outros 5 longas – todas produções menores e menos famosas. Nesse lote, ‘O Último Jantar’ chegou logo na cola de ‘O Máskara’.

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Para muitos, um dos chamarizes do filme pode ser a presença da musa Cameron Diaz, em seu segundo longa no cinema depois de ‘O Máskara’.

Como Cameron Diaz na época era apenas uma atriz em início de carreira no cinema, aos 23 aninhos, aqui ela era apenas parte do elenco formado por cinco jovens atores promissores que protagonizam. Diaz é Jude, Ron Eldard (‘Super 8’) é Pete, Courtney B. Vance (‘O Povo Contra O.J. Simpson’) – marido de Angela Bassett na vida real – é Luke, Annabeth Gish é Paulie, e Jonathan Penner (marido da diretora Stacy Title) é Marc. O grupo de amigos, todos estudantes de pós-graduação de áreas ligadas a arte, dividem uma grande casa. E propositalmente, todos recebem nomes dos apóstolos de Jesus.

Em uma noite, o carro de Pete pifa e ele precisa pegar carona com um caminhoneiro debaixo de uma tempestade. O sujeito o leva até sua casa, e ele cordialmente o convida para entrar, se secar e jantar com seus amigos e companheiros de casa. Durante o jantar o pensamento liberal do grupo começa a encontrar barreira com o pensamento radical do sujeito simplório, que não por menos havia servido no exército. Imagine a discussão atual entre partidos de esquerda e direita (liberais e conservadores) e suas visões conflitantes – não apenas no Brasil, como no mundo. A ruptura política e social que divide o planeta, é claro, não havia chegado em 1995 ao ponto que chegou hoje, mas desde que o mundo é mundo, pensamentos sobre tópicos considerados “polêmicos”, podem ser responsáveis por grandes “tortas de climão”.

O que era para ser um jantar agradável termina em tragédia graças à visão de mundo divergente entre convidado e anfitriões.

O embate começa com a falta de estudo e cultura do caminhoneiro surgindo à tona, ao que o homem simplório começa a se sentir diminuído perante os jovens eruditos. A troca de “golpes” verbais começa a crescer até o convidado deixar transparecer seu racismo e preconceito ao falar primeiramente dos judeus, chegando ao cúmulo da intolerância no infame “Hitler não estava tão errado assim” – com certeza todos nós já ouvimos um absurdo do tipo. Isso depois de ter se ofendido com a falta de apreço dos anfitriões pela religião (orar a Deus em agradecimento pela comida) e pela guerra (o que consideram propaganda política republicana). O caminhoneiro logo entende estas críticas como falta de patriotismo.

A noite então começa a sair da sanidade e adentrar à loucura, com as farpas verbais escalando até o convidado ser expulso da casa, não sem antes ameaçar à ponto de faca um dos anfitriões. O ato era uma forma de demonstrar que os jovens apenas falam e não agem, nem se tiverem suas vidas em risco. O que era para ser apenas um argumento demonstrativo, bem violento por sinal, termina em tragédia, quando se inicia uma briga, o convidado quebra o braço de um deles após ameaçar uma das moças, e termina sendo esfaqueado nas costas e morto por Marc.

Jantar dos horrores. Mark Harmon vive um machista que não acredita que o estupro seja tão comum assim.

Desesperados, o grupo pensa em chamar a polícia, mas termina optando por esconder o corpo no quintal da casa. Ao mesmo tempo, temos uma trama paralela em que uma policial está à procura de uma jovem desaparecida, colocando cartazes pela cidade e investigando o caso. Essa subtrama irá se conectar com a principal mais para a frente. Então, o grupo de estudantes, que sempre convidava pessoas para jantar e debater tópicos diversos aos domingos, resolve mudar o tipo de visita recebida, e o andar da noite. Jude, a personagem de Diaz, decide receber um padre com quem estava realizando uma pesquisa, justamente por descobrir sua visão extremamente preconceituosa e homofóbica em relação aos gays – com seu discurso odioso em relação a Aids ser “a cura da praga gay”.

