sexta-feira, abril 19, 2024

Opinião | ‘Halloween Ends’ pode trazer o fim de Michael Myers e a volta da antologia na franquia

Após Halloween Ends, franquia pode recuperar antigo planejamento que não deu certo

Marcado para estrear em outubro de 2022, Halloween Ends chega para ser o fim da nova trilogia da franquia; isso porque atualmente são tidos como canônicos apenas o original de 1978, a nova sequência direta de 2018, Halloween Kills (que estreia este ano) e o vindouro embate definitivo entre a família Strode e Michael Myers no terceiro filme. Tal senso de conclusão é perceptível já pelo trailer mais recente, lançado em 24 de junho, que mostra a nem um pouco surpreendente volta do assassino.

Tendo em mente a possibilidade deste ser de fato o fim de Michael Myers, pelo menos até outro estúdio assumir a franquia, é possível que a Blumhouse (com a benção do produtor executivo John Carpenter) tente o resgate do modelo de antologia originalmente pensado pelo cineasta para a franquia ainda durante os anos 80.

Lançado em 1978, Halloween se tornou um sucesso imediato (ainda que massacrado pela crítica inicialmente) e, até mesmo, inesperado. Muito dessa conquista se deu pela presença marcante de Michael Myers como a ameaça silenciosa nas ruas da pequena Haddonfield e pela entrega da atriz iniciante, Jamie Lee Curtis, como a protagonista. A estrutura de filme independente, com Carpenter assumindo múltiplas funções, também foi importante para realçar o lucro obtido nas bilheterias.

“Halloween”: a aposta improvável que deu muito certo.

Dessa maneira, Halloween 2 foi lançado em 1981, porém dessa vez sendo dirigido por Rick Rosenthal e tendo a dupla Carpenter\ Debra Hill na função de roteiristas. Esse projeto nunca foi desejado pelo diretor da obra original, que considerava o filme de 1978 como uma obra fechada; entretanto, o mencionado sucesso de público incitou o diretor a considerar uma sequência, dando a algum jovem cineasta a mesma chance que ele tivera de dirigir um terror de baixo orçamento.

Durante uma entrevista concedida ao programa Cinema Showcase, em 1984 para promover o lançamento de Starman, Carpenter é indagado pelo apresentador sobre filmes anteriores como O Enigma de Outro Mundo e o próprio Halloween. Em certo ponto a conversa chega até as duas sequências que a obra teve, dirigidas por Rosenthal e Tommy Lee Wallace respectivamente; no que concerne o terceiro filme o cineasta elogia a proposta apresentada por ser diferente, porém ao falar do segundo filme ele é direto em considerar a obra uma “abominação”.

No caso de Rick Rosenthal, à época esse foi seu primeiro trabalho como diretor de um longa-metragem (anteriormente ele dirigiu um episódio da série Secrets of Midland Heights), tendo à sua disposição um orçamento de US$ 2,5 milhões. O momento de ruptura entre os idealizadores veio quando Carpenter não aprovou o primeiro corte do diretor, considerando-o pouco movimentado. 

Tamanho foi o desgosto de Carpenter com a sequência que o próprio precisou intervir na reedição.

Nisso Rosenthal argumenta que o ritmo proposto foi uma tentativa de continuar com aquele apresentado em 1978; mais gradual e paciente na construção do suspense. No entanto, o criador da franquia tinha receio de que o filme não fosse aceito pelo público, que naquela altura já consumia o que era o início da febre dos slashers sangrentos iniciada com Sexta-Feira 13.

O que se seguiu foi que o cineasta original reescreveu parte do roteiro, bem como conduziu algumas refilmagens e novas edições para tornar o filme mais aceitável a seus olhos. A bilheteria acabou passando dos US$ 25 milhões, tornando-o mais lucrativo do que outros exemplares do terror naquele ano (inclusive da sequência de Sexta-Feira 13). 

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Um terceiro capítulo foi encomendado, porém, com uma pequena ressalva. Ao final de Halloween 2 tanto Michael quanto o Dr. Loomis, personagens centrais nas duas obras, morrem em uma explosão. Essa conclusão não foi por acaso visto que o desejo de Carpenter para a franquia era de que ela tivesse um formato antológico; cada filme e realizador teria a liberdade de entregar histórias ou métodos novos sem precisar seguir uma cronologia estabelecida anteriormente.

Em 1982 foi lançado Halloween: a Noite das Bruxas que não possuía quaisquer ligações com os dois títulos anteriores (com exceção de um easter egg relacionado ao filme original de 78) dessa vez dirigido por Tommy Lee Wallace. Anteriormente ele trabalhou como designer de produção no Halloween original, o que lhe valeu um voto de confiança de Carpenter para comandar o início, de fato, do projeto de antologia.

“Halloween: Noite das Bruxas” foi o início e fim do projeto antológico.

Como dito antes, o cineasta aprovou o que foi apresentado em Noite das Bruxas, cujo enredo girava em torno de máscaras enfeitiçadas pela empresa que as fabricava e controlava quem quer que as usasse. Porém, o público não. A mudança abrupta da narrativa, que não mais contava com Michael, Laurie ou Dr. Loomis foi amplamente recusada pelo público e a bilheteria de US$ 14 milhões era uma demonstração disso.

Tendo gerado bem menos que a obra de Rick Rosenthal, o terceiro filme da franquia ligou a luz de alerta e imediatamente o plano de um estrutura antológica foi abandonado em prol do retorno de Michael Myers. A questão é que isso ocorreu em 1982, durante um período que o gênero do terror era sobrecarregado com produções slasher de baixo orçamento e semelhantes em todos os sentidos; produções essas que interagiam muito mais positivamente com a relação Michael\Laurie do que com as máscaras enfeitiçadas de Noite das Bruxas.

Ainda assim, com a passagem de gerações veio também a passagem de modelos de entretenimento. A ascensão dos seriados de televisão mais sofisticados, em termos técnicos, durante os anos 90 (liderados principalmente por Twin Peaks) apresentou uma concorrência inédita às produções do cinema, ainda que fosse à primeira vista uma disputa completamente favorável para a telona.

O novo século trouxe não só maior investimento para a televisão mas também o surgimento do streaming, que não estando preso às barreiras convencionais do cinema e televisão investiu mais em novos modelos de narrativa serial e concedeu maior visibilidade àqueles originados na TV. 

Apesar de American Horror Story (feito e popularizado na televisão), por exemplo, ser o caso mais famoso quando se fala de antologia do terror, programas como Black Mirror e Fargo só obtiveram sua popularidade amplamente estabelecida quando migraram para serviços como a Netflix. Em ambos o modelo de temporadas individuais incentiva os roteiristas a construírem novas histórias e personagens sem a necessidade de um gancho ao final de tudo.

Tendo isso mente, não seria impensável que a Blumhouse arriscasse uma nova tentativa ao plano original proposto para a franquia e decidisse em deixar Michael Myers descansar em paz ao final de Halloween Ends.

 

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