O segundo convidado é sutilmente envenenado com arsênico, um produto químico sem cor, sem cheiro e sem gosto. Jude o deixou preparado em uma garrafa na mesa, para servir o passando por vinho para o odioso convidado, uma vez que ele começasse a expor sua visão radical e criminosa. E essa se torna a dinâmica da narrativa, os universitários escolhendo a dedo as pessoas mais vis e rançosas que podemos imaginar (com certeza todos nós conhecemos muitas), preconceituosas, racistas, homofóbicas e machistas; as convidando para a janta numa bela noite de domingo e os matando suavemente, para depois enterra-los no quintal.

Cinco amigos intelectuais pós-graduados acreditam estar fazendo um bem maior ao se livrar de racistas, homofóbicos e afins.

Nesse corredor da morte surgem um sujeito que acredita que o estupro é uma lenda, e que a maioria das mulheres “quer” o ato sexual, uma ativista contra o aborto, um imbecil que acha que os sem-teto são a escória da humanidade e até mesmo uma adolescente que é contra a educação sexual nas escolas (mas essa é o limite para que eles mudem sua atitude, a deixando viver – já que matar uma criança seria passar de todos os limites).

Fora isso, ‘O Último Jantar’ conta com participações especiais de rostos conhecidos nos papeis dos convidados “polêmicos”. Na verdade, o elenco mais experiente é justamente formado por tais participações, já que o quinteto protagonista ainda estava dando os primeiros passos no cinema na época. Assim, o convidado que abre o filme no papel do caminhoneiro racista é o saudoso Bill Paxton, que gravou sua participação em um fim de semana, durante a folga do blockbuster ‘Apollo 13 – Do Desastre ao Triunfo’. O veteraníssimo Charles Durning (falecido em 2012) também dá as caras como o homofóbico Reverendo Gerald Hutchens. Mark Harmon (do clássico adolescente ‘Curso de Verão’ e da série ‘NCIS’) vive o machista tóxico. E Jason Alexander (o eterno George Costanza de ‘Seinfeld‘) vive um anti-ecologia. O principal “antagonista” da turma é o apresentador controverso Norman Arbuthnot, que foi oferecido para o ator Beau Bridges. Ele não aceitou e o papel terminou nas mãos do grandalhão Ron Perlman.

O eterno Hellboy Ron Perlman vive um apresentar polêmico, mas que irá se revelar algo muito diferente do que todos esperam dele.

Sem dúvidas o discurso de ‘O Último Jantar’ é inflamatório, tornando o filme numa obra que precisa ser descoberta nesses tempos de discordâncias sobre o que é melhor para o mundo de fato, e de bastante intolerância. O mais legal do texto de Rosen e do longa de Tittle (falecida em 2021 aos 56 anos) é não ser pregador, ou seja, apontando certos e errados – ao menos em suas atitudes. Sim, muitos podem acusar os retratos conservadores apresentados no filme de serem caricatos, mas basta uma olhada em figuras da vida real – até mesmo aqui no Brasil – para percebermos que essa representação não está assim tão distante. O mesmo ocorre para a figura dos protagonistas, acusados de serem riquinhos mimados – o que muitos considerariam a geração “mimimi”. Se fosse adicionada à narrativa as redes sociais, o quadro estaria completo com os “textões” – mas felizmente em 1995 a internet não sabia nem engatinhar.

Ou seja, por mais que possa-se pensar que os realizadores estão tecendo uma crítica aos conservadores e os ridicularizando como caricaturas, eles não fazem apenas isso, como também dão o outro lado da moeda, e exibem as fragilidades de um julgamento soberano, onde a decisão do “diferente deve ser eliminado” termina por voltar-se sempre contra os justiceiros. O desfecho não poderia ser mais condizente deste argumento, já que o último convidado para ser abatido – um extremista conservador que profere absurdos ditos por muita “gente de bem” destilando puro ódio e tem seu próprio programa de TV – se revela uma personalidade completamente moderada, em busca de um equilíbrio social, mesmo que para isso precise instigar a discussão com “seu personagem”, se mostrando mais sensato em suas opiniões do que os próprios protagonistas “santificados”. A mensagem é que no fundo, realmente não somos tão diferentes assim, e não somos apenas uma coisa: bons ou ruins. Todos somos ambos.

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Quando o roteirista Dan Rosen escreveu o texto de ‘The Last Supper’ (no título original – algo como “a última ceia”) e a diretora Stacy Title filmou a história no final de 1994, com lançamento em circuito nos EUA no dia 5 de abril de 1996 (tendo antes estreado no prestigiado Festival de cinema de Toronto em 8 de setembro de 1995), dificilmente imaginaram que hoje, 28 anos depois, seu filme estaria mais atual e polêmico do que nunca!

Isso porque nas décadas de 1980 e 1990 o conservadorismo ainda imperava e muitas causas sociais estavam bem longe de tomar a potência que possuem hoje. Toda mudança avassaladora cria barreira de mentes mais fechadas para o que é novo – com muitos desejando que as coisas permaneçam do jeito que estão (isto é, se essa mudança não vier em benefício próprio). Ao mesmo tempo que pensamentos retrógrados inacreditavelmente ressurgem, como os vergonhosos conceitos do machismo, racismo e homofobia, é preciso reconhecer a conquista que nossa sociedade obteve justamente no apoio a estas causas e combate a estes movimentos criminosos.

Misto de humor ácido, suspense e discurso político carregado, ‘O Último Jantar’ passou em branco em 1995, mas é mais atual do que nunca.

E sim, é preciso combater o racismo, a homofobia e o machismo para que possamos viver numa sociedade igualitária – que é o que devemos almejar. Agora imagine esses pensamentos há 30 anos. Na época fazia muito sentido, embora muitos pudessem não estar a par de tais causas. Difícil é acreditar que esse combate ainda precisa ser severo nos dias de hoje, com tanta evolução em outras áreas que nossa sociedade passou. Dessa forma, não é aplicável também considerar o filme ‘O Último Jantar’ como um produto “lacração” ou “woke” (o termo em inglês), já que esse conceito sequer existia na época. O que podemos dizer é se tratar de um filme bem à frente de seu tempo – infelizmente.

O Último Jantar’ está atualmente disponível na plataforma da HBO Max para todos que quiserem conferir essa verdadeira pérola criativa e escondida dos anos 90, que indiscutivelmente passou fora dos radares de todos – até mesmo os que adoram a nostalgia dos anos 80 e 90. O chamariz para muitos aqui pode ser a presença da musa Cameron Diaz, em um de seus primeiros papeis no cinema. De fato, Diaz havia estreado no ano anterior com ‘O Máskara’ (1994), no qual explodiria com sua beleza e talento, se transformando numa estrela de Hollywood. Seu papel de destaque seguinte seria apenas em 1997, com ‘O Casamento do Meu Melhor Amigo’, no qual atuou ao lado de Julia Roberts. Mas entre um filme e outro Cameron Diaz atuou em nada menos do que outros 5 longas – todas produções menores e menos famosas. Nesse lote, ‘O Último Jantar’ chegou logo na cola de ‘O Máskara’.

Para muitos, um dos chamarizes do filme pode ser a presença da musa Cameron Diaz, em seu segundo longa no cinema depois de ‘O Máskara’.

Como Cameron Diaz na época era apenas uma atriz em início de carreira no cinema, aos 23 aninhos, aqui ela era apenas parte do elenco formado por cinco jovens atores promissores que protagonizam. Diaz é Jude, Ron Eldard (‘Super 8’) é Pete, Courtney B. Vance (‘O Povo Contra O.J. Simpson’) – marido de Angela Bassett na vida real – é Luke, Annabeth Gish é Paulie, e Jonathan Penner (marido da diretora Stacy Title) é Marc. O grupo de amigos, todos estudantes de pós-graduação de áreas ligadas a arte, dividem uma grande casa. E propositalmente, todos recebem nomes dos apóstolos de Jesus.

Em uma noite, o carro de Pete pifa e ele precisa pegar carona com um caminhoneiro debaixo de uma tempestade. O sujeito o leva até sua casa, e ele cordialmente o convida para entrar, se secar e jantar com seus amigos e companheiros de casa. Durante o jantar o pensamento liberal do grupo começa a encontrar barreira com o pensamento radical do sujeito simplório, que não por menos havia servido no exército. Imagine a discussão atual entre partidos de esquerda e direita (liberais e conservadores) e suas visões conflitantes – não apenas no Brasil, como no mundo. A ruptura política e social que divide o planeta, é claro, não havia chegado em 1995 ao ponto que chegou hoje, mas desde que o mundo é mundo, pensamentos sobre tópicos considerados “polêmicos”, podem ser responsáveis por grandes “tortas de climão”.

O que era para ser um jantar agradável termina em tragédia graças à visão de mundo divergente entre convidado e anfitriões.

O embate começa com a falta de estudo e cultura do caminhoneiro surgindo à tona, ao que o homem simplório começa a se sentir diminuído perante os jovens eruditos. A troca de “golpes” verbais começa a crescer até o convidado deixar transparecer seu racismo e preconceito ao falar primeiramente dos judeus, chegando ao cúmulo da intolerância no infame “Hitler não estava tão errado assim” – com certeza todos nós já ouvimos um absurdo do tipo. Isso depois de ter se ofendido com a falta de apreço dos anfitriões pela religião (orar a Deus em agradecimento pela comida) e pela guerra (o que consideram propaganda política republicana). O caminhoneiro logo entende estas críticas como falta de patriotismo.

A noite então começa a sair da sanidade e adentrar à loucura, com as farpas verbais escalando até o convidado ser expulso da casa, não sem antes ameaçar à ponto de faca um dos anfitriões. O ato era uma forma de demonstrar que os jovens apenas falam e não agem, nem se tiverem suas vidas em risco. O que era para ser apenas um argumento demonstrativo, bem violento por sinal, termina em tragédia, quando se inicia uma briga, o convidado quebra o braço de um deles após ameaçar uma das moças, e termina sendo esfaqueado nas costas e morto por Marc.

Jantar dos horrores. Mark Harmon vive um machista que não acredita que o estupro seja tão comum assim.

Desesperados, o grupo pensa em chamar a polícia, mas termina optando por esconder o corpo no quintal da casa. Ao mesmo tempo, temos uma trama paralela em que uma policial está à procura de uma jovem desaparecida, colocando cartazes pela cidade e investigando o caso. Essa subtrama irá se conectar com a principal mais para a frente. Então, o grupo de estudantes, que sempre convidava pessoas para jantar e debater tópicos diversos aos domingos, resolve mudar o tipo de visita recebida, e o andar da noite. Jude, a personagem de Diaz, decide receber um padre com quem estava realizando uma pesquisa, justamente por descobrir sua visão extremamente preconceituosa e homofóbica em relação aos gays – com seu discurso odioso em relação a Aids ser “a cura da praga gay”.

O segundo convidado é sutilmente envenenado com arsênico, um produto químico sem cor, sem cheiro e sem gosto. Jude o deixou preparado em uma garrafa na mesa, para servir o passando por vinho para o odioso convidado, uma vez que ele começasse a expor sua visão radical e criminosa. E essa se torna a dinâmica da narrativa, os universitários escolhendo a dedo as pessoas mais vis e rançosas que podemos imaginar (com certeza todos nós conhecemos muitas), preconceituosas, racistas, homofóbicas e machistas; as convidando para a janta numa bela noite de domingo e os matando suavemente, para depois enterra-los no quintal.

Cinco amigos intelectuais pós-graduados acreditam estar fazendo um bem maior ao se livrar de racistas, homofóbicos e afins.

Nesse corredor da morte surgem um sujeito que acredita que o estupro é uma lenda, e que a maioria das mulheres “quer” o ato sexual, uma ativista contra o aborto, um imbecil que acha que os sem-teto são a escória da humanidade e até mesmo uma adolescente que é contra a educação sexual nas escolas (mas essa é o limite para que eles mudem sua atitude, a deixando viver – já que matar uma criança seria passar de todos os limites).

Fora isso, ‘O Último Jantar’ conta com participações especiais de rostos conhecidos nos papeis dos convidados “polêmicos”. Na verdade, o elenco mais experiente é justamente formado por tais participações, já que o quinteto protagonista ainda estava dando os primeiros passos no cinema na época. Assim, o convidado que abre o filme no papel do caminhoneiro racista é o saudoso Bill Paxton, que gravou sua participação em um fim de semana, durante a folga do blockbuster ‘Apollo 13 – Do Desastre ao Triunfo’. O veteraníssimo Charles Durning (falecido em 2012) também dá as caras como o homofóbico Reverendo Gerald Hutchens. Mark Harmon (do clássico adolescente ‘Curso de Verão’ e da série ‘NCIS’) vive o machista tóxico. E Jason Alexander (o eterno George Costanza de ‘Seinfeld‘) vive um anti-ecologia. O principal “antagonista” da turma é o apresentador controverso Norman Arbuthnot, que foi oferecido para o ator Beau Bridges. Ele não aceitou e o papel terminou nas mãos do grandalhão Ron Perlman.

O eterno Hellboy Ron Perlman vive um apresentar polêmico, mas que irá se revelar algo muito diferente do que todos esperam dele.

Sem dúvidas o discurso de ‘O Último Jantar’ é inflamatório, tornando o filme numa obra que precisa ser descoberta nesses tempos de discordâncias sobre o que é melhor para o mundo de fato, e de bastante intolerância. O mais legal do texto de Rosen e do longa de Tittle (falecida em 2021 aos 56 anos) é não ser pregador, ou seja, apontando certos e errados – ao menos em suas atitudes. Sim, muitos podem acusar os retratos conservadores apresentados no filme de serem caricatos, mas basta uma olhada em figuras da vida real – até mesmo aqui no Brasil – para percebermos que essa representação não está assim tão distante. O mesmo ocorre para a figura dos protagonistas, acusados de serem riquinhos mimados – o que muitos considerariam a geração “mimimi”. Se fosse adicionada à narrativa as redes sociais, o quadro estaria completo com os “textões” – mas felizmente em 1995 a internet não sabia nem engatinhar.

Ou seja, por mais que possa-se pensar que os realizadores estão tecendo uma crítica aos conservadores e os ridicularizando como caricaturas, eles não fazem apenas isso, como também dão o outro lado da moeda, e exibem as fragilidades de um julgamento soberano, onde a decisão do “diferente deve ser eliminado” termina por voltar-se sempre contra os justiceiros. O desfecho não poderia ser mais condizente deste argumento, já que o último convidado para ser abatido – um extremista conservador que profere absurdos ditos por muita “gente de bem” destilando puro ódio e tem seu próprio programa de TV – se revela uma personalidade completamente moderada, em busca de um equilíbrio social, mesmo que para isso precise instigar a discussão com “seu personagem”, se mostrando mais sensato em suas opiniões do que os próprios protagonistas “santificados”. A mensagem é que no fundo, realmente não somos tão diferentes assim, e não somos apenas uma coisa: bons ou ruins. Todos somos ambos.

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